Prédica: Mateus 12.14-21
Leituras: Isaías 52.7-10 e Colossenses 1.24-27
Autoria: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: Epifania de Nosso Senhor
Data da Pregação: 06/01/2021
Proclamar Libertação - Volume: XLV
O amor na comunidade de Jesus e as dores deste mundo
1. Introdução
Os últimos dois meses foram de profunda travessia. Mergulhamos, no Ocidente, em um tempo de agitação e trabalhos. As empresas correram para deixar documentação em dia e fazer prestação de contas. As comunidades fizeram suas assembleias para prestar contas, acertar detalhes do novo orçamento e planejar o próximo ano. No movimento social, realizaram-se assembleias e conferências. Todos e todas realizando, de uma ou de outra forma, as comemorações conjuntas para celebrar o convívio no ano que finda. Conclui-se o ano civil. Ano-Novo, festa de réveillon e férias, para quem pode tirar férias. Isso é parte do nosso contexto atual.
Nos textos bíblicos, para este Domingo de Epifania encontram-se aspectos relevantes que ligam eles entre si.
Isaías 52.7-10 faz a narrativa de uma boa notícia ao povo no exílio: Deus reina e está retornando a Sião. O profeta é o mensageiro que narra que Deus salva seu povo e mostra seu poder às nações. O que a Epifania quer anunciar é que todos os confins da terra verão a salvação de Deus. “O aspecto do consolo e a abertura para os outros povos constituem pontos de ligação entre a leitura do Antigo Testamento e o texto de prédica” (VOIGT, 2011, p. 63).
Colossenses 1.24-27 tematiza a revelação de Cristo aos gentios. Reporta--se à alegria, mas a alegria “nos seus sofrimentos”, nas aflições de Cristo, a favor do corpo de Cristo, que é a igreja, da qual o apóstolo está sendo ministro. Paulo narra que o mistério estivera oculto durante “séculos e gerações”. Ele tornou-se ministro de acordo com a Palavra para dar cumprimento ao Evangelho que se manifestou aos santos. Aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da gloria deste mistério entre os gentios (toda criatura debaixo do céu), isto é, Cristo em vós, a esperança da glória (Cl 1.27).
Mateus 12.14-21 narra como mensagem fundamental Isaías 42.1-4. O texto de Isaías 42.1-7 foi tema de estudos exegéticos e homiléticos em quatro auxílios, nos PLs de números 21, 25, 35 e 36. Por isso também é importante ter presente o contexto do profeta Isaías. Os volumes do Proclamar Libertação mencionados contêm informações exegéticas e indicações para a prédica. O texto de Isaías é um dos quatro cânticos do servo sofredor, ou seja, 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13 – 53.12. Ele é o primeiro dos quatro cânticos. O cântico em questão tem como tema a revelação e a vocação do servo de Javé. Javé apresenta seu servo, o eleito. Seu nome não aparece no texto. Visto a partir do tempo de Jesus (e do nosso também), trata-se de um texto antigo da profecia que continua bem novo, atual, em todos os tempos.
2. Considerações exegéticas
2.1 Contextos
Mateus 12.14-21 é composto por oito versículos, sendo que quatro são citações de Isaías 42.1-4. É a mais longa citação de Isaías em Mateus. Mas não é cópia literal. E não tem sua fonte no texto original hebraico ou na Septuaginta. Provavelmente, trata-se de uma tradução livre. Para Voigt (2011, p. 63-64): “O vocabulário, formulações e omissões não permitem determinar exatamente o texto-base da citação. É possível que tenhamos aqui uma tradução ou citação livre do texto massorético, com influências da LXX ou do Targum”.
O texto em Mateus é antecedido por duas ações de Jesus que quebram a lei do sábado (Mt 12.1-13). Jesus e seus discípulos colhem espigas e se alimentam num sábado, o que é proibido por lei religiosa. Segue-se uma acalorada discussão. Jesus faz referência à misericórdia, contra os holocaustos. E diz que o Filho do Homem é o senhor do sábado (v. 8). Depois Jesus entrou numa sinagoga. Ali havia um homem que tinha uma mão ressequida. Então os fariseus perguntaram: É lícito curar no sábado? Jesus não responde, mas mediante perguntas ajuda os fariseus a pensar sobre as coisas práticas de sua vida como, por exemplo, os cuidados com uma ovelha que, num sábado, venha a cair numa cova. Jesus então afirma que pode curar no sábado e curou o homem da mão ressequida. Isso desagrada os fariseus, sua fúria cresce e eles decidem matar Jesus. Este se retirou, acompanhado por uma multidão doente e faminta. Ele curou muita gente, mas pediu que “não o expusessem à publicidade”. No contexto posterior (Mt 12.22ss), Jesus continua no meio da multidão, cura doentes e ensina. Os fariseus continuam ali para acusá-lo de estar curando pelo poder do demônio. Jesus deixa-os sem argumentos com seus ensinos. E a trama farisaica para matar Jesus continua.
