Subsídios Teológicos sobre Diaconia
1. Diaconia de Todas as Pessoas Batizadas
Pelo batismo somos acolhidas e acolhidos por Deus em sua graça e chamadas e chamados ao discipulado de Jesus Cristo. Pelo batismo tomamo-nos membros do corpo de Cristo (...) Batismo é incorporação na unidade do corpo de Cristo (Bonhoeffer).
Ao mesmo tempo em que a Igreja de Cristo se caracteriza pela unidade do corpo de Cristo, é feita também pela diversidade de seus membros, que vivem em comunhão (Rm 12.5ss; 1 Co 12.12ss). O corpo, com seus muitos e diferentes membros, forma a comunhão de serviço: Cada qual serve conforme o dom que recebeu (1 Pe 4.10), de maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam (1 Co 12.26).
Bonhoeffer diz que o que conserva esta comunhão no corpo de Cristo é a Santa Ceia. Lutero, ao explicar a Santa Ceia diz:
Esta comunhão consiste em que todos os bens espirituais de Cristo e de seus santos são compartilhados e comunicados a quem recebe esse sacramento; por outro lado, todos os sofrimentos e pecados também passam a ser COMUM; de modo que amor é aceso por amor, levando à união (...) Vemos, portanto: se dói o pé de alguém, mesmo que seja só o dedinho, o olho se volta para ele, os dedos o tocam, o rosto se franze e todo o corpo se inclina em sua direção; todos se ocupam com o minúsculo membro contrapartida, cuidar bem dele faz bem .a todos os membros.
Para as primeiras comunidades cristãs, a Santa Ceia era a celebração em que recebiam o serviço de Cristo — sua auto-doação — e imediatamente se serviam entre si, partindo o pão, especialmente para as pessoas mais pobres (At 2.42-47; 4.32-35). Esta atividade concreta de servir à mesa para as pessoas pobres é o significado original de Diaconia.
As primeiras comunidades cristãs eram comunidades diaconais. Elas assim se organizaram a partir do que conheciam a respeito do próprio Jesus. Ele muitas vezes promoveu ceias comunitárias, nas quais acolhia pessoas rejeitadas ou famintas, celebrando com elas a comunhão e o saciar da fome (Mc 2.15ss; 6.30ss). Comparou o - vindouro reino de Deus com uma ceia comunitária, na qual serão acolhidas as pessoas pobres, aleijadas, cegas e coxas (ic 14.15ss), sendo que o próprio Senhor cingir-se-à e servirá à mesa (I.c 12.37). Mas, acima de tudo, quando Jesus disse: No meio de vós eu sou como quem serve(Lc 22.27) estava se referindo ao serviço único e inimitável que prestou- à humanidade, através de sua auto-doação. Esta Diaconia de Jesus, com a qual realiza a obra da reconciliação (2 Co 5. 18s) é a base da Diaconia da igreja cristã. A partir dela nos é dado participar do ministério da reconciliação através da diaconia da reconciliação (2 Co 5.18b).
2. O Significado do Termo Diaconia
A palavra diaconia origina-se do termo grego diakonia. O uso grego indicava para o serviço às mesas ou ainda, para o servir em geral. Na concepção grega, servir era algo indigno e indesejável, pois o que valia era dominar e estar na posição de receber os serviços dos outros.
A palavra diaconia entra para o vocabulário da igreja cristã somente a partir de Jesus. Ou seja, não encontramos o termo no AT. A palavra aparece no Novo Testamento em três fornias básicas: como verbo diakonein (37 vezes), como substantivo diakonía (34 vezes) e como substantivo diákonos (30 vezes). Somando, são 101 referências no NT, indicando o peso deste conceito na teologia neo-testamentária.
Porém, o termo não nos é familiar, porque foi traduzido por muitas outras palavras, como por exemplo: servo, serviço, assistência, assistir, ministério. Sobre este último, cabe mencionar que a Bíblia desconhece um termo que designe o que hoje costumamos chamar de ministério. Quase sempre quando temos esta tradução na nossa Bíblia, no original grego consta diakonía. Lutero traduziu, em 15 textos, a palavra diakonía por Amt (ministério).
O uso do termo diaconia é legítimo e seria bom se pudéssemos recuperá-lo, até para nos aproximarmos do sentido original dos textos bíblicos. As traduções da Bíblia prejudicaram também outros conceitos além deste e isto pode ser melhorado.
4. O Termo Diaconia em Paulo
Paulo utiliza muitas vezes ó conceito diaconia em suas cartas. Compreendia que, se a existência cristã não for profundamente diaconal, não será realmente cristã.
Paulo denominou-se diácono de Cristo (2 Co 6.4; Fp 1.1) e diácono da comunidade cristã (1 Co 4.1). Paulo chamou de Diaconia dos Santos a coleta realizada em favor da comunidade pobre de Jerusalém (2 Co 5.4).
Nas cartas pastorais, surge a figura do diácono ou diácona profissional. Ou seja, aquela pessoa que assume a tarefa de liderança na comunidade (1 Tin 3.8-13). A primeira referência nesses termos é feita a uma mulher, Febe, diákonos da igreja de Cencréia, a qual Paulo confere três títulos (Ver Rm 16.1).
5. A Comunidade Diaconal (incluir a tarja)
Na verdade, todo o espírito na Igreja de Cristo é diaconal. E mesmo havendo pessoas desemprenhando tarefas de anúncio da Palavra, ensino e diaconia, estas tarefas são de responsabilidade de todas as pessoas batizadas.
A lista das obras de misericórdia enumeradas por Jesus e registradas em Mt 25.31ss, consta de seis ações, quais sejam:
1. alimentar o faminto
2. dar de beber aos que têm sede
3. hospedar o forasteiro
4. vestir o nu
5. visitar o enfermo
6. ver o preso.
Estas são consideradas as ações clássicas da Diaconia. Elas representam os dois movimentos dos eixos principais da comunidade diaconal: a hospitalidade e a visitação.
No culto cristão, que é o encontro por excelência da comunidade cristã com Deus e dos membros entre si, há momentos marcantemente diaconais. Entre eles, destacam-se:
a) a oferta, na qual as pessoas batizadas dão do que têm em prol dos necessitados;
b) as intercessões, nas quais a comunidade intercede a Deus pelos que sofrem, pelos solitários, doentes, enlutados, perseguidos, pelos que sofrem privações e necessidades;
c) do Kyrie eleison, no qual a comunidade cristã clama a Deus pelas dores deste mundo, pela situação geral de sofrimento e dor e pede paz;
d) na Ceia do Senhor, onde as pessoas .batizadas recebem, comemoram e rememoram a Diaconia de Jesus e confirmam seu compromisso diaconal no Corpo de Cristo e no mundo.
Os destinatários da Diaconia das pessoas batizadas não são os necessitados, mas os mais necessitados, os mais fracos, aqueles que não poderão retribuir o benefício recebido (veja a interessante conversa de Jesus com o anfitrião de uma refeição, em Lc 14, especialmente os versículos 12-14).
6. Para finalizar
Conta-se que uni rabino foi perguntado por seus discípulos: Como se pode saber quando amanheceu um novo dia e acabou a noite?”
O rabino devolveu a pergunta aos discípulos. Um deles arriscou: É quando podemos distinguir com clareza entre uma vaca e um cavalo”.
Tendo ficado em silêncio o Mestre, outro discípulo disse: É quando sabemos discernir se a fruta é uma maçã ou urna pera”.
Como ninguém mais falasse, calmamente, o rabino disse: Terminou a noite e amanheceu um novo dia quando reconheço no outro, um irmão.