Prédica: Isaías 42.14-21
Leituras: João 9.13-17,34-39 e Efésios 5.8-14
Autor: Günter Wolff
Data Litúrgica: 3º Domingo da Quaresma
Data da Pregação: 27/02/2005
Proclamar Libertação - Volume: XXX
1. A realidade: “Por muito tempo me calei”
1.1 – A realidade nacional
“Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver.”
Política
O governo Lula é um governo de centro (como diz o ministro Tarso Genro na revista Caros Amigos, de dezembro de 2003), mantido por uma aliança policlassista que abarca até a ala mais reacionária, como os coronéis Sarney e ACM. Essa aliança quer garantir a reeleição de Lula em 2006. Alguns dizem que esse é um governo em disputa e que a esquerda e os movimentos sociais ainda podem conseguir trazê-lo para o lado de um projeto popular. Outros dizem que o governo Lula apenas está continuando a política neoliberal do FHC e que não tem mais volta; já foi para a direita. A história dirá a verdade!
Na verdade, estamos num período de reformas e não num período revolucionário e por isso precisamos aproveitar esse momento para acumular forças, já que a repressão está mais estancada. É o momento para elevar o nível de consciência do povo e o nível de organização do povo para nos preparar para um embate posterior. Isto significa que será necessário empreender esforços para ajudar na organização do movimento popular, sindical, eclesial, partidário e empreender esforços redobrados na formação e capacitação do povo. Isto tudo qualificará a luta de classes no futuro. Este é o desafio (nestes, quem sabe, oito anos de governo Lula)!
Economia
Enquanto isso, a economia continua estancada graças às dívidas externa e interna, que sangram este país. Gastos com a dívida foram 140 bilhões de reais em 2003 (Serviço da Dívida Interna – 110.440.041 reais; Serviço da Dívida Externa – 30.397.218 reais), enquanto os gastos sociais foram de 78 bilhões de reais e o governo economizou, tirando do investimento na população, 66 bilhões (via superávit primário), que não dão para pagar a metade dos encargos da dívida previstos no ano. Isto significa que não há saída sem uma moratória. O desemprego está em alta e os salários em baixa. Para 2004, o governo promete reativar o crescimento.
Salário mínimo nominal e necessário – janeiro de 2002 a janeiro de 2004
Período Salário mínimo nominal Salário mínimo necessário
Janeiro 2002 R$ 180,00 R$ 1.116,66
Janeiro 2003 R$ 200,00 R$ 1.385,91
Janeiro 2004 R$ 240,00 R$ 1.445,39
Salário mínimo nominal: salário mínimo vigente no ano.
Salário mínimo necessário: Salário mínimo de acordo com o preceito constitucional “salário mínimo fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, reajustado periodicamente, de modo a preservar o poder aquisitivo, vedada sua vinculação para qualquer fim” (Constituição da República Federativa do Brasil, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artigo 7º, inciso IV).
Veja os dados atualizados em http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminfev04.html
Quanto se trabalha para comer em Porto Alegre – Janeiro de 2004
(1) Tempo que o trabalhador de salário mínimo precisa para comprar a Ração Essencial (Decreto Lei no. 399 de 30/04/1938 ). Em horas de trabalho deu uma melhorada. Segundo a Lei Trabalhista, são 220 horas de trabalho ao mês. Veja os dados atualizados em http://www.dieese.org.br/rel/rac/trafev04.html#tabelao
Movimentos sociais
Os movimentos sociais continuam combativos, apesar de um descenso em relação aos anos 1980. Os povos indígenas estão lutando para reconquistar suas terras, os movimentos de luta pela terra em 2003 tinham 200 mil famílias acampadas em todo o país, a Via Campesina está se organizando, a CMS – Coordenação dos Movimentos Sociais – organizou-se em 2003, o MAB, MMC – Movimentos de Mulheres Camponesas – e MPA estão se fortalecendo, além de muitos movimentos urbanos, como o MTST – Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto, MTD – Movimentos dos Trabalhadores Desempregados e outros. Por isso é importante a igreja articular-se com os movimentos sociais nesse período para acumular forças para que se possa dar um salto de qualidade no futuro.
