Prédica: Mateus 10.40-42
Leituras: Jeremias 28.5-9 e Romanos 6.12-23
Autoria: Helga Rodrigues Pfannemüller
Data Litúrgica: 4º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 02/07/2017
Proclamar Libertação - Volume: XLI
1. Introdução
O texto de Jeremias 28.5-9 apresenta parte do embate entre Jeremias e o falso profeta Ananias. Ananias iludia o povo com boas notícias, falando aquilo que o povo queria ouvir. Não sendo alertado dos seus erros, o povo não se arrependia dos pecados que cometia. Isso levou Jeremias a colocar critérios para diferenciar os profetas e suas profecias como sendo enviados por Deus ou não. Os profetas de Deus são reconhecidos pelo conteúdo da sua mensagem, e Deus não envia somente mensagens de paz. Muitas vezes, ele manda que seus profetas anunciem os castigos que receberão como resultado e consequência dos seus pecados.
Em Romanos 6.12-23, Paulo descreve as consequências do Batismo na vida prática da pessoa cristã: a liberdade em relação ao pecado deve produzir frutos de justiça e de amor. “O fruto do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23).
O fio vermelho que une os dois textos é a ideia de pecado e recompensa. No Antigo Testamento, o verdadeiro profeta reconhece e anuncia que o pecado gera castigo. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo afirma que o fruto do pecado é a morte, enquanto a graça de Deus tem como recompensa a vida eterna.
Mateus 10.40-42 afirma que quem recebe as testemunhas de Cristo recebe a Cristo mesmo, ou seja, recebe o próprio Deus. Quem acolhe essas testemunhas é recompensado até mesmo pelo menor dos seus gestos.
2. Exegese
O texto de pregação encerra um grande bloco iniciado em Mateus 10, que traz o discurso apostólico de Jesus. Nos versículos 1 a 17, Jesus chama os discípulos e dá-lhes a missão de multiplicar sua mensagem para todo o povo de Israel. Para tanto, Jesus instrui-os e anima-os diante das dificuldades que provavelmente encontrarão no caminho (v. 17-39). Depois desse grande bloco, Jesus conclui seu discurso com uma última palavra de estímulo: uma palavra de promessa que conscientiza o discípulo de que ele traz aos que o recebem o mais importante, a saber, o próprio Deus (Comentário Esperança, p. 110).
A partir de sua pesquisa, Walter Grundmann sugere que os versículos 40 e 42 compõem uma unidade. Possivelmente reproduzem um logion (dito de Jesus) a respeito da retribuição às boas ações praticadas em relação às crianças. Nesse caso, a palavra “pequeninos” seria uma referência aos próprios discípulos de Jesus (cf. Lc 10.16 e Mc 9.37). O versículo 41, inserido no meio, seria um antigo provérbio judaico, acrescentado posteriormente ao texto. A ordem apóstolo-profeta-justo-pequenino, contida nesse provérbio, dá margem à pergunta se essa seria a reprodução de uma antiga hierarquia existente na igreja primitiva: os apóstolos como os portadores da palavra, os profetas, os justos representando os cristãos experientes e o grande número de membros da comunidade, chamados simplesmente de “discípulos” e que equivalem aos “pequeninos”. O que as pessoas fazem para os membros da comunidade não fica sem recompensa (GRUNDMANN, 1975, p. 301-302).
Entretanto é importante ressaltar que o discurso de Jesus não é dirigido ao público em geral, para que esse acolha os discípulos amigavelmente, mas unicamente a seus discípulos. Assim Jesus incentiva a coragem de seus seguidores em sua tarefa de levar a mensagem do evangelho a todas as pessoas. É uma forte palavra de consolo, que mostra o quão valiosos eles são aos olhos de Deus. “De fato, Jesus considera a acolhida que se faz aos apóstolos como um benefício realizado a ele próprio, e mesmo a Deus. O Senhor tem em mente não somente a acolhida hospitaleira (cf. v. 41, oferecer um copo de água fria), mas também a aceitação da sua pregação” (RIENECKER, 1998, p. 121).
Quem acolhe um missionário (profeta) ou um justo (pessoa cristã) por causa de sua pregação e de sua justiça recebe de Deus as recompensas correspondentes. Em outras palavras, quem aceita com fé a palavra desses profetas e defende sua causa torna-se cooperador da verdade (3Jo 8) e, portanto, participante das bênçãos divinas. Na categoria de “pequeninos”, o grupo de discípulos demonstra sua posição inferior diante dos grandes e poderosos do mundo. Contudo justamente sobre essas pessoas desprezadas pelo mundo repousam o cuidado e a benevolência de Deus.
