Parábola do Filho Pródigo
EPIFANIA
Contexto:
A parábola do Filho Pródigo (a palavra pródigo significa desperdiçador, gastão, extravagante)é talvez a mais conhecida das parábolas de Jesus, apesar de aparecer apenas em um dos evangelhos canônicos. Ela poderia até receber outros títulos ainda, tais como: “o pai misericordioso”, “o pai e seus dois filhos”, etc.
Essa parábola surge como uma reação de Jesus a fariseus e escribas que julgam a postura dele, de relacionar-se, de dialogar, de ter comunhão com pessoas tidas pela sociedade da época como de má fama, pecadoras ou impuras. Ela é muita rica em significado e permite abordar temas como o juízo frente aos “perdidos” de hoje, a intolerância, o fundamentalismo, o moralismo, relacionamentos humanos, o consumismo e suas vítimas, a reconciliação na família humana, a discriminação, inclusão e exclusão, a alegria, a graça de Deus que acolhe a todos/as, etc.
Pensamos que este tema tem muito a contribuir com os jovens no contexto da cidade, pois quando falamos dela falamos de um contexto complexo, multifacetado, multiforme, diverso, amplo, capitalista, consumista, neoliberal e cheio de desafios, pois é nela que somos chamados a ser sal e luz.
LUCAS 15. 11-32
O TEXTO E O CONTEXTO
O texto bíblico em questão faz parte de um contexto maior e é precedido por outras duas parábolas (“a parábola da ovelha perdida” e “a parábola da dracma perdida”), onde os temas são “o perdido, o encontro e a alegria”.
No início do capítulo 15 (vv. 1-2), lemos: “aproximaram-se de Jesus todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles”. Assim, as três parábolas são uma reposta que Jesus dá a fariseus e escribas que murmuravam pelo fato de Ele receber, misturar-se e comer com os cobradores de impostos e gente de má fama. Estas pessoas de “comportamento correto” perante a lei não compreendiam (murmuravam) como Jesus combinava a proclamação do Reino de Deus e a sua comunhão com os pecadores.
Os fariseus eram líderes religiosos que observavam os costumes e as leis com muito rigor e exigiam a mesma coisa das outras pessoas. Consideravam impuro quem entrasse em contato com doentes, pagãos e pecadores. Os escribas se consideravam os “donos” do saber, pois eram praticamente os únicos que sabiam ler e escrever. Interpretavam as leis e ensinavam ao povo como deveriam cumpri-las. Jesus, porém, os repreendem, dizendo que não praticavam o que ensinavam. Os publicanos eram pessoas que cobravam impostos. A população não gostava deles, porque o dinheiro era entregue aos romanos e não beneficiava os próprios habitantes. O povo era explorado com estes altos impostos e ficava mais pobre. Pecadores são as pessoas que os murmuradores excluem da comunhão com Deus, porque as consideram injustas ou impuras.
As parábolas citadas querem instruir na compreensão de que a solidariedade de Jesus vai além dos paradigmas dos seus opositores, porque está baseada no amor de Deus e não na letra da lei.
As parábolas citadas querem instruir na compreensão de que a solidariedade de Jesus vai além dos paradigmas dos seus opositores, porque está baseada no amor de Deus e não na letra da lei. |
Jesus não nega que o amor de Deus inclui os que vivem corretamente diante da lei e não nega que os céus se alegram com a sua coerência, mas nega-lhes o direito ao desprezo, ao julgamento do outro, a exclusão e afirma que haverá alegria maior com o perdido que volta. Além disso, Jesus estimula os que murmuram a se alegrar com a alegria de Deus pela conversão e a volta dos “perdidos”. Deus ama os pecadores, não por causa do pecado deles, mas por causa da sua divina misericórdia. Essa é a justiça de Deus, que vai muito além da justiça dos que dividem as pessoas em merecedoras e não-merecedoras do seu amor.
Mais do que exigir vida correta e prática piedosa, Jesus convida-os para a comunhão e para a dedicação àqueles que são desprezados por serem considerados perdidos. Jesus convida os murmuradores a se incluírem na alegria dos céus, da qual se auto-excluem, quando excluem a outros.
