Advento - Natal - Epifania



ID: 2655

Isaías 7.10-16

Auxílio Homilético

22/12/2019

 

Prédica: Isaías 7.10-16
Leituras: Mateus 1.18-25 e Romanos 1.1-7
Autoria: Wilhelm Sell e Simone Falk Sell
Data Litúrgica: 4º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 22/12/2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIV

Chamados e chamadas a confiar

1. Introdução

Estamos no 4º Domingo de Advento, preparando-nos para o Natal. É época de presentes, luzes, enfeites e também de planos sobre como será festejada uma das datas mais importantes do calendário cristão: o nascimento de Jesus Cristo. Celebra-se a inauguração do reino de Deus, bem como se anuncia, em perspectiva escatológica, seu retorno, sua segunda vinda.

Para este final de semana, ao encerrarmos o ciclo do Advento, já nos últimos preparativos para o Natal, somos levados a três textos bíblicos. O previsto para a pregação está em Isaías 7.10-16. Nessa passagem, Deus chama, por meio do profeta Isaías, o rei Acaz a um ato de fé. Em Romanos 1.1-7, o apóstolo Paulo denomina as pessoas da comunidade de fé em Roma como chamadas para pertencerem a Jesus Cristo. No Evangelho de Mateus 1.18-25, temos o relato de Deus que vem a José por meio de um sonho e o consola com o fato de que o filho que Maria está esperando não é resultado de uma traição, mas da própria obra de Deus. Assim como Maria foi chamada a confiar em Deus, agora José é chamado a confiar nele.

É possível dizer que os três textos convergem numa mesma direção: Deus não abandona o povo e o chama, e seu chamado implica uma escolha: confiar ou não. Deus respeita a liberdade na qual a pessoa foi criada.

2. Exegese

O texto de Isaías está inserido no bloco do Proto-Isaías (Is 1 – 39). Nesse bloco, Deus é entendido como o Senhor soberano que vem para ajuizar seu povo (Is 3.1-15; 5.1-24; 6; 9.7 – 10.4; 22; 30.1-5; 31.1-3). Para isso, ele se serve dos povos, mesmo que nem por isso eles estejam eximidos de sua culpa (Is 5.26-29; 10.5-9,24-27; 11.11-16; 13-19; 20-21; 23; 28.1-4; 29.1-10; 30.27-31; 31.4-9). O juízo permanece nesse contexto como o tema principal. No entanto, em meio a esse juízo, permanecem as grandes promessas de Deus.

Especificamente as profecias dos capítulos 7 – 9.7 datam do período do rei Acaz, principalmente da época da guerra siro-efraimita. É possível pensar nos anos 734-730 a.C. Esse bloco é chamado de “livro de Emanuel”, justamente por causa da profecia que consta em 7.14.

Na primeira parte, que compreende os versículos 1-9, Deus está como aquele que exige o exercício da fé. Há no contexto uma tensão política por causa do avanço dos assírios. A fim de evitar a dominação dos assírios, Israel (Efraim) e Síria (Arã) fizeram uma aliança para se fortalecer. Objetivaram também agrupar Judá e, por essa razão, tentaram um acordo com o rei Jotão, pai de Acaz, mas não obtiveram sucesso. Outra tentativa é feita quando Acaz se torna rei, mas o jovem rei também recusou. Assim, planejavam tirar Acaz do poder e colocar em seu lugar Tabeel (provavelmente um sírio; em todo caso alguém que simpatizava com os sírios). Diante dessa situação, Acaz pensa em pedir ajuda a Tiglate-Peleser, o rei dos assírios.

