Auxílios Homiléticos - Proclamar Libertação



ID: 2911

Colossenses 1.1-14 - 5º Domingo após Pentecostes – 10/07/2022

Auxílio Homilético

10/07/2022

Prédica: Colossenses 1.1-14
Leituras: Deuteronômio 30.9-14 e Lucas 10.25-37
Autoria: Evandro Jair Meurer
Data Litúrgica: 5º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 10/07/2022
Proclamar Libertação - Volume: XLVI

Gratidão e intercessão: dois remos, uma canoa

.1 Introdução

“Tri legal” o conjunto de três textos para este domingo, o 5º Domingo após Pentecostes. Apontam para a importância do cumprimento coerente dos mandamentos, da vivência prática da fé e do seguimento, em fé e ação, dos ensinamentos das Sagradas Escrituras.

Próximo das últimas disposições e antes do processo sucessório Moisés-Josué, o deuteronomista adverte o povo para dê ouvidos à voz do Senhor e cumpra o proposto cravado nas duas placas de pedra (Dt 5.22). E o lembrete inclui dois aspectos: 1) o cumprimento dos mandamentos gera bênção, com destaque ao cuidado e à subsistência material (Dt 30.9) e espiritual; e 2) os mandamentos não são difíceis de entender e, por consequência, de cumprir e viver (Dt 30.11). Bem por isso podem ser obedecidos, guardados no coração e – o mais importante – cumpridos no dia a dia (Dt 30.10,14). Muito próximo do escopo do evangelho do domingo.

Quanto à parábola do bom samaritano, de tão palpável e concreta, às vezes parece até que nos esquecemos de que ela não aconteceu de fato. Palpável, contudo, não tão palatável em sua mensagem: a vivência dos ensinamentos e da fé é o mais importante, superando ritos e teorias e, muitas vezes, praticada de fato por quem menos se imaginaria que o fizesse. As dobradinhas “fé e amor”, “conversão e ação” parecem ser fortemente evocadas.

Na carta, é motivo de gratidão a Deus quando a vida cristã não é “fogo de palha”, limitada àquele “primeiro amor”. Mas quando, anos depois, ouve-se falar que irmãos e irmãs, filhos e filhas na fé estão firmes, fortes e ativos, vivendo como o Senhor quer (Cl 1.10). Vamos rever juntos alguns aspectos do texto de Colossenses.

2. Exegese

Pelo fato de a perícope para pregação ser justamente a abertura e as palavras iniciais da carta, convém relembrar algumas questões introdutórias mais relevantes para nossa preparação, pano de fundo das informações dos dois versículos iniciais.

Paulo, Timóteo e Epafras: “Três mosqueteiros” da missão evangélica em Colossos, que se localiza na atual Turquia.

Paulo orientou “o povo de Deus”, os santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos (1.2) que, depois de terem lido a carta, a mandem e a compartilhem com os membros da igreja em Laodiceia, a fim de que os irmãos de lá também a leiam (4.16). Por toda a carta Paulo continua nomeando cristãos de “santos” (1.4,12,26; 3.12). Da mesma forma, chama os cristãos de “fiéis”. Em Cristo é que se dá a fidelidade das pessoas cristãs e não à parte dele. Verifica-se que “santidade” e “fidelidade” decorrem de Cristo pelo novo nascimento.

Timóteo, filho na fé, apóstolo do evangelho como Paulo, agora está posto como parceiro, apoiador, mediador, consultor e muito provavelmente como escritor de carta (4.18).

Fica evidente que Paulo escreveu (ditou?!) essa epístola após a visita de Epafras, “amado conservo”, “querido companheiro de trabalho”, “fiel ministro, servidor de Cristo” (1.7). Epafras também está próximo de Paulo e aproveita o ensejo da carta para mandar saudações à comunidade (4.12).

Pelo cruzamento de informações, Paulo escreve quando esteve preso em Roma pela primeira vez (cerca de 60-62 d.C.) – cotada também entre as cartas da prisão (junto com Filipenses, Efésios e Filemom).