Esta parábola trata de dois filhos que se perdem por culpa própria, afastam-se e rompem a relação com o pai. Quebrada a relação, um dos filhos cai fundo, acaba na miséria, vai cuidar de porcos, o que é, aos olhos dos judeus da época, a expressão máxima de uma vida impura (para os judeus os porcos são animais impuros). Significa humilhação total e perdição plena. Comer a comida dos porcos, tornar-se “porqueiro”, significa alcançar o fundo do poço, era como virar gentio, pagão. E vejam só: no fundo do poço surge o desejo da volta, da conversão (mudança de mentalidade e atitudes). O outro filho progride e usa o seu progresso e a sua vida regrada como auto-suficiência, afastando-se, com isso da relação com o pai, o que se evidenciam o desprezo e julgamento ao irmão, quando este volta.
O pai, por sua vez, vai ao encontro do filho que volta, acolhe-o com festa, anel, veste nova e beijo, todos símbolos para o restabelecimento da relação “pai-filho”. O comportamento do filho mais velho é frio, invejoso, cheio de desprezo, convicto dos seus méritos, desenha o perfil dos opositores legalistas que murmuram (fariseus e professores da lei).
O filho mais novo volta, e a alegria é grande. O filho mais velho permanece afastado, longe do pai e longe do irmão. A parábola não diz se ele volta ou não, porque ela responde aos que murmuram. Eles mesmos são o filho mais velho (fariseus e professores da lei), e são eles mesmos que devem decidir se voltam.
Deus ama os pecadores, não por causa do pecado deles, mas por causa da sua divina misericórdia. Essa é a justiça de Deus... |
REFERÊNCIAS DE CONFESSIONALIDADE
Ao ler e estudar com afinco a carta de Paulo aos Romanos, Lutero redescobriu o Deus misericordioso, que nos justifica, aceita, independente das obras da lei... “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé” (Rm 1.17). Aprendemos, assim, que todas as pessoas são ao mesmo tempo justas e pecadoras, carecedoras da glória de Deus, como está também escrito em Romanos 3.23 e 28: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”; “Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”.
Assim, aprendemos do testemunho bíblico, e de Lutero, que o ser humano é totalmente incapaz de fazer qualquer coisa para a sua salvação. Paulo ensina como se operou a nossa salvação: Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados ... e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos (Ef 2.1,5). Foi pela graça, diz Paulo, que fomos vivificados, estando nós mortos.
A doutrina da inabilidade total do ser humano para salvar-se foi um dos marcos da Reforma. No seu livro “Da Vontade Cativa”, Lutero nega que o ser humano tenha livre arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher entre o bem e o mal, depois da queda. Vendido ao pecado, o ser humano não tem mais a habilidade para escolher o bem, pois sua vontade está presa ou escravizada pelo pecado. Só pode e só quer escolher o pecado. A salvação é, portanto, exclusivamente ato da livre e soberana graça de Deus.
Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé” (Rm 1.17) |
Voltando ao texto de Lucas 15. 11-32, percebemos agora que tudo fica mais claro ainda: Jesus veta aos fariseus e escribas o direito de “se acharem merecedores” da graça de Deus e consequentemente, autorizados a dizer quem a merece ou não a merece. Isso só cabe a Deus, que é rico em misericórdia. Ou seja, a salvação é por graça e não por méritos e boas obras.
IMPULSOS DE MISSÃO
A parábola do Filho Pródigo nos oferece algumas chaves de leitura e missão:
Poderíamos refletir no grupo de jovens sobre inclusão e exclusão.
Aprendemos de nosso texto bíblico que os fariseus e escribas com a atitude que tiveram quebraram e transgrediram os mandamentos, pois negaram a Deus e também não prestaram serviço algum ao próximo. Ao julgarem os outros, eles mesmos não cumpriram um ponto sequer da lei. Se eles tivessem dito: “Ó Jesus, nós todos somos pecadores, tem misericórdia de nós!”, então teriam cumprido o primeiro mandamento de Deus, uma vez que teriam dado honra e louvor a Deus e não estariam se colocando no lugar Dele. E se, depois, tivessem dito: “Ó Jesus, vejo que aqueles ali são pecadores, ajuda-os a entrar no Reino também, bondoso Senhor!”, e tivessem intercedido por eles, teriam cumprido também o outro mandamento, o do amor cristão, como Paulo diz e ensina (Gálatas 6.2): “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo”. Mas acontece que eles tentam impedir que a graça de Deus seja dada a todos. Ao mesmo tempo, estão cheios de ciúmes e inveja, ao passo que se Deus lhes permitisse serem juízes, empurrariam os publicanos e pecadores para fora da graça de Deus. E isso nos é apresentado para que não imitemos o exemplo dos fariseus e escribas.