1.2 – A realidade eclesial
“Tu vês muitas coisas, mas não as observas; ainda que tens os ouvidos abertos, nada ouves.”
Uma boa parte do nosso povo luterano está participando ativamente nos movimentos sociais, nos partidos de esquerda e no movimento sindical combativo (que ainda existe). A igreja, na verdade, não está enxergando isso porque os presbitérios reacionários, em sua maioria, e muitos obreiros/as que também não se importam ou têm medo não querem que se veja isso.
O P. Altmann diz em seu relatório de 2003, publicado em fevereiro de 2004, algo muito interessante:
“Não quero omitir que em minhas visitas no âmbito da IECLB pude observar e ouvir relatos acerca de grandes dificuldades, tensões e conflitos, indefinições teológicas, desordem na vida comunitária, individualismo em práticas ministeriais, inobservância de decisões da igreja e limitações de recursos.
De outra parte, é gratificante perceber quantas pessoas membros da IECLB, com o pano de fundo de formação através dela, muitas vezes desde a escola dominical e a juventude evangélica, ou de outros grupos de estudo e ação, se engajam em associações, movimentos sociais, mesmo partidos políticos e em suas próprias profissões como pessoas que querem viver conscientemente sua fé nesses espaços. É preciso reconhecer também que muitas pessoas se ressentem de que a igreja não as acompanha nem as valoriza adequadamente, e tampouco as apóia e subsidia como necessário nessa atuação”.
Por outro lado, também se lê num calendário de atividades de uma paróquia um horror da teologia da prosperidade, dando culpa aos pobres de sua própria pobreza, dizendo ainda que pobre não tem fé, culpando a Deus pelo fato de ter pobres nesse mundo e que uma boa contribuição à igreja vai acabar com a pobreza. Isto está parecido com a palavra de um pastor pentecostal de Porto Alegre, que disse: “Se eu fosse pobre, me daria um tiro na cabeça”. Ele considera pobreza sinal de afastamento da pessoa de Deus. Neste calendário diz: Jamais diga: “Não contribuo porque sou pobre...” Antes deveria dizer: “Sou pobre porque não contribuo”. O pastor que escreveu isto esqueceu que quem mantém financeiramente a igreja ainda e sempre são os pobres e por causa disso não ficaram ricos.
2. O texto: “Agora darei gritos” e “Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai”
2.1 – O contexto
Os capítulos 40 a 55 são os escritos do Deutero-Isaías (também conhecido como o Livro da Consolação), que pode ser uma pessoa ou uma comunidade de profetas que viveram no exílio babilônico (597 a.C. a 538 a.C.) junto com os deportados de Jerusalém. Ele não fala muito do templo (como Ezequiel), mas fala mais da cidade de Jerusalém. Tem a tradição de grupos de cantores de salmos, pois seus textos são cânticos ou poemas. Daria para dizer que é o profeta do novo êxodo, onde se manifesta a glória de Deus (Is 40.5 e 55.13). Ele está na tradição de Ezequiel, pois também diz que Javé está com o seu povo no exílio. Esse profeta é mais conhecido pelos textos sobre o Servo Sofredor.
O texto anterior (v. 10-13) fala da glória de Deus para combater a idolatria no exílio, inimiga de Javé. E o texto posterior fala que Deus pôs o povo no exílio por causa do seu pecado, tão alardeado pelos profetas ante do exílio.
2.2 – O texto
Este texto lembra Jr 20.7-18 por causa do grito de desabafo. O texto é um poema ou um canto; talvez cantado numa celebração no sábado, no período do exílio. A cegueira de Israel parece que continua como era antes do exílio. Não consegue ver o poder e a proteção de Deus e a sua própria idolatria.
