Optando pelos pobres e marginalizados 150 anos de Missão Interna
Joachim H. Fischer
No século passado, a Europa viveu a primeira revolução industrial. Milhares de pessoas deixaram o campo. Buscaram emprego nas fábricas. As cidades cresceram assustadoramente. A sociedade dividiu-se em classes. Os donos das fábricas acumulavam os lucros. Tornaram-se capitalistas. Os operários, explorados ao extremo, viviam na miséria, com salários baixíssimos, péssimas condições de trabalho, sem nenhum tipo de previdência social.
Quem lutou por uma vida mais digna dos operários foram os socialistas. Em fevereiro de 1848, Karl Marx e Friedrich Engels lançaram seu Manifesto do Partido Comunista. As Igrejas omitiram-se frente à questão social. Poucos de seus representantes perceberam a gravidade e urgência do problema.
Um deles foi Johann Hinrich Wichem. Nasceu em 21 de abril de 1808, em Hamburgo (Alemanha), como filho de um oficial de cartório. Aos 15 anos ficou órfão de pai. Ajudou a sustentar a família trabalhando. Já na juventude conheceu a pobreza inimaginável e o abandono desolador das camadas baixas da população. Formado em Teologia, fundou, em sua cidade natal, uma casa para meninos e meninas de rua (1833). Prestou assistência pastoral a emigrantes, encarcerados e migrantes em geral. Em oposição ao socialismo, defendeu a proposta de um socialismo cristão. O maior momento de sua vida chegou no ano de 1848.
Aquele ano foi crucial para a Europa. Revoluções irromperam em quase todos os países. Socialistas, comunistas e liberais levantaram-se contra governos opressores. Aspiravam por mudanças profundas, liberdades democráticas e justiça social. Em meio a essa agitação realizou-se na cidade de Wittenberg, berço da Reforma luterana, o ¨Dia da Igreja¨, com cerca de 500 representantes das Igrejas Evangélicas da Alemanha (21-23 de setembro). Na tarde do dia 22, Wichern proferiu, de improviso, na Igreja do Castelo, sobre o túmulo de Martin Lutero, um discurso que mexeu com os ouvintes. Apelou à Igreja Evangélica para que enfrentasse toda espécie de necessidade e miséria espiritual e material com a pregação da Boa Nova e atos concretos de amor cristão. Insistiu em que a Igreja, como um todo, assumisse também o compromisso da ajuda material. Chamou de Missão Interna esse testemunho vivo de fé e amor, ou seja, ¨a obra do amor que salva¨, ¨a grande aliança evangélica para a salvação do povo¨. Ele mesmo sentiu-se chamado pela fé para essa obra. Tornou-se, assim, o pai e propagador da diaconia social da Igreja. No ano seguinte redigiu uma espécie de ¨Manifesto da Missão Interna¨ como resposta evangélica ao ¨Manifesto Comunista¨ de Marx e Engels.
Wichern faleceu em 7 de abril de 1881, após longa enfermidade. Dele podemos aprender duas lições, aqui, no Brasil, um país socialmente injusto, como o admitiu publicamente o próprio Presidente da República. A Igreja tem, pela fé, o compromisso de ajudar, em amor cristão, pobres e marginalizados também com atos concretos, materialmente. Busca os desamparados e abandonados, como Jesus Cristo ¨veio para buscar e salvar quem está perdido¨ (Lucas 19.10). E tem o compromisso de colaborar na solução dos grandes problemas sociais do país. Movidos pela fé, aspiramos também hoje por uma nova primavera no Reino de Deus. ¨Felizes são vocês, os pobres, porque o Reino de Deus é de vocês.¨ (Lucas 6.20b)
O autor é pastor aposentado da IECLB e reside em São Leopoldo, RS
Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998