Advento - Natal - Epifania



ID: 2655

2 Coríntios 4.3-6

Auxílio Homilético

15/02/2015

Prédica: 2 Coríntios 4.3-6
Leituras: Marcos 9.2-9 e 2 Reis 2.1-12
Autoria: Joel Haroldo Baade e Aline Danielle Stüewer
Data Litúrgica: Último Domingo após Epifania
Data da Pregação: 15/02/2015
Proclamar Libertação - Volume: XXXIX

1. Introdução

O texto de 2Co 4.3-6 já foi objeto de análise em outros volumes de Proclamar Libertação (v. IX, p. 157; v. XIV, p. 165). A temática central do texto está na distinção do pregar a si mesmo em contraposição à pregação do Cristo crucificado. O testemunho cristão é constantemente ameaçado pela pretensão de satisfação dos próprios desejos egoístas e pela acomodação à situação mais confortável, como ocorreu com os discípulos, segundo relato do texto de leitura em Marcos 9.2-9.

No Último Domingo após Epifania, sempre é lembrado o episódio da transfiguração de Jesus. O texto do evangelho lembra que Jesus subiu um monte (que a tradição identifica como o monte Tabor) com seus discípulos e ali revelou sua natureza gloriosa. Tudo isso aconteceu um pouco antes de sua prisão e crucificação. Os discípulos gostaram de estar ali com esse Cristo tão majestoso e não queriam mais descer e enfrentar a realidade tão cruel que os esperava. Jesus, entretanto, chama-os para o testemunho. Para os discípulos, era importante conhecer o Cristo glorificado, mas também o Cristo crucificado. O verdadeiro discípulo de Cristo desce o monte e enfrenta a realidade, por mais difícil que seja, tendo a certeza de que o próprio Cristo permanece ao lado daqueles que o testemunham e vivem o evangelho.

A fim de comparar duas versões distintas do texto, fez-se uso das versões de Almeida Revista a Atualizada (ARA) e Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), considerando que são as versões mais usadas no contexto da IECLB.

2. Exegese

A Segunda Carta aos Coríntios é uma carta do apóstolo Paulo dirigida aos cristãos da cidade de Corinto. Corinto é uma cidade muito antiga. Estima-se que ela tenha sido fundada por volta de 1000 a.C. Além de um importante centro de comércio, era também local de adoração de divindades como Afrodite, Ísis, Osíris e Poseidon. Além disso, celebrava-se o culto ao imperador.

Na época em que Paulo escreve sua carta, Corinto tinha algo entre 250 e 500 mil habitantes, sendo que 2/3 desse total eram constituídos de escravos. Alguns estudos apontam para uma má fama de Corinto, que supostamente era dominada pela riqueza e pela luxúria. Expressões como “viver à moda de Corinto” tinham conotação negativa.

Paulo chegou a Corinto por volta do ano 50/51 (At 18), dedicando-se inicialmente à evangelização dos judeus que ali residiam. Como houve resistência, passou a pregar também a não judeus, de modo que a comunidade cristã que ali se forma acaba sendo constituída de muitos gregos convertidos e de alguns judeus. 1Co 1.26-29 indica que se tratava de pessoas de origem humilde.

Contudo não tardou para que divergências comprometessem a unidade da comunidade cristã ali constituída, o que levou Paulo a escrever sua Primeira Carta aos Coríntios. Depois disso, ao que parece, houve a presença de grupos judaizantes na comunidade, acarretando em risco de divisão ou mesmo dissolução da comunidade. Isso levou Paulo novamente a Corinto e também motivou a escrita da Segunda Carta aos Coríntios. Por isso a carta também tem forte conotação pessoal. Nos capítulos 8 e 9, aborda-se a questão da oferta para a comunidade de Jerusalém (HÖRSTER, 1996).

