Advento... Tempo de espera. Tempo de sonhar o novo e fazer o novo, diferente. Tempo de assumir nova postura diante do mundo e da vida. Tempo de preparar lugar, o coração, para um ilustre convidado. Podemos deixar a porta do nosso coração aberto para quem ao longo de 2019 nos disse: Deixo com vocês a minha paz, a minha paz lhes dou (Jo 14.27): Jesus Cristo, nosso Salvador.
Advento é tempo oportuno de olhar para a realidade que construímos. É tempo de assumir o pecado, buscar perdão e comprometer-se com a mudança. É tempo de afastarmos o ódio contra pessoas estrangeiras que no Brasil buscam uma vida melhor, o mesmo sonho que nossos antepassados alimentaram quando saíram da Alemanha, Itália ou, mais recentemente, do Haiti, da Venezuela, do Senegal... Tempo para reconhecermos a dignidade e igualdade com que Deus criou homem e mulher à sua imagem e semelhança. O Príncipe da Paz e Salvador não compactua com os feminicídios, a violência contra crianças e idosos, antes veio trazer a harmonia, a solidariedade, a justiça, a sobriedade e o respeito para com toda a criação de Deus.
Advento é tempo de afastar o jeito único de pensar, organizar o dia a dia e encarar a vida. Deus nos deu a inteligência e com ela diferentes capacidades de usá-la. Tempo de refletirmos sobre a indignidade que representa o fosso que construímos entre ricos e pobres, centro e periferia, negros e brancos, os “nossos” e os “outros”. Tempo de constatar que há muitas crianças e pessoas adultas que não têm emprego, muito menos ainda uma ceia, nem a de Natal. Tempo de reconhecer a beleza existente na diversidade da Criação que são expressas em tantas culturas e raças criadas e mantidas por Deus. Nesta diversidade reside o desafio da novidade de vida a cada dia.
Advento é tempo de alimentar o amor, a esperança e a solidariedade. Tempo dos diferentes se encontrarem para um diálogo fraterno, respeitoso, responsável e sóbrio. Tempo para a celebração da Ceia do Senhor que nos compromete com um testemunho de paz e de tolerância. Tempo de reafirmar, junto com Lutero, a separação entre o estado e a igreja. O Estado deve permanecer laico com o seu papel específico. A história mostra, quão nefasto foi o não discernimento do papel de ambos.
Advento é o tempo litúrgico que culmina com o Natal. Ao celebrá-lo, renunciamos ao egoísmo, à meritocracia e ao individualismo, deixando que Deus nos presenteie com seu Filho, o Príncipe da Paz. É Natal a cada dia quando lembramos a total dependência de Deus que nos aceitou, presenteou com o Batismo e diz: Eu escolhi vocês para que deem frutos (Jo 15.16). A alegria reside no fato de podermos Viver o Batismo, entregando os frutos correspondentes a Deus por meio de quem encontramos no caminho.
Estamos, pois, no tempo de renunciar a nossos desejos e projetos pessoais e assumirmos o projeto de Deus. Este projeto é o Reino de Deus, no qual Jesus, o Cristo, reina. Tempo de sairmos da frente do espelho e encontrar Deus no irmão e na irmã que está diante de nós, olhando para a dignidade que Deus conferiu a cada membro de sua obra. Tempo de olharmos para a criação de Deus e nos comprometermos com seu cuidado. Tempo de vivermos o que Paulo anunciou aos Gálatas e que ainda está por ser implementado: Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. Gl 3.28
Desejamos, em nome do Sínodo Uruguai, um abençoado tempo de Advento e que o Natal traga coragem para vivermos a partir da paz, do respeito e do amor diariamente o nosso Batismo.
P. Jair L. Holzschuh - Pastor Sinodal e Arri Koch - Presidente Conselho Sinodal
