Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

Isaías 50.4-9

Auxílio Homilético

27/03/1988

Prédica: Isaías 50.4-9
Autor: Breno Dietrich
Data Litúrgica: Domingo de Ramos
Data da Pregação: 27/03/1988
Proclamar Libertação - Volume: XIII


l - O texto – tradução

V. 4 - O Senhor Deus me instruiu para que eu console os cansados com palavras de alento. Todas as manhãs me faz estar atento para que eu escute docilmente.

V. 5 - O Senhor Deus me deu entendimento e eu não fui rebelde, não me retraí.

V. 6 - Ofereci, isto sim, minhas costas aos que me açoitavam, e as faces aos que me arrancavam a barba; não escondi o meu rosto aos que me insultavam e cuspiam.

V. 7 - O Senhor Deus é quem me ajuda, por isso não me ferem os insultos; por isto mantenho-me firme como uma rocha, pois sei que não cairei no ridículo.

V. 8 - Ao meu lado está quem me justifica: quem contenderá comigo? Apresentemo-nos juntos diante do juiz; quem é o meu adversário? Chegue-se para mim.

V. 9 - O Senhor Deus é quem me ajuda. Quem poderá condenar-me? Todos os meus inimigos desaparecerão, como um vestido serão consumidos; a traça os comerá.


II – Comentário

Isaías 50.4-9 faz parte dos hinos do servo de Deus no Dêutero-lsaías mas é uma unidade à parte e não tem a mesma dimensão de Is 53.
Quem é o servo de Deus? A problemática do servo de Deus - se um indivíduo ou o povo todo - é assunto para a escrivaninha e não para o púlpito. Às vezes ambos se confundem, mas não alteram em absoluto o seu sentido, a sua mensagem.

Para a reflexão em torno do texto e do servo de Deus sigo, em linhas gerais, o proposto por Gottfried Voigt em Homiletische Auslegung der Predigttexte - Reihe IV por me parecer bastante claro e útil na caminhada em direção à prédica.

V. 4 - O servo de Deus é intitulado por pesquisadores de o mediador da palavra. Por quê? O servo de Deus ouve e transmite o que ouviu. No v. 4 o acento está em Deus: Deus instruiu o servo, Deus o capacitou para ouvir. E como consequência dessa instrução ele se sente capacitado para estar ao lado dos cansados. Mesmo sendo já um instruído, ele se considera um constante ouvinte, um constante aprendiz. Ele não se satisfaz com o que já aprendeu, mas sempre está voltado a um novo ouvir. Isto não é sinal de fraqueza ou incompetência mas característica de sua comunhão com Deus. Por isso jamais chegará o tempo em que ele tenha terminado de aprender e basear-se em si mesmo. O servo fica atento a voz de Deus: Todas as manhãs me faz estar atento...

A tendência do homem é, na verdade, bem outra. Teoricamente temos lugar para Deus, mas na prática perdemos o contato com Deus, nos tornamos auto-suficientes, formulamos nossos próprios pensamentos e seguimos nossos próprios caminhos.

O contato constante não funciona se Deus não desperta, manhã por manhã, o nosso ouvido. É Deus mesmo quem coloca, sempre de novo, novos impulsos e desafios. Contato não significa só receber informações, mas realmente comunhão com Deus; esta comunhão se estabelece através da palavra ouvida e assimilada. Comunhão é, pois, compromisso com Deus, sua vontade e seus planos.

V. 5 - Ao ouvir se acrescenta o obedecer. A palavra ouvida compromete. Deve haver coerência entre o ouvir e o fazer. A comunhão com Deus se evidencia na vida prática. A vida, o dia-a-dia é traçado pela palavra, é uma decorrência da palavra. Na comunhão com Deus o servo está livre para se ligar bem a Deus e confiar nele, a exemplo do Reformador Martim Lutero em Worms: Aqui estou. De outra forma não posso. Que Deus me ajude! O servo está consciente de que o seu caminho por este mundo terreno e visível é difícil, e ele toma isto em conta.

