“Pois o próprio Filho do Homem, veio, não para ser servido, mas para servir e dar Sua vida em resgate por muitos”. (Marcos 10.45)
Você conhece a palavra diaconia? Sim, talvez não? Então, explicamos. Primeiramente podemos explicar que, na língua em que essa palavra nasce, há diferentes formas de traduzir. Existe a palavra doulós, que significa servir em escravidão, é literalmente o servo/escravo. Mas aqui falamos em diakonia, que para a concepção grega significa servir à mesa, tendo naquele contexto, um significado estrito a este tipo de servir. Com Jesus, a palavra diaconia, ganha novo significado e é visto como o servir às mesas vazias, não apenas de alimento e bebida, mas de tudo o que é necessário para a manutenção da vida, para resgatá-la de suas situações de sofrimento, dor e desalento. Em Jesus, a palavra diaconia passa a fazer parte de sua missão primordial e seu exemplo é motivador para se fazer o que Ele fez, salvou vidas. Ele certamente salvou vidas para a eternidade, mas muito mais do que isso. Jesus, em seu tempo de ministério, não falava a toda hora sobre o crer para ser salvo, ele realmente se preocupou em trazer sinais visíveis de seu reino, já aqui, agora. Caso contrário, ele não teria falado sobre si de forma tão concreta e palpável, a partir de metáforas da vida diária.
Jesus se definiu sete vezes como “Eu sou”, descritas, principalmente no evangelho de João. Estas são “o pão da vida” (6.48); Luz do mundo (8,12); a porta (10.9); bom pastor (10.14); Ressurreição e a vida (11.25-26); o caminho a verdade e a vida (14.6); videira (15.5). Percebe-se aqui que há apenas uma incursão de Jesus sobre o assunto que transcende o humano que é a ressurreição e a vida. Assim sendo, muito mais do que a pergunta pela eternidade, que será de paz, ressurreição e sem sofrimento, a declaração nos permite entender que há uma preocupação de Jesus em se entender aqui, encarnado, como verbo de ação e amor de Deus que transforma realidades através de ações diaconais.
Agora, você pode estar se perguntando, o que isso tem a ver com a situação do coronavírus? A resposta é simples e objetiva: TUDO!
Vivemos dias difíceis e é imprudência negar a existência de um mal que assola o mundo todo. É imprudência e diria ainda mais, incoerência crer em Jesus Cristo, o pão da vida, a luz, o bom pastor, a vida, a ressurreição, o caminho, a videira... e ficar de braços cruzados esperando o COVID-19 passar! Precisamos, sim, adotar medidas de segurança em cada ação planejada e executada, mas o exemplo de coragem de Jesus é claro, ele não deixou de cuidar, por exemplo, de leprosos, mesmo que essa doença, naquela época, causasse tanto medo de contágio como o coronavírus. Entretanto, Jesus trabalhou para duas causas:
1) A recuperação da dignidade humana: não era porque alguém possuía lepra que Jesus abandonaria a ela. Pelo contrário, ele entendia seu lugar de sofrimento e dor e lhe dava atenção. Com isto aprendemos que, para Jesus, toda pessoa possui dignidade, até mesmo a mais desprezada e marginalizada, estas que muitas das vezes necessitavam maior atenção;
2) Jesus atuava pela cura e por muitas vezes, dizia outras duas coisas: “o que queres que eu te faça?” e após a cura “vai, a tua fé te salvou”. De Jesus aprendemos que nunca se faz nada sem antes acolher, perguntar, mas também apontar, especialmente neste período: Cuide de si e das pessoas ao seu redor, mantenha a chama da fé acesa.
Devemos seguir o exemplo de Jesus Cristo e servir em resgate por muitas pessoas. Neste sentido, podemos sentir ecoar, pela fé, a voz do convite de Jesus Cristo que espera nossa ação para servir e atuar no combate ao vírus COVID-19 e a diaconia quer atuar na prevenção e redução de danos causados pelo vírus. De antemão, reforçamos que toda forma de cuidado deve ser adotada (lavar as mãos rotineiramente, evitar aglomerações, isolamento social havendo ou não sintomas).
Mas é inegável: há uma inquietação no ar, como igreja, não podemos nos isentar da ação. Assim sendo perguntamos:
Onde podemos vivenciar diaconia neste período em que tanto precisa ser feito?
Como mostrar, mais do que em palavras, o evangelho diaconal de amor daquele Cristo que é pão, abrigo, consolo, força?
Como pregar a Cristo e se necessário usar de palavras1?