2Co 4.3-6 insere-se no bloco 1.12-7.16, que é basicamente uma retrospectiva do apóstolo sobre os fatos passados dele com a comunidade e uma autodefesa em vista de possíveis questionamentos sobre o caráter apostólico de sua atuação. Mais especificamente, 2Co 4.3-6 faz parte da reflexão sobre o ministério da nova aliança, que é tema nos capítulos 3 e 4 (HÖRSTER, 1996). Hörster (1996) considera o capítulo 4 uma unidade que pode ser denominada “A luz do evangelho no serviço do apóstolo”, sendo que os v. 5-7 seriam centrais.

A perícope em questão (2Co 4.3-6) trata do entendimento do evangelho e do apóstolo como servo de Deus nessa tarefa.

V. 3-4 – Faz-se aqui uma possível alusão a uma divisão da comunidade. Há pessoas que não veem a mensagem do evangelho, pois sua visão é encoberta pela escuridão ou o deus deste mundo não lhes permite ver a imagem de Deus revelada em Cristo. Portanto a descrença de alguns não se deve à atuação deficitária do apóstolo, mas da servidão a outros propósitos que não os do Deus de Jesus Cristo. Comparando-se as versões de ARA e NTLH no v. 4, destacam-se: a) “deus deste século” (ARA) e “deus deste mundo” (NTLH); b) “cegou o entendimento dos incrédulos” (ARA) e “conservou a mente deles na escuridão” (NTLH); e c) “imagem de Deus” (ARA) e “como Deus realmente é” (NTLH).

V. 5 – Este versículo pode ser considerado central para a interpretação do texto: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus”. Com isso se diz que a autoridade da mensagem anunciada não decorre do anunciante, mas do próprio Deus, cujo seguimento não leva à posição privilegiada, mas deve mostrar-se no serviço ao próximo por amor de Cristo. Esse aspecto é, aliás, central na teologia de Paulo, que se reconhece escolhido desde antes do nascimento (Gl 1.15) para a realização de uma tarefa divinamente ordenada (LADD, 2003). A diferença entre as duas versões utilizadas é mais substancial no final do versículo: “por amor de Jesus” (ARA) e “por causa de Jesus” (NTLH). O aspecto do amor na causa de Cristo pode ser reforçado durante a mensagem. O discipulado cristão não é obediência a normas e procedimentos, mas é serviço em amor de Jesus.

V. 6 – Por fim, o apóstolo reconhece a ação de Deus na transformação de sua própria vida. A ação de Deus não é exterior, mas é a mudança empreendida no coração; é a mudança de todo o ser, em que as trevas e a escuridão são dissipadas pela luz da glória de Deus. Essa luz “brilha no rosto de Jesus Cristo”. Assim, é Cristo quem revela a imagem de Deus, e somente a contemplação de Cristo pode produzir a mudança de vida e a fé.

Considerando a linguagem mais rebuscada na versão ARA, sugere-se a leitura do texto para a comunidade na NTLH.

3. Meditação

O apóstolo Paulo estava preocupado e triste com a maneira como o evangelho estava sendo pregado por algumas pessoas. Alguns pregadores enalteciam a si mesmos e não o Cristo crucificado. Olhando para a realidade da igreja, percebe-se que também hoje o evangelho está sendo pregado por muitos de forma equivocada. É preocupante a maneira como muitas igrejas têm usado o evangelho para ludibriar e enganar pessoas fragilizadas.

O apóstolo Paulo fala que algumas pessoas foram cegadas pelo deus deste século e por isso não conseguem enxergar a verdade do evangelho. Contemplando essa realidade, qual é o deus deste século? O que tem escondido a verdade do evangelho? Há muitas pessoas buscando a igreja para conseguir sucesso financeiro e prosperidade econômica. O dinheiro e o sucesso profissional têm se tornado o objeto central da pregação do evangelho e não a fidelidade a Jesus e o comprometimento com sua obra.