3. Meditação
Fazendo um apanhado das contribuições de autores e autoras de Proclamar Libertação a respeito do(s) texto(s) em estudo, é possível usufruir da diversida- de e riqueza de temas propostos. Considerando o material produzido até agora, ocupei-me em oferecer uma opção a mais de tema para a pregação.
Jesus deu uma tarefa importante a seus discípulos: o desafio de anunciar seu evangelho a todas as pessoas em palavras e ações. Isso significa que o anúncio do evangelho (a atividade missionária) é composto pela pregação da Palavra e pelo testemunho concreto de Jesus Cristo por meio das ações diárias de cada discípulo(a).
Quem seriam hoje esses discípulos e discípulas? Esta é uma pergunta boa para ser abordada durante a pregação. A expressão “um desses pequeninos” indica que qualquer membro da comunidade eclesial pode e deve ser reconhecido na qualidade de discípulo de Jesus. Quem realiza a obra de Cristo no mundo? O guia de vida comunitária da IECLB “Nossa fé – Nossa vida” responde a essa questão da seguinte forma: “Todos nós, como membros da Igreja de Cristo, somos sacerdócio real, representantes de Deus, encarregados por ele mesmo para proclamar e viver a boa-nova da salvação em Cristo. Todos nós somos chamados a realizar a obra de Cristo no mundo, como Comunidade e individualmente no ambiente em que vivemos” (p. 10).
Para tanto, somos animados e animadas pelo próprio Jesus com as palavras: “Quem vos recebe, a mim recebe. E quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou”.
Acolher um mensageiro ou mensageira de Jesus equivale a acolher o próprio Jesus. De igual modo, acolher Jesus significa acolher o próprio Deus. Estejamos certos de que “receber” aqui vai muito além da hospitalidade. Implica uma disposição de estabelecer relações com o visitante e aceitar a mensagem anunciada por ele.
Nesse sentido, a recompensa a ser recebida não indica um pagamento por algum serviço prestado. Não é com a promessa de recompensa que Jesus anima seus seguidores. Ao contrário, recompensados são aqueles e aquelas que acolhem seus seguidores. Esses serão beneficiados com as bênçãos que Deus destinou a seus anunciadores. O encontro e a comunhão com eles levam ao encontro com o próprio Pai e à vida eterna oferecida por ele. Assim, tão valiosos aos olhos de Deus são seus seguidores, seus discípulos e discípulas que mundo afora testemunham Jesus Cristo.
4. Imagens para a prédica
Sugestão de estrutura
– Antes de partir para o encontro com o Pai, Jesus deixa uma importante missão a seus discípulos: a difícil, mas gratificante tarefa de pregar a Palavra.
– Difícil, porque anunciar a Palavra exige coragem (ela aponta o pecado – leitura de Jeremias).
– Gratificante, porque a Palavra traz bênçãos tanto para quem a anuncia como para quem a acolhe (leitura de Romanos).
Existe uma história que fala a respeito de uma mulher que esperava a visita de Jesus. Para receber o Mestre, ela cuidou de tudo. Preparou sua casa nos mínimos detalhes e também cuidou de si mesma. Penteou o cabelo, botou uma roupa bem bonita; afinal, quem vinha era simplesmente o Filho de Deus! Quando ela achou que tudo estava de acordo com a importância do hóspede, sentou-se perto da lareira e esperou... O tempo passou, e nada de Jesus chegar. Ela já estava ficando preocupada quando alguém bateu à porta. Ela saltou ligeiro da cadeira, colocou rapidinho o tapete no lugar, ajeitou o cabelo e foi abrir a porta. Mas que decepção! Não era o Cristo. Era um mendigo querendo um pedaço de pão. Ela nem pensou duas vezes. Desculpe-me, estou esperando uma visita muito impor- tante e não tenho tempo para você agora. Por favor, vá a outro lugar. Agora não dá! Voltou para sua cadeira e esperou... De repente, alguém bateu à porta. Agora é ele! Puxou um pouquinho para a direita o vaso de flores que estava sobre a mesa, passou ligeirinho na frente do espelho e correu para abrir a porta. Mas não era ele. Era um pobre velho que não tinha casa e que sempre buscava um abrigo na casa das pessoas bondosas da vila. Hoje eu não tenho tempo para você, estou esperando o Senhor Jesus. Por favor, não me deixe mais nervosa! Voltou para seu lugar. Na terceira vez que alguém bateu à porta, ela já levantou furiosa, pois pensou que não seria Jesus. Abriu a porta rapidamente, pronta para dar uma bronca em quem quer que fosse que viesse atrapalhar esse momento tão importante em sua vida. E não deu outra. Desta vez era uma forasteira que chegara à cidade e não tinha onde pernoitar. Ela queria um local para dormir e passar a noite. Mas a velhinha não quis conversa, despachou logo a mulher e disse que tinha coisa muito mais importante para fazer e desabafou dizendo: Parece que, sempre quando a gente quer ficar perto de Deus, alguma coisa atrapalha. Que coisa! Por fim, cansada de esperar, a mulher acabou adormecendo na cadeira e teve um sonho. Nesse sonho, Jesus chegou perto dela e disse: Estive três vezes na tua porta, pedindo para ser recebido, mas você não quis me receber.
