Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

Filipenses 4.4-7

Auxílio Homilético

16/12/2018

 

Prédica: Filipenses 4.4-7
Leituras: Sofonias 3.14-20 e Lucas 3.7-18
Autoria: Astor Albrecht
Data Litúrgica: 3º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 16 de dezembro de 2018
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

Pérolas para a nossa vida

1. Introdução

O texto bíblico de Sofonias 3.14-20 é um cântico de louvor a Deus, que salva o seu povo. Deus afastou os inimigos do povo e, por isso, não é mais preciso ter medo da desgraça. Não é tempo de desanimar nem de perder a coragem. A certeza disso tudo é que Deus está presente junto com seu povo (v.  17).

A leitura de Lucas 3.7-18 trata do ministério de João Batista, que prepara o povo para a vinda do Messias. Ele exorta o povo para que ele se arrependa dos seus pecados e mude de vida (produzir bom fruto – v. 9). Isso significa ter compaixão do próximo nas suas necessidades (prover roupa e alimento), ser honesto (cobrar o que é justo), estar contente com aquilo que se obteve de modo justo. Ele deveria ser um pregador muito criativo, entre outras características, pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao povo (v. 18).

O texto-base para a pregação (Filipenses 4.4-7) contem alguns conselhos de Paulo para a igreja. A nova vida em Cristo precisa se manifestar numa espiritualidade sadia e que confia na presença de Deus, tal como Sofonias anunciou. A vida cristã manifesta-se em novas e boas relações entre as pessoas, nas quais a amabilidade e a compaixão são centrais. A alegria e a paz dão testemunho de que Deus está presente com a sua igreja. Proponho apresentar os quatro conselhos como um modo de viver de cada pessoa batizada no nome do Senhor. Um modo de viver não alicerçado na iniciativa humana, mas em Deus, que vem estar conosco em Cristo.

2. Exegese

Paulo estava preso quando escreveu esta carta (1.7,13,14,19). Não há unanimidade sobre o lugar onde estava preso; alguns afirmam que estava preso em Éfeso, e outros em Roma. A igreja de Filipos ajudou muito o apóstolo Paulo na sua tarefa de anunciar o evangelho por todo o Império Romano (4.14-16,18). Na carta, Paulo agradece a ajuda recebida e também trata de temas como: a confiança, a alegria, o amor cristão e a firmeza, que devem ser qualidades de quem segue Jesus. No capítulo 4.1-9, o apóstolo trata de problemas pastorais e aconselhamento.

Vamos agora olhar mais de perto os v. 4-7, que formam o texto-base para a pregação.

V. 4 – Aqui temos aquelas linhas que conhecemos e amamos e que são lidas no tempo de Advento. Duas vezes é afirmado aos cristãos de Filipos que tenham alegria no Senhor. Lembramos que nem o escritor nem os destinatários dessas palavras viviam num clima de bem-estar e conforto exterior: o apóstolo estava preso e a comunidade tinha problemas com o surgimento de falsas doutrinas que alguns ensinavam. Por essa razão tem peso o “sempre”. Ainda que chegue a Filipos a notícia da sentença de morte de Paulo (2.17-18), e ainda que as opressões na própria Filipos não acabem, a alegria é dádiva e tarefa decisiva da igreja! Nesse sentido, essa alegria não é uma espécie de otimismo natural. A chave da exortação está “no Senhor”. É a fé da comunidade no Senhor que torna a chamada à alegria algo prático e real. Os apelos de Paulo à alegria nunca são meros encorajamentos; eles atiram as igrejas desanimadas de volta ao seu Senhor. Esses apelos são, acima de tudo, apelos à fé.

V. 5 – Paulo pede que a moderação da igreja seja conhecida de todos. A palavra moderação (to epieikes) significa uma boa disposição em relação às outras pessoas; mostrar bondade, suavidade, transigência. Quem está pessoalmente repleto de alegria gosta de causar alegria também aos outros, gosta de reparti-la. Isso é possível pelo fato da igreja não precisar ter medo de que venha a ser arrasada: Perto está o Senhor. Podemos compreender essa palavra em seu sentido escatológico. Foi assim que também Tiago associou a exortação para a tolerância fraterna com a referência ao juiz vindouro (Tg 5.9), como a seu modo já fizera Jesus (Mt 5.25). Importa sermos conhecidos como os “mansos” que herdarão a terra, como os “pacificadores” (Mt 5.5,9). Mas também podemos aprender que a proximidade do Senhor, no sentido do Salmo 145.18, não está necessariamente excluída. Maior “proximidade” temos pelo “habitar” do Cristo nos corações por meio da fé (Ef 3.17) e pela presença do Espírito Santo.

