Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

João 11.1-45

Auxílio Homilético

02/04/2017

 

Prédica: João 11.1-45
Leituras: Ezequiel 37.1-14 e Romanos 8.6-11
Autoria: Sílvia Beatrice Genz e Marli Brun
Data Litúrgica: 2º. Domingo na Quaresma
Data da Pregação: 02/04/2017
Proclamar Libertação - Volume: XLI

Ressurreição em vida e na morte

1. Introdução

Neste culto do 5º Domingo na Quaresma do ano de 2017 chega até nós o desafio de unir na pregação da Palavra o testemunho de fé que encontramos em João 11.1-45, Ezequiel 37.1-14 e Romanos 8.6-11. O ponto comum de todos os textos são as situações-limite que podem ser transformadas com o poder restaurador do Espírito de Deus.

O profeta Ezequiel leva-nos ao encontro de pessoas que, em terra estrangeira, experimentaram a dor de ser expropriadas de si e de seu lugar comunitário de expressar a fé em Deus (Jerusalém). São pessoas que passaram da podridão da carne dos corpos e tornaram-se ossos secos, sem vida, na Babilônia. Distante de seu país, sonham com a restauração de Israel, compreendido aqui como um país autônomo em relação aos impérios estrangeiros, capaz de romper com o círculo de dominação, expropriação conjugada com mortes e destruição e subjugação. É preciso ter cuidado aqui para não legitimar um Estado de Israel que hoje, em nome de Deus e com o apoio de potências estrangeiras, expropria as terras, subjuga, violenta e mata mulheres, crianças, homens palestinos.

O texto escrito pelo apóstolo Paulo (Rm 8.6-11) lembra à comunidade de Roma e também a nós que o “Espírito de Deus” (v. 9b), “Espírito de Cristo” (v. 9c) e o “Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos” (v. 11) ajudam-nos a viver o “ainda não” com seus desafios e adversidades (Quaresma) e remetem-nos à plenitude (ressurreição). O texto de Martin Volkmann em Proclamar Libertação 24 (p. 111-116) inspirou este parágrafo e ajudar-nos-á a não reproduzir o dualismo corpo/carne – espírito da filosofia platônica. Se o corpo não fosse importante, Deus não teria vindo ao mundo na pessoa de Jesus Cristo.

O evangelista João (11.1-45) leva-nos com Jesus até Betânia, onde ele encontra as irmãs Marta e Maria. Em seguida, vamos ao túmulo de Lázaro. Naquele local, pela fé, ultrapassando as barreiras do tempo e do espaço, somos testemunhas da ressurreição de Lázaro. Pouco depois, no mesmo capítulo, vemos o Sinédrio condenar Jesus à morte. Como diz Flávio Schmitt (PL 37, p. 320): “Enquanto Lázaro é reanimado para a vida, Jesus é condenado à morte pelo Sinédrio” (v. 3).

2. Exegese

V. 1-2 – A narrativa inicia referindo-se a um tempo em que Lázaro (Eleazar, que quer dizer “Deus é auxílio”) estava doente. O cenário menciona Betânia, pequeno lugarejo situado a aproximadamente três quilômetros de Jerusalém. Nele moravam Lázaro, Marta, Maria (e Simão). Claudio Molz (PL 10, p. 434ss) chama atenção para o fato de que, nesse cenário, mulheres dialogam com Jesus sobre a ressurreição, tema central da fé cristã. No texto, Maria é identificada como aquela que ungiu os pés de Jesus (Jo 11.2; 12.1-8). Em Marcos, não aparece o nome de quem ungiu, e a unção é realizada na cabeça. Supõe-se que a comunidade de João sabia que Maria era a mulher que ungira Jesus e que a unção de fato tinha sido na cabeça, como faziam os profetas e sacerdotes ao ungir um rei. O fato desse ato ser realizado tradicionalmente por homens pode ser a razão que fez com que o evangelista Mateus (26.6-13) e o evangelista João tenham transformado a unção da cabeça em unção dos pés (Uwe Wegner, PL 22, p. 94-95). Pelo testemunho do evangelista Marcos, Maria uniu a tradição de preparar o corpo para a morte com o reconhecimento de Jesus como Messias.

