Prédica: Salmo 8
Leituras: Lucas 2.15-21 e Dilipenses 2.5-11
Autoria: Roger Marcel Wanke
Data Litúrgica: Ano Novo (Nome de Jesus)
Data da Pregação: 1 de janeiro de 2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIII
O nome que está acima de todo nome
1. Introdução
Conforme o Ano Litúrgico, ainda estamos no ciclo do Natal. Na tradição cristã é assim que a história da salvação de Deus, revelada e ocorrida em Jesus Cristo, faz parte da metade dos domingos do ano. Desde os domingos de Advento fomos lembrados da promessa messiânica da vinda do Salvador. Depois, fomos lembrados do seu nascimento ao celebrarmos o Natal; e antes de falarmos da manifestação de Jesus como Filho de Deus e abordar seu batismo e ministério, temas da Epifania, somos levados a olhar mais uma vez para o menino Jesus, oito dias após o seu nascimento, ou seja, o dia da circuncisão de Jesus e do recebimento de seu nome.
Esse tema coincide no calendário civil internacional com o Ano-Novo. É importante salientar aqui que não há ligação entre o dia da circuncisão de Jesus e do recebimento de seu nome com os festejos do Ano-Novo. O ano litúrgico da igreja não segue o ano civil. O ano-novo da igreja tem o seu início celebrado sempre no 1º Domingo de Advento. É importante ter isso em mente para não forçar os textos, tanto das leituras bíblicas como da pregação, na direção de ver o que eles teriam a dizer sobre o Ano-Novo. O tema do lecionário não fala do Ano-Novo, mas aponta para o nome de Jesus. Não que esse tema não tenha algo relevante a ser dito para o contexto do início de um novo ano, no qual muitas pessoas refletem sobre o ano que passou e começam a fazer planos e sonhos para o novo ano.
Embora se pretenda dar algumas dicas de como se pode pregar sobre esses textos dentro do contexto do Ano-Novo, considerando o ano civil, o objetivo deste esboço homilético será concentrar-se no tema do “nome de Jesus”. Para esse fim, o lecionário prevê, como texto para a pregação, o Salmo 8, um dos mais belos exemplares da poesia hebraica registrada na Bíblia. Nesse salmo, o louvor a Deus abrange o céu e a terra. A glória do Senhor e o seu nome se tornam a moldura do salmo. No centro, fala-se da glória e da dignidade do ser humano, que tem como mandato de Deus o domínio sobre a criação.
Dois textos neotestamentários dão base para a pregação do Salmo 8 neste domingo. O primeiro é do Evangelho de Lucas 2.15-21, parte do relato do nascimento de Jesus. É um dos textos mais conhecidos no contexto das igrejas cristãs. Esse texto apresenta duas ênfases: a primeira relata a ida dos pastores de Belém à manjedoura em Belém para ver o menino que nascera, logo após terem ouvido o coro dos anjos no céu glorificando a Deus nas maiores alturas. Ao retornarem, glorificaram, louvaram a Deus e anunciaram o que tinham ouvido e visto acerca do menino Jesus. A segunda, por sua vez, relata que o prazo para a circuncisão, oito dias após o nascimento, havia chegado e que José e Maria deram ao seu filho o nome de Jesus, assim como haviam sido orientados pelo anjo (Lc 1.31). Já o texto da epístola, previsto para este culto, encontra-se em Filipenses 2.5-11, o famoso hino cristológico. Esse é um dos textos bíblicos mais completos a respeito da cristologia. É interessante observar os movimentos do texto: ele inicia no céu, desce por meio da encarnação de Jesus até a terra, passa pela humilhação da morte de cruz e retorna ao céu por meio da exaltação de Jesus; e com isso afirma que ele recebeu de Deus o nome que está acima de todo nome, diante do qual todo joelho se dobrará nos céus, na terra e debaixo da terra.