É diante dessa situação que Isaías vai falar com o rei Acaz em nome do Senhor. Segundo Kamp, não sabemos onde ficavam exatamente o “aqueduto do açude superior” e o “campo do lavadeiro”; em todo caso, Acaz está verificando o abastecimento de água de Jerusalém, naquela época o ponto fraco da defesa da cidade (mais tarde, o rei Ezequias mudou o sistema de transporte de água – 2 Reis 20.20; 2 Crônicas 32.30). Isaías tem que levar seu filho Um-Resto-Volverá. Esse menino é uma “pregação andante” para o povo por causa de seu nome (cf. 10.20-22), que é um resumo da pregação profética de seu pai: Deus vai castigar seu povo pecaminoso e desobediente, de tal maneira que “apenas um resto volverá; mas o nome também mostra que, ‘contudo, um resto volverá’ e será salvo” (cf. 6.9-13) (KAMP, 1987, p. 34).

Deus chama Acaz a confiar na sua promessa. Ele havia garantido a continuação da dinastia de Davi (2Sm 7). Por essa razão, ele protegerá Judá/Jerusalém. No versículo 4 é dito a Acaz: acautela-te e aquieta-te!. Expressão usual usada para dizer que Deus peleja junto com seu povo (Dt 20.1-4). Portanto, mesmo diante de todas as ameaças e de todos os indícios contrários, Deus dá a sua garantia, ele é quem tem a última palavra. Acaz é chamado a crer. Deus exige fé, mesmo contra a aparência de todos os fatos. Crer é não ver e, mesmo assim, ter fé (Jo 20.29). Crer é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem (Hb 11.1). De outro modo, não crer trará suas consequências: acontecerá a Acaz o mesmo que acontecerá a Israel.

Assim, chegamos ao texto em questão. Deus, por meio do profeta Isaías, faz a Acaz uma promessa e, em seguida, quer dar um sinal para confirmar sua promessa. Algo semelhante com o que encontramos em Gênesis 15.1-6,7-21. O rei pode pedir qualquer sinal a fim de confirmar a veracidade da promessa de Deus. Deus se esforça para vencer a incredulidade de Acaz e para legitimar Isaías como seu profeta. Mas Acaz, teimoso, se recusa (v. 12). Seu interesse não está na palavra de Deus, nem em suas garantias, mas está em suas próprias convicções e demonstração de força. Acaz, assim, troca as garantias de Deus pela aliança com os assírios.

A situação gera revolta em Isaías: Ouvi, agora, ó casa de Davi: acaso, não vos basta fatigardes os homens, mas ainda fatigais também ao meu Deus? (v. 13). No versículo 14, surge então a profecia de Isaías sobre um sinal que Acaz não poderá negar: uma virgem ficará grávida e ela dará à luz um filho, que receberá o nome de Emanuel, ou seja, Deus conosco. Na perspectiva da história, esse sinal pertence a Acaz. Por isso, à primeira vista, a virgem que Isaías pensa será para o rei demonstração do poder de Deus. A mulher será demonstração de uma pessoa com fé em Deus, como alguém que confia de todo o coração que ele cumprirá todas as suas promessas. Na perspectiva da igreja, há aqui uma profecia que vai além da história e da experiência de Acaz. Maria torna-se também exemplo de alguém que confia plenamente em Deus, apesar de todas as circunstâncias e de todas as consequências diante de sua situação. A passagem bíblica de Mateus demonstra o cuidado de Deus ao resolver as dúvidas de José.

Nos versículos 15 e 16, Isaías fala da prosperidade (manteiga e mel) do menino Emanuel. Mas antes que ele saiba discernir entre o bem e o mal, será desamparada a terra daqueles reis diante dos quais o povo treme de medo. Ou seja, a falta de confiança se desdobrará em severas consequências políticas para o rei e todo o seu povo. Assim, para Acaz, a virgem e seu filho são sinais contínuos da sua incredulidade e das consequências dessa.

3. Meditação

Como linha de reflexão, proponho dois pontos que o próprio texto traz: a) o convite de Deus à confiança; b) Deus promete que, apesar da desconfiança de Acaz, ele é Deus conosco.

a) Confiança x desconfiança: Deus nos convida a confiar! Mesmo em meio às intempéries da vida, quando o caos e o desespero estão próximos, Deus nos convida a confiar. Nossa desconfiança é desastrosa. Ela muitas vezes nos leva a situações ainda piores. Porém Deus é conosco. É o que vemos a partir do texto previsto para a reflexão deste domingo.

