Advento - Natal - Epifania



ID: 2655

O que nos ensina o Cântico de Maria

Prédica

18/12/2020


Lucas 1.46-55

Estimados e estimadas radio ouvintes:

Na cidade de Wittenberg, na Alemanha, a igreja central onde Martim Lutero costumava pregar tem o nome de Igreja Santa Maria. Por isso, algumas pessoas perguntam: Será que Lutero era devoto da Virgem Maria? Devemos lembrar que Lutero era um sacerdote católico romano e por isso, ele deve ter tido alguma devoção a Maria, como é comum na Igreja Romana. A Virgem Maria muda de nome conforme o país: No México é Nossa Senhora de Guadalupe, na França é a Notre Dame, na Alemanha é a Heilige Maria e aqui no Brasil é a Nossa Senhora de Aparecida.

Mas, depois de ler e estudar muito a Palavra de Deus, Lutero ensinou que como evangélicos de confissão luterana não adoramos a Virgem Maria, no sentido de dirigir-lhe orações e prestar-lhe culto, nem a veneramos como mediadora da salvação. Tributamos à mãe de Jesus todo o respeito, assim como Lutero o fazia.

Para Lutero, Maria é um modelo de vida cristã que experimentou a justificação por graça e fé. Maria é a expressão da vida que Deus espera ver em cada pessoa cristã que se disponha a ser guiada pelo Espírito Santo. Em Maria Deus demonstra que ele exalta os humildes e rebaixa os poderosos, abate os presunçosos e ergue os infelizes. Deus valoriza os que nada são. Deus é libre para ser misericordioso.

Através do cântico de Maria, vemos que Deus age na História através das pessoas humildes. Deus quer se fazer presente nesse mundo, quando pessoas se dispõem a colocar sua vida sob a vontade de Deus. Quando colocamos a nossa vida nas mãos de Deus e confiamos que sua vontade seja feita assim na terra como no céu, então Deus se faz presente.

No ano de 1521 o príncipe da Saxônia – região da Alemanha onde vivia Martin Luther – lhe perguntou o que ele deveria fazer para ser um bom governante aos olhos de Deus. Alguns dias mais tarde, Martim Lutero enviou-lhe um escrito intitulado MAGNIFICAT, uma interpretação do Cântico de Maria de Lucas 1.46-55.

Lutero diz que para ir ao encontro de sua solicitação (como ser um bom governante aos olhos de Deus) “não lembro de nada melhor que o cântico sagrado da bendita mãe de Deus. Sem dúvida, todos os que quiserem governar bem e ser boas autoridades devem aprender bem e guardar na memória esse cântico.

Lutero diz ao príncipe que um governante pode trazer bem estar ou então pode trazer a desgraça para muita gente. Ao dizer que “Deus derruba dos seus tronos os poderoso e levanta os humildes” (v.52), Deus quer impor o seu temor às grandes autoridades, para que elas aprendam que não podem fazer nada fora daquilo que Deus lhes autorize. O agir das pessoas comuns provoca benefício ou prejuízo somente para elas mesmas. Mas as grandes autoridades podem ser prejudiciais ou úteis para muitas pessoas. Quanto maior for seu domínio, mais forte serão os impactos de suas palavras e atitudes.
Por isso, a Escritura chama os príncipes maus de leões e animais ferozes.

A autoridade é necessária. No cântico de Maria fica claro que Deus não destrói os tronos do mundo, mas Deus derruba os poderosos desses tronos. Quando os poderosos pensam que a bolha está bem inchada e todos pensam que triunfaram e venceram, quando os poderosos estão seguros de terem triunfado, então vem Deus e fura a bolha e tudo está acabado. O cântico de Maria nos diz que a história é feita de uma constante troca de poder, motivada pela intervenção divina contra o abuso dos que detêm o poder.

Para Martin Lutero, o coração humano por si só já é bastante atrevido, mas é pior quando ele tem poder. Com espaço para fazer o mal, sem castigo, a autoridade vira uma fera, seguindo apenas a sua vontade. Lutero cita a frase de Bias, um dos sete sábios da Grécia do século VII a.C que dizia: O exercício do poder revela o tipo de pessoa que alguém é. Por isso, vai o alerta no v. 51: Deus levanta a sua mão poderosa e derrota os orgulhosos e as intenções de seus corações. Lutero então recomenda ao príncipe escrevendo assim: Em toda a vida, não tema nada nem na terra nem no inferno como aquilo que a mãe de Deus chama de “as intenções do seu coração” (Lucas 1.51). Seguir os impulsos do próprio coração, esse é o maior e o mais perigoso inimigo de todos os homens, acima de tudo das autoridades. Vossa Alteza não estará protegido dele se não considerar o coração constantemente suspeito e se não governar no temor de Deus.

