Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

Mateus 11.2-11

Auxílio Homilético

15/12/2019

 

Prédica: Mateus 11.2-11
Leituras: Isaías 35.1-10 e Tiago 5.7-10
Autoria: Dione Carla Baldus
Data Litúrgica: 3º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 15/12/2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

O caminho segue com esperança

1. Introdução

Diversas reflexões sobre o texto de prédica podem ser encontradas nas edições anteriores de Proclamar Libertação: v. III, X, 21, 27, 32 e 38. Eles oferecem ampla possibilidade de aprofundar o assunto e percorrer caminhos, por vezes, bem diferentes. O foco está na confiança nas promessas de Deus e na esperança por tempos melhores. Tende bom ânimo (Jo 16.33). É tempo de Advento!

A linguagem poética de Isaías conecta o passado, o presente, o futuro; e o sofrimento ao bem-estar. Traz para a discussão a sustentabilidade da confiança e da esperança. O sofrimento da natureza torna visível o pecado humano e dá visibilidade à ação de Deus, que transforma e renova a vida onde menos se espera: da terra seca brota um jardim. Quando o sofrimento trava a visão, paralisa os passos e emudece a voz, é a esperança que dá ânimo, encoraja à confiança e não permite que o medo paralise. O sentido e a razão da esperança estão no Messias. Por esse caminho, Deus nos quer conduzir.

Tiago lembra que o caminho do Reino é exigente. As adversidades trazem tensões que se refletem nos relacionamentos: queixas, julgamentos, juízo. É preciso perseverar e incentivar as pessoas a suportar com paciência os sofrimentos, no sentido de ampliar o ânimo enquanto o Senhor não vem. Os profetas, que sofreram e permaneceram fiéis, servem de exemplo, assim como as famílias agricultoras que dialogam com a terra, conhecem e respeitam o seu ritmo, cuidam, plantam e aguardam com esperança a hora da colheita. A história mostra que os sofrimentos têm seus significados e podem servir de impulso para confiar em Deus e para servi-lo, ter esperança e melhorar a vida.

2. Exegese

O evangelista, que escreve por volta do ano 80 d.C., agrupa os ensinos de Jesus em cinco partes. O texto de prédica está no início da terceira parte, que traz várias controvérsias entre Jesus e adversários, além de sete parábolas que descrevem aspectos do Reino dos Céus, que necessitam de resposta humana. Mateus quer mostrar que o cumprimento das expectativas e promessas messiânicas do Antigo Testamento se cumprem em Jesus.

V. 2 – João Batista está na cadeia e ouve falar do que Jesus fazia. João Batista estava acostumado a viver em espaço aberto, tendo como companhia o  sol, a lua, o céu azul, o vento, o deserto e o horizonte. A prisão é tortura para quem se acostumou com a liberdade. O historiador judeu Flávio Josefo informa que João foi preso na fortaleza herodiana de Maqueronte, na Idumeia, no lado oriental do mar Morto. João Batista sentiu-se desafiado por essa nova e sofrida experiência. Da prisão ele ouve o relato sobre o que Jesus está fazendo. Sobre a pregação de Jesus, Mateus concentrou nos capítulos 5-7 e 10, enquanto suas atividades estão descritas nos capítulos 8 e 9. Do que João ouve brota a pergunta:

V. 3 – O senhor é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro? Será que João Batista tinha dúvidas sobre aquilo que havia pregado? Ou seus discípulos tinham dúvidas? A quem serve essa resposta? Talvez João Batista tivesse pressa em entender o que estava acontecendo, até porque a sua mensagem nem sempre condizia com as atitudes de Jesus. A perspectiva do juízo era muito forte em sua pregação (Mt 3.7-12). Mas os relatos que chegam a João são de curas, discursos sobre o amor, assuntos do dia a dia – coisas pequenas para um grande projeto de transformação aguardado em Israel. A resposta de Jesus deve confirmar seu discurso de que um novo tempo é chegado, reanimando-o em meio à angústia do sofrimento e da morte iminente. Mas a pergunta também pode conter a expectativa sobre um novo olhar do que vem a ser o reino de Deus.