V. 3-5 – Quando Lázaro adoeceu, as duas irmãs mandaram avisar Jesus: “Senhor, eis que está enfermo aquele tu amas (phileō)”. Ao ficar sabendo, Jesus considerou o adoecimento uma oportunidade para a manifestação da glória de Deus e para que Ele próprio, o Filho de Deus, fosse glorificado (v. 4). Segundo Champlin, “Lázaro não podia enfermar e morrer sem afetar Jesus. E nenhum milagre poderia ser realizado em favor de Lázaro que não afetasse o destino de Jesus” (p. 461).

V. 6-13 – Passados dois dias do recebimento da notícia, Jesus anunciou a seus discípulos que retornariam à Judeia. Eles reagem: “Mestre (Rabi), ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te e voltas para lá?” Diante dessa preocupação, Jesus responde: “Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo” (v. 8). Para ir de Pereia até Betânia, era necessário caminhar um dia. Se saíssem de manhã, chegariam à noite. No momento de chegada, supostamente estariam protegidos. Chegando lá, encontrariam Lázaro dormindo (dormir real ou simbólico – morte) e poderiam despertá-lo do sono (v. 11) e acordaria bem (v. 12). O versículo 13 enfatiza que o sono é a morte.

V. 14-19 – Depois de ter sido embalsamado, Lázaro foi colocado em uma sepultura na rocha. Pessoas judias foram até a casa de Marta e Maria para consolá-las. Sobre esse momento comunitário de consolo e luto Champlin informa que “o choro perdurava por três dias; as lamentações por sete dias; e, durante três dias, a pessoa enlutada não trabalhava; e, se porventura fosse saudada por alguém no caminho, não deveria corresponder à saudação. Havia, igualmente, outros sinais de luto, tais como deitar-se no chão, não banhar-se por sete dias e não usar sandálias” (p. 466).

V. 20-22 – Ao saber da chegada de Jesus, Marta foi a seu encontro; Maria ficou sentada em casa. O costume era virar as cadeiras em direção às paredes e sentar-se no chão da casa em sinal de tristeza. Ao encontrar Jesus, Marta diz que, se ele estivesse ali, seu irmão não teria morrido. E provocou Jesus: “E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus te concederá” (v. 22). Jesus lhe diz: “Teu irmão há de ressurgir” (v. 23). Ela pensa que é no “último dia”. Jesus então se autoidentifica como ressurreição e vida e afirma que quem crê nele, ainda que morra, viverá. Em seguida, pergunta à Marta se ela crê nessas palavras. Marta responde: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v. 27). Em seguida, ela diz a Maria: “O Mestre está aí e te chama” (v. 28). Maria, também em segredo, vai ao encontro de Jesus. Dessa forma, ambas as irmãs quebram as regras estipuladas às pessoas enlutadas de não sair pela própria porta da casa na primeira semana de luto. E Marta, assim como Maria, já havia feito isso ao derramar óleo sobre a cabeça de Jesus (M4.1-9) e reconhece Jesus como Messias.

V. 29-37 – Maria foi encontrar Jesus fora da cidade. Na época, as pessoas eram sepultadas fora da cidade, e quem as tocasse era considerado impuro até o entardecer (Champlin, p. 470). Pessoas que tinham ido visitar Marta e Maria seguiram-na. Ao encontrar Jesus, Maria disse a ele: “Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido” (v. 32). Ouvindo isso e vendo a tristeza no rosto da Maria e das pessoas que a acompanhavam, Jesus ficou comovido em espírito e perguntou onde o corpo fora sepultado (v. 34). As pessoas levaram Jesus até o sepulcro. Ao chegar lá, Jesus chorou. Algumas pessoas começaram a dizer: “Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que esse não morresse?” (v. 37).

V. 38-47 – Quando Jesus ordenou que se tirasse a pedra da frente do sepul- cro, Marta lembrou-lhe que o corpo já cheirava mal. Jesus respondeu-lhe: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40). Naquele momento, Jesus agradeceu a Deus por sempre o atender e que, por isso, as pessoas também creriam nele. Após isso, mandou que Lázaro viesse para fora. Lázaro saiu com seus pés e braços enrolados em faixas e seu rosto envolto com um pano. Jesus diz: “Desatai-o e deixai-o ir” (v. 44). Dessa forma, muitos judeus creram nele. Mas alguns foram avisar os fariseus sobre o que havia acontecido. Então os principais sacerdotes e fariseus reuniram-se para ver o que fariam com ele por causa dos sinais que vinha realizando (v. 47). Pouco tempo depois, Jesus foi crucificado.

