Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

Salmo 84.1-6

Auxílio Homilético

27/10/2019

 

Prédica: Salmo 84.1-6
Leituras: Lucas 18.1-6 e 2 Timóteo 4.6-8,16-18
Autoria: Aline Danielle Stüewer
Data Litúrgica: 20º.  Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 27 de outubro de 2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

Habitar na casa de Deus

1. Introdução

O texto da mensagem desta semana, encontrado no Salmo 84, fala do caminho do peregrino e da bem-aventurança que se encontra na casa de Deus. A peregrinação e o caminho, muitas vezes, podem ser penosos e terminar em vale árido ou de choro, mas de Deus vêm a bênção e a chuva que renova a terra após a sequidão.

O texto do evangelho também se refere aos peregrinos. Jesus narra aqui a parábola do fariseu e do publicano. Os dois dirigem-se ao templo, à casa de Deus, para orar. A atitude dos dois é totalmente distinta: o primeiro vangloria-se da própria postura e deposita sua confiança em si mesmo; o segundo reconhece a grandeza de Deus e confessa-se pecador. E Jesus ressalta, assim como se confessa no Salmo, que a bem-aventurança está com a pessoa que deposita em Deus sua confiança e fé.

Na epístola, por sua vez, fala-se do martírio. Assim como no Antigo Testamento e no evangelho, ressalta-se a confiança em Deus que leva à bênção e salvação ao final da jornada. A salvação que provém de Deus leva a pessoa a render glória “pelos séculos dos séculos”. O evangelho e o Salmo citam a casa de Deus como lugar onde todas as pessoas podem buscar forças e aceitação. O texto da Carta a Timóteo destaca que é o Senhor quem nos assiste, nos reveste de forças e nos salvará. Por isso a ele devem ser dados o louvor e a adoração.

A pregação pode destacar que na igreja, na casa de Deus, a pessoa encontra força e respostas para sua vida. Ali pode adorar, bendizer e conversar com Deus. Através da pregação do evangelho sua vida é sustentada, alimentada e fortalecida.

2. Exegese

O Salmo 84 está entre os salmos de Sião, que “celebram o lugar onde habita Deus: o Sião” (Schmidt, 2002, p. 293). Na comparação entre as diversas versões do texto, encontram-se diferenças substanciais. Três versões foram levadas em consideração: Almeida Revista e Atualizada (ARA), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e Jerusalém (JER). O texto de ARA, por fazer uma tradução mais literal do texto original, emprega vocabulário não mais tão acessível ao ouvinte contemporâneo. O nome de Deus também é referido distintamente pelas versões. ARA e NTLH empregam “Senhor”, ao passo que JER opta pela transliteração da palavra hebraica “Iahweh”. O atributo de Deus “dos exércitos” é mantido em ARA e JER, mas NTLH opta pela interpretação “Todo-poderoso”, tornando o texto mais acessível ao leitor contemporâneo. Uma análise versículo a versículo é necessária para subsidiar uma recomendação de leitura no culto comunitário.

V. 1 – O local da morada de Deus é referido de três modos distintos: “tabernáculos” (ARA), “Templo” (NTLH) e “tuas moradas” (JER). NTLH opta por uma redação em primeira pessoa do singular “como eu amo”; ao passo que ARA e JER usam terceira pessoa do plural “quão amáveis são”. Ao que parece, NTLH procura aproximar o texto do leitor.

V. 2 – A única diferença entre ARA e JER aqui diz respeito ao nome de Deus. O suspirar e desfalecer da alma (ARA e JER) é interpretado com o “desejo de querer estar próximo” e “saudade” em NTLH. NTLH também emprega “todo o meu ser”, ao passo que ARA e JER usam “o meu coração e minha carne”. NTLH também mantém a redação em primeira pessoa do singular.

V. 3 – Além das diferenças gerais já apontadas, a única especificidade a ser destacada neste versículo é o emprego de uma ordem mais direta pela NTLH. Em termos de conteúdo, destaca-se aqui a admiração do salmista pelo fato de que até mesmo os pássaros encontram morada segura na casa de Deus.

