Advento - Natal - Epifania



ID: 2655

João 1.29-42 - 2° Domingo após Epifania - 15/01/2023

Auxílio Homilético

15/01/2023

 

Prédica: João 1.29-42
Leituras: Isaías 49.1-7 e 1 Coríntios 1.1-9
Autoria: Astor Albrecht
Data Litúrgica: 2° Domingo após Epifania
Data da Pregação: 15/01/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

 

Surpreendidos!

1. Introdução

O texto de leitura de Isaías 49.1-7 é o segundo dos chamados “cânticos do servo”, que caracterizam essa parte do livro de Isaías. A identidade desse servo não está bem definida. Às vezes, parece ser o povo todo; às vezes, um indivíduo do meio do povo. Segundo o Novo Testamento, o que essas passagens dizem do servo cumpre-se em Jesus Cristo. Aqui, quem fala é o próprio servo, que se dirige a todos os povos do mundo. A missão do servo é ser luz para todos os povos (v. 6).

1 Coríntios 1.1-9 contém uma saudação e uma oração de gratidão a Deus pela graça concedida para essa comunidade. Os membros da igreja receberam de Deus tudo o que precisavam para viver uma vida dedicada ao seu serviço (v. 5). Dessa maneira, o evangelho é confirmado através do testemunho que é dado pela igreja. A igreja tem uma missão e, para isso, seus membros são santificados em Cristo Jesus (v. 2), isto é, são separados por Deus para um propósito especial.

O texto de pregação trata do ministério de João Batista, o início do serviço de Jesus e os seus primeiros discípulos. O encontro de Jesus com João Batista é apresentado como um episódio grandioso, que surpreende: João Batista não o conhecia (v. 31, 33), agora o conhece e sobre ele dá firme testemunho. Muito antes da cruz, João Batista aponta para Jesus como aquele que tira o pecado do mundo (v. 29). Ele é o “cordeiro” que Deus mesmo preparou para a salvação de todas as pessoas. Assim se expressa a magnitude abrangente do sacrifício de Jesus.

2. Exegese

No dia seguinte (v. 29), é um dia depois que João teve o encontro com a delegação de Jerusalém (v. 19-28), que veio lhe perguntar quem ele era e qual sua missão. Quando João começou a anunciar a chegada daquele que vem, ele ainda não o conhecia; agora, como irá explicar, já pode identificá-lo como uma pessoa específica. A descrição com que saúda Jesus é surpreendente! Para nós, a caracterização de Jesus como o cordeiro de Deus é conhecida. Mas como terá soado a quem a ouviu pela primeira vez? Há quatro imagens que podem contribuir para entendermos o que João anunciava ao usar esse título para Jesus: 1) João poderia estar pensando no cordeiro pascal: o sangue do cordeiro sacrificado tinha protegido a casa dos israelitas na noite em que abandonaram o Egito (Êx 12.11-13). Paulo também pensava em Jesus como o cordeiro pascal (1Co 5.7). 2) No ritual do templo, cada manhã e cada tarde, era sacrificado um cordeiro pelo pecado do povo (Êx 28.39-42). 3) Há duas grandes imagens do cordeiro nos profetas. Jeremias escreve: Eu era como manso cordeiro, que é levado ao matadouro (Jr 11.19). E Isaías tem a grande imagem daquele que foi levado como cordeiro ao matadouro, e que se deu como oferta pelo pecado (Is 53.7,10). Esses dois profetas tiveram a visão de alguém que redimiria o seu povo mediante seus sofrimentos e seu sacrifício. 4) Ouvintes de João poderiam estar familiarizados com figuras apocalípticas em que o campeão messiânico era retratado por um cordeiro. No Apocalipse, Jesus é o cordeiro que obteve a vitória ao ser morto e prover a redenção (Ap 5.6-14). O cordeiro de Deus converteu-se em um dos títulos mais apreciados para designar Jesus: resume o amor, o sacrifício, o sofrimento e o triunfo de Cristo. Ele é o que tira o pecado do mundo (v. 29): Jesus é o “cumprimento” daquilo que os cordeiros sacrificiais de Israel apenas prenunciavam. Ele é o cordeiro que o próprio Deus oferece e, por isso, é capaz de realizar o que nenhum sacrifício humano consegue: levar embora o pecado.