3. Meditação

Ossos secos causam uma cena horripilante. Vivemos esse momento num culto. Uma pessoa da equipe de liturgia prontificou-se a ler o texto e, no dia do culto, surpreendeu-nos com uma bandeja de ossos secos de animais. Ninguém sabia da ideia dela. Quando ela levantou para ler, levou consigo a bandeja e deu um tempo para a comunidade olhar e perceber o que são ossos secos. Lembrou que aqueles eram de animais, mas ajudavam a imaginar o que o profeta Ezequiel falara e o que é a esperança no poder de Deus. Disse que o povo que havia sido levado de Jerusalém para a Babilônia sentia-se como aquela bandeja de ossos secos. Mas confiava nas palavras do profeta Ezequiel, que anunciava que o Espírito de Deus poderia devolver-lhes a vida. O poder de Deus pode restaurar em vida o que já passou da podridão da carne dos corpos e já é só osso seco em novos seres com vida.

De modo semelhante, o apóstolo Paulo, ao falar à comunidade de Roma, testemunha que o Espírito de Deus tem o poder de renovar a vida, fazendo com que perceba a graça de Deus em suas vidas. Viver no Espírito daquele que ressurgiu da morte ajuda-nos a testemunhar a paz em meio às forças da violência e da morte, presentes em nosso dia a dia.

E você, como está se sentindo? Em João 11.1-45, encontramos o relato da ressurreição de Lázaro. A artista brasileira Anita Malfatti, em um momento de grande tristeza, inspirou-se nesse testemunho de fé para superar sua dor, suas preocupações, na época em que ela estava estudando em Paris (1925). O quadro “A Ressurreição de Lázaro” encontra-se exposto no Museu de Arte Sacra de São Paulo.

Enquanto eu leio a palavra do evangelho, convido você a pensar sobre essa história, relacionando-a com o momento que você vive hoje ou que nós, como comunidade, como sociedade brasileira, estamos vivendo. [Leitura] Se você fosse pintar essa história, o quê você incluiria em sua obra?

Para ajudar-nos a relacionar a nossa vida com a narrativa da ressurreição de Lázaro vamos reconstruir cenários que compõem a trama:

Cenário 1 – Há um homem chamado Lázaro que está doente. Ele mora em Betânia junto com suas irmãs Marta e Maria. Talvez também esteja na casa um homem chamado Simão. Nessa casa, em que agora encontramos Lázaro doente, Maria ungiu a cabeça de Jesus com óleo, preparando-o para a morte e reconhe- cendo-o como Messias (Mc 14.1-9). Na versão do evangelista João, Maria ungiu os pés de Jesus. O bonito dessa história é que o próprio Jesus disse a Maria que o gesto dela será lembrado ali onde o evangelho for pregado. Maria e Marta, percebendo a gravidade da doença de Lázaro, mandam avisar Jesus. Pergunto: Em algum momento de sua vida, sua casa ou a casa de alguém que você conhece estava parecida com a casa da narrativa bíblica? Quem você se preocupou em avisar? Onde você buscou socorro?

Cenário 2 – Jesus, que está no outro lado do rio Jordão, recebe a notícia enviada por Marta e Maria: Senhor, eis que está enfermo aquele que te ama. A primeira reação de Jesus é uma reação de fé: o que está acontecendo com Lázaro não é caso de morte, mas um modo de Deus manifestar sua glória e glória do Filho que fora ungido naquela casa. Pergunto: Como você reage quando recebe a notícia de que alguém está doente? Você consegue imaginar-se no lugar de Jesus recebendo essa notícia?

Cenário 3 – Passados dois dias, Jesus decide voltar à Judeia (Betânia). Seus discípulos falam a Jesus para não ir, pois os judeus queriam matá-lo a pedradas. Jesus responde dizendo que o dia tem 12 horas e que, se andarem de dia, não tropeçarão porque enxergam o caminho. Se saírem cedo, chegarão à noite. Ao chegar, Lázaro despertará do sono (morte). Estando ainda além do Jordão, Jesus lamenta a morte de Lázaro. O discípulo Tomé decide ir junto com Jesus e conclama os demais a ir também. Pergunto: Você visitaria alguém estando ciente de que pessoas pretendiam matar a você assim que o encontrassem? Que sentimentos você teria ao fazer uma viagem dessas?

