A vida de Tomé não era fácil. Ele era um menino com 10 anos, que aos 8 anos havia perdido seus pais num acidente de automóvel. Ele escapou com vida, mas ficou paraplégico. Foi acolhido por uma tia, que atendia suas principais necessidades: Teto, alimentação, vestuário, conforto... Porém, havia pouco diálogo. Os dois moravam num prédio no centro da cidade. O quarto do Tomé ficava no segundo andar. Tomé tinha apenas um amigo. Tiago foi seu colega da aula no passado. E, mesmo depois que mudou de escola, Tiago continuava a visitá-lo, sendo seu único e melhor amigo. Dia sim, dia não Tiago aparecia. Certa tarde, Tiago apareceu meio afobado. Dizia ter duas notícias. Uma boa, outra ruim. Tomé quis receber primeiro a ruim. Então, ouviu: Meu pai, que é bancário, foi transferido para outra cidade. Eu e minha família vamos mudar. Não poderei visitá-lo com a mesma frequência. Quem sabe agora só nas férias. Tomé ficou triste, pois perderia seu único amigo. Mas, perguntou pela boa notícia. Tiago retirou do bolso um envelope, entregando-o ao amigo. Tomé abriu e viu uma nota de R$ 100,00. Quero que você compre um presente que servirá para se recordar de mim. Não há como - disse Tomé - dificilmente saio do quarto. Como vou comprar algo? Tiago fez uma proposta: Pense naquilo que você deseja. Eu vou comprar e te trazer. Tomé lembrou dos pais em vida, quando todos iam à igreja. Tomé participava do Culto Infantil. Ouvia histórias de Jesus. Agora sua tia não o levava mais à igreja... Não lhe contava histórias... Sequer tinham uma Bíblia em casa. Eu quero uma Bíblia, de preferência ilustrada. Os dois se abraçaram e se despediram. Tiago prometeu providenciar o presente. Naquele mesmo dia, à tarde, alguém bateu à porta. A tia atendeu. Era a moça da livraria com um pacote para o Tomé. A tia encaminhou o presente e ficou espiando. Ela também ficou contente. Tomé passou a ler a Bíblia com dedicação. Acordava e já pegava na Palavra. Substituiu o diálogo com Tiago por longas orações. Jesus tornou-se o seu grande amigo. Jesus não deixa ninguém na solidão. Apesar das dificuldades, Tomé era feliz, pois havia encontrado o maior amigo de todos: JESUS. Certo dia, na leitura, Tomé descobriu que Jesus tinha muitos discípulos, inclusive um com seu nome. Jesus lhes deu a missão de falar sobre Deus Pai. Tomé sentiu uma enorme necessidade de falar aos outros sobre Jesus. Toda vez que a tia aparecia, ele lhe contava uma história ou aquilo que descobrira no Evangelho. Assim o diálogo entre os dois cresceu um pouquinho mais. Mas, Tomé queria mais. Outros também precisavam ouvir a respeito do grande amigo. Naquela noite, antes de dormir, em oração, pediu ajuda para Deus. Quando acordou no dia seguinte, viu no armário, em frente à sua cama, uma pilha de cadernos velhos. Pediu que a tia os alcançasse juntamente com um lápis. Todo dia, pela manhã e à tarde, para não gastar em vão as folhas dos cadernos, Tomé escrevia um versículo bíblico que lhe chamava a atenção sobre uma folha, fazia um avião e atirava pela janela na esperança de alguém o ajuntasse e lesse a mensagem. Assim, de sua maneira, Tomé estava evangelizando o mundo. Não demorou muito, alguém bateu à porta. A tia atendeu. Tomé escutava tudo de seu quarto. Era um homem, de voz rouca, que perguntava quem havia jogado um avião na sua cabeça. O avião veio ali de cima. Eu quero falar imediatamente com esta pessoa... Disse o senhor. Tomé se encolheu na cama, preparando-se para ganhar um xingão. A tia acompanhou aquele homem. Tomé escutava os passos na escada e se encolhia cada vez mais debaixo do cobertor. O senhor entrou, pediu licença para sentar ao lado da sua cama. Pediu para conversar em particular. A tia se foi. Tomé estava ali de olhos arregalados. O homem se apresentou: Eu sou Alberto... Eu sou Tomé... Quero lhe contar uma história, disse Alberto. Na semana passada ocorreu uma tragédia em minha vida. Meu único filho foi atropelado e morreu. Com muita tristeza, tive de sepultá-lo. Tomé lembrou-se da dor quando perdeu seus pais. Hoje estava por aí. Não sabia para onde ir. Confesso... Até pensei em tirar minha vida. Mas, de repente, esse avião bateu em minha cabeça. Abri e li: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu único Filho, para todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Comecei a chorar, pois lembrei que Deus também tinha somente um filho. E, este morreu. Morreu para nos dar a vida. Esse Jesus com certeza está ao lado do meu falecido menino. Esse avião de papel e o teu versículo me trouxeram grande conforto. Vim aqui, Tomé, não para te xingar. Mas, para lhe agradecer e quero ser teu amigo. Daquele dia em diante, todos os domingos, Alberto vinha de carro buscar Tomé e levá-lo à igreja. Participavam do culto e depois iam até a praça da cidade. Alberto colocava Tomé na cadeira de rodas que havia lhe dado. Passeavam entre as árvores e flores, sob o sol. Quando cansavam paravam e faziam um estoque de aviões para Tomé jogar pela janela com seus versículos preferidos.