O testemunho de João no v. 30 é o mesmo do v. 15. Antes, João falava em termos gerais, agora pode apontar para aquele que vem depois de mim (v. 15). João fala de seu ministério de batismo como se fosse uma cortina que se abre para a revelação pública daquele que vem (v. 31). Esse é o único evangelho que não diz claramente que João batizou Jesus. O que temos aqui é o testemunho de João a respeito do que ele viu naquela ocasião (v. 32-34). João repete que não sabia quem seria aquele que vem até aquele momento, mas reconheceu o sinal do qual Deus lhe tinha falado quando viu a pomba descer sobre ele. Agora aparece o contraste com o testemunho de João Batista a respeito de si mesmo: eu vim batizando com água (v. 31, 33), o vindouro batiza com Espírito Santo (v. 33). Seu batismo não é mero sinal, como se Deus ainda tivesse que confirmar e completar. Seu batismo confere a salvação e a nova vida em realidade plena, ao suceder no Espírito e conceder o Espírito. Jesus é o que regenera a humanidade no Espírito Santo. A descida da pomba confirmou para João a verdade, que, ao mesmo tempo, foi anunciada pela voz do céu, Jesus é o Filho amado de Deus. Esse título expressa o relacionamento essencial que ele tinha com Deus como seu Pai.

João Batista aponta para além de si mesmo (v. 35), e dois de seus discípulos seguem a Jesus (v. 37). Era André (v. 40) e o outro era João, que não cita seu nome, como faz em todo o evangelho. Jesus percebe que o seguem e volta-se para eles (v. 38). Aqui temos um símbolo da iniciativa divina: sempre é Deus quem dá o primeiro passo! Quando a mente humana começa a procurar e o coração humano começa a desejar, Deus vem ao nosso encontro muito mais que a metade do caminho. “Nós nem sequer teríamos podido começar a procurar a Deus se Deus não nos tivesse encontrado antes” (Agostinho). Quando nos dirigimos a Deus, não vamos ao encontro de alguém que se esconde e se mantém a certa distância; nós nos dirigimos a alguém que nos está esperando e que inclusive toma a iniciativa ao sair e nos encontrar no caminho.

Que buscais? (v. 38). Essa palavra tão simples é a primeira palavra no evangelho que ouvimos dos lábios de Jesus. A palavra eterna pode falar de forma tão objetiva e neutra! Contudo, a pergunta é, ao mesmo tempo, cheia de profundidade e poder. Será que vocês realmente já sabem o que querem? Vocês sabem o que estão buscando junto de mim e o que pode ser achado em mim? Isso foi às 16 horas. Trata-se de um testemunho pessoal de quem estava ali (João). Vinde e vede, foi o convite de Jesus. Não é relatado o que viram e nem o que Jesus lhes disse, mas foi o suficiente para convencê-los de que João Batista não estava enganado: Jesus era de fato aquele que vem, o Messias esperado (v. 41). Notícias tão maravilhosas não podiam ser guardadas para si; outras pessoas precisavam saber delas.

Ele achou primeiro (v. 41) está baseado em alguns manuscritos gregos que trazem a palavra prōton, que significa primeiro. Em outros manuscritos aparece prōi, que significa cedo pela manhã. A segunda versão se encaixa mais ao relato, ao ver esse evento ocorrendo no dia seguinte. André fala para seu irmão Pedro que encontrou o Messias. João explica essa palavra hebraica para ajudar seus leitores gregos, a quem escrevia, a compreender melhor: Messias (hebraico) e Cristo (grego) são a mesma palavra e significam ungido.

Quando André levou Pedro até a presença de Jesus, este o olhou (embleptein) (v. 42): essa palavra descreve um olhar concentrado, profundo. Significa o olhar que não se limita a ver as coisas superficiais, mas sim que vê dentro do coração. Jesus não só vê o que a pessoa é, mas também no que ela pode se tornar. Não vê somente a pessoa no momento atual, mas também suas possibilidades. Jesus “vê” de modo bem diferente do que nós: vê numa pessoa aquilo que ele mesmo visa fazer e fará dela. Jesus fala para Simão a mudança de seu nome: de Simão para Cefas, que quer dizer Pedro. Pedro é a palavra grega e Cefas a palavra aramaica que significa rocha. A mudança de nome assinala uma nova relação com Deus, como se a vida voltasse a começar.

