A Jornada Nem Tão Doce Lar, que consiste em atividades de formação, rodas de diálogo e exposição, esteve, entre os dias 23 e 28 de agosto, em Goiânia (GO), integrando as ações alusivas ao Agosto Lilás no âmbito do Sínodo Brasil Central. A campanha nacional é referência ao aniversário da Lei Maria da Penha, instituída pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, que, em 2022, completou 16 anos.
Mais de 130 visitantes passaram pela exposição, que esteve aberta nos dias 25 e 26 de agosto, no templo da IECLB. Executada pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD) desde 2006, a mostra consiste na réplica de uma casa com sinais e pistas para identificação da violência doméstica praticada contra meninas, mulheres, crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência. Entre o público recebido estavam estudantes de 15 a 18 anos da Escola Estadual Lyceu.
Para Maria Clara Dunck, coordenadora da Ouvidoria da Mulher da Câmara Municipal de Goiânia, chamou atenção o fato da metodologia ser aplicável a diferentes realidades. “Os métodos de imersão, que vão de capacitação a exposição interativa, mostram o quanto é possível abordar um tema tão sensível de forma a atrair diferentes perfis sociais e etários para pensar a problemática, bem como demonstram a maturidade do projeto, servindo também de inspiração para quem trabalha cotidianamente com essas questões e precisa pensar as melhores formas de levar o assunto a diferentes públicos”, avalia.
Para ela, o conteúdo, a didática e a leitura de contexto foram oferecidos com maestria durante toda a programação. “O projeto está em mãos habilidosas e cheias de credibilidade. Que possa voltar a Goiânia o quanto antes. Vida longa à Jornada Nem Tão Doce Lar!.”
Entre a metodologia citada por ela, estão as duas oficinas de formação pra pessoas acolhedoras, realizadas no auditório Carlos Eurico, da Câmara Municipal de Goiânia. A qualificação foi voltada para profissionais que atuam na rede de apoio através dos equipamentos públicos de assistência, educação e saúde, e também às equipes técnicas de organizações da sociedade civil, movimentos sociais, coletivos, lideranças comunitárias e pesquisadoras e pesquisadores da temática.
Outra atividade foi a roda de diálogo sobre superação da violência doméstica e familiar, realizada através do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, por meio do Núcleo de Pesquisa em Gênero, Poder e Religião da Puc Goiás. O encontro foi transmitido ao vivo no canal do Youtube da universidade e pode ser assistido AQUI.
O encerramento da Jornada se deu no domingo, dia 28, com o culto temático: Uma vida sem violência é um direito humano. A celebração foi oficializada pelo pastor Felipe Buttelli, da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Goiânia/IECLB, pela pastora Carmem Siegle, da coordenação de Gênero, Gerações e Etnias da IECLB, e por Rogério Aguiar, assessor de projetos da FLD. Ao final, uma oração de intercessão e bênção foi realizada dentro da casa.
“Foi uma experiência profunda e significativa. Gratidão à presidenta da Comunidade, Helga Schneider Trautenmuller, pelo compromisso assumido, e à pastora voluntária Soliana Schneider, pelo envolvimento na montagem dos cenários. Valeu a pena, por perceber a importância de trazer ao debate público a realidade das diversas formas de violência que permanecem, na maioria das vezes, ocultas nos espaços privados dos lares”, comenta P. Felipe Butelli.
Ele também celebra o comprometimento da comunidade com a causa por meio da participação de membras e membros na organização do evento em conjunto com as parcerias ecumênicas e pessoas que constituem a rede de acolhimento a mulheres em situação de violência.
“Somos uma comunidade pequena do Sínodo Brasil Central que visa ser uma comunidade acolhedora e inclusiva. A pauta da violência doméstica e a atuação, no âmbito comunitário, pela justiça de gênero fazem parte do histórico desta comunidade há bastante tempo.”
A pastora Carmen também afirma que a preocupação na IECLB com a violência doméstica, de modo geral, não é algo novo. “O compromisso com a justiça de gênero, com a causa das mulheres, por uma vida livre de violências e opressão já vem de longa data. Nessa caminhada, de sensibilização e luta pela superação da violência doméstica, fortalecer parcerias, apoiar projetos como a NTDL e a articulação do tema por meio de todos os canais possíveis na igreja e fora dela é necessária e importante”, pontua.
Se por um lado a caminhada é longa, por outro lado se reconhece que o tema ainda encontra resistência dentro das comunidades de fé. “Há um certo negacionismo em relação à presença da violência doméstica no seio das comunidades luteranas que precisa ser trabalhado para ser superado. É uma discussão que nos desafia, como mulheres e homens, a pensarmos coletivamente em relações diferentes, em ações transformadoras. E acredito que a jornada NTDL contribui fortemente nesse processo”, conclui.
A jornada Nem Tão Doce Lar em Goiânia é fruto de uma parceria entre a Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Ouvidoria da Mulher da Câmara Municipal de Goiânia, Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Goiânia/IECLB, Paróquia Anglicana São Felipe, Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias da IECLB, Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST e o Núcleo de Pesquisa Religião, Gênero e Poder da PUC Goiás. As atividades realizadas em 2022 contam com o apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) através do Fundo de trabalho com vítimas de violência doméstica, constituído a partir do plano de ofertas nacional.
Nos próximos dias, a Jornada passará por Águas Formosas/MG (de 12 a 14 de setembro) e Teófilo Otoni/MG (de 15 a 17 de setembro). Em novembro será a vez do Rio Grande do Sul receber a iniciativa.