Tua dor. Minha dor
O ditado popular diz que a dor ensina a gemer. Supõe-se que assim, a dor tem a capacidade de nos ensinar alguma coisa sobre a nossa vida. Diz-se também que o sofrimento serve como forma de depuração. Por esta afirmação, quem sofre torna-se melhor. O curioso é que, apesar disso, ninguém gosta de sofrer. Ninguém quer sentir dor. Ninguém quer padecer.
Tua Dor. Minha Dor me traz três coisas ao pensamento. A primeira é uma relação de comparação de qualidade: Pode a tua dor ser igual a minha? Pode ser a tua dor maior que a minha? Posso eu sofrer mais do que tu? Lembro da parábola do Filho Pródigo. Na perspectiva de cada um dos filhos, a dor de um era maior que a dor do outro. Mas na perspectiva do pai, a dor do irmão mais novo era apenas diferente da dor do irmão mais velho. E ele, pai amoroso que é, soube acolher cada qual em seu próprio sofrimento. Os irmãos, no entanto, se distanciaram porque um não soube compreender a dor do outro.
A segunda coisa que me ocorre é uma idéia de distanciamento. Se minha dor e tua dor não se comparam e cada qual sofre o que tem que sofrer, então deixe-me com a minha dor e fica tu com a tua. Se eu não compreendo a tua dor e tu não compreendes a minha, melhor é que fiquemos apartados com nossa dor, e a guardemos lá no fundo, escondida de tudo e de todas as pessoas. E a postura do levita e do sacerdote na parábola do Bom Samaritano. Cada qual tem seus problemas e deve virar-se com eles para resolve-los.
Mas a terceira idéia que me vêm na relação Tua Dor. Minha Dor é de identificação. A tua dor é a minha dor. Eu sinto a tua dor como se minha fosse. Tu sentes a minha dor como se tua fosse. Há empatia. Há solidariedade. Quando penso nisso, lembro de duas mulheres na Bíblia: Noemi e Rute. Viúvas, enlutadas, empobrecidas, migrantes. Noemi perdera ,o marido e os filhos e desejava voltar para a sua terra, para que suas noras, Rute e Orfa, pudessem casar-se de novo e, assim, serem amparadas. Noemi sofre por causa da condição de suas noras. Mas Rute não quer deixá-la. E numa ati-tude surpreendente e solidária, diz à sogra: ...aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus (Rute 1.16). E eu acrescentaria: a tua dor é a minha dor.
Mas o que é dor? Num sentido mais amplo, todas as dores do mundo, as dores que tu e eu sentimos, são manifestações da condição humana. Todas as dores, a minha e a tua, inclusive, são expressões de uma e mesma dor: a dor da morte, da finitude da vida, que é inerente à nossa condição de pessoas afastadas da comunhão com Deus. Não há, pois, dor maior ou dor menor. Graças a Deus, contudo, que, por intermédio de Jesus Cristo, a dor humana foi superada e transformada em vitória para sempre a partir da cruz, símbolo maior do abandono, do sofrimento, da morte.
Martim Lutero disse que devemos ser um Cristo uns para com os outros. Assim o Reino de Deus vai se anunciando como presente desde já entre nós. Ser um Cristo, porém, requer sensibilidade para ouvir aquele que sofre, que geme, que clama. Diante das dores do mundo, Jesus disse que aquilo que fazemos em favor dos que sofrem, é como se o fizéssemos ao próprio Cristo. Nesse sentido, se a dor ensina a gemer, então o clamor atendido, a dor aliviada, ensina muito sobre o Reino de Deus.
Sim, nosso mundo tem salvação. Minha dor tem fim. Tua dor, também. Porque Jesus Cristo é a nossa cura.
Técnica:
Material
Pedras de tamanhos e formatos diferentes que caibam na palma da mão.
Procedimento
Cada participante recebe, na entrada, uma pedra que deve ficar segurando na mão.
A pessoa responsável pela coordenação do encontro propõe um diálogo sobre as pedras que cada qual segura.
Pode-se descrever formatos, peso,tamanho, superfície. Pode-se perguntar o que acontece quando apertamos a pedra com a mão. É importante deixar que cada pessoa tenha oportunidade de se manifestar.
Depois desse primeiro diálogo, a coordenação lê o texto Tua dor. Minha dor, que está ao lado.
Em seguida, divide o grupo em pequenos grupos para conversarem sobre o que a pedra tem a ver com a dor de cada um. Pode-se pedir que as pedras sejam trocadas entre os participantes para que sintam as diferenças.
Nos grupos, ao encerrar a reflexão, dá-se um tempo para orações pela dor uns dos outros.
De volta ao plenário, o grupo conversa sobre as ações que pode fazer em favor das pessoas que sofrem na comunidade ou na cidade. Pode-se motivar essa reflexão perguntando-se o que podemos fazer com as nossas pedras11
No final do encontro, cada qual pode levar consigo a pedra que ganhou no início do programa ou a pedra que alguém lhe partilhou.
Ricardo Fiegenbaum, jornalista e teólogo Assessor do Departamento de Diaconia