É importante perceber que os três textos abordados acima têm muitos aspectos em comum: os três textos falam do nome do Senhor; os três abordam a glória de Deus; os três são expressões de louvor ao Senhor por sua glória e esplendor; os três abordam a realidade de Deus e a realidade humana; os três textos falam do senhorio de Deus. Esses aspectos podem ser bem explorados também na pregação. Desta forma, os textos querem apontar para a glória de Deus e a majestade do seu nome, que se revelam na pessoa de Jesus Cristo, que não usurpou o ser igual a Deus, antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo e tornando-se em semelhança de ser humano por meio da sua encarnação, nascendo na manjedoura de Belém. Anunciado por meio da boca humilde de pastores de ovelhas, a si mesmo se humilhando até a morte de cruz e, ao ser ressuscitado por Deus, foi também exaltado e lhe dado o domínio nos céus, na terra e debaixo da terra. E como Senhor soberano, cujo nome está acima de todo nome, será adorado e confessado em todo o cosmo, para a glória de Deus Pai.
Esta é a primeira vez que o Salmo 8 é previsto em Proclamar Libertação para a pregação. Vejamos agora sua análise exegética.
2. Exegese
O Salmo 8 é conhecido na pesquisa como um hino de louvor coletivo ao Deus criador. Diferente dos demais salmos da criação (cf. Sl 19; 104; 136), que a abordam como derrota das forças caóticas e como estabelecimento dos céus e da terra, o Salmo 8 se concentra em tematizar a criação do ser humano e o seu domínio sobre a criação. Embora não seja absoluta, o Salmo 8 apresenta uma descrição clara acerca da essência do ser humano e sua relação de domínio na criação, que lembra em sua linguagem o primeiro relato da criação, registrada pelo Escrito Sacerdotal em Gênesis 1. Sendo assim, o Salmo 8 pode ser entendido, além de hino, como uma meditação poética da teologia da criação. O Salmo 8 apresenta uma estrutura concêntrica (a estrutura e a divisão dos versículos se baseiam na Bíblia Hebraica, podendo ser diferentes nas versões em português):
v. 1 Título
v. 2a-b Glória e majestade ao nome do Senhor
v. 3 Paradoxo entre crianças – inimigos de Deus
v. 4 “as obras de teus dedos”
v. 5-6 A glória e majestade do ser humano
v. 7 “as obras das tuas mãos”
v. 8 Paradoxo entre animais domésticos e animais selvagens
v. 10 Glória e majestade ao nome do Senhor
Nessa estrutura é possível perceber claramente os contrastes e paralelismos usados pelo salmista. A glória e a majestade do ser humano, destacadas no centro do salmo, têm como sua moldura a glória e a majestade de Deus. Isso significa que a glória do ser humano, sua dignidade e valor enquanto criatura e dominador da criação só são possíveis por causa da glória do nome do Senhor, ou seja, sua presença e sua soberania. Mesmo que o ser humano esteja em destaque aqui no salmo, ele não existe fora da moldura que somente Deus pode dar à sua existência. Por isso não é a antropologia que determina a teologia, mas exatamente o contrário. A antropologia é determinada pela teologia. O ser humano só existe e tem dignidade porque Deus determina sua existência e concede sua dignidade na criação. O fato do ser humano ser retratado no centro literário do salmo não significa que ele seja o centro da criação. O Senhor permanece, do começo ao fim do salmo, sendo o sujeito de todas as ações. É o Senhor que faz com que o ser humano assuma sua tarefa na criação. Vejamos agora o conteúdo do salmo a partir da estrutura apresentada.
a) Moldura: A glória do nome do Senhor (v. 2,10)
Como dito anteriormente, o Salmo 8 é emoldurado pela glória e pela majestade do nome do Senhor, que se revelam sobre toda a terra. Essa dupla afirmação do salmista é uma confissão de fé coletiva (Senhor nosso). Esse termo poderia ser traduzido também como “soberano”, e é no Antigo Testamento uma formulação bem característica para se referir aos reis (cf. 1Rs 1.11,43,47: nosso senhor, o rei Davi). A grandeza e a majestade de Deus, também características que o identificam como rei, aparecem em outros salmos (Sl 135.5; 147.5). Fica evidente na descrição do salmista que Javé, o Deus de Israel, não é nenhum tipo de divindade nacional, como se pode ver nos povos vizinhos do Antigo Oriente. Javé é o Senhor de toda a terra (cf. Js 3.11-13; Sl 97.5; Zc 4.14; 6.5). O Antigo Testamento é convicto de que a glória do Senhor enche toda a terra (cf. Is 6.3; Hc 2.14; Nm 14.21). Essa é uma prova incontestável da unicidade, exclusividade e universalidade do Deus de Israel.