V. 4-5 – Digam a ele que os cegos veem... e os pobres recebem o evangelho. A resposta de Jesus recorda as palavras de Isaías a respeito dos tempos messiânicos (Is 29.18-21; 35.5-6) e da missão do servo do Senhor Deus (Is 61.1; Lc 4.18). Jesus mostra que o caminho e a estratégia estão firmados no amor e que é preciso se deixar moldar: cegos veem quando conhecem e enxergam a si mesmos, a Deus e as outras pessoas. Coxos andam quando superam suas incapacidades, suas queixas de vitimizações e enfrentam os desafios. Leprosos são purificados (curados) quando são aceitos pela sociedade. Surdos passam a ouvir quando a voz de Deus e de suas consciências influenciam para a vida. A ressurreição acontece quando a pessoa se sente capaz de enfrentar as tentações, se arrepende e se permite viver uma nova vida. Aos pobres tem-se alcançado as riquezas dos céus. São exemplos de superação.

Esse processo de mudança de vida pode ser reconhecido não só nas palavras de Jesus, mas principalmente nas atitudes. A missão não é vir e ver, mas ir e contar (v. 4), espalhar a boa nova. Note que João Batista não compreendeu a essência da missão de Jesus, pois sua espera está relacionada ao juízo escatológico da ira, a instauração de um império sobre todos os reinos da terra e a eliminação dos inimigos do povo eleito. A proposta de Jesus é de distribuição de bênçãos. Por isso Jesus convida João a olhar os sinais e perceber neles como Deus está agindo para salvar as pessoas.

V. 6 – E bem-aventurada é aquela pessoa que não achar em mim motivo de tropeço. João Batista e Jesus têm percepções e estratégias diferentes. Daí decorre a importância de uma abertura para os desdobramentos dos planos de Deus, tendo em vista que o ministério de Jesus não combina totalmente com as características das expectativas messiânicas correntes. Para muitas pessoas, foi e é escândalo o que Jesus fez. Esse escândalo não pode ser motivo de tropeço para não confiar, para perder as esperanças, se entregar ao sofrimento ou abandonar a fé. Ao contrário, faz-nos perguntar pela missão e por onde começar.

Temos até aqui uma pergunta, uma resposta e uma exortação à confiança e à perseverança em tempos escuros. Na sequência, as palavras de Jesus são proferidas ao povo a respeito de João.

V. 7b-10 – Jesus pergunta três vezes: “o que vocês foram ver?”.

a) Foram ver um caniço açoitado pelo vento? Caniço era uma planta muito comum na beira do rio Jordão, que facilmente se dobrava com o vento. Ao comparar João com o caniço, Jesus afirma que ele não era um homem qualquer, pois ele atraía multidões. João também não era comum, e muito menos uma pessoa que se deixa dobrar diante de qualquer pressão ou sofrimento.

b) Foram ver um homem com roupas finas e que mora num palácio? A simplicidade de João não o diminui, ao contrário, ele fala sem temor e com qualquer 
pessoa, inclusive com o rei.

c) Foram ver um profeta? Profeta é a pessoa que recebe a mensagem de Deus e tem coragem de comunicá-la. Profeta tem a sabedoria e as palavras de Deus e uma coragem que só Deus pode dar. E João preenche esses requisitos. Os profetas e as profetizas foram pessoas ousadas. Jesus foi ousado, tanto que sua vida influenciou a história da humanidade, que se divide em antes de Cristo e depois de Cristo. Ambos enfrentaram as dificuldades de propor um novo jeito de viver e se relacionar no e com o mundo.