Uma outra história, achada na internet, ilustra como cada um(a) de nós pode anunciar Jesus e seu evangelho (não somente ministros e ministras da igreja). Deus deu-nos diferentes dons para realizar essa tarefa. E até mesmo quem acredita ser totalmente desprovido(a) de dons dá testemunho (ou não) de Deus com seu modo de viver a vida. Um jovem buscou batismo numa igreja evangélica. Na profissão de fé, perguntaram-lhe: Como se deu sua conversão? Ele respondeu: Pela leitura do quinto evangelho. Os irmãos estranharam, enquanto o jovem concluía: Eu li o evangelho da vida de minha mãe.
5. Subsídios litúrgicos
Simbologia
O último versículo do texto de prédica menciona o ato de “dar de beber” como gesto concreto de hospitalidade para com aqueles e aquelas que seguem Jesus e testemunham sua palavra. O altar pode ser decorado com alguns jarros d’água, e as pessoas podem ser recebidas na porta da igreja com um copinho de água ou chá em temperatura ambiente. Em algum momento durante a celebração, pode-se explicar esse símbolo.
Onde houver celebração da Ceia do Senhor
Pode-se comungar em grandes círculos ao redor da mesa da refeição (altar), onde cada pessoa recebe e passa adiante os elementos da Ceia a quem estiver a seu lado, dizendo as palavras: Este é o corpo de Cristo dado por ti / Este é o sangue de Cristo derramado por ti. Essa é uma excelente oportunidade para demonstrar como Cristo chega aos outros através de cada um e cada uma de nós: de nossas mãos (gestos) e boca (palavras).
Chamado à confissão
“Portanto, não deixem que o pecado domine o corpo mortal de vocês e faça com que vocês obedeçam aos desejos pecaminosos da natureza humana. E também não entreguem nenhuma parte do corpo de vocês ao pecado, para que ele a use a fim de fazer o que é mau. Pelo contrário, como pessoas que foram trazidas da morte para a vida, entreguem-se completamente a Deus, para que ele use vocês a fim de fazer o que é direito” (Rm 6.12-13 NTLH).
Ouve, Senhor, eu estou clamando!
Tem piedade de mim e me responde! (Simei Monteiro)
Anúncio da graça
“O pecado não dominará vocês, pois vocês não são mais controlados pela lei, mas pela graça de Deus. Mas agora vocês foram libertados do pecado e são escravos de Deus. Com isso vocês ganham uma vida completamente dedicada a ele, e o resultado é que vocês terão a vida eterna. Pois o salário do pecado é a morte, mas o presente gratuito de Deus é a vida eterna, que temos em união com Cristo Jesus, o nosso Senhor” (Rm 6.14,22-23 NTLH).
Hinos
HPD 1 – 137: Fui em teu nome batizado; 166: Dá-nos olhos claros; 184: Vamos nós trabalhar; 195: Meu irmão, tu precisas falar com Jesus; 196: Se não houver quem profetize; HPD 2 – 413: Senhor, se tu me chamas; 448: Pedro; 449: Que estou fazendo?
Oração
Deus todo-poderoso, nós te agradecemos por teres ajudado teus mensageiros e tuas mensageiras a levar a luz da tua verdade a todos os cantos e povos da terra. Tu abriste veredas sobre os mares profundos e apontaste trilhas nos desertos, implantando assim a tua igreja em todos os lugares. Dá-nos forças para que trabalhemos sem nos cansar, levando tua palavra aos que por ela anseiam. Em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém. (Baseada em uma oração do Manual do Culto, p. 298).
Bibliografia
GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Matthaeus. 4. ed. Berlim: Evangelische Verlagsanstalt, 1975.
RIENECKER, Fritz. O Evangelho de Mateus. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 1998.
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