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ID: 2655

Isaías 42.1-9 - 1° Domingo após Epifania - 08/01/2023

Auxílio Homilético

08/01/2023

 

Prédica: Isaías 42.1-9
Leituras: Mateus 3.13-17 e Atos 10.34-43
Autoria: Norberto da Cunha Garin e Edgar Zanini Timm
Data Litúrgica: 1° Domingo após Epifania
Data da Pregação: 08/01/2023
Proclamar Libertação - Volume: XLVII

 

Novas coisas

1. Introdução

Este é o domingo em que se celebra o batismo do Senhor. As leituras bíblicas apontam nessa direção e o texto de prédica enfoca o primeiro hino do servo de Javé. A ligação entre esses dois momentos é inevitável, ainda que não haja qualquer identificação do referido servo no contexto de Isaías.

A leitura do evangelho (Mt 3.13-17) remete ao batismo de Jesus. A presença do Espírito ali narrada estabelece um paralelo com a unção que o servo de Javé recebe no texto da prédica. Diversos comentaristas associam Isaías 42.1-4 à investidura de Jesus como um Messias que vem para libertar a humanidade. Mesmo que não haja identificação do servo no texto veterotestamentário, a ligação com o Senhor parece compreensível.

O texto de Atos (10.34-43) descreve o discurso do apóstolo Pedro, no qual se esclarece que Jesus é aquele que foi ungido com o Espírito Santo no batismo. Ele é o Messias que vem para redimir a humanidade, como já estava previsto pelos profetas. Dessa forma, o texto faz uma ponte entre o hino do servo de Javé e o Senhor.

O texto da prédica está inserido na segunda parte do livro de Isaías (capítulos 40 a 55, entre 550-540 a. C.) e inicia com um cântico (42.1-4). Ainda que em sua origem esses textos tenham sido independentes, na redação final ficaram entrelaçados pelo tema do servo de Javé, sob o foco da volta do exílio no século sexto. Nesse texto, o profeta busca acender a esperança do povo, que estava cabisbaixo sob o jugo dos trabalhos cativos no exílio.

2. Exegese

O texto contém um dos cânticos do servo do Javé (v. 1-4) e é acrescido de outras explicações, possivelmente posteriores à redação original. É provável que esse cântico tenha sido, originalmente, uma canção entoada pelo povo e, só mais tarde, transformada em texto. Esse servo tanto pode se referir a um indivíduo como pode representar uma comunidade toda.

V. 1 – O texto inicia com uma apresentação: Eis aqui o meu servo (‘aḇdî), o que seria a figura de um messias. O profeta tenta animar o povo cativo, colocando uma expressão repleta de autoridade na boca de Javé. É dessa forma que o livro de Josué se refere a Moisés e suas leis em Josué 1.7. A expressão denota a chegada de alguém escolhido para uma missão. A apresentação é reforçada logo adiante, quando se diz o meu escolhido (bəḥîrî), e em quem a minha alma se compraz (rāṣəṯāh / nap̄šî). O servo carrega o Espírito de Javé (rūḥî), porque a sua missão é promulgar a justiça (mišpāṭ). E faz lembrar a escolha de Davi (1Sm 16.13).

V. 2 – O servo não irá promover uma revolução estrondosa, visto que não irá gritar (yiṣ’aq), não irá levantar sua voz (yiśśā), nem será ouvido na rua (baḥūṣ). Trata-se de um servo humilde, que não pretende chamar a atenção sobre si. O servo não irá utilizar espetáculos para desenvolver sua missão, também não utilizará qualquer meio que vise impor sua ideologia para alterar a consciência das pessoas. Sua tática será envolver o ser humano, para que  ele entenda a profundidade do amor de Deus, que transforma a vida e a política.