V. 11 – De todos os homens... João Batista é o maior. João Batista não foi apenas mais um profeta. Ele era também o mensageiro que Deus enviou a fim de preparar o caminho para a vinda do Messias (Ml 3.1). O trabalho dele marcou o fim do tempo dos profetas e da Lei de Moisés (v. 13) e o começo do tempo do Reino dos Céus.

3. Meditação

Os textos podem ter um tom alegre e festivo – é Advento! Podem evocar o ânimo e a renovação da esperança em tempos difíceis, ancorados no medo, no individualismo e na violência de todas as formas. O evangelho destaca que as atitudes de Jesus foram escândalo para muitas pessoas, pois aguardavam um grande rei que, com poder e força, mudaria o mundo. No entanto, o caminho proposto por Jesus segue um outro rumo e se sustenta em outras balizas e valores!

O evangelho anima e alegra as pessoas cansadas e sobrecarregadas com os sofrimentos e amedrontadas com a realidade, em que há pouco ou quase nada de incentivo à contemplação da natureza e da vivência da riqueza dos relacionamentos. Onde parece não haver mais sentido na vida! Onde o mal e a violência parecem reinar tranquilamente.

O profeta Isaías encoraja à confiança em Deus, e Tiago à paciência para suportar a espera do Reino desvelando sinais. A essência de Deus é o amor. Vale
o esforço de sublinhar essa característica essencial e o que significa se sentir uma pessoa amada por Deus – sintonizada com o maior poder transformador.

Uma via de reflexão é a do arrependimento que leva ao perdão e à mudança de vida. E esse processo está intimamente ligado ao amor. É o amor que leva ao arrependimento, que promove o perdão próprio, o perdão para com as demais pessoas e na relação com Deus. Saber-se e sentir-se uma pessoa amada por Deus, para muito além das fraquezas e falhas, torna as pessoas menos egoístas e mais humanas. Em Jesus, o que transforma e renova o mundo não é o poder, o uso da

força, da violência ou do fundamentalismo egoísta da salvação, mas a mudança produzida na vida da pessoa quando ela crê: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e os pobres recebem o evangelho (v. 5).

O que causa mudança são os relacionamentos mais humanos, sustentados pelo amor e desdobrados em valores como respeito, inclusão, ética, diálogo, diversidade e complementariedade de jeitos de ser e viver, exemplificados pela vida da natureza. Esses são os sinais do Reino, protagonizados na ação missionária de Jesus, os quais são repassados às pessoas crentes para ir e ensinar (Mt 28.19-20).

Sem dúvida, a realidade atual assombra as pessoas com o medo de tudo, de todos e com valores que acentuam o consumismo, o acúmulo de bens, o descarte de pessoas e a exploração dos bens naturais de modo não sustentável. Esse cenário causa insegurança, pessimismo, angústia, bloqueamento dos sentimentos, solidão, falta de resiliência. Esse conjunto de sentimentos pode ser transformado pelo amor que, por ele próprio, sabe criar um dinamismo de superação, que torna as pessoas mais humanas.

A exemplo de João Batista, é possível não se deixar quebrar e agitar pelo vento da injustiça e da agressão a todas as formas de vida. É possível resistir, mostrar força na fraqueza, perseverar na fidelidade à mensagem de Jesus, ter coragem para aplainar caminhos para que os sinais do Reino possam ser vivenciados. É possível uma atitude missionária, potencializando o sacerdócio das pessoas que creem, para promover relações de paz, acolhimento às pessoas sofridas e dar voz ao evangelho e aos valores do reino de Deus.

Não é tarefa fácil nem há uma resposta única de como superar os sofrimentos e vivenciar mais o Reino. Mas Jesus indica o caminho que, ao ser percorrido, vai trazendo respostas construídas a partir de perguntas que brotam do cotidiano, das experiências com os sofrimentos e com as alegrias. Jesus quer conduzir pelo caminho balizado pelo amor. É preciso planejar o percurso desse caminho, confiante na ação do Espírito Santo e firme nos valores do evangelho. Ali onde há uma mudança para melhor, ali o amor reinará, e a esperança renascerá outra vez!