3. Meditação

Somos surpreendidos quando temos ou somos alvo de uma grande surpresa. Ficamos espantados com alguma coisa inesperada. Pode ser que no seu aniversário poucas pessoas ligaram para cumprimentá-lo e, ao chegar em casa, uma festa surpresa foi preparada! Seus amigos e suas amigas estavam aguardando, ansiosos, você chegar! Você se surpreende! Fica feliz! Emocionado! Cada uma dessas pessoas está num lugar especial em seu coração.

A vida precisa de boas surpresas! Imagino isso como se estivesse à noite por duas horas sem energia elétrica. Então, de repente, a energia elétrica volta e a casa fica cheia de luz. Que bom! Agora posso fazer melhor minhas tarefas e a criança pequena não está mais com medo. Foi uma boa surpresa. Também faz bem para a vida cristã esse ingrediente de surpresa! Ver-se como uma pessoa surpreendida por Deus e, ao mesmo tempo, surpreender outras pessoas com o que Deus tem para lhes dar. Nós, de fato, ocupamos nesta história um lugar muito especial. Nossa vida não é qualquer esboço, mas uma bela história com grandes surpresas.

Não percamos a essência de que o evangelho é boa notícia. Jesus é aquele que viria. É o prometido de Deus! Ele é o ungido, o escolhido por Deus que traz vida e salvação. Jesus é aquele que surpreende! Ele vem ao nosso encontro e transforma a vida. O Evangelho de João relata vários encontros de como as pessoas foram surpreendidas pelo Senhor. Por exemplo, podemos lembrar quando acabou o vinho na festa de casamento e Jesus surpreendeu o mestre-sala (Jo 2.10); surpreendeu Nicodemos ao lhe falar das verdades do Reino de Deus (Jo 3.4); surpreendeu a mulher samaritana que falou de Cristo para sua cidade (Jo 4.28-29); o que foi feito de cinco pães e dois peixinhos foi maravilhoso (Jo 6.9,11); a surpresa de Maria Madalena diante de Jesus que venceu a morte (Jo 20.16); o próprio Tomé que passou da incredulidade para a fé (Jo 20.28).

Perceber-se como uma pessoa surpreendida pela graça e pelo amor de Jesus deveria estar sempre bem firmado no coração. Toda a história e o evento de 
nossa redenção nunca devem se limitar a afirmações dogmáticas, trata-se, antes de todas as coisas, daquele que veio ao nosso encontro. Que nos amou primeiro! Que nos alcançou, perdoou e dá vida nova! Assim como o Senhor, ao olhar para  Pedro, viu o seu coração, assim também seu olhar nos alcança e dá direção à vida. Dá-nos um lugar muito especial na obra de Deus. Por isso, na comunidade cristã ninguém deveria sentir-se menor nem maior que seus irmãos e irmãs. Fomos alcançados pelo mesmo Senhor e Salvador. Precisamos de Cristo! A fé, a esperança e o amor que experimentamos tem sua origem em Cristo que nos enriquece para darmos bom testemunho a seu respeito (1Co 1.5).

Como consequência de sermos surpreendidos por Cristo, temos o chamado para surpreendermos o nosso próximo. Depois de ser encontrado e surpreendido por Jesus, no dia seguinte, André logo falou com seu irmão Pedro a respeito dele. André assumiu esse serviço e levou Pedro até Jesus. Veja como cada crente pode prestar um serviço decisivo para seu próximo. Lembro-me de uma senhora que toda semana participava da OASE. Ela contou que, enquanto esperava o ônibus na parada, conversou com uma senhora. Percebeu que ela estava triste e conversaram a respeito. Ao final, disse que estava indo para a igreja e a convidou a ir também. Que lá ouviria a palavra de Deus, poderia conversar e orar por sua vida. Ela foi junto. O que aconteceu depois? Ela começou a participar do grupo. Mas, independente disso, importa que o testemunho foi dado e a comunhão na igreja testemunhou a respeito de quem é Cristo. Ali, naquele encontro e naquela comunhão, uma pessoa foi surpreendida.

Será que, às vezes, não somos críticos demais? Normativos demais? Quando tudo precisa estar dentro de uma caixa sobre a qual eu tenho controle, será que ainda resta possibilidade de ser surpreendido? Será que a pergunta: Que buscais? (v. 38), não deveria dar oportunidade ou prioridade à necessidade de quem busca? Será que o convite vinde e vede (v. 39) não deveria nos reunir mais em torno de Cristo e sua vontade? Não seria justamente um pouco mais de Jesus, aquele que foi dado como luz para os gentios (Is 49.6), que o mundo descrente precisa ver no povo do Senhor?