A missão de Deus é amar o mundo e mostrar ao mundo o seu amor. O sinal mais claro e inequívoco do amor de Deus pelo mundo é seu Filho Jesus Cristo. Ele tornou-se gente como nós, viveu e morreu, e Deus o ressuscitou para que pudesse mostrar a paixão divina por toda a sua criação. Essa é a missão de Deus: amar o mundo a ponto de entregar o seu próprio filho. E é essa missão de Deus que constitui a nossa paixão. (PAMI) |
Poderíamos refletir no grupo de jovens sobre “os filhos gastões e suas famílias”.
Jovens ou famílias acabam se endividando com seus cartões de créditos, iludidos pelo consumismo, e acabam com o “nome sujo na praça”, pagam juros altos e comprometem até mesmo seus estudos ou sonhos, sofrendo muito com isso. É possível ler online a matéria do jornal FOLHA DE SÃO PAULO “Famílias comprometem em média 42% da renda para saldar dívidas” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1136899-familiascomprometem-em-media-42-da-renda-para-saldardividas.shtml )
Poderíamos refletir no grupo de jovens sobre discriminação e intolerância.
A inimizade entre judeus e gentios vinha da lei. Ao superá-la, Jesus mostra que nem judeus (o correto irmão mais velho) tampouco pagãos (o irmão que está perdido no mundo, à procura de um sentido de vida) precisam fazer algo para reconciliar-se com Deus, a não ser amar-se, o verdadeiro caminho da superação. A família experimentou uma crise no retorno do filho, mas o amor do pai ensinou o respeito mútuo. A proposta de Cristo pede para que se pare com a produção de atrocidades e se passe a viver em amizade e unidade; que se pare com os juízos arbitrários e se ensaie a inclusão.
Nessa nova condição, o ser humano é tido como amigo de Deus; visto de forma igual e não-discriminatória ou partidária. O desafio trazido à humanidade é poder olhar uns para os outros sem discriminação, assim como Deus olha para seus filhos/as.
A perspectiva divina para os relacionamentos humanos e planetários é que a igualdade amorosa se realize em seu meio, estendendo-se inclusive, para todo o ecossistema - os animais e a natureza que habitam o planeta.
Oração: Querido Deus, criador do mundo e de todos os seres vivos, obrigado por tua maravilhosa criação. Ajuda-nos a cuidar deste mundo multicolorido criado por ti. Tu vieste a nós através de Jesus Cristo, manifestando a tua misericórdia. Querido Deus, através da fé obtivemos acesso à graça da justificação, revelada em Jesus Cristo, sem méritos de nossa parte. Enche a nossa vida de atitudes que não confundem, que não excluem, mas que antes reconciliam, unem e promovem inclusão. Derrama o teu amor em nossos corações e vidas através do Espírito Santo. Dá-nos a tua paz na unidade da ação do teu poder. Amém. |
DINÂMICA PARA FACILITAR O DIÁLOGO SOBRE AS CONSEQUENCIAS DAS ESCOLHAS
Escolhas
Objetivo: Demonstrar que todas as nossas escolhas tem consequências e que ninguém está isento de fazer escolhas erradas, ruins.
Material: Uma cadeira confortável, uma cadeira ‘normal’, uma cadeira desconfortável. Papel, caneta e fita adesiva. Alguns prêmios para distribuir Tempo: quinze a vinte minutos
Processo:
1 - O Animador pede a alguns jovens (3 ou 4 dependendo do tamanho do grupo) para se retirarem da sala. Então dispõe as três cadeiras diferente uma ao lado da outra. Num pedaço de papel escreva premio e cole debaixo da cadeira desconfortável. Em outro pedaço de papel escreva castigo (o castigo o grupo poderá escolher, tipo; contar para o grupo algo engraçado, ou cantar uma musica, etc.) e cole debaixo da cadeira confortável. Em outro pedaço de papel
escreva dizer um versículo bíblico e cole debaixo da cadeira normal.
2 – Então chame os voluntários um por um e peça para que eles escolham uma das três cadeiras para sentar. Depois que cada um sentou na sua cadeira o animador revela que tem debaixo da cadeira uma tarefa para cumprir.
3 – Conversar com o grupo sobre as consequências das nossas escolhas. Muitas vezes escolhemos algo pensando que será bom, e que só mais tarde descobre-se que a escolha foi errada. Assim como o filho pródigo.
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