Cabe ressaltar que a missão da igreja é reconhecida e tem credibilidade a partir de ações práticas, simples e significativas. Essa missão dá visibilidade à ação e à percepção da presença de Deus no mundo. A provocação é sair da omissão e da passividade para uma postura de protagonismo que impulsiona o “ir” e o “contar” sobre o que Jesus fez e faz. E isso inclui estimular a coerência em ver, ouvir, sentir, experimentar e falar sobre a fé cristã e integrar atitudes diaconais e missionárias. Pequenas atitudes fazem toda a diferença.

A força de João Batista vinha do que ele acreditava. É preciso ousadia para se identificar com Jesus, tal qual João Batista o fez. Que a nossa fé também seja fortalecida!

4. Imagens para a prédica

– Advento: tempo de confiança e esperança em meio a situações difíceis, tal qual Maria e José grávidos e fora dos padrões sociais; tal qual João Batista, um homem livre, agora aprisionado; e tal qual a própria insegurança do povo no exílio. Advento: tempo de recontar o passado, pensar o presente e sonhar com o futuro. Esperançar. Protagonizar valores fundantes da vida plena!

– Relacionar o texto com referências sobre os sofrimentos dentro do contexto local. Podem ser citadas situações socioeconômicas, ecológicas, comunitárias, doenças, dores, lutos, perguntas sobre a sustentabilidade da missão. Lembre--se de também pontuar situações alegres e que inspiram confiança e esperança. Falar de coisas boas é espalhar o Evangelho, é participar da missão.

– Um viés interessante é o de abordar a temática a partir da transformação e renovação da natureza. Usar a imagem poética e profética relacionando com a vida que precisa ser cuidada e amada de forma integral e holística.

– Ilustração: um casal observou durante muito tempo um homem, que tinha como missão acender os lampiões que iluminavam as ruas e praças da cidade. Porém algo chamava à atenção naquele homem. Um dia, o casal foi conversar com o acendedor de lampiões e descobriu que ele tinha deficiência visual total. Mas isso não o impedia de acender os lampiões e possibilitar que pessoas pudessem ver o caminho, balizadas por essas luzes. Eis aí um desafio: entusiasmar e animar as pessoas com a missão de acender a “luz”, fornecendo balizas para o amor.

5. Subsídios litúrgicos

1. Jogral: Convidar alguns grupos da comunidade para fazer um jogral, interpretando o hino “Maria”, LCI 353:
Todos os grupos: Maria, Maria.
Grupo 1: Como foi que trocaste teus sonhos pela simples e plena alegria de servir ao Senhor ao gerar em teu ventre Jesus?
Todos os grupos: Maria, Maria.
Grupo 2: Como não aceitar seu chamado, se por ele nos veio a resposta aos clamores do mundo por luz e por libertação?
Todos os grupos: Maria, Maria.
Grupo 3: Como foi que arriscaste tua vida, o desprezo de todos na rua, um projeto de vida tranquila, o amor de José?
Todos os grupos: Maria, Maria.
Grupo 4: Como não aceitar esse risco, se Deus mesmo me fez sua serva? Mesmo sendo pequena, sou bênção nas mãos do Senhor.
Todos os grupos: Maria, Maria.

2. Hinos: Livro de Canto da IECLB
* Há sinais de paz e de graça, n° 582
* Pelas dores deste mundo, n° 56
* Ó querido e bom Jesus, n° 30
* Advento é tempo de preparação, n° 358
* Se caminhar é preciso, n° 575

Bibliografia

BÍBLIA CONSELHEIRA – Novo Testamento. Barueri/SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.
BIBLIOTECA BÍBLICA. Estudos sobre Mt 11.1-30. Disponível em: . Acesso em: 04 abr. 2019.


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Autor(a): Dione Carla Baldus
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 2 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54623

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