O destaque da moldura do salmo está no nome do Senhor. O nome marca a identidade de uma pessoa e caracteriza a própria pessoa. Ter um nome é ser alguém, é ter existência. No Antigo Testamento, falar do nome de Deus é um assunto bastante vasto e repleto de implicações, até porque Deus recebe vários nomes. Acima de tudo, o nome de Deus significa sua presença. Isso é o que caracteriza, inclusive, a revelação do nome de Deus com o tetragrama YHWH para Moisés, no episódio da sarça ardente (Êx 3.14). O mesmo aparece na teologia deuteronomista, na qual o nome de Deus habita no tabernáculo (Dt 12), posteriormente no templo (1Rs 8), marcando assim sua presença e a possibilidade da invocação do seu nome no contexto do culto. O louvor ao nome de Deus tem sua base no reconhecimento do poder e da autoridade do Senhor. Esse aspecto aparece no final do Salmo 7.17, exatamente um versículo antes de iniciar o Salmo 8. O nome do Senhor também aponta para sua santidade e para sua exclusividade. Por isso o segundo mandamento proíbe falar o nome do Senhor em vão (Êx 20.7). No Novo Testamento, as concepções do nome do Senhor adotam o mesmo uso teológico e linguístico veterotestamentário. Além do louvor e da invocação do nome de Jesus (cf. At 19.17; Rm 10.13; 15.9; Hb 13.15; Ap 15.4), o nome do Senhor Jesus traz salvação (At 2.21; 4.12).
Em comparação com o v. 10, percebe-se que o v. 2 possui uma linha a mais. Nela é dito que a majestade de Deus não é vista apenas na terra, mas também nos céus. Céu é o lugar por excelência da habitação e da atuação de Deus. É no céu que a glória de Deus se manifesta de forma visível. Assim sendo, o louvor a Deus tem a primeira e a última palavra neste salmo, ou seja, é o princípio e o alvo de todas as suas afirmações, também as que se referem ao ser humano. O Salmo 8, em sua moldura literária, é um convite ao louvor e à contemplação da majestade de Deus no céu e na terra. A admiração sobre a posição especial do ser humano na criação deve levar à adoração ao louvor a Deus (doxologia).
b) O domínio do ser humano no cosmo (v. 3,8-9)
O v. 3 fala do poder de Deus a partir de duas figuras contrastantes no Antigo Testamento para expressá-lo. Os termos “pequeninos” e “crianças de peito” estão para os membros mais fracos e inofensivos da sociedade e comunidade humana (cf. 1Sm 15.3; 22.19; Jr 44.7; Lm 2.11; Jl 2.16). Por meio de crianças inofensivas e indefesas, Deus suscita força para vencer e se vingar de seus inimigos e dominá-los, afastando todo o caos gerado por eles. Deus sempre se serve dos que são mais fracos e menores para manifestar sua glória e o seu domínio (cf. 1Co 1.27; 2Co 12.10).