O ministério da palavra deve ser entendido poimenicamente (Is 40.1; 40.28-30). A palavra anuncia aquele Deus que dá força aos cansados e sobrecarregados. Mesmo que os homens se oponham ao servo de Deus, ele não ago contra eles mas a favor deles e por eles. Ele traz uma mensagem de alegria, um evangelho (52.7). Ele está a serviço dos homens que devem ser salvos. Em Is 53 é anunciado e em Jesus se evidencia que o serviço poimênico não termina com a morte do servo mas na sua morte o servir alcança sua plenitude. O sorvo dá tudo de si em favor dos homens: inclusive sua própria vida.

V. 6 - A partir deste versículo aparece o sentido coletivo do sorvo do Deus. O povo de Deus no velho pacto sofreu coisas que palavras não conseguem expressar. Arrancar a barba - é sinal de fúria, de ira profunda; bater na face - é sinal de humilhação; insultar e cuspir - é sinal de degradação do ser humano; açoitar - é sinal de castigo. Cenas parecidas se verificam em todo o mundo, em diferentes épocas e circunstâncias: as perseguições aos cristãos, o extermínio dos judeus na época nazista, os campos de refugiados, os golpes militares, as ditaduras, perseguições políticas, o apartheid, Moçambique, as guerras, a miséria, a fome, o menor abandonado, as multinacionais, desemprego, inflação... Deus ouve o soluçar, o choro, o grito dos maltratados em todos os tempos. Quanto sacrifício humano em pequena e em grande escala acontece a partir do fanatismo religioso, a partir do interesse de minorias; quanta crueldade ê cometida em nome da justiça e da democracia... Deus ouve o lamento do mundo inteiro. A cruz de Jesus estava entre duas outras. Não podemos ignorar este contexto ao falar, ao pregar a cruz. Precisamos pensar no sofrimento do homem, de povos e nações, sim, no sofrimento do mundo.

V. 7 - O servo de Deus anula a lei da vingança, da ação e da reação. Ele não entra na lei do olho por olho, dente por dente. Ele mantém seu rosto firme como uma rocha, não demonstra medo e dor. Com esta conduta de não-violência, o servo torna a força, seu poder e seu uso, relativos; a própria força se esvazia, se toma sem efeito.

É difícil separar o armar-se e o agredir, o fortalecer-se e o atacar, a força e a disposição de usá-la. Quem se arma está predisposto a usar a arma. Se soubéssemos que a conduta do adversário é igual à do servo de Deus, poderíamos renunciar, prescindir de todo mecanismo de defesa e agressão. A desconfiança, porém, não o permite. Há desconfiança porque o pecado, a culpa do homem não permitem ser como o servo de Deus.

O servo de Deus, porém, supera, se coloca acima dessa lei natural de ação e reação. Ele vai além: ele toma sobre si o pecado, a raiz de todos os atos maldosos, os pecados grandes e pequenos, daqueles que o ultrajam. O servo traz à luz nova dimensão, um novo valor, uma nova possibilidade de vida. (1 Pe 2.21-24).

Cada pessoa tem passagens de sua vida onde foi injustiçado e suportou calado. Mas é bem provável que a renúncia à resposta, à defesa não tenham encerrado a questão; lá no fundo talvez tenha permanecido ódio, inconformidade, desprezo ou até um desejo de castigo ao malfeitor. Com o servo de Deus não foi assim: ele ora pelos malfeitores e perdoa os seus executores.

V. 8-9 - Como consegue o servo portar-se assim? Ouvir e obedecer são, no servo de Deus, uma unidade. Ele toma sobre si o que há de mais terrível e humilhante porque Deus está do seu lado (v. 7a, 8a, 9a).
Para o servo de Deus há duas dimensões: a do mundo, dos homens e a de Deus. Na primeira dimensão, sujeita às categorias do tempo e do espaço, os homens pensam, decidem e agem de acordo com seus princípios, metas e interesses. Esta dimensão toma impossível a figura do servo de Deus. Por isso fazem tudo para eliminá-lo.

Mas existe também a dimensão que Deus estabelece, onde Deus pensa, decide è age colocando os seus princípios, metas e interesses, diferentes e até opostos aos dos homens e do mundo. Deus não impede o sofrimento, não afasta as pressões e consequências oriundas da dimensão do mundo. Mas Deus carrega o seu servo em meio aos sofrimentos e deixa seu rosto ficar duro como a rocha e não permite que caia no ridículo. Nada pode anular essa vida, comunhão com Deus.