O texto tem dois blocos:
v. 14-17
Deus, pelo profeta, vai falar primeiro de sua glória, de sua lei (v. 21) e, por fim, fala da idolatria do povo e precisa gritar isto bem alto, pois, ao que parece, o povo não está muito aí para escutar isso. Deus diz que vai guiar esse povo cego por caminhos novos para que possa enxergar o seu pecado e também a saída que Deus propõe. O texto assegura que Deus não abandonará o seu povo no exílio (v. 16c). Os v. 15-16 falam da proteção de Deus e do novo que vai acontecer e da estrada que Deus preparará para facilitar a volta do povo. Após os seguidores de deuses falsos terem visto o poder protetor de Deus, eles se arrependerão e se envergonharão.
v. 18-21
A experiência do profeta lhe ensinou que o povo não estava ouvindo o que lhe era dito, talvez porque não queria ouvir aquilo de que não gostava. O sofrimento da escravidão embotou os sentidos do povo. Uma das coisas da qual não queria ouvir era a Lei de Deus, que o confrontava com a realidade de seu exílio (2 Rs 17.3-18 e Zc 7.8-14 falam das causas do exílio) e do seguimento a outros deuses. O sofrimento no exílio, a religião babilônica sempre presente em tudo e a falta de uma utopia fizeram com que o povo se acomodasse e desistisse de sonhar com a volta para casa. Nós só queremos ouvir o que nos agrada, o que nos convém, o que se encaixa em nossa ideologia ou teologia atual.
3. As leituras
João 9.13-17,34-39
Este texto mostra o poder de transformação que veio por meio de Jesus Cristo. Nada vai ficar sempre como está depois de Jesus Cristo. O cego viu, a lei que escraviza foi quebrada, o poder protetor de Deus se manifestou em Jesus Cristo, que foi reconhecido pelo que começou a enxergar. Hoje, a cegueira ideológica, que esconde a opressão e a idolatria capitalista, vai acabar sendo vista por aqueles que são iluminados pelo evangelho. Jesus Cristo tem o poder para transformar a realidade opressora. Isto significa que o capitalismo também vai desaparecer, assim como desapareceu a cegueira do cego. Tudo o que as pessoas constroem (também o capitalismo) desaparece e fica somente o poder de Deus, que vai construir o novo céu e a nova terra, onde habita justiça.
Efésios 5.8-14
O evangelho de Jesus Cristo muda-nos radicalmente (v. 8) e por isso não precisamos mais ser cúmplices do velho sistema capitalista escravizador (v. 11). Somos convidados a despertar (v. 14) da alienação ideológica que o capitalismo nos impôs e a viver a nova vida com os frutos da luz, provenientes da prática da fé em Jesus Cristo.
4. A meditação
v. 14 – Por muito tempo me calei, estive em silêncio e me contive; mas agora darei gritos; v. 16b – tornarei as trevas em luz perante eles e os caminhos escabrosos, planos.
Deus quer clarear a sua glória e o seu poder, mas também a nossa idolatria e falta de fé na proposta de Deus em nos guiar de tal forma que não nos machuquemos.
v. 16 – Guiarei os cegos por um caminho que não conhecem.
Nós, da igreja, também não conhecemos muito bem o caminho da organização popular pela qual Deus nos quer guiar para enfrentar a nossa cegueira teológica e a nossa opressão para nos livrar dos nossos problemas teológicos, econômicos, políticos, culturais e ideológicos.
v. 17 – Os que confiam em imagens de escultura.
Não temos diretamente imagens esculpidas, a não ser as moedas e as imagens nas notas nas quais está escrito: Deus seja louvado. A idolatria de hoje é a idolatria do capital. Nada pode ameaçar o capital, e isto não queremos ver e ouvir. A maioria dos cristãos são seguidores cegos do capitalismo e ai daquele que agride o sacrossanto sistema capitalista! Por outro lado, não queremos ver os males que ele nos traz. Até falamos dos problemas que o capitalismo traz, mas não apoiamos nenhuma ação contra ele. Está na hora de dar gritos contra o deus capital e a sua teologia da prosperidade, que legitima a exploração.
Nós também não confiamos em Deus e no seu evangelho e por isso não nos arriscamos a enfrentar o capital, que se tornou um deus muito poderoso, que nos escraviza da mesma forma como o povo de Israel era escravo na Babilônia.
v. 18 – Surdos, ouvi, e vós, cegos, olhai, para que possais ver.
O que hoje não se quer ouvir e ver na IECLB?