A Diaconia pode e deve atuar para a prevenção da doença e redução dos danos2 que podem ser causados. Tornando isso bastante prático usando apenas o exemplo da fome ou a falta de vestimenta. Conhecemos o famoso grupo de risco do COVID – 19 que, são principalmente pessoas idosas, diabéticas, hipertensas ou com doenças respiratórias. Há ainda outras variantes, as quais a ciência ainda não respondeu convictamente, de que pessoas obesas, em quadro de recuperação de tratamento, pós-operatório ou em período de observação após tratamento de câncer possam fazer parte deste grupo de risco. Porém, há o grupo de risco velado que são pessoas que passam por subnutrição e fome ou que no inverno estarão à mercê dos efeitos das rápidas mudanças climáticas, sofrerão com o frio e tem pouca vestimenta. Estas estão em uma situação duplamente perigosa: imunidade baixa atingida pela falta de alimento e vestimenta, o que as torna vítimas em potencial do coronavírus e agentes de transmissão. Esta é apenas uma face da moeda, há outras que mereceriam destaque também, porém, há que se observar contextos e ao contexto perguntar como Jesus: O que queres que eu te faça?
Cada contexto possui necessidades específicas que devem ser observadas, assim sendo, convidamos a você e sua comunidade para verificar se algumas destas ações podem ser desenvolvidas como forma de vivenciarmos diaconia, trabalhando para a superação de um sofrimento, prevenção, redução dos danos e eliminação, quando possível, do sofrimento. Segue, algumas ideias:
-Combate à fome: Você poderia ajudar a alguém, uma família em situação vulnerável ou de alguém que perdeu o emprego? Caso não saiba como fazer e o que doar, uma alternativa é consultar o Centro de Referência em Assistência Social - CRAS de seu município e se necessário e possível doe para esta causa, mas sempre pergunte: o que é necessário? A diaconia não é apenas fazer, é refletir sobre o que se faz e como se faz;
-Confecção de máscaras e jalecos: doem, façam, auxiliem com material. Porém, concentrem as máscaras num local e apenas depois de um bom número arrecadado, doe, evitando aglomerações ou muitas saídas;
-Apoio às Fundações Hospitalares: Verifique se há iniciativas locais e some-se a esta causa para a doação de valores ou itens (álcool gel ou limpeza em geral) para fortalecer o hospital de seu município que certamente já está na luta contra o coronavírus ou se preparando para ela;
-Ceder espaços para acolhimento: Há comunidades da IECLB, que, com coragem e fé, estão cedendo seus espaços físicos para servir de apoio à triagem ou para atendimentos básicos em casos de sintomas leves. Sua comunidade poderia ajudar? Há esta necessidade em seu contexto?;
-Instituições de longa permanência (conhecidas como lares de idosos ou casas de acolhimento a crianças, pessoas com deficiência ou outros grupos): Certamente, bem próximo a você existe uma precisando de apoio. Possivelmente há anos esta instituição já vem desempenhando um papel de impacto em sua região. Entretanto, antes de tudo, verifique a necessidade de apoio e com o que apoiar;
-Ajude a uma pessoa Idosa para que não precise sair de casa para suas compras básicas, porém, evite ao máximo o contato físico, entregue os itens, bata à porta e volte para seu lar. Evite abraços! Isso é cuidado diaconal também!;
-Doação de sangue: Urge a necessidade de sangue em nossos Hemocentros. Lembramos que a doação não deve ser feita por quem está no grupo de risco para o COVID – 19 (pessoas idosas, cardíacas, problemas respiratórios, caso recente de câncer, entre outros casos). Muitas destas naturalmente não poderiam doar, entretanto, alertamos o cuidado.
Retornando para a reflexão após este bloco de como fazer, convido a um olhar contemplativo: olhem quanto resgate de vida a diaconia de Jesus Cristo nos convida a fazer neste tempo. Quanto diaconar temos pela frente, sabendo que nosso testemunho acontece a cada gesto que não apenas fala que Jesus é pão, mas ajuda a dar o pão; não apenas fala que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, mas vive em um caminho de amor, que age pela verdade e pelo cuidado com a vida; o diaconar também nos convida a não apenas falar que Jesus é a porta, mas a abrirmos portas que conduzem ao consolo e à esperança; não apenas nos motiva a dizer que Jesus é a videira, mas demonstra em gestos/frutos de amor a fé n’Ele; não apenas diz que Jesus é a ressurreição e a vida, mas dá sinais de que por mais difícil que seja, há esperanças para a vida que sofre e traz palavras de ressurreição aos ouvidos em dificuldades; não apenas dizer que é o bom pastor, mas se demonstrar igreja guiada por este Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas para que elas também sirvam em cuidado e amor; o diaconar nos motiva a não apenas dizer que Jesus é a luz, mas convoca à demonstração de que, sabemos que o coronavírus é uma sombra terrível sobre nós, mas que acendendo a chama do amor diaconal de Jesus Cristo, em muitos pequenos sinais, logo se encontrará a plena luz e esperança.
Diácono Dionata Rodrigues de Oliveira
Nota 1: Formulação de S. Francisco de Assis.
Nota 2: Linguagem adotada por agentes que trabalham com a prevenção às drogas e redução dos danos causados por seu uso.