Portanto, o Espírito Santo ensina a Maria esta sabedoria: Deus é um Senhor que não faz outra coisa do que engrandecer o que é humilde e de refazer o que está quebrado. Já no Antigo Testamento nós podemos ler o Salmo 138.6 que diz: Deus é o mais excelso e olha para os humildes; os soberbos ele conhece de longe. Ou seja, o trono de Deus está nas alturas, no entanto, ele atenta para os humildes no céu e na terra. Deus não pode olhar para cima, porque não há nada acima dele. Deus também não pode olhar para o lado, porque não há nada que se iguale a Ele. Deus somente pode olhar para si mesmo e para baixo. Quanto mais baixo alguém está, quando alguém se encontra no fundo do poço é justamente sobre essa pessoa que Deus dirige o seu olhar. Sendo Deus desta maneira, que ele olha para os mais humildes, então Lutero recomenda ao príncipe a mesma atitude: governar para os mais humildes

Prezada Comunidade.

O Cântico de Maria nos traz uma nova luz sobre todas essas luzes que costumamos ver no Natal. O Cântico de Maria nos diz que enquanto houver uma pessoa desesperada na fila de hospitais esperando uma vaga, enquanto houver pessoas egoístas que levam o coronavírus na brincadeira, ridicularizando a doença e a vacinação, enquanto houver governantes que promovem uma sociedade injusta e marginalizam o meio-ambiente, enquanto houver tudo isso, podemos ter a certeza que Deus não é atraído pelas nossas luzes, nossos enfeites, nem nossos presentes. Deus vai preferir estar com os mais humildes, porque é lá que ele é mais necessário.

Nesse Advento e Natal de 2020, o cântico de Maria nos diz claramente: O Espírito de Deus estará mais uma vez de visita a todas as pessoas que estão preocupadas com seus doentes fora e dentro dos hospitais, estará de visita aos médicos e enfermeiros(as) que trabalham exaustivamente e mesmo assim não conseguem atender todos os necessitados, estará de visita a dor das famílias que nessa semana perderam seus familiares na avalanche em Presidente Getúlio/SC. O Espírito de Deus estará de visita as famílias que foram desalojadas aqui na Cidade Industrial de Curitiba, colocadas na rua em plena véspera de Natal, com o anúncio de fortes chuvas e no auge da pandemia no Paraná.

O Espírito de Deus virá mais uma vez ao encontro das pessoas nesse Natal, mas ele tem um objetivo claro. Ele vai em direção aos mais humildes. Ele mais uma vez virá a esse mundo para transformar nossa vida e através de nós ele quer transformar esse mundo.

Portanto, coloquemos a serviço de Deus nessa semana de Natal e ano novo. Façamos valer a pena cada momento vivido. Tenhamos um propósito. Motivar as pessoas !!
Faça um “ninguém” se sentir um alguém do seu lado.
Faça a diferença. Faça as pazes.
Faça com que as pessoas se sintam amadas.
Faça pequenos momentos serem grandes.
Não tenha arrependimentos por ter tentado além do que devia, por ter valorizado alguém mais do que deveria, por ter feito mais do que podia.
Não guarde mágoas. Guarde apenas os aprendizados.
Ame, mesmo quem não merece. Ame, sem querer receber nada em troca.
Seja solidário, indigne-se diante do sofrimento dos outros. Pratique a justiça. Coloque-se ao lado dos que são vítimas dos poderosos. Coloquemos a serviço da vontade de Deus.
Afinal, o dia em que eu e você formos embora dessa vida, nossas mãos vão embora vazias, mas poderemos deixar uma parte de nós guardado aqui no
no coração das pessoas. Amém.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo nos acompanhem agora e sempre. Amém.
 

MÍDIATECA

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Ao deixar de orar por um único dia sequer, perco grande parte da minha fé.
Martim Lutero
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Deus enxerga as profundezas do coração, enxerga mais profundamente que nós.
Martim Lutero
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