O rei Acaz está numa situação difícil, em grande medida fruto de sua teimosia. Está sendo ameaçado por reis vizinhos que querem invadir e anexar seu território a fim de se protegerem dos assírios. Mas, no seu desespero, ele pensa em buscar ajuda com o rei da Assíria, servindo de corredor para a guerra contra aqueles que querem tomar seu território. Ele se esforça para garantir seu lugar. No meio dessa situação caótica lhe vem a palavra de Deus por meio de Isaías, convidando-o a confiar exclusivamente em Deus, sem fazer alianças políticas para resolver seus problemas. Nos versículos que antecedem o texto previsto, a palavra de Deus encontra Acaz e diz: Acautela-te, e aquieta-te; não temas, nem se desanime o teu coração por causa destes dois pedaços de tições fumegantes (Is 7.4). Diante do poder de Deus, os maiores problemas de Acaz não passam de tições fumegantes.

Num contraponto com nossa realidade pessoal, em tempos de preparação para o Natal, quando tudo parece tão agitado, é momento para refletir sobre qual é a nossa postura pessoal diante dos problemas e das dificuldades que muitas vezes nos dominam, invadem nosso coração e nos subjugam. Pelo agir do Espírito Santo, a palavra do profeta Isaías para Acaz pode ser também palavra de Deus para o nosso tempo. O convite de Deus para que tenhamos confiança nele continua de pé. Ele continua sendo Deus poderoso, diante de quem nossos maiores problemas ou conflitos não passam de tições fumegantes.

Fato é que semelhante a Acaz, em grande medida, também nós queremos nos garantir, resolver nós mesmos, fazendo alianças com nosso próprio ego, com pessoas, com a cultura que nos cerca. Não queremos incomodar ou colocar Deus à prova com nossas questões. Mas fazemos isso porque lá no fundo o que reina é a desconfiança. Queremos de qualquer forma dar o nosso jeito. Mesmo como pessoas cristãs, que querem de todo o coração confiar em Deus, em muitas situações, acabamos caindo na descrença e na desconfiança. Nesse contexto, a confiança é sinal de fé, enquanto a desconfiança é sinal de pecado. A conclusão mais óbvia a partir disso é: desconfiança gera caos, desordem, afastamento, solidão, desespero.

b) Deus conosco: Aqui entramos no segundo ponto, Deus não nos abandona. Já para Acaz e para o povo, mesmo diante da sua resposta negativa, Deus mostra um raio de esperança, que vem de um menino que há de nascer de uma virgem. Emanuel, que significa Deus conosco. No tempo de preparo para o Natal somos lembrados exatamente disto: Deus, em Jesus Cristo, está conosco. O próprio autor da história entra nela para se envolver com os problemas da humanidade e, consequentemente, com os problemas de cada um e uma de nós. Natal nos lembra de que Deus está conosco em toda e qualquer situação. Advento é tempo de parar para ouvir a voz de Deus, que vem ao nosso encontro e diz: “Não te preocupe, não tenha medo, te aquiete!”. Também no texto do evangelho vemos que José foi convidado a não temer, a confiar, e assim o fez. Confiar na voz de Deus trouxe a José a paz necessária para receber Maria como esposa, e assim ser lembrado até hoje. Deus confiou seu próprio Filho aos seus cuidados.

Quando Deus se faz presente, as trevas se dissipam. Estamos no 4º Domingo de Advento. As quatro velas estão acesas. A luz é plena, forte. Deus é conosco. Seu convite à confiança permanece! Aquiete o seu coração, confie! Em confiança podemos experimentar muito mais da vida e do cuidado de Deus.

4. Imagens para a prédica

Martin Luther King afirmou: “Eu tive muitas coisas que guardei em minhas mãos, e as perdi. Mas tudo o que eu guardei nas mãos de Deus, eu ainda possuo”.