Cenário 4 – Em Betânia, o sepultamento de Lázaro já havia acontecido. Ele fora colocado num túmulo fora da cidade. Mulheres e homens judeus foram visitar e consolar a família. O período de luto, que durava 30 dias, envolvia choro, consolo, não usar sandálias, não tomar banho durante sete dias. Pergunto: Que lembranças você tem de situações de morte e luto? Você consolou ou recebeu consolo?

Cenário 5 – Jesus chega a Betânia quatro dias depois do sepultamento e fica escondido fora da cidade. Marta, ao ficar sabendo, foi a seu encontro. Ao chegar lá, logo manifestou sua opinião de que, se Jesus estivesse lá, seu irmão não teria morrido. Mas sabia que tudo o que Jesus pedisse a Deus seria atendido. Jesus simplesmente diz: Seu irmão irá ressurgir. Marta pensa que é no “último dia”, mas Jesus lhe diz que Ele é a ressurreição e a vida. Quem nele crer terá a vida eterna. Crês nisso? Nesse cenário, Marta identifica Jesus como o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo. Em seguida, Marta levanta e vai, a pedido do Mestre, chamar Maria. Pergunto: Você lembra de alguma conversa que marcou algum período de luto que você viveu? Sobre o que foi a conversa?

Cenário 6 – Maria, que havia ficado sentada no chão da casa, como era cos- tume fazer no tempo de luto, ao saber da chegada de Jesus, correu a seu encontro. As pessoas que estavam em sua casa foram apressadamente atrás dela. Ao encontrar Jesus, ela reitera que, se ele estivesse ali, seu irmão não teria morrido. Jesus, vendo a ela e as demais pessoas chorando, ficou comovido e pediu onde fora sepul- tado Lázaro. Naquele momento, Jesus também chorou. Suas lágrimas foram interpretadas pelas pessoas presentes como sinal de seu amor por Lázaro. Questionando, diziam: Assim como ele curou uma pessoa cega, não poderia ter curado Lázaro? Pergunto: Por quem você já chorou? Estando triste pelo falecimento de um ente querido, você recebeu o questionamento de alguém que achou que você não fez o suficiente pela pessoa que faleceu? Como você se sentiu? Como você reagiu?

Cenário 7 – Comovido, Jesus foi ao sepulcro e pediu que tirassem a pedra. Marta lembrou-lhe que o cheiro devia estar insuportável. Jesus respondeu: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”. A pedra foi tirada, e Jesus deu graças a Deus porque fora ouvido em seu pedido. E clamou, em voz alta, pedindo que Lázaro viesse para fora. Esse, que estava com os pés e as mãos amarrados com faixas e com um lenço cobrindo o rosto, saiu. Jesus pediu às pessoas que o desamarrassem e deixassem ir. Com isso muitas pessoas creram em Jesus. Outras foram avisar as autoridades de Jerusalém para saber o que havia ocorrido. Pouco tempo depois, o próprio Jesus foi preso e condenado à morte. Pergunto: Você compreende a ressurreição de Lázaro como uma manifestação da glória de Deus no mundo? Por que Jesus foi condenado à morte após fazer sinais como esse? Uma comunidade que está sendo perseguida, como a comunidade do evangelista João por volta de 90-100 depois de Cristo, o que sente ao ouvir o relato da res- surreição de Lázaro? O que nós sentimos hoje?

Ao relembrar esses cenários, você e eu fomos imaginando que cenário desenharíamos interligando nossa vida pessoal, comunitária com a vida e os acontecimentos narrados pelo evangelista João. A reflexão inspirada nessa história ajuda-nos na busca por vida que foi e é sempre o maior esforço do ser humano.