Uma questão é a capacitação dos nossos presbitérios conservadores, que normalmente também não abrem espaço para gente nova, apesar de sempre reclamarem que ninguém quer nada com nada.
Outra questão é a formação permanente. Sobre a necessidade de formação de nosso povo todos concordam, mas viabilizá-la está difícil. Uma vez porque o povo não está motivado para essa necessidade e outra porque não sabemos como fazê-la ou, se a fazemos, procuramos fazer uma formação “neutra”, que não é neutra, capacitando apenas para visitação e poimênica contra a depressão, esquecendo a leitura da realidade. Assim não levamos em conta as causas da depressão e da falta de ânimo do povo, que é a sua insegurança econômica. Precisamos de uma formação politizada e teologicamente clara, mesmo que os presbitérios não gostem disso e os/as obreiros/as tenham medo dela. Precisamos resgatar o tema do êxodo e da cruz, que são realidades presentes na vida do povo. Precisamos resgatar a Teologia da Libertação com os aprendizados dos anos 1990, que acrescentaram ao tema da libertação do oprimido os temas de gênero, ecologia, etnia, exclusão social.
Não se quer ouvir também algumas decisões conciliares (como as de 1982, 1984, 1986, 1988), que mexem nas feridas da exploração do povo e principalmente daqueles que apóiam a exploração e participam e se beneficiam dela, que são muitos de nossos presbíteros e membros das comunidades.
v. 20 – Tu vês muitas coisas, mas não as observas; ainda que tens os ouvidos abertos, nada ouves.
O que não queremos ouvir e ver em nossa família, em nossa comunidade, em nosso município e em nosso país?
No culto, queremos somente ouvir coisas bonitas, porque a vida diária é tão dura? Queremos enlevo espiritual para voltar para casa e deixar tudo como está na comunidade e no país? Não queremos nos deixar desafiar pela realidade dura e cruel do dia-a-dia e preferimos tapar os ouvidos e os olhos para a realidade da exploração do povo? Povo que está desempregado ou com medo do desemprego, povo que vive uma vida miserável em família com brigas e desentendimentos, povo que está com medo da violência, povo que está com um salário miserável, mas, por outro lado, vemos que os que enriquecem são os que pagam o salário miserável.
Isaías chama o povo de Israel no exílio de cego e surdo perante a Lei de Deus e porque segue falsos deuses (Gn 1 fala dessa realidade de combate aos deuses: Sol e Lua). Nós cristãos preferimos também ser cegos e surdos frente à nossa própria miséria e à dos outros. Preferimos uma religião alienada, que nos traga milagres como saúde e dinheiro. Jesus também disse aos judeus que pediam um milagre que ele não lhes daria milagre nenhum, pois também queriam ficar alienados frente à opressão romana e do Templo.
O que nós vemos sempre de novo, mas fazemos de conta que não é conosco? À beira das BRs vemos acampamentos de sem-terra, na TV vemos mobilizações do MPA na luta contra o preço do fumo e por crédito subsidiado, vemos ocupações de sem-teto nas cidades, mobilizações do MAB contra as barragens, vemos as mulheres se organizando no MMC – Movimento de Mulheres Camponesas e na luta por seus direitos, vemos desempregados em nossa volta e até em nossa família, mas como comunidade cristã não tomamos conhecimento disso e fazemos de conta que isso tudo não é conosco. Até fazemos de conta que não sabemos que os membros de nossas comunidades estão engajados nos movimentos sociais e nem emprestamos os nossos pavilhões e salas desocupadas e vazias durante 25 dias ao mês para os movimentos terem um espaço para se reunir e se organizar, porque isto não tem a ver com a igreja, argumentamos. Na IECLB só se fala de que o nosso povo luterano é pobre quando se discute a contribuição financeira, mas criar condições para superar a pobreza, via luta popular, nisto a igreja não se mete porque é política; afinal a igreja é “neutra”.
