Abrindo as Portas da lgreja
19 a 21 de abril de 2001
Afro-brasileiros luteranos: sonho ou possibilidade?
Uma Carta de São Leopoldo para a IECLB
Reações preliminares do Simpósio
Maio de 2001
Queridas irmãs e queridos irmãos em Jesus Cristo!
Somos um grupo de representantes de Sínodos, setores de trabalho e departamentos da IECLB que se reuniu nos dias 19-21 de abril de 2001, na Escola Superior de Teologia em São Leopoldo/RS, com esperanças de colaborar no processo de abertura das portas de nossa Igreja para que ela se torne um lar espiritual para brasileiros e brasileiras de todas as etnias. Representamos 11 dos 18 sínodos, de todos os cantos do país, além de nove setores e departamentos de trabalho da IECLB (Juizes 5:15-17). Somos homens e mulheres, brancos, afro-descendentes e teuto-brasileiros, somos jovens e maduros. Aceitamos o convite da IECLB para debater etnia, teologia e justiça racial no Brasil e o vínculo destes temas com a proposta evangélica luterana e o futuro de nossa Igreja.
Somos uma Igreja que afirma em seu nome e auto-definição ser uma igreja de Jesus Cristo no Brasil. Com esta constatação assumimos que somos parte de uma sociedade multifacetada, multietnica, multicultural e pluralista. A IECLB se define como uma Igreja que quer se encarnar na realidade brasileira. Como seres humanos, não estamos dispensados de nosso estado de pecadores. Isto significa que nossas instituições também participam nos/dos males do mundo. Por isso, destacamos o princípio luterano da ecclesia semper reformanda (a igreja sempre deve estar se reformando). Nesta temporada pós-pascal, constatamos que para ser uma fé sempre em reforma, é necessário que algumas coisas morram para possibilitar que vida nova brote.
Neste sentido, retomamos o tema do simpósio Abrindo as Portas da Igreja: Afro-brasileiros luteranos - sonho ou possibilidade? Destacamos que a imagem das portas abertas não indica só um fluxo de fora para dentro, mas também implica um fluxo de dentro para fora, com o fim de facilitar que nossa membrezia saia e demonstre um comportamento mais evangélico e acolhedor, tendo também mais contato com o mundo circundante para melhor entender nossas oportunidades de servir ao Senhor. Aplaudimos a iniciativa do 18° Concílio Geral da IECLB que, com o documento Deus não é racista, pronunciou-se a respeito de tema tão conflitivo e urgente. Contudo, percebemos que o documento mantém-se distante da realidade de nossas comunidades, pois o preconceito não se expressa apenas em formas violentas e extremadas, mas ele também faz parte de nosso cotidiano e de nossas instituições. Neste sentido, alertamos para o silêncio do próprio documento quanto a isto e nos sentimos interpelados a fazer uma análise de como o preconceito racial se expressa em nossa igreja.
Esperamos que possa se concretizar um compromisso da IECLB, uma palavra através da qual os membros da Igreja tornem público seu anseio por receber não somente as pessoas afro-descendentes, mas também suas contribuições em forma de dons e riqueza espiritual e cultural.
Desafiamos a IECLB a encontrar novas formas de ação missionária que considerem os vários tipos de comunidades. O modelo de uma igreja de atendimento (baseado nos limites étnicos) tem como alvo a manutenção da estrutura eclesiástica. Este modelo não procura em seu horizonte o crescimento quantitativo ou cultural. Além disso, é antiquado e descontextualizado, pois veio de uma outra época e de um outro continente, não servindo mais no Brasil.
Comprometemo-nos com a mobilização, convocação e envolvimento no processo de abrir as portas da igreja, incluindo a implantação de uma pastoral luterana afro-descendente. Estamos comprometidos com a tarefa feliz de compartilhar o evangelho que demonstra o alto valor que Deus já pagou por cada afro-descendente brasileiro e a participar no resgate da auto-estima de pessoas afro-descendentes por vários meios, incluindo o resgate de experiências positivas dentro da IECLB. Consideramos que a renovação litúrgica deve incluir as tradições culturais e musicais das várias etnias existentes no
Brasil.
Entre as muitas tarefas, destacamos pelo menos quatro que consideramos fundamentais e urgentes:
1. Educação entre membros e paróquias já existentes para levá-los a entender que a proposta evangélica luterana não é um patrimônio étnico, mas um dom de Deus que saiu primeiro de uma cidade pequena na Alemanha direcionada a todos os povos e todas as culturas;
2. Implantação de um projeto missionário em áreas onde a igreja luterana esteja presente e a população
predominante seja composta de afro-descendentes, levando teuto-brasileiros a estabelecer uma relação mais constante com a proposta evangélica luterana;
3. Desenvolver a ação diaconal em conjunto com a esta população, considerando os índices de desenvolvimento humano da população afro-descendente no Brasil;
4. Despertar vocações para os ministérios pastoral, catequético, diaconal e missionário entre afro-descendentes evangélico luteranos.
Agradecemos à EST, à IECLB e à Fundação Luterana de Diaconia pelo apoio já dado, o qual possibilitou a realização deste simpósio. Admiramos a visão que demonstraram em tal apoio. Encorajamos estas instituições parceiras a redobrar seus esforços para trabalhar com esta população, acolhendo-a em nossa igreja e promovendo sua dignidade na sociedade brasileira. Destacamos especialmente a Fundação Luterana de Diaconia e seu compromisso com afro-descendentes, prioritariamente jovens e com crianças excluídas ou em via de exclusão, as quais são desproporcionalmente os grupos mais
atingidos.
Sínodos
Sra. Augusta Ramos da Rocha - Sínodo Espírito Santo à Belém
Sr. Manoel Esteves Lima - Sínodo Sudeste
Irmã Áurea A. Alcântara* - Sínodo Brasil Central
Sr. João Batista Pereira - Sínodo Amazonia
Sra. Maria de Lurde Arruda - Sínodo Mato Grosso
Pastor Carlos Ulrich - Sínodo Norte Catarinense
Sra. Andréia Ramos Santana - Vale do Itajaí
Sr Juvelino da Cruz - Central-Sul Catarinense
Sr. Augusto Plácido Processo - Sínodo Uruguai
Sra. Íris Schultz Wendland - Noroeste Rio-Grandense
P. Carla Susana Krüger - Planalto Rio-Grandense
* Ausente por motivos de uma doença familiar.
Participantes
Instituições da IECLB
Pastor João Artur Müller da Silva - Editora Sinodal
Sr. Fábio Borges de Rosário - Juventude
Sr. Ivo Schreiber - MEUC
P. Arteno Spellmeier - COMIN
Pastor Valdemar Schultz - Departamento de Catequese
Candidata Louvani Lilge - Departamento de Diaconia
Sra. Maria Eleni Pereira Leite - Associação Irmã Sophie Zink
P. Dr. Ingo Wulfhorst - Grupo de Trabalho Pluralismo Religioso
Sr. Francisco Rafael Soares dos Santos - Pastoral Popular Luterana
Comissão organizadora
P. Ms. Edson Streck - Secretário de Formação
Sra. Lurdilene da Silva - FACTEOL, Aluna
P. Dr. Peter T. Nash - EST, Docente
Ms. Osmar Witt - EST, Docente
P. Dr. Renatus Porath - EST, Docente
Ricardo Brasil Charão - IEPG, Aluno
Equipe de Sistematização
Silvia Schuenemann
Ricardo Fiegenbaum
Wili Bauermann