V. 3-4 – A forma como ele promulgará a justiça é diferente, porque não fará movimento ruidoso; a cana quebrada e a torcida que fumega (rāṣūṣ /ūp̄ištāh) apontam para símbolos antigos do direito e significam a pena de morte; o povo cativo corre risco de extinção. Ao contrário disso, o servo traz uma mensagem nova, pois Javé está disposto a esquecer o pecado de Israel; não se trata de destruir, mas de alimentar as energias combalidas de quem se desgastou no trabalho árduo. A missão do servo é alimentar esperanças. Essa promulgação da justiça e do direito indica que ambas estavam enfraquecidas ou negadas, não apenas pelos gentios, mas pelo próprio povo. A expressão e as terras do mar aguardarão (‘îyîm) tem um sentido de limites, extremos da terra, lugares distantes, lugares quase inalcançáveis, lugares onde o chão sai de debaixo dos pés, os não lugares – situação que os exilados estavam experimentando pela presença da ameaça de extinção.

V. 5 – Neste versículo o profeta realiza uma introdução, apresentando quem está enviando ao servo; não se trata de qualquer divindade, mas de Javé, quem promoveu toda a obra da criação; a potência dessa apresentação descansa na afirmação de que ele dá fôlego de vida ao povo (nəšāmāh) e  nele colocou seu espírito (wərūaḥ).

V. 6 – O profeta salienta o chamado que fez ao servo, mencionando novamente a que foi chamado em justiça (ḇəṣeḏeq) e sua missão é de mediador da aliança (liḇrîṯ); o servo atuará como luz para os gentios (lə’ōwr).

V. 7 – Continuando o versículo anterior, o profeta descreve as particularidades da missão: abrir os olhos aos cegos (‘ênayim / ‘iwrōwṯ); libertar o cativo (mimmasger / ‘assir).
 

V. 8 – Identifica a divindade que está atuando sobre o povo para libertá-lo: Eu sou o SENHOR ( ‘ănî / Yahweh), para trazer à memória de que se trata daquele mesmo Deus que operou no Egito. Ao mencionar a expressão e minha glória (ūḵəḇōwḏî), está se reportando às manifestações do exílio egípcio (Êx 29.46; 33.22). Ao falar a expressão pois, não a darei a outrem (lə’aḥêr), lembra a todos que Israel lhe pertence como povo escolhido (Êx 3.7, 10; 5.1; Is 45.4). Ao falar que não se manifestará por imagens de escultura (lappəsîlîm), está apontando para outro momento do êxodo, quando são entregues ao povo as tábuas da Lei (Êx 20.4).

V. 9 – Este versículo se propõe a alimentar as esperanças de libertação para o povo, visto que uma prova já foi manifesta: Eis que as primeiras predições já se cumpriram (hārišōnōwṯ), ou seja, as promessas firmadas no Egito se confirmaram e o povo habitou a terra prometida; agora, uma nova libertação está para acontecer (waḥăḏāšōwṯ) e o povo vai poder escutar as notícias desse novo momento (‘ašmî’ / ‘eṯḵem); isso resume a missão do profeta.

3. Meditação

O Brasil vive um momento singular com a posse de mandatários no âmbito federal, estadual e nas casas legislativas. Os eleitores foram às sessões depositar seu voto na esperança, mais uma vez, de que, com as suas escolhas, um novo tempo se estabeleça. Neste momento, as expectativas se dividem em dois grupos, pelo menos. De um lado, aqueles que procuram, nos escolhidos, um messias que traga a salvação para uma nação combalida por uma pandemia e por dificuldades provocadas por equívocos administrativos, entre outras mazelas. De outro, estão aqueles que já perceberam que o messias não vem das urnas, mas necessita ser construído pelas pessoas que compõem esta nação.

Assim como não existem milagres caídos dos palácios e de casas legislativas. Mesmo que seja amarga, a construção da esperança passa pelo esforço, pelo entendimento e pela solidariedade na luta. É possível ouvir uma frase famosa na sociedade de mercado: “Não existe almoço grátis!”. Enquanto não se percebe que as escolhas e o trabalho que se realiza necessitam da dedicação e do empenho de cada pessoa e de todas na coletividade, a esperança dificilmente se concretiza.