Apesar dos elogios iniciais (1.4-6), as coisas em Colossos não estão tão tranquilas assim. Epafras deve ter contado a Paulo que alguns colossenses estavam cometendo graves erros, pois pensavam ser melhores que os outros por observarem cuidadosamente certas ordenanças exteriores, se absterem de certos prazeres físicos e prestarem culto aos anjos. Práticas que os levavam a crer que entendiam os mistérios da fé (2.2.) melhor que os outros membros da igreja. Em sua carta, Paulo censura-os (1.23; 2.4-8,16-19; 3.2,5-6), relembrando que a redenção é obtida somente por meio de Cristo (1.13-20).

Almeida subdivide o capítulo 1 de Colossenses em cinco partes. Nosso texto está por ele fracionado assim:

1-2: Prefácio e saudação
3-8: Ação de graças
9-12: Paulo ora pelos colossenses
13-23: A excelência da pessoa e da obra de Cristo
24-29: A missão de Paulo. O mistério do evangelho

Já a NTLH coloca nossa perícope em dois subtítulos:

1-2: Saudação
3-14: Orações em favor dos colossenses

Seguimos nosso trabalho exegético compreendendo uma divisão que nos será útil quando do homilético.

1: Remetente e destinatário
2: Saudação
3-8: Orar agradecendo
9-14: Orar intercedendo

O agradecimento: Paulo agradecia a Deus continuamente após tomar conhecimento da vida de fé e de ação das pessoas cristãs de Colossos. Paulo e Timóteo ouviram sobre como os irmãos e as irmãs colossenses viviam e se nutriam mutuamente. E de como não permaneceram estagnados na nova vivência em Cristo. Bem por isso informa-os de persistentemente orar agradecendo:

1. pela fé
2. pelo amor no Espírito
3. pela esperança
4. por terem ouvido e entendido
5. por terem sido instruídos
6. pelos frutos

Não há como deixar de agradecer a Deus diante de tão maravilhosa graça.

A intercessão: A persistência de Paulo em orar pelas comunidades e pessoas de sua relação, fruto da atuação em suas viagens missionárias, é de “tirar o chapéu”. No caso dos colossenses, ele ora para que Deus dê:

1. pleno conhecimento da vontade de Deus
2. vida cristã em plenitude e frutífera
3. fortalecimento e perseverança
4. o mesmo espírito de gratidão e intercessão que há em Paulo

Sob esse olhar, nossa prática de intercessão tomará um novo impulso.

Remar em gratidão e em intercessão nos conduzirá a um destino certo e promissor, quer no ministério, quer na vida cristã.

3. Meditação

Idoneidade e vivência cristã: Deus faz as pessoas cristãs idôneas. Ou seja, Deus é que cria e capacita-nos plenamente para sermos participantes da “herança dos santos”. Quando cristãos creem na mensagem do evangelho, recebem poder para serem feitos filhos e filhas de Deus (Jo 1.12). Quando somos criados, o somos em verdadeira justiça e santidade (Ef 4.24). Desta maneira Deus nos fez (criou) novas pessoas, novas criaturas em Cristo (2Co 5.17), sem necessidade de quaisquer tutores ou curadores como era próprio da lei (Gl 4.1-2), somente pela fé que opera pelo amor (Gl 5.6; Rm 5.17).

Integralidade na oração: Talvez você diga que não tem tido muito tempo para orar. Outros dirão que não sabem como orar e outras ainda poderão dizer que estão orando no “piloto automático”. Olhar para o que Paulo escrevia sobre e o que ele fazia em relação à oração vai, com certeza, ampliar nossos conhecimentos e práticas cristãs. Gratidão e intercessão são dois remos da mesma canoa que faziam o apóstolo navegar (mesmo na prisão) na direção das comunidades cristãs, de seus líderes bem como de seus filhos e filhas na fé e das novas lideranças da igreja.