Tudo o que o mundo, os homens pensam de nós e fazem conosco é provisório, porque ê Deus quem tem a última palavra. Toda a força, oposição a Deus, atos maldosos e poderes opostos à dimensão de Deus tem já, a priori, seus dias contados e são relativados.

Acossado e maltratado pelas forças visíveis, o servo de Deus luta sob a presença do Deus invisível. Sabendo que é aceito, reconhecido e justificado por Deus, o servo segue o seu caminho, obediente, até o fim (Fp 2.5-11).

A força de Deus age na maior fraqueza. A sua vitória se realiza em meio ao maior fracasso. Sua majestade se toma transparente em meio ao maior ultraje. O servo vê a sua situação na luz de Deus (v. 10).

Conclusão: Jesus recebe nova vida no momento em que Deus dá seu sim a ele. Deus diz sim a Jesus e Jesus vive. Aparentemente os adversários vencem. Mas diante de Deus, o juiz, eles são colocados como vestidos que se transformam em trapos, comidos pelas traças. Deus reabilita seu servo de maneira convincente. O hosana terreno se transforma em confissão cósmica: (Fp 2.10-11). É necessário estar junto ao servo.

Ill – Prédica

a) Texto previsto para o Domingo de Ramos.
Domingo de Ramos é o inicie da Semana Santa.
Na Semana Santa o mal alcança o seu auge: na mentira, na malícia, armadilhas, falso testemunho, traição, crueldade, tortura, interrogatório, poder constituído, interesses em jogo... A morte usa muitos recursos para se impor.

b) Na Semana Santa Jesus coloca sinais de vida:
oração, purificação do templo, curas, ensino, santa ceia.
O vínculo com Deus, a comunhão lhe dão condições para isto.

c) A Semana Santa na história, no mundo:
manifestações da morte nas diferentes partes do mundo.
Cristãos chamados a colocarem sinais de vida.

d) Como?
Não entrando nas regras de jogo do mundo;
Trazendo a realidade de Deus, os valores de Deus;
Falando, decidindo e agindo a partir do sim de Deus concretizado na
Ressurreição.

e) A vida passa pela cruz.
A cruz está visível e palpável.
A partir da páscoa a cruz é viável.

f) Servos de Deus:
- na comunidade
- no meio ambiente
- vivendo a confiança
- sendo um cristo para o outro.

IV - Elementos litúrgicos

1. Oração de coleta: Senhor Deus, abre os nossos ouvidos, sempre de novo, e ensina-nos tu mesmo para que possamos refletir a tua vontade em palavra e ação no mundo em que vivemos. Capacita-nos para que sejamos teus servos hoje. Em nome de Jesus que contigo e com o Espírito Santo vive e reina de eternidade a eternidade. Amém.

2. Confissão de pecados: Senhor Deus, estamos diante de tua face ouvindo tua palavra, tua instrução. Nesta oportunidade nos damos conta de que a tua vontade e ordem tem ficado de lado e em seu lugar seguimos nossos próprios desejos e ambições. Não é isto o que tu esperas e queres de nós. Tu nos queres como teus servos, teus mensageiros da vida, da esperança e do amor. Perdoa o nosso fracasso e reabilita-nos, concedendo-nos o teu perdão.
Tem piedade de nós, Senhor.

3. Oração de intercessão:
- Mencionar as injustiças do mundo, tudo aquilo que se opõem à vontade de Deus e seus planos. Criar uma espécie de responsório por parte da comunidade, p. ex., Escuta, Senhor, a nossa oração ou Dá-nos tua paz, Senhor! ou Dá-nos a tua força, Senhor.
- Mencionar as injustiças, os problemas em âmbito nacional, o que no momento está ocorrendo. Convidar a comunidade para que seja serva e se coloque a disposição da vida.
- Mencionar os problemas da comunidade e da localidade. Convidar para que a comunidade toda realize a vontade de Deus no seu mundo diário.
- Mencionar claramente que o Pai-nosso não diz Pai meu mas realmente Pai Nosso e o que isto significa concretamente.


Autor(a): Breno Dietrich
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: Domingo de Ramos
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 50 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1987 / Volume: 13
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13271

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