2.2 O texto: Mateus 12.14-22
V. 14-16 – Jesus percebe a trama dos adversários e se retira dali. Ele não foge, mas se retira com sabedoria, enquanto muitos vão com ele. Como em Mateus 8.16, todos os doentes são curados. O tempo messiânico, que Mateus liga com a figura do servo de Deus, também é caracterizado por consolo, cura e restauração da justiça. O silêncio ou a não publicidade das obras é traço que caracteriza o servo de Deus no v. 19.
V. 17 – O evangelista explicita que a profecia de Isaías é cumprida em Jesus. Possivelmente a expressão “para que se cumprisse” não se refere somente aos v. 15-16, mas a toda a atividade do servo, descrita a seguir. Em Mateus, Jesus é o cumprimento da promessa profética.
V. 18 – Javé apresenta seu escolhido. Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo (Mt 3.17). Seguindo a LXX, Mateus utiliza o termo grego pais, cujo primeiro significado é “criança” e, depois, “servo”. O recebimento do Espírito também é referido no batismo de Jesus (3.16). Em Mateus 12.22-32, são apresentados atos como comprovação da presença do Espírito. O derramamento do Espírito não se dá no final dos tempos, como no judaísmo, mas no batismo, quando o céu se abre e Deus fala (Mt 3.13-17; Mc 1.9-11), e continua nas obras de Jesus. Esse texto narra que o servo amado de Javé anunciará juízo aos gentios. Juízo, nesse texto, pode ter o significado de “direito/justiça” (ordem jurídica) ou “juízo/julgamento” (sentença judicial). O caráter não seria de condenação, mas de salvação. Para Voigt (2011, p. 64), “a partir de Mateus 23.23 e do contexto em Isaías, a tradução ʻdireito/justiçaʼ parece ser mais adequada. Aqui se trata do direito de Deus, respectivamente da justiça de seu reino, que será anunciada e estabelecida em toda a terra”.
V. 19 – O contraste entre a visão humana de estabelecer a paz com armas e o caráter de humildade e mansidão do servo de Deus é chocante. Não tem guerra, nem espiritual, mas criação de comunhão mediante o compartilhamento de dores. “É a comunhão nas dores, no sofrimento da outra pessoa”, sobre a qual escreve Dietrich Bonhoeffer. Essa comunhão está prenunciada em Mateus 11.29 (Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve) e será retomado em Mateus 21.5 (Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento). É prática da renúncia à violência. Voigt (2011, p. 64) escreve que “não se trata de uma característica passiva, mas de atitude ativa que visa à promoção da paz” e de justiça em todas as relações.
V. 20 – Este versículo fala de situações humanas de vulnerabilidade, de fragilidade. Estamos de mãos vazias a suplicar por misericórdia. Como vivi a maior parte de minha vida entre pobres e miseráveis, tenho em minha mente imagens de “caniço quebrado” que não tem serventia. Um pavio que está soltando fumaça que os violentos apagam e substituem. São lixo sem valor. O Deus conosco, que pregamos no Natal, revitaliza-os. A que se referem essas imagens? Imagens deixam liberdade para interpretações. Segundo Voigt (2011, p. 64), “um Targum reproduz Isaías 42.3 da seguinte maneira: ‘humildes como uma cana dobrada não serão quebrados; necessitados como um pavio apagando não serão extintos’. Vemos aqui a ligação da imagem do caniço e do pavio com os humildes e pobres”. O servo de Deus preserva aquilo que é considerado descartável pela sociedade. Preservar tem sentido ativo, de compromisso e cuidado. Pois somente com atitude ativa o direito será conduzido à vitória. E vitória tem o sentido de reafirmação, de restituição do direito, de prática da justiça restauradora sobre toda a terra. A identificação do servo com os necessitados ficará ainda mais explícita em Mateus 25.31-46.