O texto de João 11.1-45 em nenhum momento afirma que Lázaro morreu porque não tinha fé. Lázaro morreu porque estava doente, e Jesus fez o que estava a seu alcance para salvá-lo da morte. Jesus, o Cristo, o Filho de Deus, demonstrou por meio de vários sinais que era Deus. Após muitos sinais que descrevem o poder de Deus e antes do maior que é a ressurreição do próprio Cristo, a comunidade tem na ressurreição de Lázaro um sinal do poder de Deus para com seus queridos e queridas ou seus amigos e amigas, como Jesus diz em João 15.13. O amor de Jesus por Lázaro é expresso de modo forte, inclusive no gesto claro de tristeza, quando o texto relata que Jesus chorou. A ressurreição de Lázaro foi um efeito positivo para a fé dos discípulos e discípulas, por exemplo, quando Marta diz: “Sim, creio que Deus o ressuscitará no último dia”, quando afirma “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v. 27). Mas também aumentou o ódio dos opositores de Jesus, como lemos em João 11.45ss, procurando matá-lo.

As reflexões deste 5º Domingo na Quaresma conduzem-nos a muitas experiências de solidariedade e fé espalhadas nas comunidades. Corpos quebrados, doentes são cuidados em sua maioria por mulheres, com amor e esperança de vida. A busca pelo consolo de Marta e Maria está fundamentada na fé e na ressurreição que Jesus testemunhava. A esperança é a certeza de que Jesus é a vida. Que bom que podemos sentir a presença do Espírito Santo em nossas vidas, transformando a nossa dor, o medo, a vergonha, a fraqueza em um novo sentimento de paz e de esperança!

4. Imagens para a prédica

a) Na vida comunitária, percebemos muitas situações de ressurreição em vida. Lembro de um depoimento num encontro de alcoolistas: “Hoje quero falar de uma nova vida que recebi. Era bêbado sempre; começava de manhã e terminava de manhã. Tentei várias vezes encontrar a morte: deitava no meio da estrada e acordava na valeta, pois alguém, por compaixão, me socorria. Há um ano, recebi o maior chamado após mais um grande porre: magoado com a vida, decidi deitar no meio da ponte, pois ali não teria valeta ou acostamento. Acordei numa pequena parte lateral da ponte. Então percebi que há pessoas que querem que eu viva. Decidi buscar ajuda e parar de beber. Levantei da morte e vivo uma nova vida”.

b) Depoimento de Roberta Paredes Valin sobre a vida de Anita em 1925: “Olhando em perspectiva, Anita apropria-se de uma passagem bíblica para narrar em imagens o início do estágio conturbado, sua superação em todos os obstáculos pelos quais passou – um levantar-se rumo a uma nova vida, cujo efeito foi o começo de uma nova etapa para a sua produção artística. Para ela, somente a fé, especialmente a leitura do Evangelho de São João, conseguiu curá-la e dar-lhe fôlego novo para os anos que se seguiriam em Paris. Anita sintetiza em carta (...) e menciona justamente essa passagem (Jo 11.1-46) como sendo a fonte que a levou a ser curada. Logo a ideia de ressurreição presente na passagem bíblica e a ideia de cura vigente na fala de Anita Malfatti aproximam-se no espaço da criação. Nesse sentido, é possível enxergar na tela ‘Ressurreição de Lázaro’ um testemunho autobiográfico da artista do período em Paris”.

5. Subsídios litúrgicos

Champlin reproduz um poema de Alfred Lord Tennyson:

Onde estiveste, irmão, naqueles quatro dias?
Não há registro algum de uma resposta,
A qual, dizendo o que significa morrer,
Tenha adicionado louvor a louvor.
De toda casa os vizinhos chegam,
As ruas se enchem de ruídos alegres,
Um solene júbilo chega mesmo a coroar
As alturas purpurinas do monte das Oliveiras.
Eis aqui um homem ressuscitado por Cristo!
O resto continua sem revelação.
Ele não disse; ou algo selou
Os lábios daquele evangelista.
(Tennyson, In Memoriam, parte XXXI). (Champlin, p. 476)
 

Bibliografia

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado: versículo por versículo: Volume 2: Lucas, João. São Paulo: Hagnos, 2002.
VALIN, Roberta Paredes. Cadernos-diários de Anita Malfatti – uma trajetória desenhada em Paris. 2015. Dissertação (Mestrado em Culturas e Identidades Brasileiras) – Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: . Acesso em: 2016-07-07. p. 89


 

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Autor(a): Sílvia Beatrice Genz e Marli Brun
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 5º Domingo na Quaresma
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 45
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2016 / Volume: 41
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 45415

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