Gratidão: Ações de graça revelam nosso reconhecimento pelas misericórdias de nosso Deus em nossas vidas. Deus se agrada com nossas manifestações  de graças por meio de orações, quando nos voltamos para ele com alegria e contentamento pelas suas suficientes providências em nossas vidas e na vida dos santos e santas, irmãos e irmãs de fé, e na caminhada. Paulo foi um cristão grato que habitualmente manifestava sua gratidão pela vida dos irmãos e das irmãs em suas orações. O apóstolo agradecia pelas vidas das pessoas santas que havia servido e com as quais havia convivido. Pela fé que tinham em Jesus Cristo, pelo amor que tinham uns pelos outros, pelo assumir da missão, pelo serviço ao próximo, pela esperança ativa da vida eterna. Quando escreve a Timóteo, ele testifica: Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque, sem cessar, me lembro de ti nas minhas orações, noite e dia (2Tm 1.3). Da mesma forma o faz com a comunidade de Colossos: Damos sempre graças a Deus [...] quando oramos por vós (v. 3); e de Filipos: Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós [...] (Fp 1.3).

Intercessão: Paulo também nos ensina a orar intercedendo pela vida dos santos. Aprendemos a interceder principalmente pelas coisas invisíveis, aquelas que têm valor para a vida eterna, mas também pelas coisas do viver diário, daqueles que servimos e nos são caros e caras na vida ou no ministério. O tipo de oração que vemos nos exemplos de Paulo deve produzir também em nós o desejo de orar pela vida de nossos irmãos e irmãs em Cristo: seu sustento, seu fortalecimento e principalmente seu crescimento frutífero na vida e na missio Dei. Bem assim ele escreve aos colossenses: Por esta razão [...] não cessamos de orar por vós (v. 9). E aos filipenses: [...] fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós [...] (Fp 1.3-11).

Ao final de sua carta, Paulo pede reciprocidade no proceder cristão. Roga pela oração daqueles que estão longe dele, por quem escreve da prisão: Perseverai na oração, vigiando com ações de graça, suplicai, ao mesmo tempo, também por nós [...] (Cl 4.2-4).

Desafio à oração pessoal/individual: Agora chegou a nossa vez de orar por um amado irmão, por uma amada irmã. Escolha uma pessoa para você orar hoje, esta semana. Para ficar mais claro e ordenar seus pensamentos, é bom que você escreva a oração ou os tópicos a serem mencionados a Deus. Liste o que há a agradecer na vida dessa pessoa e enumere o que há para interceder por ela. Não somente peça, nem somente agradeça. Gratidão e intercessão de mãos dadas, juntas. De forma semelhante, em outro dia ou semana, escolha uma família, uma comunidade, um ex-pastor, uma ex-pastora, o ministro ou a ministra que atua na comunidade, uma liderança eclesiástica, social ou política. E assim sucessivamente. Agradeça e interceda. Liste ambas as motivações.

Desafio à oração coletiva/comunitária: Nossa oração geral da igreja, ao final de cada culto, tem essa máxima muito bem estruturada: agradecer e interceder. Se ainda não existe um grupo de oração na comunidade, quem sabe é hora desse desafio. A estrutura é simples: a reunião de oração contemplará o momento de gratidão e o momento de intercessão. Pessoas, famílias, situações, instituições podem muito bem ser alvo dessa oração coletiva, comunitária.

Desafio a escrever carta: Colegas! Vocês também “sofrem” com o dilema de manter ou não contato virtual, por e-mail, WhatsApp, carta... com suas ex-ovelhas e ex-campos ministeriais? Matutam sobre quando ou até quando manter os laços, especialmente no que se refere a respeitar o espaço ministerial do novo ou da nova colega? A perícope sobre a qual estamos nos preparando para pregar parece querer nos remeter novamente a esse tema. Boa meditação! Boas decisões para nós!

4. Imagens para a prédica

Sugestão de tema e estrutura de pregação:

O que fazer pelas pessoas que estão longe?
1. Escrever carta (v. 1-2)
2. Orar agradecendo (v. 3ss)
3. Orar intercedendo (v. 9ss)

Uma breve retrospectiva (sinopse) do filme “Brasil Central”, de 1998, que consagrou a atriz Fernanda Montenegro na época, interpretando uma mulher que escrevia cartas na praça para pessoas analfabetas, pode ser um interessante “gancho” para o início da pregação.