O domínio do ser humano sobre a criação, destacado nos v. 8-9, é uma dádiva de Deus, que resulta da sua glória e do seu mandato ao ser humano e, por isso, não se trata de uma conquista sua. O domínio do ser humano, a partir da teologia da criação, não é entendido como exploração ou opressão. Essas são as consequências do pecado a partir de Gênesis 3. Bíblica e teologicamente falando, o ser humano só tem o domínio na condição de servo. Ele permanece sujeito e submisso a Deus enquanto criatura. Pois sua existência é sempre sinal da glória de Deus e é, a princípio, apenas uma função do louvor a Deus. A abrangência do domínio do ser humano é o mundo criado e dominado por Deus. O ser humano pode dominar assim como Deus mantém e cuida de sua criação. Deus pôs tudo sob os pés do ser humano (v. 7). Essa imagem vem do contexto de guerra e aponta para a conquista e a vitória sobre povos inimigos que se manifestam pela submissão. Assim como Deus vence as forças caóticas da criação e dos seus inimigos, e os submete a si mesmo, tornando-os seus servos, assim o ser humano deve domínio no sentido de fazer algo ser servo. Em outras palavras, o ser humano, enquanto criatura de Deus, é seu servo, que foi chamado e empoderado por Deus para tornar em servos as obras das mãos de Deus.
Como já mencionado, o Salmo 8 retoma a linguagem sacerdotal do relato da criação em Gênesis 1. Acima de tudo, são as afirmações referentes ao ser imagem e semelhança de Deus. Biblicamente falando, a função central de ser imagem e semelhança de Deus é ser representante de Deus na terra. Em Gênesis, como também no Salmo 8, a abrangência dessa representação contempla o céu, a terra e o mar. Assim como Javé é um Deus universal, ao qual o mundo inteiro se submete, assim domina o ser humano sobre a totalidade da criação. A fauna, descrita no salmo, deixa isso bem visível.
c) As obras de Deus (v. 4,7)
Ao falar das obras da criação, tanto as do céu como as que estão na terra e no mar, o salmista usa duas formulações para destacar o poder criador de Deus: os dedos e as mãos. No Antigo Testamento, falar dos dedos de Deus aponta para a intervenção e o agir direto e imediato dele. Suas obras na criação são incomensuráveis. Interessante que também as suas leis, ou seja, os dez mandamentos, Deus escreveu com seus dedos nas duas tábuas entregues a Moisés (Êx 31.18; Dt 9.10). No v. 7 o salmista fala das mãos de Deus. Essas manifestam o poder de Deus. Ao ser humano Deus dá o domínio de todas as obras de suas mãos. Nesse sentido, percebe-se um interessante paralelismo entre dedos e mãos de Deus. Isso expressa não apenas o ato criador de Deus, mas o fato de Deus criar tudo com suas mãos e dedos, como um artesão que cuidadosamente faz suas obras (cf. Sl 144.1; Is 2.8; 17.8; 59.3).
d) A glória e a majestade do ser humano (v. 5-6)
No centro do salmo está uma das formulações antropológicas mais densas e especiais da Bíblia. A pergunta pela identidade do ser humano aparece de forma retórica e como expressão de admiração: Que é o ser humano, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites? Tudo o que o ser humano é, ele deve ao cuidado amoroso (lembrar-se) e ao voltar-se misericordioso de Deus (visitar). É interessante perceber que esses dois verbos também aparecem no Antigo Testamento no sentido da punição divina ao pecador (cf. Sl 106.4; Jr 3.16; 14.10; 15.15; Os 8.13; 9.9), ou do lamento do ser humano sofredor diante de sua finitude e diante da abscondicidade de Deus (Jó 7.17-18). Aqui, porém, eles são usados para expressar o voltar-se e o cuidado salvador de Deus. Deus coroa o ser humano e lhe dá a dignidade de assumir na terra o seu domínio. O ser humano reflete a majestade de Deus. O Rei celestial delega seu poder ao ser humano. Enquanto que no antigo Oriente apenas o rei é a imagem e o representante dos deuses, no Antigo Testamento, e de forma especial neste salmo, bem como no relato da criação de Gênesis 1, essa realeza divina é ampliada e democratizada ao ser humano (cf. Êx 19.6).