V. 4 – Pode-se dizer que este é um dos versículos mais belos de toda a Bíblia. “Bem-aventurados” (ARA) ou “felizes” (NTLH e JER) são os que “habitam” (ARA e JER), “moram” (NTLH) na casa de Deus. A morada na casa de Deus produz louvor “perpétuo” (ARA), “sem cessar” (JER) ou “para sempre” (NTLH). O emprego do gerúndio “sempre cantando” por NTLH parece distorcer um pouco o sentido do texto. O louvor é consequência de habitar na casa de Deus, e não apenas uma ação concomitante. O habitar na casa de Deus pode ser o tema central da mensagem. A profundidade dessa declaração pode ser explorada de diferentes formas ao longo do culto comunitário.

V. 5 – Este versículo continua no mesmo tom do versículo anterior, iniciando com a mesma formulação “bem-aventurados” (ARA) ou “felizes” (NTLH e JER). A bem-aventurança agora é associada ao buscar em Deus a força para a vida. Estar em Deus transforma a pessoa, muda seu coração (ARA e JER), fazendo com que ele se encha de “caminhos aplanados” (ARA), que tenha discernimento quanto às “estradas que levam ao monte Sião” (NTLH) ou que “guardam as peregrinações” (JER). Quatro palavras-chave resumem melhor a mensagem do versículo: bem-aventurados, força, coração, Deus.

V. 6 – O “vale árido” (ARA), “vale das Lágrimas” (NTLH) ou, ainda, “vale das balsameiras”, árvores que choram, segundo comentário em JER, deve ser uma referência à amoreira. Assim, o texto pode se referir ao vale das amoreiras, que era a última etapa da peregrinação. É um local “ao norte do vale de Enom (Geena) [...], na encruzilhada das estradas que vinham do norte, do oeste e do sul (ARA), “fontes de água” (NTLH), “fonte” (JER) e “primeiras chuvas” (ARA, NTLH e JER). A opção de NTLH por “vale das lágrimas” também pode ser vista como uma referência ao esgotamento característico do fim de uma peregrinação. O fim da jornada do peregrino é exaustivo e, muitas vezes, leva ao esgotamento.

Mas para a pessoa que deposita em Deus sua confiança, que lhe entrega sua vida, o fim da peregrinação é também sinônimo de novas forças, de revigoramento, do mesmo modo como o são “as primeiras chuvas” após um tempo de aridez.

3. Meditação

O texto da pregação nos faz refletir a respeito da importância do templo, da igreja, de ter um local de culto e adoração a Deus. Na época em que o salmo foi escrito, as pessoas viviam em exílio, estavam afastadas da “sua igreja”. Não podiam ir aos cultos nem buscar a Deus como sempre faziam. E sentiam muita falta disso. A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor. Tinham a firme certeza de que, ao entrar na casa de Deus, recebiam dele novas forças e ânimo.

O salmo traz uma realidade bem diferente da que vivemos hoje. Ter acesso à igreja, a uma comunidade não é difícil. Entretanto, é cada vez mais comum ouvirmos pessoas dizerem: “Eu não tenho comunidade, eu não participo numa igreja, mas eu acredito em Deus. Faço as minhas orações e acredito que ele também me ouve. Não preciso de igreja”. É cada vez mais forte o sentimento de indiferença pela igreja e pela vida em comunidade. Muitas pessoas se perguntam: Por que ir à igreja? Por que existe igreja? Por que existe comunidade?

O salmo revela-nos que é na igreja que ouvimos a palavra de Deus e fortalecemos nossa fé. Na vida caminhamos como peregrinos. Passamos por caminhos tortuosos e inseguros. E é na casa de Deus que encontramos lugar para descansar e renovar nossas forças. As comunidades da IECLB, em sua maioria, celebram culto aos domingos. É extremamente significativo ir à igreja no primeiro dia da semana para pedir a Deus sabedoria e força para enfrentar o caminho da semana que se inicia. Quem anda com o Senhor está protegido, guardado pelos braços fortes do Todo-Poderoso. O salmista destaca que até mesmo os pardais e as andorinhas fazem seus ninhos próximos ao altar do Senhor com a intenção de proteger seus filhotes (Sl 84.3).

