Para refletirmos sobre a função da Igreja na sociedade, precisamos compreender um pouco a vida das pessoas leprosas na época de Jesus, e a importância da cura. Estas pessoas tinham uma doença que fazia com que sua pele e partes do corpo, apodrecessem e caísse. Tal doença era considerada a mais impura de todas, compreendida como “primogênita da morte”. E aparecia como consequência do castigo de Deus por “calúnias soberba ou assassínio”. Sendo assim estas pessoas eram excluídas e expulsas para fora das cidades, em cavernas, na periferia (Cf Levítico 13), com outras pessoas com lepra, para não contaminar o povo com sua impureza. Suas vidas eram estigmatizadas e afastadas de suas pessoas queridas e de Deus, por causa de tamanho pecado.
Se olharmos para nossa sociedade encontraremos inúmeras pessoas como excluídas dos acessos, oportunidades e direitos. Sendo mulheres e homens com seu carimbo de pessoa cidadã rasgado já em seu nascimento. Quando pensamos em cidadania lembramo-nos dos momentos de eleições ou agora com as manifestações em nosso Brasil. Contudo, a cidadania é algo corriqueiro em nossos tempos, porém as pessoas esquecem que possuem e não a praticam. A saber, cidadania consiste em direitos e deveres que cada pessoa tem na relação com a sociedade. Mas para falarmos de nossos direitos não é difícil, porque seguidamente são lembrados e cobrados pelas mais diferentes esferas do governo e da sociedade. Mas o termo cidadania por muitas vezes é designado ao um número específico de pessoas que se enquadram na “caixinha social”. Pessoas que produzem, obedecem a regras, pagam impostos, mas não aquelas que fogem das regras sociais. Se eu ou você, não estivermos nestes requisitos nossa cidadania é inexistente.
É nesta falta de cidadania que Cristo nos apresenta a Boa Nova. Ele vem e resgata a vida daquela pessoa leprosa. Quando Cristo ouve, se compadece, toca e cura aquela pessoa, ele devolve a ela a saúde, a aceitação, o convívio com sua família, a oportunidade de trabalhar, a dignidade, o direito a cidadania e a reconciliação com Deus. Num simples ato de cura, Cristo dá vida em abundância (João 10.10) e garante os direitos para aquela pessoa, irrompendo assim o Reino de Deus.
Como Cristo, a diaconia na IECLB quer possibilitar a cidadania de pessoas, mulheres e homens, que nunca puderam vivê-la. Porque desde seu nascimento vivem excluídas nas periferias das cidades, de nossas comunidades e de nossas relações. Porque quando assumimos o nosso Batismo, assumimos o compromisso diaconal de cuidado por toda a nossa vida. E isso deve nos mover para buscarmos com as pessoas a garantia dos seus direitos e a partilhar das nossas bênçãos com elas.
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