Assim, o Salmo 8 fala da dignidade real do ser humano. Não se trata da divinização do ser humano (apoteose), muito menos de uma dignidade divina que lhe é conferida. O ser humano continua sendo ser humano. Seu poder e sua honra vêm de Deus. Esse permanece em todo o salmo sendo o sujeito de todas as ações. A glória de Javé se manifesta não apenas no céu, mas no ser humano. Não é a grandeza humana que é o alvo do louvor, e sim a grandeza e a majestade de Deus. Tudo o que o ser humano é, ele é por causa de Deus e para Deus e o seu louvor. O ser humano não é o criador, mas recebe a tarefa de dominar a criação. O ser humano é o representante (vicarius Dei) de Deus, sua imagem e semelhança, e como coroa da criação ele pode reger sobre todas as criaturas, assim como Deus exerce sua soberania no céu. Interessante é perceber que o ser humano não tem o domínio sobre seu semelhante. Tanto em Gênesis 1 como no Salmo 8 o domínio do ser humano é predito na esfera da fauna. Onde houver qualquer tipo de domínio do ser humano sobre outros seres humanos, isso se caracteriza por sua própria desumanização e, literalmente, na destronização do ser humano de sua dignidade e da alienação da imagem de Deus em si mesmo, comprometendo o louvor da glória e do nome do Senhor.
No Novo Testamento, o Salmo 8 é interpretado de forma messiânica. Em Hebreus 2.5-9, várias partes do Salmo 8 são citadas. A expressão “filho do homem”, de Salmo 8.5, vai ser usado para se referir a Jesus Cristo. Também Paulo, no contexto de sua fala acerca da ressurreição, em 1 Coríntios 15.27, cita o Salmo 8.7, afirmando que todas as coisas foram sujeitas debaixo dos pés de Jesus. Mesmo que essa interpretação neotestamentária não corresponda exatamente ao que diz o Salmo 8 em seu sentido literal, essa leitura não estaria equivocada. Essa compreensão messiânica aponta para uma nova perspectiva cristológica e antropológica. Jesus Cristo é apresentado como o ser humano em sentido completo. Jesus Cristo cumpre nele mesmo o propósito que Deus tem com o ser humano.
3. Meditação
Como a análise exegética mostra, o Salmo 8 fala da glória do nome do Senhor e da posição do ser humano no contexto da criação. Sendo aplicado no culto, cujo tema é o nome de Jesus (ciclo do Natal), além de ser interpretado de forma cristológica, o salmo precisa ser interpretado também de forma eclesiológica. Jesus Cristo é o verdadeiro ser humano, coroado por Deus e que exerce o domínio no mundo, a partir de sua obra redentora e de sua exaltação e seu senhorio. Os textos das leituras bíblicas bem como a interpretação neotestamentária do Salmo 8 deixam esse aspecto claramente evidenciado. Tudo lhe foi sujeitado sob os seus pés, pois ele venceu a morte, o pecado e o diabo. Ele foi exaltado e está sentado à direita de Deus, Pai Todo-Poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos, como afirma o Credo Apostólico. Diante de Jesus todo joelho se dobrará. Seu senhorio é cósmico: ele reina no céu, na terra e embaixo dela.
Interpretando o texto de forma eclesiológica, o Salmo 8 aponta para a expressão “Senhor nosso”. É a comunidade que declara o louvor e a soberania do nome do Senhor em toda a terra. É a comunidade que invoca o nome do Senhor neste mundo, para que possa experimentar sua presença, sua salvação e também para experimentar sua dignidade neste mundo. A comunidade cristã se reúne em nome do Senhor. Ela encontra a salvação no nome, que está acima de todo nome e que importa que as pessoas sejam salvas. Ela existe para anunciar e glorificar o nome do Senhor em pensamentos, palavras e ações. Ao invocar e anunciar o nome do Senhor, a igreja de Jesus Cristo manifesta a presença de Deus neste mundo. Eis a tarefa a ser assumida pela comunidade no novo ano!