Um exemplo: numa reunião da OASE, alguém falou do desemprego e aí logo alguém do PFL disse: Mas isso não acontece em nossa cidade. E uma senhora do grupo respondeu: “Meu filho está desempregado e não acha trabalho”. A realidade brutal e cruel está no meio de nós e nós fazemos de conta que não temos nada a ver com isso. Até falamos da depressão e da auto-estima, mas não vamos ao fundo de suas causas, que são a opressão de gênero, a opressão econômica e política, a opressão ideológica e teológica.
v. 21 – Foi do agrado do Senhor, por amor da sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa.
Hoje, cabe engrandecer o evangelho de Jesus Cristo, que anuncia o reino de Deus e a sua justiça. Onde conseguimos fazer isso em nossa vida diária? Esquecemos que há um projeto claro de vida no evangelho, que pode enfrentar a opressão capitalista que nos escraviza e nos deixa sem ação. Assim como na Babilônia havia uma proposta alternativa de vida a partir da lei de Moisés; hoje há uma proposta de vida que se contrapõe ao capitalismo, que encontramos no evangelho de Jesus Cristo. O texto deixa claro que a escravidão não será eterna, mas Deus vai nos guiar para fora dela e nos preparar um caminho seguro (v. 15-16). É só confiar em Deus, deixar o falso deus capital de lado e começar a enxergar as saídas que Deus propõe. Mas isto requer (v. 17) arrependimento e confiança no poder de Deus.
5. Sugestões para o desenvolvimento da pregação a partir dos temas que aparecem no texto
O que precisa ser dito bem alto sobre nós, sobre a comunidade e sobre o país e que nunca ou pouco foi dito? – v. 14.
Ânimo, Deus está do nosso lado para nos amparar e quer nos guiar pelos caminhos que levam à superação de nossos problemas e dificuldades que procuramos esconder – v. 15-16.
As dificuldades que o capitalismo traz e a sua inviabilidade social devem ser expostos à luz do dia, denunciada a idolatria do capital e o seguimento ao deus capital, que está enraizada na vida dos membros da comunidade e requer arrependimento – v. 17.
Onde nos fazemos de cegos e surdos e acabamos achando alguns fatos como normais na família (drogas [álcool e fumo] e brigas), na comunidade (acomodação e assistencialismo religioso) e no país (corrupção, violência e dívidas externa e interna, que estrangulam o país) e o que fazemos de conta que não vemos? – v. 18-20.
Foi do agrado de Deus anunciar o seu evangelho através de Jesus Cristo para nossa salvação. Nem tudo está perdido, há esperança – v. 21.
6. Liturgia
Confissão de pecados: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1, 8-9).
Confessemos o nosso pecado diante de Deus e na presença das irmãs e dos irmãos aqui reunidos. Tomemos primeiro um tempo no qual, em silêncio, refletimos sobre nossos atos e pensamentos com os quais prejudicamos nossa vida comunitária e a vida do país, quando fortalecemos o capitalismo em vez do teu evangelho.
Confessamos que estamos escravizados e escravizadas pelo pecado de adesão ao sistema capitalista opressor e não podemos libertar-nos por nós mesmos. Falhamos porque não queremos nos livrar da idolatria do capital. Não temos amado de todo o coração; não temos apoiado os movimentos sociais quando solicitaram apoio na luta por uma nova sociedade. Temos nos empenhado por coisas secundárias em detrimento do que é prioritário. Estamos arrependidos e arrependidas. Por amor de teu Filho Jesus Cristo, tem compaixão de nós. Perdoa-nos, renova-nos, torna-nos sensíveis para nosso próximo, dirige-nos para que andemos nos teus caminhos, para a glória de teu santo nome. Por isso cantemos:
Absolvição: O onipotente e misericordioso Deus teve compaixão de nós. Ele deixou que seu Filho unigênito fosse entregue à morte por nós na cruz e perdoou-nos de graça todo o pecado. Por isso anuncio o perdão dos teus pecados com a Palavra de Deus, que diz: “Guiarei os cegos por um caminho que não conhecem, fá-los-ei andar por veredas desconhecidas; tornarei as trevas em luz perante eles e os caminhos escabrosos, planos. Estas coisas lhes farei e jamais os desampararei” (Is 42.16).
Versículo de entrada
A Sagrada Escritura diz: “Foi do agrado do Senhor, por amor da sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa” (Is 42.21).