V. 21 – Para o educador Paulo Freire, de esperança vem esperançar, que é “se levantar, é construir, é não desistir”. Esperar significa, também, “esperança”. Mateus acentua o não desistir. A esperança de salvação para todos os povos está no nome do servo, ou seja, em Jesus, o Messias. As nações há muito tempo esperam, não desistem, têm esperança na justiça, no reino, na salvação. Até mesmo a buscam onde não a encontram: nos ídolos, nos mentirosos, nos encantadores, nos enganadores. A missão tem acentuado caráter universal. A missão dada a Israel para transmitir o direito e a salvação de Deus é assumida por Jesus. Mateus escreve para comunidades judaicas. Israel não está excluída da missão. Mas o Espírito de Deus é universal, para todos os povos e nações, de todos os tempos e lugares.
3. Meditação
A igreja celebra o fim ano eclesiástico no tempo do Domingo Cristo Rei ou Domingo da Eternidade. Conclui-se o ano e inicia-se novo ano. Então é Advento. As quatro velas para a Coroa de Advento são providenciadas. Luzes brilham para todos os lados, na igreja, na rua, na avenida, nas casas. Quando a casa estiver toda iluminada, então é Natal. Natal é quase que como um resumo das celebrações até aqui ocorridas. Para a maioria, ufa! Graças a Deus que terminou. As exceções explicam a regra. E a regra é, a partir dessas datas, sair de férias, encontrar com parentes, amigos e amigas, viajar. A maioria não se encontra mais na igreja para receber de Deus a revelação de Jesus Cristo nas trevas.
O cruzamento do fim do ano civil e o fim do ano eclesiástico levam-no a pensar no fim. O Domingo da Eternidade e o ano velho expressam o sentimento de que acabou. Acabou. Esgotou o tempo. Cultural e psicologicamente, o Advento e o Ano-Novo induzem a pensar no início ou no recomeço. No mundo fiscal e civil, a vida segue com votos de feliz ano novo. No mundo eclesial, no mundo da fé cristã, o fim ainda não chegou. É vida que segue. Ela segue com votos de missão. Os povos do Oriente que visitam Jesus, no dia 06 de janeiro, pregam a missão. Nesse sentido, Epifania é como novo tempo da missão de Deus. A luz brilha na escuridão. Deus revela Jesus, que é missionário. Vai a todos os povos, de todos os tempos e lugares. A celebração da Epifania do Senhor. A igreja celebra a festa da Epifania do Senhor.
Epifania é um termo de origem grega que significa manifestação, revelação, aparição. Celebra a manifestação de Jesus Cristo como o Messias, o filho de Deus Pai e Salvador do mundo. Recolhem-se as luzes colocadas nas igrejas e nas casas no Advento. A manifestação de Deus acontece em meio aos fatos reais da vida, por obra e iniciativa dele. A visita dos magos do Oriente (Mt 2.1-12) é a narrativa mais conhecida e utilizada nessa época. A referência aos magos indica que a revelação em Cristo alcança toda a humanidade. Também Mateus 12.14-21 testemunha a universalidade da ação de Deus em favor da humanidade ao mencionar o anúncio do direito aos gentios. A narrativa tem ligação com o evento do batismo de Jesus (Mt 3.17). Nos dois casos, a revelação do filho como o Cristo que serve é obra de Deus.
Epifania é revelação, júbilo e compromisso. A revelação de Deus traz bênção e promessa. O primeiro ato revelador é a criação. Deus revela sua vontade com palavras criadoras: Disse Deus: haja luz; e houve luz (Gn 1.3). E tudo o que Deus fez era bom! Ao ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, foi confiada a tarefa de cuidar da criação divina.
Deus revela-se a Abraão com a promessa de grande descendência e de uma terra que produz com fartura. E lhe diz: Sê tu uma bênção! [...] em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gn 12.2-3).
Deus revela seu nome a Moisés com a perspectiva de libertação do povo da escravidão no Egito. Deus faz uma aliança com Israel para, em seu meio, revelar sua justiça. Revelação é ato de misericórdia.
Deus se revela a profetas e profetisas. Vai e anuncia. Não digas “sou criança”, porque eu estarei contigo, diz ele para Jeremias. Tenho que andar, tenho que falar, tenho que gritar, ai de mim se não o faço, testemunha o profeta. Sai detrás do arado e vai anunciar minha justiça à cidade, diz Deus para Amós. Deus se revela, acolhe, consola, abençoa e envia para a sua missão.
