Subsídios sobre o Texto Bíblico
Mateus 20.1-16a
a) O texto
1. No início, a moldura da parábola, antes de qualquer reflexão mais profunda, parece trazer uni retrato bem conhecido: um empregador opressor, diante de empregados impotentes. O contexto dentro do qual Jesus coloca a parábola é de desemprego. Dentro dessa realidade, Jesus traz às claras um problema existente, que é a diferença de condições que há na sociedade, os níveis, os papéis que as pessoas desempenham. Essa parábola de Jesus traz elementos que escandalizam nossa compreensão capitalista. Aliás, todo o servir de Jesus escandaliza os conceitos do mundo.
2. Depois do inusitado pagamento do empregador e o protesto dos trabalhadores que trabalharam o dia todo, a parábola termina desarmadora (vv. 15-16a). Jesus não só aponta para os erros graves dos que detêm os recursos (no caso, os donos da vinha), e com isso todo o sistema vigente de forma de pagamento, mas também aponta para problemas que os empregados apresentam, pois defendem o sistema vigente, não são unidos, não tem visão de um programa global (pode-se usar como paralelo os movimentos sindicais dos nossos tempos de globalização, onde há uni visível cansaço e falta de articulação, perdendo, inclusive, direitos já adquiridos).
3. Diante da justiça de Deus, a nossa justiça é impotente. Sentimo-nos assim porque não conseguimos enquadrar Deus no nosso esquema de cálculo por méritos. Os critérios da ação de Deus entre as pessoas são de bondade. A exemplo da parábola do filho pródigo (Lc 15.11ss), nós nos escandalizamos com Sua bondade, Sua justiça, Sua igualdade de tratamento. Por outro lado, o mundo e as pessoas são exploradas; a força de trabalho é transformada em mercadoria. A sociedade, baseada no cálculo de méritos, canaliza a bondade doadora para alguns em detrimento da maioria. Aqui está a principal causa do contexto da nossa parábola que, aliás, é o tema central da nossa meditação: o desemprego e a fome.
4. Jesus apresenta uma novidade, um jeito muito diferente de raciocínio, do que aquele ao qual estamos acostumados. É o Reino de Deus, que tem outra lógica do que aquela vigente na sociedade.
5. Neste ponto da meditação, o texto da leitura (1 Jo 3.16-18) pode ser incluído na mensagem: baseado no amor de Cristo por nós, o nosso amor ao irmão e à irmã é um amor de fato e de verdade (v. 18). Ou seja, falando em termos diaconais, este amor não permite desemprego, fome e estratificação social. É uni amor inclusivo, solidário e doador.
b) Diaconia
1. A diaconia é unha proposta anti-cultural, assim como a da parábola. A diaconia está na contra-mão do fluxo normal da sociedade e seus valores: auto-prestígio, auto-crescimento, auto-desenvolvimento, auto-projeção...
2. A diaconia também defende que todos tenham, pelo menos, o mínimo para garantir seu sustento e sua vida, assim como um denário equivalia ao salário para manter o trabalhador durante um dia de vida, de forma digna.
3. A diaconia olha para os mais frágeis, os prejudicados pelo sistema, e busca a conscientização de suas possibilidades, também da força de sua união e as possibilidades quando se unem.
4. A diaconia denuncia o acúmulo de bens de uns, e a necessidade pela qual passa a maioria. Da mesma forma, busca abrir perspectivas para auxiliar pessoas em dificuldade. 5. A diaconia denuncia que o trabalho braçal não tem seu pagamento devido, pois ele não garante a vida digna do/a trabalhador/a e sua família.
6. A expressão diaconal da comunidade de batizados quer deixar - e deixará - sinais do Reino de Deus na sociedade.