A frase de Elías Canetti, mesmo sem identificar o contexto (e o ano) em foi dita, cala fundo e nos desafia a pensar, listar e tomar a decisão de escrever uma: “Ninguém é mais solitário do que aquele que nunca recebeu uma carta”.

Vivemos em um tempo de superficialidade comunicacional, quando cartas em sua estrutura redacional estão em último plano. Hoje se comunica mais por meio de abreviaturas e emogis. Apresentação, saudação, conteúdo e fechamento já não fazem parte do cotidiano comunicacional fraterno. Mais o utilizamos em comunicações formais e de ofícios.

Estou escrevendo este auxílio em fim de maio (2021). Fala-se na terceira variante (cepa) do coronavírus chegando e se vislumbra já a terceira onda de surto letal se aproximando. Viver esse prolongado tempo de distanciamento tem sido um desafio e uma dor para muitas pessoas. Comentar sobre o tempo da pandemiaem que os contatos virtuais se ampliaram e cartas pelo visto continuaram em segundo plano nos contatos à distância. Espero que hoje a pandemia seja só uma história de um passado bem recente. Mas o desafio de lembrar por carta (virtual ou no papel) de alguma pessoa querida e distante fará bem a qualquer tempo e circunstância. Bem por isso a poesia de Roberto E. Zwetsch (Devocionário Semente de Esperança 2021, dia 16.02) é atual e pertinente, mesmo fora de uma pandemia. Pois o isolamento se repete em outras circunstâncias da vida.

Tem não tem
Não tem abraço
Não tem beijo
Não tem encontro também.
Mas tem afeto
E tem olhos
Tem a dignidade de (sobre)viver.

...
Não tem saída
Ou caminhada
Não tem viagem programada.
Mas tem carta por e-mail.

5. Subsídios litúrgicos

Confissão de pecados: Certa vez, meus filhos e eu fizemos uma pequena brincadeira com minha esposa. Estávamos nós quatro em um pequeno bote numa água tranquila. E quando estávamos próximos da margem, saltamos na água e fomos nadando até a margem, deixando-a, pela primeira vez, a remar sozinha. Ela se pôs em um canto do bote e começou a remar sempre daquele lado. Quando ela percebeu estava andando em círculo e não na direção da margem. Até que por ela mesma descobriu que precisava fazer o movimento de dois remos. Remar uma vez à direita e outra vez à esquerda do bote. Daí sim ela logo chegou ao seu destino. Nem só agradecer, nem só interceder. É o que nos dá direção no caminho da comunhão com Deus e com o próximo. Oremos, pedindo perdão a Deus quando, desequilibrados, sem rumo e andando em círculo em torno de nós mesmos, esquecemos-nos de agradecer e interceder.

Leitura do AT: Cumprir e viver a vontade de Deus gera bênção e não é algo tão difícil assim. Esse é o lembrete que o texto do Antigo Testamento para este domingo quer nos deixar. Ouçamos algumas palavras que Moisés deixou ao povo antes de entregar a liderança a Josué.

Leitura da carta do NT: “Fé-amor”; “conversão-ação”, “oraAÇÃO”, “gratidão-intercessão” são binômios fortemente evocados por Paulo na Carta aos Colossenses. É motivo de alegria quando, anos depois, ouve-se que irmãos e irmãs estão firmes, fortes e ativos, vivendo como o Senhor quer (Cl 1.10). Dá vontade de a gente agradecer a Deus e interceder para que o Senhor continue a operar neles e nelas.

Aclamação do evangelho: Superar o cumprimento de rituais e normas e ir mais além de apegar-se à presença regular na igreja são duas advertências fortes que o evangelho impõe ao nosso seguimento de Jesus. A tão conhecida parábola do bom samaritano é palpável e concreta. E nos deixa surpresos e surpresas quando, quem menos a gente espera, realmente pratica a vontade de Deus, em fé e ação.


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Autor(a): Evandro Jair Meurer
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Colossenses / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2021 / Volume: 46
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 68625

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Um coração puro é aquele que observa e pondera o que Deus diz e substitui os seus próprios pensamentos pela Palavra de Deus.
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