Cabe refletir sobre algumas questões tendo como contexto a pergunta pelo lugar do servo de Javé em toda esta realidade: o servo, aquele que veio para promulgar a justiça e ressaltar o direito, está em nós, pelo seu Espírito, como semente dessa missão? Conseguimos perceber, no exercício sério da moral e no entendimento comprometido da ética, a presença desse servo, Senhor da vida e da salvação para toda a humanidade? Conseguimos virar as costas para o jeitinho, recusar vantagens indevidas, abandonar facilidades arranjadas e cumprir o caminho que o servo de Javé, o Senhor, nos pede? Como está a nossa consciência de que o Espírito que habita em cada pessoa não se destina a facilitar o bem pessoal, egoísta, mas o desenvolvimento da justiça que engloba a coletividade?

Quem sabe, examinando profundamente nossa prática evangélica, pessoal e coletiva, possamos melhorar a qualidade das respostas que temos dado para essas e outras tantas questões. E então, não nos contentando com repostas pré-fabricadas, protocolares, convencionais, liturgicamente ditas perfeitas, formais, assim possamos (nos) encontrar (com) a missão do servo de Javé, nosso Senhor Jesus Cristo, que continua agindo e nos convocando a trabalhar com ele na construção cotidiana do Reino de Deus.

As “novas coisas” anunciadas pelo servo não aparecem com estardalhaços nos programas de auditório de TV, nem nas megarreportagens dos grandes e ricos canais de mídia. Também não aparecem nos famosos canais de YouTube, acompanhados por milhares de seguidores. Muito menos estão nas mídias sociais de famosos que granjeiam milhares de fãs. As novas coisas que o servo e Senhor anuncia, possivelmente, estão no silêncio das consciências, que decidem pelo direito e pela justiça, no recôndito individual e pessoal.

4. Imagens para a prédica

Uma história ouvida, que ilustra a negação do servo do Senhor na vida da pessoa, fala de um gestor de recursos humanos que era visto como alguém profundamente cristão e espiritualizado. Certa ocasião, ele ordenou o desligamento de um dos trabalhadores. O funcionário encarregado de realizar essa demissão perguntou-lhe: “Vamos pagar o percentual relativo ao 13º salário, correspondente ao tempo trabalhado na empresa?”. O gestor pensou por um minuto e respondeu: “Se ele reclamar, paga, se não, esquece!”. Onde está a justiça, onde está o direito, onde está o servo, Senhor e Salvador daquele  gestor?

5. Subsídios litúrgicos: Litania

D: Bendito Senhor, que o nosso fazer cotidiano contemple o teu direito e a tua justiça, vividos pelo Senhor Jesus e assumidos por todas as pessoas que amam a Deus sobre todas as coisas.

T: Deus de amor, nunca permita que nossa consciência se incline para buscar privilégios escusos em prejuízo do direito e da justiça, principalmente dos mais necessitados.

D: Deus Eterno, livra-nos da tentação de buscar facilidades em proveito pessoal, com prejuízo de pessoas que esperam pela efetividade da justiça e do direito para continuarem mantendo sua dignidade.

T: Deus de amor, nunca permita que nossa consciência se incline para buscar privilégios escusos em prejuízo do direito e da justiça, principalmente dos mais necessitados.

D: Bendito Senhor, que nosso fazer cotidiano sempre se paute pelo respeito moral e o cumprimento da ética a fim de que, do nosso agir, emanem somente atos de justiça e de amor.

T: Deus de amor, nunca permita que nossa consciência se incline para buscar privilégios escusos em prejuízo do direito e da justiça, principalmente dos mais necessitados.

Bibliografia

CROATTO, J. S. Isaías: a palavra profética e sua releitura hermenêutica. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Imprensa Metodista; São Leopoldo: Sinodal, 1989.  v. 1.
STANGE, Klaus A. Isaías 42.1-9. 1º. Domingo após Epifania. In: Proclamar Libertação: auxílios homiléticos. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2016. v. 41.

 


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Autor(a): Norberto da Cunha Garin e Edgar Zanini Timm
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 1º Domingo após Epifania
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 42 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2022 / Volume: 47
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 69438

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