Kyrie
Diante dessa glória de Deus temos que admitir que nós vivemos em meio a sofrimentos, injustiças, violências e dores neste mundo; estas nós queremos trazer agora.
Pelo sistema falho de saúde que deixa o povo sem assistência em sua doença e sofrimento. Pela dor que a separação e o divórcio de casais está causando em nossas famílias. Pelo sofrimento que muitas crianças passam por causa do alcoolismo de seus pais. Pelo sofrimento dos pais por causa do consumo de drogas de seus filhos. Pela miséria e desespero que o desemprego está gerando no meio de nossas famílias. Cantemos:
Glória
Frente a essas e outras dores do mundo queremos anunciar e confessar a glória e a vitória de Deus na pessoa de seu Filho Jesus Cristo.
Deus, Todo-Poderoso, exaltamos-te, pois nos anunciaste através de teu Filho o projeto da felicidade eterna. Exaltamos-te, Senhor, porque a função da tua igreja hoje é participar do processo de libertação iniciado por Jesus Cristo. Deus, Todo-Poderoso, exaltamos-te, pois deixaste teu Filho Jesus Cristo morrer na cruz para nos mostrar o caminho da vida eterna. Deus, Todo-Poderoso, exaltamos-te pelo teu amor por todos nós. Deixaste que teu Filho fosse entregue à cruz. Porém não o deixaste na morte, mas sim lhe deste a vida, para por meio dele dar vida a todos os que nele crêem. Por isso cantemos:
Oração do dia
Oremos: Gracioso Deus, fonte de vida e de esperança. A ti somente rendemos graça por aqui estarmos, podendo participar deste culto na época da Paixão de Cristo. Tua presença nos anima, indica rumos, desafia e capacita. Que tua paz continue conosco, sendo nosso rumo em todos os nossos passos. Que o teu evangelho seja fonte de inspiração e critério para a nossa vida, para que ela seja do teu agrado. Obrigado, santo Deus, por aceitares a Paixão de teu filho para que fôssemos livres de teu juízo de ira. Obrigado, Senhor Jesus Cristo, porque todo o castigo que merecíamos foi sofrido por ti. Obrigado, Espírito Santo, porque nos encorajas a esperar diariamente, por amor de Cristo, na misericórdia de Deus. Ilumina-nos para que não apenas ouçamos a tua palavra, mas que estejamos dispostos a viver segundo ela. Amém.
Intercessões gerais da igreja
Queremos trazer agora perante Deus as nossas intercessões. Oremos:
Oramos, Senhor, por todos nós para que nos engajemos em favor das lutas dos oprimidos para que haja justiça, bem-estar e paz. Oramos, Senhor, por nossa comunidade para que se sinta motivada a entrar na missão que tu lhe confiaste. Oramos, Senhor, pelos doentes e por todos os que cuidam de doentes; oramos pelos enlutados que estão prestes a perder a esperança. Cantemos:
Intercedemos pela comunidade que está empenhada em proclamar e viver o anúncio do evangelho de Jesus Cristo. Intercedemos pelas famílias que têm em seu meio alguma pessoa que tenha dependência química, álcool ou cocaína e que estão tentando recuperá-la. Cantemos:
Intercedemos, Senhor, para que nós nos organizemos o suficiente para poder pressionar os governantes para que se empenhem pela erradicação das drogas e para que as autoridades não se deixem corromper pelos narcotraficantes. Cantemos:
Bibliografia
ELLIGER, Karl. Biblischer Kommentar – Altes Testament. Jesaja II, vol XI4. Neukirchner Verlag: Neukirchen-Vluyn, 1973.
LOPES, Eliseu. Livros Proféticos: profetas posteriores. Roteiro para reflexão IV. São Leopoldo: CEBI, 1996.
SCHWANTES, Milton. Sofrimento e Esperança no Exílio. São Leopoldo e São Paulo: Editora Sinodal & Edições Paulinas, 1987.
STEINMANN, J. O Livro da Consolação de Israel e os profetas da volta do exílio. São Paulo: Edições Paulinas, 1976.