Pessoas têm buscado a igreja para seu entretenimento. Buscam assistir a um show. Querem ouvir sobre curas e milagres, mas não sobre arrependimento e transformação. Algumas pessoas têm buscado a igreja não para servir, mas para ali serem servidas. A partir do momento em que são pregados o compromisso, o comprometimento com o evangelho e a responsabilidade da pessoa cristã, muitas são as pessoas que se afastam. Não é por acaso que cada vez mais comunidades da igreja têm dificuldade para encontrar membros e não apenas espectadores.

Que evangelho é esse em que as pessoas são motivadas a buscar a prosperidade e não uma vida digna para o seu próximo? Que evangelho é esse que ordena a cura e não se coloca aos pés de Jesus e clama por misericórdia, submetendo-se para que a sua vontade seja feita?

Corre-se o risco de esquecer o senhorio de Jesus e não ouvir sua mensagem, mas buscar aquilo que satisfaz os próprios desejos. Corre-se o risco de querer adorar um deus que realiza apenas as próprias vontades. Corre-se o risco de, assim como os discípulos, querer permanecer no monte com o Jesus glorificado e não descer e enfrentar a cruz com esse mesmo Jesus. Corre-se o risco de esquecer que os verdadeiros discípulos percorrem com Jesus o caminho da cruz e do sofrimento.

Muitos estão mais preocupados em falar aquilo que a massa quer ouvir do que pregar a verdade do evangelho. Há muitas pessoas que deixaram de enxergar a mensagem. É necessário que o verdadeiro evangelho, aquele anunciado por Jesus Cristo, seja redescoberto.

O evangelho de Cristo mostra que a vida do cristão não é uma vida repleta de sucesso, prosperidade e glórias, mas que também há sofrimento e dificuldades, que devem ser enfrentados em humildade e devoção.

4. Imagem para a prédica

É importante que durante a pregação fique claro que algumas pessoas têm esquecido o centro da fé: Jesus Cristo. Para isso, segue uma pequena ilustração do que pode acontecer quando o evangelho fica de lado.

“Uma grande igreja do sudoeste dos Estados Unidos instalou um sistema de efeitos especiais que custou meio milhão de dólares, capaz de produzir fumaça, fogo, faíscas e luzes de laser no auditório. A igreja enviou alguns de seus membros para estudar, in loco, os efeitos especiais de Ballys Casino em Las Vegas. O pastor terminou um dos cultos sendo elevado ao “céu” por meio de fios invisíveis que o tiraram da vista do auditório, enquanto o coral e a orquestra adicionavam um toque musical à fumaça, ao fogo e ao jogo de luzes. O show foi muito bonito, mas ninguém saiu de lá arrependido de seus pecados nem com a vida transformada pelo poder de Deus!” (http://www.sitedopastor.com.br).

5. Subsídios litúrgicos

Oração do dia:

Senhor, tu que te revelaste de maneira tão gloriosa no monte Tabor, nós te pedimos: vem e revela a tua vontade para as nossas vidas. Que, contemplando a tua face, sejamos fortalecidos e encorajados a viver a realidade do dia a dia. Que saiamos daqui animados a enfrentar as dificuldades da vida, tendo a certeza de que tu caminhas ao nosso lado. Ajuda-nos a testemunhar através do serviço. Vem e revela a verdade do teu evangelho. Amém!

Sugestões de hinos para a liturgia: HPD 1, 197 – Buscai primeiro o Reino de Deus; HPD 2, 414 – Cantar do amor.

Bibliografia

HÖRSTER, Gerhard. Introdução e Síntese do Novo Testamento. Curitiba: Esperança, 1996.
LADD,Georg Eldon. Teologia do Novo Testamento. Ed. rev. São Paulo: Hagnos, 2003.


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Autor(a): Joel Haroldo Baade e Aline Danielle Stüewer
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: Último Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 3 / Versículo Final: 6
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2014 / Volume: 39
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 34529

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