A sugestão é partilhar a imagem para a prédica. Destacar que cada irmão e irmã em Cristo é alguém surpreendido pelo amor e graça de Deus. É bom lembrar isso, tal como Paulo lembrou os membros da comunidade de Corinto em sua oração. Assim também, individualmente e como igreja, nosso chamado é passar adiante o que temos recebido do Senhor. Vamos surpreender? O Espírito Santo assim nos ajude. Amém.

4. Imagens para a prédica

A comunidade de Corinto enfrentava problemas. Paulo trata de assuntos como imoralidade na igreja, processos na justiça contra irmãos na fé, dons do Espírito Santo que estavam causando dificuldades. Mas ele inicia com louvor e gratidão a Deus. Ele próprio não deixa de ver as coisas boas e também chama a igreja para deixar-se surpreender pela graça de Deus. Segue uma ilustração com uma referência a uma história do Antigo Testamento.

Claudia insistiu com seus filhos para que acreditassem que valia a pena colocar o equipamento de mergulho e espiar o fundo do mar. Depois do mergulho, eles emergiram e falaram cheio de surpresa: “Há milhares de peixes de todos os tipos! É lindo! Nunca vimos peixes tão coloridos!”. Como a água parecia com a de um lago que tinham perto de casa e que era por eles conhecido, achavam que ali não tinha nenhuma novidade. Se não tivessem mergulhado, teriam perdido a beleza escondida sob aquela superfície.

Quando o profeta Samuel foi a Belém para ungir um dos filhos de Jessé como próximo rei, ele viu o mais velho, Eliabe, e impressionou-se com a sua aparência. Ele pensou que já havia encontrado a pessoa certa, mas o Senhor via de modo diferente. Deus lembrou a Samuel: O Senhor não vê as coisas como o ser humano as vê. As pessoas julgam pela aparência exterior, mas o Senhor olha o coração (1Sm 16.7).

Samuel, então, perguntou se havia mais filhos. Davi, o mais novo, não estava ali, pois cuidava das ovelhas. Ele foi chamado e o Senhor ordenou que Samuel o ungisse. Podemos olhar para nós mesmos ou para as outras pessoas de forma superficial e, com isso, não nos dar conta da beleza interior. Nem sempre valorizamos o que Deus valoriza. Mas se tomarmos tempo para espiar debaixo da superfície, poderemos encontrar um grande tesouro.

5. Subsídios litúrgicos

Sugestão de palavra inicial e versículo de acolhida: Surpresa é reagir a algo inesperado. Pode haver situações que nos surpreendem de forma positiva ou negativa. Podemos ser pegos de surpresa por um fato que estava fora dos planos. Da mesma forma, podemos ser surpreendidos com uma notícia redentora ou por um milagre que muda a nossa sorte. Só Deus tem a capacidade de nos surpreender de verdade. Quando tomamos ciência de que Jesus se entregou para nos redimir do pecado e nos livrar da morte eterna, somos pegos de surpresa por esse amor! Surpresa maior é sabermos que ele fez tudo por nos amar! Felizes somos ao crermos e reconhecermos o seu sacrifício. Acolhemos vocês neste culto com as palavras de João 5.20: Pois o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que está fazendo. E vai mostrar a ele coisas ainda maiores do que essas, e vocês vão ficar admirados.

Sugestão de hinos: Amanhecer – LCI 341; Deus está presente – LCI 14; Alto preço – LCI 601; Foi na cruz – LCI 585; Tal qual estou – LCI 587.

Bibliografia

BÍBLIA DE ESTUDO NOVA TRADUÇÃO NA LINGUAGEM DE HOJE. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
BOOR, Werner de. Evangelho de João. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002. (Comentário Bíblico Esperança).SCHLATTER, Adolf. Das Evangelium nach Johannes. Stuttgart: Calwer Verlag, 1987.


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Autor(a): Astor Albrecht
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 29 / Versículo Final: 42
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69441

AÇÃO CONJUNTA
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pami
fe pecc

Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Tiago 2.17
REDE DE RECURSOS
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Orar é a obra mais primorosa, por isto é tão rara.
Martim Lutero
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