A partir do batismo, fomos chamados por Deus a fazer parte de uma grande família – a família de Deus. É importante que as pessoas dessa família tenham um lugar para se reunir e conversar a respeito daquilo que acreditam e vivem. Afinal, é isso o que uma família faz. E o lugar privilegiado para essa família se reunir é na casa de Deus. A igreja é o local onde a família de Deus se reúne.

Na casa de Deus não somos nós que vamos ao encontro de Deus, mas é ele que vem ao nosso encontro. Quando os membros da família de Deus entram pela porta, Deus já os está esperando. E quando os vê diz: “Que bom que você veio, eu estava esperando, preparei algo muito especial para você”.

Deus nos espera em sua casa. Ele prepara algo especial para nós. Como família, muitas vezes, nos reunimos para almoços. Normalmente, é uma pessoa que vai atrás, convida e faz os preparativos. Essa pessoa espera que todos estejam presentes no dia do encontro. Assim também Deus espera que estejamos presentes no encontro que ele preparou para nós.

Como é difícil hoje as pessoas tirarem tempo para participar da igreja! E participar da igreja é mais do que apenas estar nos cultos. É viver comunidade. É se interessar pelos assuntos da sua igreja, é participar das assembleias da paróquia para estar por dentro do que está acontecendo na sua igreja. Infelizmente, é até mesmo difícil encontrar pessoas que assumam funções no presbitério.

Aquelas pessoas que compreendem a igreja como o local onde o próprio Deus vem ao nosso encontro para nos mostrar o caminho a seguir e nos fortalecer na caminhada também desejam ardentemente, assim como o salmista, estar na casa de Deus. Ali sentem a presença de Deus, ouvem sua voz e fortalecem a fé, a esperança e o amor.

4. Imagens para a prédica

Sobre a pergunta que frequentemente ouvimos “por que ir à igreja”, sugere-se contar a seguinte história:

Um frequentador de igreja escreveu para o editor de um jornal e declarou que não faz sentido ir aos cultos todos os domingos. “Eu tenho ido à igreja por 30 anos e durante esse tempo devo ter ouvido uns três mil sermões. Mas, por minha vida, com exceção de um ou outro, eu não consigo lembrar a maioria deles. Assim, eu penso que estou perdendo meu tempo e os pastores também estão desperdiçando o tempo deles”. Essa carta iniciou uma grande controvérsia na coluna “Cartas ao Editor”, para a alegria do editor-chefe do jornal, que recebeu diversas cartas, das quais ele decidiu publicar esta resposta de um leitor: “Eu estou casado há mais de 30 anos. Durante esse tempo minha esposa deve ter cozinhado umas três mil refeições. Mas, por minha vida, com exceção de uma ou outra, eu não consigo me lembrar da maioria delas, mas de uma coisa eu sei: todas elas me nutriram e me deram a força que eu precisava para fazer o meu trabalho. Se minha esposa não tivesse me dado essas refeições, eu e nossos filhos estaríamos desnutridos ou mortos. Da mesma maneira, se eu não tivesse ido à igreja para alimentar minha alma e de minha família, estaríamos hoje em terríveis condições espirituais” (autoria desconhecida).

5. Subsídios litúrgicos

Hinos

Sugere-se cantar com a comunidade os seguintes hinos do Livro de Canto da IECLB:

6 – Aqui você tem lugar
24 – Vinde abrir-me a porta bela
29 – Senhor, tu nos chamaste

Oração

Senhor nosso Deus, agradecemos-te porque mais uma vez tu nos trouxeste à tua casa. Tu sabes como chegamos até tua presença, cheios de dúvidas, de incertezas, cansados e sobrecarregados. Agradecemos-te porque mais uma vez tu vieste ao nosso encontro e renovaste nossa fé e esperança. Saímos daqui fortalecidos e animados a viver a tua Palavra. Que possamos testemunhar, através do nosso agir e falar, o amor que podemos encontrar em tua casa. Ajuda-nos a trazer mais pessoas para junto da tua família. É o que pedimos em nome de teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém!

Bibliografia

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulinas, 1985.
SCHMIDT, Werner H. Introdução ao Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2002.


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Autor(a): Aline Danielle Stüewer
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50315

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