Envelhecer com dignidade
• Joachim H. Fischer •
Envelhecer é uma droga, disse a mulher, aparentando entre 60 e 65 anos. Será verdade? O que é envelhecer?
Hoje evita-se falar de velhice, de velhos e velhas. Preferem-se palavras como terceira idade, idosos e idosas. Mas a substituição de palavras não muda os fatos. Continua no ar a pergunta: Quando se é idoso? Quando eu mesmo me sinto velho? Quando outros acham que sou velho? Os bancos têm guichês destinados especialmente a gestantes, pessoas portadoras de deficiências e idosos, ou seja, pessoas com mais de 60 anos. Será que a terceira idade começa depois dos 60 anos?
Nossa idade tem quatro aspectos. Também podemos dizer que cada pessoa tem quatro idades, que podem ser diferentes uma da outra. Primeiro, a idade cronológica. É a do calendário. Quem nasceu em 1941 completa 60 anos de idade. Aqui não há nada a discutir. Temos também uma idade biológica. Ela depende do estado do nosso corpo, de seus órgãos e células. Alguém pode ter 60 anos de idade, mas um coração como uma pessoa de 40. Ou o inverso: alguém pode ter, pelo calendário, 40 anos, mas aparentar 60.
Outra coisa é a idade psicológica, a idade que sentimos ter. Frequentemente, podemos ouvir uma pessoa idosa dizer: Não me sinto tão velho como sou pela certidão de nascimento. Em nossos dias, valoriza-se muito a juventude, p. ex. na propaganda. Todo mundo quer ser jovem, inclusive as pessoas idosas.
Finalmente, a idade social. Somos velhos quando as pessoas ao nosso redor nos consideram velhos. Nesse ponto existe um problema muito grande. A sociedade em geral tem uma imagem bastante negativa da velhice. Normalmente, pessoas idosas não trabalham mais num emprego remunerado. São aposentadas, inativas. Diminuem os contatos com outras pessoas. Fala-se de um empobrecimento social ou até da morte social antes da morte física. Em todo caso, a terceira idade significa, aos olhos da sociedade, perda, decadência, saúde abalada, memória fraca, pensamentos e movimentos lentos, conhecimentos e ideias superados, ferro velho. Não raras vezes, pessoas idosas, elas mesmas, assimilam essa visão. Sentem-se supérfluas, inúteis, inclusive na igreja, excluídas. É deprimente. Desanima as pessoas. Então alguém facilmente pode chegar à mesma conclusão da mulher citada acima: Envelhecer é uma droga.
Mas não é verdade. Devemos resistir a essa visão negativa da terceira idade. Mesmo sendo aposentados, não somos simplesmente inativos. Ao contrário. Também como idosos e idosas, temos a dignidade de filhos e filhas de Deus. Todos os seres humanos nascem... iguais em dignidade, diz o 1° artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Isso inclui naturalmente as pessoas idosas. O ano de 1999 fora declarado, pela Organização das Nações Unidas (ONU), como Ano Internacional do Idoso, tendo por lema Uma sociedade para todas as idades. Os velhos e as velhas são a ponte que liga o passado ao presente. Representam um pedaço da história da sociedade. Acumularam saber e experiências, que podem e devem transmitir às gerações futuras.
No antigo povo de Israel, a Bíblia ensinava o respeito às pessoas idosas: Tratem-nas com todo o respeito (Levítico 19.32). Contradiz a opinião de que idosos são inativos: Na velhice, as pessoas corretas ainda produzirão frutos; estarão... cheias de vida (Salmo 92.14). É urgente que nos lembremos disso numa sociedade que gira em torno do mercado, do lucro e da produtividade. Não queremos ser tutelados como velhinhos. Decididamente: Envelhecer não é uma droga. Queremos envelhecer com dignidade. Tem toda a razão a diácona Regina Krauser, que coordena a pastoral do idoso na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil no norte de Santa Catarina:
Idosos são adultos, capazes e competentes, para assumir espaços no convívio com as demais gerações. Não são objetos... da nossa pena, mas são sujeitos de experiências na vida da fé e na edificação da vida comunitária, para lançar sua criatividade espiritual. (Jornal O Caminho, janeiro/fevereiro de 1999).
O autor é pastor aposentado da IECLB e reside em São Leopoldo, RS
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