A diversidade de causa e objetivos da diaconia determina suas formas. Não podem ser padronizadas Definem-se concretamente a partir das exigências de situações, contextos, pessoas. Ajuda tem inúmeras modalidades e desafia a criatividade do amor. Podem ser distinguidas, basicamente, duas categorias:
Diaconia é a ação da misericórdia. Tem olhos para miséria e se compadece. Assim o fez o bom samaritano na parábola de Jesus, assim o fez o próprio Deus ao enviar seu Filho para a nossa salvação. Daí porque: Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai (Lc 6.36). Misericórdia não pode permanecer apática frente ao sofrimento. É compaixão que busca o auxílio imediato.
Diaconia é a ação da justiça. Tem olhos para os direitos das pessoas e denuncia sua violação. Vai manifestar-se como solidariedade aos injustiçados e luta contra o crime. O próprio Jesus é o exemplo. Denunciou leis discriminatórias de sua época e assumiu a causa das vítimas. Não se conformou com a maldade que, para sancionar-se, abusa do poder legal (conforme Mc 7. l s). Justiça defende a causa moral e busca o auxílio duradouro.
Seria fatal se misericórdia e justiça fossem colocadas em termos excludentes, alternativos. Devem complementar-se. Misericórdia desinteressada na justiça corre o risco de se reduzir a uma questão puramente sentimental. Será cega para os brutais mecanismos estruturais com que em nossa sociedade se produz sofrimento. Vai prejudicar a eficácia de sua ação. Inversamente, justiça sem misericórdia periga tornar-se desumana. Será altamente fria. Ilude-se ao pressupor que esteja em condições de eliminar globalmente as causas do sofrimento. Vai ficar devendo às pessoas muito auxílio imediato. Na ação diaconal do cristão, a misericórdia e a justiça devem permanecer unidas. Daí resulta:
Diaconia terá a forma da assistência. Caracteriza-se pelo contato pessoal direto que exige. E diaconia próxima. Implica envolver-se em problemas alheios, participar de sofrimento, sujar as mãos. Assistência é amor concreto a pessoas com deficiências, fraquezas ou problemas. É nada fácil de praticar. Aliás, não se deveria confundir assistência e assistencialismo. Deste, só se pode falar se a assistência for absolutizada como única forma legítima e possível da diaconia. O assistencialismo é ruim, mas a assistência é vital. Constitui uma prova da autenticidade do amor.
Diaconia terá a forma da solidariedade. Assume a causa justa do outro, vai em sua defesa, coloca-se a seu lado. Solidariedade é diaconia com. Procura somar forças e dar apoio mediante a identificação com o sofrimento e a luta por sua superação. Pode ter a forma da solidariedade passiva. Isso, por exemplo, em casos de luto, quando não temos com que ajudar senão com a mera presença Não em casos de apoio a movimentos populares, cujos reclamos justos exigem a tomada de medidas Nessa e em outras situações, se requer a solidariedade ativa. Evidentemente, toda solidariedade humana será fragmentaria. Ninguém é capaz de identificar-se exatamente com outra pessoa e colocar-se em seu lugar. Além disso, solidariedade sempre terá que ser crítica a fim de não reverter em dependência. Deve perguntar quando pode dar apoio, quando não. Mas, sem solidariedade, o amor não existe Ela é uma de suas mais nobres manifestações.
Diaconia terá forma da parceria, ou seja, de um convívio caracterizado pela troca espontânea de serviço a partir dos dons específicos de cada qual. Seus pressupostos são o respeito à identidade do outro ou da outra, a renúncia ao desejo de dominar e a resistência ao ser dominado. Parceria é o exercício da fraternidade entre pessoas, grupos e povos e se dá através de comunicação, intercâmbio, complementação e correção mútua. E convívio dinâmico, em busca de síntese, cooperação e comunhão.
Diaconia terá a forma de ação política. Isto em sentido mais amplo da palavra, ou seja, como interesse pelos assuntos da sociedade e esforço por melhorar sua condição e situação. Se a política vai mal, é porque faltam diáconos e diáconas dispostos a se empenhar pelo bem comum e a batalhar por mais justiça. Especialmente em nossos dias, o amor, quando sincero, não pode desprezar o instrumento da ação política na perseguição de objetivos. É de decisões políticas, de estruturas sociais justas que resulta incalculável sofrimento humano. E é somente com decisões políticas que esta situação pode ser revertida justiça e integridade da criação, pré-requisitos indispensáveis para a sobrevivência humana, são assuntos altamente política religiosos .
Ainda outras formas de diaconia são imagináveis, nelas, sem dúvida, os projetos de desenvolvimento. Não há necessidade de entrar em detalhes. Importante é que nenhuma forma exclui a outra. Pelo contrário, elas se mesclam e devem cooperar ainda que esta ou aquela possa merecer prioridade em determinada da situação. Em nosso país, a ação da justiça, a solidariedade com os empobrecidos e o esforço político por transformações estruturais adquiriram especial relevância e urgência A ação da misericórdia não deve ser esquecida, todavia. O que importa é salvar vida. Tal objetivo não permite a restrição a um só tipo de atividade diaconal. Exige a mobilização de todos os recursos e a interação de todas as suas formas.
Diaconia Evangélica - Posicionamento do Conselho da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB, 1988 - veja versão completa