V. 6 – Após tratar da alegria e da moderação, Paulo trata da despreocupação: não andeis ansiosos de coisa alguma. Esse mesmo pensamento se encontra em Mateus 6.25: não andeis ansiosos pela vossa vida. Isso significa: evitar a inquietação ansiosa e pensamentos perturbadores nas necessidades e dificuldades da vida. Aqui indica que há falta de confiança na proteção e no cuidado de Deus. Essa exortação é sustentada pelo que segue: fazer uso da oração. No grego, as “petições” são as coisas que se deseja e solicita do outro. Deus preparou o que precisamos de forma abundante para nós. Por essa razão não devemos alistar de modo apreensivo para nós mesmos o que precisamos ter. Isso pode gerar um círculo vicioso de preocupação e ansiedade, mas devemos comunicá-lo com pedidos na oração a Deus. Quando alguma coisa nos oprime e perturba, devemos buscar a Deus na oração; quando nossos afazeres estão confusos ou complicados, precisamos buscar direção e apoio. Nossas orações e súplicas devem ser levadas a Deus “com ações de graças”. Assim revelamos gratidão a Deus que nos ajudou, e também agora oramos confiantes de que ele nos ouve, e que não apenas exclamamos nossa angústia.

V. 7 – A paz não é mero voto, feito como se fosse algo vago. Quando Paulo afirma que a paz de Deus guardará os corações, o adendo “em Cristo Jesus” pode referir-se ao todo da frase: aqui e em todos os outros lugares em que Deus age, essa ação auxiliadora acontece por meio de Jesus. Essa paz de Deus cuida “do vosso coração e da vossa mente”. A palavra não se refere de modo intelectualista a nossos arcabouços mentais, mas de modo prático a nossos planos e propósitos. O que, afinal, é essa “paz de Deus”, que realiza tudo isso? Para nós só haverá “paz com Deus” se ele gerar paz, chamando-nos para dentro dela e preservando-nos nela. O fato de que Deus realmente faz isso evidentemente “excede todo entendimento”. A paz de Deus nos é concedida mediante a fé em Cristo Jesus, que perdoa nossos pecados e nos justifica (Rm 5.1).

3. Meditação

Proponho convidar a comunidade a fazer uso da imaginação. Pense que você ganha uma caixa com pérolas preciosas. Uma pedra mais linda que a outra! Nosso texto assemelha-se a um colar de pérolas maravilhosas. Pérolas para a vida. Coisas de grande valor para vivermos bem: alegria, moderação, muita paz, nada de ansiedade e preocupações. Já pensou? Muito bonito, mas em nosso dia a dia a conversa é bem diferente. Os desafios que temos não nos permitem sonhar com tais pérolas. Alegrar-se quando falta tanta coisa? Pessoas sofrendo e chorando por desavenças e maldade? Ser uma pessoa amável quando nossos relacionamentos são conturbados? Não andar ansioso e não se preocupar: agora sim estamos “falando grego”! Para muitos, viver é a arte de estar ansioso e preocupado. Quer alguns motivos? O 13º salário já está comprometido, a saúde não anda lá essas coisas e, falando dos filhos, quanta preocupação! O que sobrou? Cadê nossas pérolas?

Afinal, quem escreveu essas palavras na Bíblia? Alguém que ganhou na loteria? Não! Quem escreveu foi o apóstolo Paulo, e ele estava preso por causa da fé em Cristo. Essa carta aos filipenses destina-se a cristãos novos, pessoas que há pouco abraçaram a fé em Jesus e vivem em meio a um mundo perigoso e cheio de desafios. E essas pedras fazem parte de nossa vida com Cristo e de nossa espiritualidade. Essa palavra não é para quem ganhou na loteria, mas é para você, que enfrenta desafios, conflitos grandes e pequenos, mas que foi batizado no nome do Senhor e espera nele.

A primeira pedra é a da alegria. Paulo escreveu quando estava preso. Veja que não se trata de uma alegria que se baseia na situação, no momento. Ainda bem, pois quantas vezes o nosso humor muda no mesmo dia. Somos, às vezes, como um semáforo: verde – pode vir e brincar comigo que está tudo bem; amarelo – cuidado com o que você vai falar; vermelho – fique aí na sua!

A alegria que a Escritura nos fala está baseada na promessa: Perto está o Senhor. Mas como nos esquecemos disso facilmente! Na dificuldade, logo pensamos: agora é tudo comigo. Tenho que me virar! Lembra os discípulos no barco em meio ao mar revolto? Estavam lutando contra as ondas e tudo parecia indicar que era o fim. Mas quem estava perto? Quem lhes vem ao encontro? É Jesus perto deles. Mas quem eles acharam que era? Acharam que era o “Gasparzinho” (Mc 6.49)! Na adversidade, achamos que estamos por nossa conta e risco e ficamos inquietos. A alegria baseia-se na interminável presença de Cristo. Não podemos perdê-lo. Ele está aí! Isso vale para quem está feliz, triste, enlutado, enfermo, satisfeito. A situação em que você se encontra não pode limitar em nada a presença de Cristo.