4. Imagens para a prédica
Pode-se introduzir a pregação com exemplos do que se fez com o nome de Deus ao longo da história da humanidade. Muitas pessoas, em nome de Deus, promoveram guerras, genocídios, conquistas, principalmente com o objetivo de dominar o seu semelhante. Em nome de Deus também se promete cura, prosperidade e bênçãos materiais de todo tipo. O nome de Deus é usado em vão, como diz Lutero em sua interpretação e explicação ao segundo mandamento no Catecismo Maior, por meio de práticas de feitiçaria, benzedura, superstição e ocultismo. Também na virada do ano essa prática é muito comum, com prognósticos para um futuro melhor. O nome de Deus e sua glória têm sido profanados atualmente ao se negar a exclusividade de Jesus Cristo como Senhor e Salvador, afirmado pelo apóstolo Paulo em seu hino cristológico (Fp 2.5-11). Muitos afirmam que Deus é um só e que todas as religiões são boas e salvíficas. O diálogo inter-religioso, tão importante, precisa, contudo, por parte dos cristãos, cuidar para não haver diluição da fé cristã. Em nome de uma tolerância religiosa, que é tolerante com tudo e todos, menos com o próprio nome do Senhor, este acaba sendo rebaixado à esfera de ídolo, e ao invés do louvor recebe a desonra.
Segue uma sugestão homilética para a pregação do Salmo 8 para o culto de Ano-Novo:
Tema da pregação: O nome que está acima de todo nome
1. Em o nome do Senhor experimentamos sua presença.
2. Em o nome do Senhor experimentamos sua salvação.
3. Em o nome do Senhor experimentamos seu mandato.
5. Subsídios litúrgicos
Vejamos algumas sugestões para a liturgia do culto:
Liturgia de entrada
Como verso para a saudação, sugere-se usar Colossenses 3.17: E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Geralmente esse verso aparece nas Senhas Diárias como lema do Ano-Novo. Esse verso faz muito bem a relação entre o Ano-Novo e o conteúdo do domingo, ao abordar o nome do Senhor Jesus. Para o início do culto pode ser cantado o hino Jesus em tua presença (Livro de Canto da IECLB nº 20). Como o tema do culto é o nome de Jesus, esse aspecto teológico já pode ser evidenciado na invocação trinitária, pois a comunidade se reúne em culto em nome de Deus e se coloca diante dele, em sua presença, para adorá-lo, glorificá-lo e ouvir o anúncio da sua Palavra. Como cântico de louvor, o novo livro de Canto da IECLB traz uma bela melodia do Salmo 8: Ó Deus, nosso Senhor (86).
Liturgia da Palavra
Antes da pregação, sugere-se cantar o hino 173 Nome sobre todo nome. Após a pregação, no momento da confissão de fé, sugere-se cantar o hino 193: Nós cremos todos num só Deus. Esse hino, além de ser de Lutero e se basear nas palavras do Credo Apostólico, louva o Deus criador e a dimensão da criação, que o Salmo 8 aborda; na segunda estrofe, menciona a cristologia na mesma direção dos textos de Lucas e Filipenses, previstos para as leituras bíblicas.
Liturgia de despedida
Ao final do culto, sugere-se cantar o hino 288: Vem, derrama a paz. O hino expressa a bênção e aponta para a glória de Deus, por aquilo que ele tem feito, por aquilo que ele é e por aquilo que ele fará. É um bom hino para a bênção de um culto de Ano-Novo.
Bibliografia
BOECKER, Hans Jochen. Das Lob des Schöpfers in den Psalmen. Neukirchen--Vluyn: Neukirchener, 2008.
GERSTENBERGER, Erhard S. Como estudar os salmos? Guia interativo para seminários e grupos bíblicos. São Leopoldo: Sinodal, 2015.
HILBRANDS, Walter. “Du hast ihn wenig niedriger gemacht als Gott”: Zur hoher Anthropologie von Psalm 8. In: HILLE, Rolf; KLEMENT, Herbert H. (Hrsg.). Ein Mensch – was ist es? Zur Theologischen Anthropologie. Wuppertal: Brockhaus; Giessen: Brunen, 2004. p. 89-105.
SEYBOLD, Klaus. Die Psalmen. Tübingen: Mohr Siebeck, 1996. (Handbuch zum Alten Testament I/15).
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