Com a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não há somente um povo eleito. Todos os povos podem fazer parte da nova aliança. O mistério, que estivera oculto há séculos das gerações, agora se manifestou sem restrições (cf. Cl 1.26). Faria bem, na época de Epifania, acentuar o caráter universal da graça de Deus. A missão de Deus é para o campo, para a favela, para o bairro periférico e pobre, para o centro da cidade, para o morador em situação de rua, para o rico. Assim como não está restrita a um só povo, a revelação de Deus não está restrita a uma igreja ou a um grupo determinado. O texto para a prédica fala da revelação do servo de Deus a todas as nações. Trata-se do servo de Deus. E esse servo recebeu o Espírito de Deus e promulgará o direito de Deus.
Em Jesus, a manifestação de Deus assume uma forma concreta de ser humano. A concretude da manifestação não está apenas na forma humana. Ela está no objetivo e no modo de agir. O servo veio promulgar e fazer vitorioso o direito de Deus. Não é um direito que quebra e destrói, mas que levanta e resgata dignidade. É o direito que se coloca junto do fragilizado. Jesus está no fragilizado. Diante de uma situação de sofrimento, a atuação de Deus representa amparo e cuidado. A atividade de Jesus Cristo demonstra que a graça e a misericórdia são elementos centrais da revelação divina. O servo é a encarnação da missão de Deus. A comunidade, a igreja, em seus diferentes grupos e setores, têm uma tarefa missionária.
Há, pelo menos, quatro pontos que a comunidade pode articular no seu planejamento missionário, segundo Voigt. Eu faço um resumo breve desses pontos.
1. A revelação – Eis aqui o meu servo, que escolhi (v. 18).
2. A capacitação – Farei repousar sobre ele o meu Espírito (v. 18).
3. A tarefa – Anunciará o direito aos gentios (18); fará o direito triunfar (v. 20). O direito de Deus será vencedor à medida que se estabelecer na terra, ou seja, quando as pessoas praticarem a justiça e a misericórdia, a exemplo do servo de Deus.
4. A forma de atuação – Não contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz (v. 19); não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega (v. 20).
4. Pregação
As considerações exegéticas e a meditação fornecem algumas informações significativas para a pregação. Fiz encontros com base bíblica no texto da pregação. A mensagem considerou cinco pontos.
4.1 A revelação
É Deus quem aceita, revela e coloca na “comunhão dos santos” (Bonhoeffer) seu servo, sua serva. Importante mencionar o Batismo, quando Deus fala, age e cria vida e salvação, que é processo que se realiza em comunidade e no testemunho de vida cristã. Como sua comunidade pode realizar essas obras, no envio de Deus?
4.2 A luz em nossa vida
Certamente, já tivemos muitas experiências de escuridão, quando era noite e não enxergávamos nada. Muitos pensamentos e medos vêm à memória de quem se encontra na escuridão. São medos reais e imaginários. Mas também existe escuridão quando não se tem perspectiva, sonhos não realizados, separações, agressões e o fim de convívios sonhados, mas não realizados. A luz em nossa vida significa que estamos sendo chamados das trevas para a maravilhosa luz (1Pe 2.9-10), feitos sacerdotes de Deus, comunidade de Jesus, para viver a misericórdia e o amor, viver e proclamar as virtudes do servo de Deus, que nos chamou da trevas para a luz. Como a comunidade pode viver publicamente essa fé libertadora?
4.3 A experiência da comunidade com pessoas que sofrem
Quem são as pessoas que sofrem em nossa comunidade e nossa vizinhança, cidade, município? Qual é nossa postura diante do sofrimento de outras pessoas, do próximo? Três aspectos são importantes para a diaconia e a missão junto a pessoas que sofrem: 1. Amar o povo, a cidade, o bairro, a favela, o hospital. 2. Conhecer a realidade. A gente ama somente aquilo que conhece. Fazer o levantamento de maior quantidade e qualidade de dados possíveis, na sinceridade. 3. Ter um projeto claro de trabalho. 4. E mãos à obra. Nada é fácil, mas a vida vale a pena.
4.4 Retirar-se para o outro lado
Em muitos momentos significativos para a vida e salvação que Jesus nos proporciona consta que ele se retirou. “Afastou-se dali”. E anunciou o projeto de Deus (Mt 12.18-21). Jesus fez a travessia. A comunidade de Jesus também faz travessia quando decide escutar mais Deus do que outros valores e outras coisas, quando decide obedecer a Deus (At 5.29). A travessia para o outro lado leva a misturar-se com o povo (Mt 12.22ss).