A segunda pérola é a moderação. Ela tem muitos nomes: ser gentil, amável, tolerante, calmo, pacífico, bem-educado, bondoso, compreensivo. Essa palavra nos fala sobre convivermos com as outras pessoas. Uma ilustração pode ajudar aqui. Dois alunos prestam a prova: um tirou nota 8 e o outro, nota 5. O professor corrigiu de maneira certa e nada há para mudar. Mas descobrimos que o aluno que tirou nota 8 teve tudo a seu favor para isso: tempo para estudar e os pais o incentivaram. O que tirou nota 5 não teve tempo para estudar, pois cuidou do irmão doente. Olhando assim, a nota muda: ele merecia mais do que nota 5. De acordo com a moderação, a nota pode ser bem diferente.

Semelhante com a história da mulher pega em adultério: aos olhos dos fariseus, seria condenada à morte. Mas Jesus viu algo a mais e deu nova oportunidade a ela. Há algo a mais entre o 8 e o 5, e isso se chama misericórdia, amor: moderação. Precisamos dela para viver bem e melhor uns com os outros.

A terceira pérola é a de não andar ansioso. Paulo não está dizendo que não devemos cuidar de nossas tarefas e responsabilidades. Elas têm um lugar legítimo em nossa vida e precisam de nosso cuidado e atenção. Vale dizer que ela pode ser legítima quando nos ajuda a decidir e agir de modo eficiente. Noutro momento Paulo escreveu: Além dessas e de outras coisas, ainda pesa diariamente sobre mim a preocupação que tenho por todas as igrejas (2Co 11.28). Contudo, se dispensarmos a presença de Deus, a porta para uma ansiedade doentia ficará aberta. É quando vêm o medo do futuro e a insegurança. Quando a pessoa se sente desamparada, com angústia, medo e insônia, o que fazer? Orar! As crianças falam a seus pais dos seus “grandes” problemas. Aos olhos dos pais são coisas tão pequenas. Para elas, importantes. Jesus disse que temos muito a aprender com as crianças. Aqui também devemos compartilhar com nosso Pai nossos pontos altos e nossas frustrações; as pequenas e as grandes dores e não duvidar que somos ouvidos. Lembremos que orar não é tão somente exclamar a Deus as nossas angústias, mas é lhe agradecer (ações de graças).

Como resultado temos a quarta pérola: a paz. Uma paz verdadeira, que é bênção para você e que, através de você, quer alcançar as pessoas que partilham a vida com você. Firmados na certeza da presença de Deus conosco, que tal tomar o propósito de fazer, começando em nosso lar, um lugar de paz e de bem para todos que ali habitam? Assim como João Batista pregou, que tal abrirmos mão daquelas coisas que nos deixam distantes uns dos outros? Que tal buscarmos com humildade as coisas que nos ajudam a viver melhor uns com os outros? Isso é possível, mas tão somente de Deus vem essa dádiva para a sua vida.

Que tal essas pérolas em sua vida? Não seriam os dias melhores? Elas são para nós, para todos e todas que creem em Jesus. Alguma delas hoje faz mais falta a você? Você não precisa se achar merecedor delas, nem deve. Tudo será dado a você, pois o Pai o ama e quer cuidar de você.

4. Imagens para a prédica

Como sugestão, pode ser usada a ilustração que foi partilhada na meditação. Além dessa, pode-se usar uma caixa ou um colar com pedras para ilustrar a mensagem.

5. Subsídios litúrgicos

Oração do dia

Nosso Deus e Pai, é em espírito de ação de graças que nos reunimos hoje aqui e nos unimos em oração. Graças que tu estás presente. Porque nos amas, tu não nos deixas sós. Senhor, queremos falar a ti de nossa vida e de nossos caminhos, mas queremos aprender a andar contigo. Ajuda-nos para que em vez de ficarmos ansiosos e inquietos, preocupados em como vamos sair dessa, aprendamos a chamar pelo teu nome. Aprendamos a erguer as mãos, olhos e coração a ti, que sempre estás atento à nossa oração. Que coloquemos com fé aos teus pés todas as nossas coisas, principalmente aquelas que nos impedem de viver vida plena. Graças que tu farás bem todas as coisas. Agradecemos por tua presença aqui conosco e pedimos que neste culto o desespero seja vencido, o medo afugentado fé renovada e fortalecida. Damos graças pela tua palavra, que não deixarás faltar neste culto. Sê conosco e abençoa este culto com tua presença segundo a tua promessa. Amém.

Bibliografia

BOOR, Werner de. Cartas aos Filipenses. Curitiba: Esperança, 2006. (Comentário Esperança).
FOULKES, Francis. Efésios – introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2005. (Série Cultura Bíblica).


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Autor(a): Astor Albrecht
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50261

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Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida.
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