“Deus nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” Cl 1.13.
“Uma raposa foi apanhada no mato, por uma armadilha cujas molas prenderam uma perna do animal. A armadilha estava amarrada numa árvore por uma corrente. Com os constantes esforços da raposa, a corrente desprendeu-se da árvore e o animal fugiu. Mas não pode ir muito longe, pois levava presa na perna a armadilha e a corrente, que constantemente se apegava às raízes das árvores. O animal parecia livre, porém arrastava consigo uma corrente que, com o decorrer do tempo, lhe traria a morte.”. (Amor sem Fronteiras, p. 128)
Não é esta uma boa ilustração sobre a vida de muitas pessoas? Acostumam-se a viver dessa maneira. Antes desesperadamente lutaram, mas alcançaram apenas derrotas e humilhações. Por fim desistem, desanimados e dizem: “Não adianta, sempre serei o que sou; não posso mudar-me. Tenho de me conformar, é minha natureza”. Com o tempo se habituam a esse triste estado de coisas e acham justificável. Chegam a reclamar respeito por este temperamento explosivo ou sensitivo: “Você sabe que sou assim, você deve respeitar a minha maneira de ser”. (Amor sem Fronteiras, p. 128)
Podemos até nos livrar das correntes, mas a tentação sempre vai existir. A raposa voltará ao local se sentir que ali tem um franguinho. Vai esquecer a corrente. Por outro lado, pode não voltar ao local, mas outros locais e outras ocasiões poderão levar à tentação. Ou ainda, do que vale carregar correntes de mágoas, de egoísmo, de orgulho se só fazem tropeçar nas raízes e demais obstáculos durante a vida. A nossa liberdade vai até a liberdade do outro/da outra.
Fomos tirados do império das trevas e transportados para o reino do amor, da paz, da superação, da ajuda mútua. Esse Reino foi inaugurado por Cristo. Ele tirou a culpa do pecado e disse: vivam em mim, vivam para mim. Olhem para mim e vejam: não sou arrogante, não lhes amarro em correntes, tão pouco lhes condeno. Amem a si e amem ao próximo.
Aproveitemos esse tempo de advento. Advento quer ser época de arrependimento e reconhecimento, em que voltamos a ser o que somos: pessoas batizadas, pertencentes a Cristo, erva que seca, flor que cai; pecadores, sim, mas também pessoas valorizadas e aceitas por cristo. Advento época de reaprender que Cristo nos ama, ‘que remiu a mim, ser humano perdido e condenado, me resgatou e salvou de todos os pecados...’ (Lutero). Foi justamente para isso que, no Natal, Deus se fez pessoa, tornou-se frágil e fraco para sentir o que sentimos, para sentir o desprezo e a pobreza, sentir a falta de reconhecimento e gratidão, sentir a violência e a ausência de amor. E mostrou que a vida não é nada sem o amor de Deus, sem amor a si e ao próximo. Mostrou que a vida é frágil e necessita de cuidado diário. Amém.