Diz Jesus, “Eu era estrangeiro e vocês me receberam em sua casa” (Mt 25.35). Animados por esta palavra em que Jesus se identifica com as pessoas estrangeiras e pede para que a comunidade cristã exerça hospitalidade, igrejas brasileiras têm aberto as portas para acolher famílias da Síria. A Igreja Reformada em Castrolanda, para onde eu fui enviado pela IECLB para servir como pastor, é uma destas igrejas que abriu as portas. Através da Missão em Apoio à Igreja Sofredora (MAIS – maisnomundo.org), a comunidade reformada acolheu uma família síria, um casal e dois filhos jovens.
A hospitalidade está sendo exercida de diferentes maneiras. Inicialmente a família, ao chegar ao Brasil, recebeu da MAIS o conhecimento básico da língua e cultura do país. A igreja reformada em Castrolanda, num segundo momento, além de continuar amparando a integração da família à cultura, assumiu as despesas financeiras como aluguel e alimentos e ajudou a família e encontrar trabalho. Atualmente a mãe, o pai e o filho mais velho estão empregados. O filho mais novo, em idade escolar, recebe uma bolsa integral para cursar a Escola Evangélica. O acordo entre a igreja e a família prevê diminuir gradativamente a ajuda financeira.
O gesto de acolhida inclui a designação de dois casais da igreja para acompanhar e apoiar mais de perto a família. Foi organizado um rodízio entre os membros para, a cada domingo, trazer a família síria aos cultos na igreja. O apoio em construir um novo círculo de amizades é muito importante para integrar a família à nova realidade.
Nesta experiência de hospitalidade a família síria, que fugiu dos horrores da guerra, ganha a oportunidade para construir uma nova vida. A igreja igualmente é beneficiada. Ao interagir com a família da Síria, o horizonte das pessoas é ampliado, sem perder o foco nas necessidades locais. A Igreja Reformada em Castrolanda, em parceria com a comunidade da IECLB em Castro, mantém um Centro de Apoio a Criança e Juventude. A hospitalidade a esta família é também uma oportunidade para a igreja estender sua gratidão a Deus pela acolhida do passado, quando, depois da Segunda Guerra Mundial, imigrantes da Holanda fundaram a colônia de Castrolanda. Enfim, a hospitalidade tanto às pessoas de longe como às pessoas mais próximas, se torna, nas mãos de Deus, uma dádiva para a igreja, um testemunho de que outro mundo é possível.
Como pastor da IECLB que trabalhou em comunidades da IECLB no Sínodo Vale do Itajaí, eu me pergunto, porque nós, em nossas comunidades, muitas vezes, enxergamos mais as dificuldades do que as possibilidades? Porque nos deixamos conduzir pela cultura de desconfiança, ao invés de confiar que o Espírito de Deus pode nos conduzir na comunhão com novos vizinhos, incluindo pessoas estrangeiras em busca de uma casa hospitaleira? Que impacto teria nosso testemunho de acolhida, caso praticássemos as palavras de Jesus, “era estrangeiro e vocês me receberam em sua casa?”.
Para tanto, não é necessário acolher todas as pessoas refugiadas. Lembrando a sugestão do Papa Francisco, “que cada paróquia acolha uma família”, nós, como comunidades luteranas da IECLB, poderíamos também exercer um gesto concreto de hospitalidade e solidariedade. O acolhimento de uma família é suficiente para nossas comunidades darem seu testemunho de que outro mundo é possível.
P. Me. Alexander Busch
Igreja Reformada em Castrolanda
Castro PR