Subsídio para prédica
24 de agosto de 2014
Celebração da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência
Marcos 10.46-52
“Que a paz esteja com vocês!” (Jo 20.19b).
Um texto muito especial e cheio de significado vem ao nosso encontro neste dia! Uma história que envolve pessoas, um caminho e o mais puro gesto de amor, carinho, fé e sensibilidade! Nós costumeiramente estamos a caminho e, pelos caminhos que percorremos, nos encontramos com muitas pessoas. Muitas vezes, nelas esbarramos, mas nem ao menos sabemos quem são, para onde estão se dirigindo, se estão bem ou não naquele momento. A corrida do dia a dia da vida, muitas vezes, nos impede de ver e interagir com quem está ao nosso redor e pelo caminho. Por outro lado, muitas vezes não queremos nos envolver ou perder tempo, pois temos que seguir... Afinal, a vida não para!
Naquele dia, Jesus e os discípulos e toda a multidão que o seguia também estavam a caminho. Estavam saindo de Jericó e pretendiam ir até Jerusalém. Eles estavam no início da caminhada e teriam pela frente mais ou menos 24 km até o destino. Na mesma estrada, na beirada, estava Bartimeu, um homem cego. Ele, por sua vez, não estava indo a lugar algum; estava sentado para pedir e recolher donativos. Ele, Bartimeu percebeu a movimentação das pessoas e descobriu através delas que Jesus estava passando por ali! De imediato, começou a gritar, clamando pela ajuda de Jesus, dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim.” Com todo o burburinho que havia, quase que seu grito passou despercebido! Com força e fé, sua voz não foi abafada e Bartimeu chamou mais forte ainda... E Jesus o escutou! Fez uma parada e, de imediato, mandou chamá-lo para perto de si. Bartimeu nem pensou duas vezes, largou sua capa, saltou para a estrada e se aproximou de Jesus.
Jesus o acolheu, com amor e simplicidade, e lhe fez a pergunta que mudaria sua vida: “Que queres que eu te faça?”. E Bartimeu responde: “Mestre, que eu torne a ver.” Jesus respondeu: “Vai, tua fé te salvou.” Bartimeu, curado, não foi embora, mas seguiu pelo caminho junto com Jesus e a multidão que o seguia pelo caminho!
Fico a me questionar como seria esta cena nos dias de hoje. E me pergunto: teríamos tempo de parar nossa caminhada para ajudar alguém? Perguntar qual é a sua necessidade? Ou no que podemos ajudar? O que normalmente vemos e estamos nos acostumando a ver é que, ao nosso redor, se perpetua a total falta de amor, de sensibilidade, de paciência. Cada qual cuida da sua vida, dos seus afazeres, e é “Cada um por si, e Deus por todos e todas nós”.
E assim deixamos muitos Bartimeus e Bartimeias pelo caminho, sentados à margem de ruas e estradas, pedindo não só donativos, mas clamando por aceitação, carinho e espaço! São pessoas cegas, surdas, enfermas, idosas, com lesões no cérebro, que não movimentam suas pernas, que têm dificuldades na fala... Muitas se sentem como Bartimeu: deixadas de lado pela sociedade, necessitando mendigar atenção, carinho, sem direito de expressar suas vontades, alegrias e necessidades.
Muito podemos aprender com Cristo e com sua maneira de conviver, interagir com as pessoas, pelo caminho, com sua sensibilidade de se colocar ao lado, e também com sua maneira de ensinar. Jesus tinha amor, compaixão, se importava com quem quer que fosse. Procurava aliviar as dores e os sofrimentos. Mas o que nós fazemos para aliviar as cargas uns dos outros, umas das outras em nossa comunidade? O que fazemos quando estamos pelo caminho e alguém clama por ajuda? Temos escutado os gritos ou sussurros pedindo ajuda? Temos sensibilidade para acolher em nosso meio as pessoas com deficiência, fazendo com que elas se sintam bem conosco? Temos este espaço em nossas comunidades?
Hoje em dia já é comum vermos em espaços comerciais e em nossas igrejas rampas que permitem acesso aos templos e salões. Mas muitas vezes nos falta uma grande rampa que faça a ligação com o nosso coração. E que crie em nós a sensibilidade de ser suporte para as famílias das pessoas com deficiência, que, muitas vezes, lutam sozinhas pelos seus direitos. Que necessitam de apoio, força e fé para cuidar de seus queridos e de suas queridas com dignidade.
Por causa da nossa fé e do nosso amor não podemos deixar ninguém às margens do caminho. Nosso desafio como pessoas cristãs é viver em comum-união verdadeiramente, tendo respeito, amor e alegria de incluir. Igreja que vive a sua fé é verdadeiramente inclusiva, não só construindo rampas de acesso, mas abrindo espaço para conviver, partilhar experiências, ouvindo e sendo um porto seguro, dando apoio em todos os sentidos e para todas as pessoas.
Somos filhos e filhas de Deus e fomos criados e criadas para viver em meio à diversidade, servindo com os dons e as capacidades que Deus nos presenteou! Que possamos agir com sensibilidade, que aprendamos a ouvir, ver, tocar, sentir e acolher todas as pessoas a partir do amor. Que ninguém seja deixado e deixada pelo caminho por não ter todas as características que o mundo, tem nos colocado como padrão.
O padrão que vale para nós pessoas cristãs, motivadas por Cristo e pela fé, é a sensibilidade e o amor sem medidas! Se nós amamos, temos sensibilidade, então incluímos. Que a inclusão seja realidade e que pelos caminhos da vida possamos seguir em comum-união. Que ser normal seja ser diferente e que não tenhamos dificuldade de amar, respeitar, incluir e viver em comunhão a partir de nossas diferenças. Pois Jesus mesmo disse aos seus discípulos: “Quem vos acolhe, acolhe a mim, e quem me acolhe, acolhe Aquele que me enviou” (Mt 10.40). Deus nos ajude nesta missão. Amém.
Pa. Paula Naegele
Farroupilha/RS
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