Martim Lutero escreveu: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. Não deposito minha confiança em pessoa nenhuma deste mundo, nem em mim mesmo, tampouco em minha força, capacidade, bens, piedade ou qualquer outra coisa que eu possua. Não confio em criatura nenhuma, quer no céu, quer na terra. Considero e confio tão somente no Deus único, invisível, incompreensível, que fez os céus e a terra, e que está acima de todas as criaturas. Também não me assusta a maldade do diabo e sua companhia, pois meu Deus está acima de todos eles. Creio em Deus, mesmo que todos me abandonem ou persigam. Continuarei crendo, mesmo que eu seja pobre, tolo, ignorante e desprezado e careça de tudo. Eu creio, mesmo sendo pecador. Pois essa minha fé deve e precisa estar acima de pecado e virtude, acima de tudo o mais, para que a fé se apegue única e exclusivamente a Deus, como insiste o primeiro mandamento”.

Também não desejo nenhum sinal da parte de Deus para colocá-lo à prova. Confio nele sempre, por mais que ele tarde, e não lhe determino o alvo, o tempo, a medida ou o meio, mas em fé verdadeira e franca deixo tudo entregue à sua vontade divina.

Uma vez que ele é o Todo-Poderoso, qual a necessidade que ele não me poderá suprir? Já que ele é Criador do céu e da terra e Senhor de tudo, quem poderá roubar-me ou causar-me dano? Sim, como não poderiam todas as coisas cooperar para o meu bem, se tenho o favor daquele a quem estarão sujeitas e obedecem a todas as coisas?

Por ser ele Deus, é capaz e sabe fazer com que tudo coopere para o meu bem. Por ser ele Pai, quer fazer isso e realmente o faz de boa vontade. E porque não duvido, mas confio nele, certamente sou seu filho, servo e herdeiro eterno, e ser-me-á feito conforme a minha fé.

5. Subsídios litúrgicos

Oração de confissão

Amado Deus e Pai, nesse tempo de preparo para o Natal, temos andado ocupados com tantas coisas. Parece que ainda há tanto a resolver; muitas vezes andamos em círculos tentando resolver nossas questões. Não conseguimos sair do lugar. Confessamos diante de ti, Senhor, que temos buscado resolver nossos problemas por nossas próprias forças, mas reconhecemos que o resultado, muitas vezes, é desastroso. Quando nos deixamos levar pela desconfiança e autoconfiança, não permitimos teu agir e com isso perdemos muito. Nossa vida fica vaga, sem sentido. Em muitos momentos, temos deixado nosso ego governar e, com isso, nos afastamos de ti e das pessoas que nos cercam. Reconhecemos que, sem o agir do teu Espírito Santo em nossas vidas, tudo fica caótico. Por isso nos achegamos à tua presença e clamamos por misericórdia e perdão. Ó Deus Emanuel, perdoa nossa desconfiança, nossa falta de fé! Conduz nossa vida, para que em ti encontremos paz, esperança, consolo, cuidado. Para isso te pedimos: perdoa nossas culpas. Em nome de Jesus Cristo. Amém!

Bibliografia

LUTERO, Martinho. Castelo Forte: textos de Lutero. Ano 49, Edição comemorativa aos 500 anos da Reforma. São Leopoldo: Comissão Interluterana de Literatura, 2016. Meditação 01/01.
KAMP, Peter W. van de. Profeta Isaías: comentário de Isaías 1-39. São Leopoldo: Sinodal, 1987. p. 33-35.


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Autor(a): Wilhelm Sell e Simone Falk Sell
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 4º Domingo de Advento
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 10 / Versículo Final: 16
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2019 / Volume: 44
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 54624

AÇÃO CONJUNTA
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pami
fe pecc

Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Tiago 2.17
REDE DE RECURSOS
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A vida cristã não é mais do que Batismo diário.
Martim Lutero
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