Comunidades Inclusivas, um exemplo cristão
“Não seja intransigente, a natureza é plural.
O igual é diferente, o diferente é igual”.
Moaci Carneiro
Segundo a Organização das Nações Unidas, 10% da população mundial vivem com algum tipo de deficiência. A Diferença (ou diversidade) está presente na população humana do planeta e se apresenta também nas nossas comunidades cristãs. No Brasil, segundo dados do Censo de 2010, temos 45 milhões de pessoas com alguma deficiência, brasileiros e brasileiras que transitam em diferentes espaços da sociedade, inclusive na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
As pessoas com deficiência foram, durante muito tempo, invisibilizadas na sociedade e a própria comunidade cristã não as enxergava. O sociólogo Boaventura Souza Santos traz uma importante contribuição para o processo de inclusão quando preconiza que: “... temos o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza, temos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”. Neste sentido, junto ao amor de Deus somos todos e todas iguais; Deus nos aceita pelo Batismo e nos torna seus filhos e filhas. Assim, frente ao amor de Deus, somos iguais, mas frente à sociedade, ao acesso à educação, à saúde e à vivência cristã, não. Considerar essa diferença é fundamental, pois a igualdade nessas instâncias passa por questões que vão além das subjetivas e acabam se consolidando em ações discriminatórias.
Como caminhar com a Igreja para que nossas comunidades se tornem comunidades cada vez mais inclusivas? Certamente cada um de nós já se fez esta pergunta. Ou, se ainda não fez, é hora de fazê-la, já que as pessoas com deficiência são nossos irmãos e irmãs e enfrentam barreiras arquitetônicas, comunicacionais e atitudinais que, às vezes, fazem com que elas e suas famílias não se sintam acolhidas num local onde todos e todas são iguais perante o amor de Deus.
Na sua trajetória de 33 anos, Jesus sempre esteve perto das pessoas com deficiência. Podemos verificar isso em diversas passagens dos Evangelhos que contam a Sua vida, o Seu caminhar e que nos relatam esse fato, como em Lucas 14.13, onde o próprio Jesus ensina: “Mas quando você der uma festa, convide os pobres, aleijados, os coxos e os cegos”. Será que obedecemos este ensinamento de Jesus? Nas nossas festas e nos nossos encontros sociais oportunizamos a participação de todos e todas? Das pessoas com deficiência e das pessoas sem deficiência?
A Bíblia Sagrada traz uma passagem muito importante para nós acolhermos os nossos irmãos e irmãs com deficiência em João 9.2-3: “Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.” Se Jesus, por mais de uma vez, manifestou o poder de Deus e fez com que a deficiência apresentada pelas pessoas não fosse motivo de discriminação e condenação, como hoje podemos demonstrar a obra de Deus frente às pessoas com deficiência ou como empoderá-las para que também participem desta obra?
As pessoas com deficiência encontram em sua vida muitas barreiras atitudinais, comunicacionais e arquitetônicas. Como Igreja, o que podemos fazer para que essas barreiras sejam superadas ao longo da nossa jornada? Uma das formas seria discutir questões como acessibilidade nos templos: tanto adaptações arquitetônicas quanto de comunicação, fundamentais quando buscamos a inclusão de todos e todas, e no coletivo das comunidades, paróquias e Sínodos podemos resolver isso priorizando os nossos dons e ofertas para que as barreiras físicas sejam superadas. Aí demonstramos e experimentamos o poder e o amor de Deus, quando oportunizamos a todos e a todas o livre acesso aos templos para ouvir e vivenciar o evangelho.
Já as barreiras atitudinais dizem respeito a como nos comportamos frente às pessoas com deficiência. Estas barreiras são mais difíceis de serem transpostas, mas não são impossíveis. Por meio da luta de movimentos sociais, igrejas e de uma parcela da sociedade, também com o advento das políticas públicas de promoção de Direitos Humanos, as pessoas com deficiência passam a ser consideradas na sociedade e de invisíveis elas passam a se tornar visíveis como sujeitos de direitos. Nota-se que nas comunidades cristãs elas jamais poderiam ter se tornado invisíveis, pois como nos traz a mensagem da primeira carta de Paulo aos Coríntios 12.26: “...De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular”. Todas as pessoas são parte do corpo de Cristo. Somos a sua Igreja que se movimenta e que nem sempre experimenta a alteridade necessária para vivenciarmos o evangelho.
A rotina diária e as atribulações da vida nos insensibilizam a direcionar o nosso olhar cuidadoso para os nossos irmãos e irmãs com deficiência. Como comunidade temos que refletir diariamente sobre este assunto, provocando debates e reflexões sobre a inclusão, também junto aos diversos grupos da comunidade.
Colocar-se ao lado dos irmãos e irmãs com deficiência e dialogar com eles e elas é um importante passo para que possamos caminhar juntos como Igreja de Jesus Cristo e para que de fato consigamos dar audiência às vozes, aos desejos e necessidades destas pessoas que foram silenciadas durante muito tempo. Assim estaremos vivendo plenamente o que nos ensina o reformador Martinho Lutero: “O cristão vive não em si mesmo, mas em Cristo e no próximo. De outro modo, ele não será um cristão”.
Viver comunidade que segue o mandamento de Jesus escrito no Evangelho de João 15.12: “O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo você” significa vivenciar e efetivar na nossa Igreja a inclusão das irmãs e dos irmãos com deficiência. Que o Senhor Deus nos dê a coragem necessária e o amparo para experimentar as mudanças que nos levem a verdadeiramente sermos cada vez mais Comunidades Inclusivas.
Profa. Dra. Débora E. Pedrotti Mansilla
Superintendência de Diversidades Educacionais
Secretaria Adjunta de Políticas Educacionais - Cuiabá/MT.
Bibliografia e Webliografia
http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-pessoas-com-deficiencia. /Acesso em 24/04/2013.
Censo Demográfico 2010 – Resultados Preliminares da Amostra
Disponível em: http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/. Acesso em 30/04/2013.
Bíblia Sagrada. Versão João Ferreira de Almeida.
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