4.5 A missão – viver o Evangelho: empatia, compaixão e comunhão
Nossa comunidade é comunidade que Jesus resgatou e fez dela sua obra de vida e salvação. Faz bonito: como é bonito ver um mensageiro correndo pelas montanhas, trazendo notícias de paz, boas notícias de salvação! (Is 52.7). Seu testemunho é transparente e vivo. Não tem nada a temer nem a esconder. Escutem os gritos dos vigias! Eles gritam de alegria [...] (Is 52.8-9). Deus é para todos os povos. Em seu nome esperam os gentios (Mt 14.21). Na presença de todas as nações, o Deus vai mostrar o seu santo amor. O mundo inteiro verá que foi o nosso Deus quem nos salvou (Is 52.10). O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, foi agora manifesto a seus santos (Cl 1.26). A comunidade recebe, por graça de Deus, o direito de honrar e glorificar Deus em todas as suas relações sociais e comunitárias. Viver o Evangelho em casa, na igreja, no trabalho, na sociedade.
5. Auxílios litúrgicos
Temos que aprender a olhar as pessoas menos pelo que elas fazem ou deixam de fazer e mais pelo que elas sofrem. A única relação fecunda com as pessoas, especialmente com as fracas, é a do amor, isto é, a vontade de ter comunhão com elas. O próprio Deus não desprezou os seres humanos, mas tornou-se ser humano por causa deles (BONHOEFFER, 2003, p. 35).
Kyrie
Quanto sofrimento no mundo por causa da Covid-19! Quantas pessoas faleceram? Quanta dor! Quanto luto! Até quando, Deus? Jesus diz: Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (Mt 5.7). Deus é bom, Deus cuida. Que bom que o sofrimento e a morte não são o fim. Tem vida, agora e depois. E nós, amados e perdoados, humanizados e reconciliados por Deus, queremos, agora, lembrar e trazer diante de Deus as dores do mundo. Suplicamos pelas pessoas que vivem na escuridão, são escravizadas pelo medo, pela escuridão da ignorância, pelo poder que escraviza, por ameaças, pela fome, pelo desemprego, pelos diversos tipos de drogas, por seus problemas não resolvidos e pelas doenças, pelos seus remorsos e rancores. Pensamos, especialmente, nas mães e crianças que estão em situação de vulnerabilidade. Pelos casais e pelas famílias que vivem em confrontos, pelas famílias que têm pessoas doentes em casa ou no hospital, pelas famílias enlutadas. Deus, colocamo-nos à tua disposição para sermos apoio solidário para as pessoas que são vítimas. Que o Senhor esteja com elas ali onde elas se encontram. Dá-lhes, Senhor, a felicidade, a paz e vida digna.
Glória in excelsis
Melhor é buscar o refúgio no Senhor do que confiar nas pessoas, do que confiar em príncipes e reis (Sl 118.8-9). Jesus nos consola, dizendo: Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois as tratará como seus filhos (Mt 5.9). Nós, certamente, estamos felizes, porque Deus escuta nossas orações, nossas súplicas e motivos de agradecimentos e louvor. Queremos reconhecer, agradecer, dar glória e louvor ao Senhor com as palavras de gratidão e alegria, cantando todos juntos: Glória (LCI, 70).
Oração do dia
A misericórdia de Deus dura para sempre (Sl 118.2-3). Querido Deus, nosso sofrimento pessoal nos leva a chorar de dor e nos encolher de medo quando experimentamos doença, ansiedade ou a morte das pessoas que amamos. Ensina--nos a confiar em ti. Que a tua comunidade pratique gestos e sinais do teu cuidado divino. Faze de nós verdadeiros discípulos e discípulas de teu Filho, que nos ensinou a ouvir a tua Palavra e a servir uns aos outros e umas às outras. Confiantes te pedimos isso em nome de teu amado Filho e pelo poder do Espírito Santo, que vive e governa agora e sempre. Amém.
Bibliografia
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São Leopoldo: Sinodal, 2003.
MESTERS, Carlos. A missão do povo que sofre. São Paulo: Vozes, 1981.
VOIGT, Emilio. Mateus 12.14-21: Auxílio Homilético. In: HOEFELMANN, Verner (Coord.). Proclamar Libertação 36. São Leopoldo: Sinodal; EST,
2011. p. 63-68.
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