Salmo 127.1

Prédica

31/03/1976

Salmo 127.1 - 30 ANOS DA FACULDADE DE TEOLOGIA - 31-03-76

Distintos convidados, prezados professores, estudantes e funcionados desta casa, meus irmãos em Cristo! 

1. Há trinta anos eram 15 estudantes, a soma dos anos 41 a 46. Em 1954, vinte e dois. Quarenta e quatro, dez anos depois. Noventa e um em 1969. Cento e vinte e cinco neste ano do trigésimo aniversário. No corpo docente, aumento igualmente significativo. Neste mesmo corpo docente, a participação sempre maior de gente da terra, e, portanto, sempre maior autonomia. O comprometimento sempre mais profundo e arraigado com a igreja no seu chão brasileiro e com o labor prático do pastorado. A reforma do estudo, esperança de um aprendizado teológico mais autêntico e condizente com a realidade. O envolvimento estudantil nas responsabilidades. Aumento e melhorias em todos os setores. 

A Faculdade de Teologia é uma casa que não parou de crescer. É um prédio em constante construção e aperfeiçoamento. Uma pintura aqui, um conserto ali. Paredes velhas vêm abaixo, novas são levantadas. Lances inteiros, a própria estrutura é renovada. Tudo isso, fruto de muita dedicação. Fruto do amor, das horas mal dormidas, da energia, da criatividade, do suor. Fruto do mourejar de muitos arquitetos, engenheiros, pedreiros, eletricistas e pintores. Fruto do mourejar de membros da nossa igreja, pastores, líderes, alunos e dezenas de professores, em três décadas. Fruto do mourejar de muitos na construção permanente desta casa.

2. Se o Senhor não construir a casa, em vão mourejam os que a constroem! — diz o Salmo 127, no primeiro versículo. “Se o Senhor não construir a casa, em vão mourejam os que a constroem!

3. Aqui esbarra o mourejar de muitos, a sua labuta, o seu esforço. A construção permanente da Faculdade esbarra num ponto de interrogação, num se. Este é o se do nosso trigésimo aniversário: Se o Senhor não construir a casa.... E nós, que estamos agora na construção da casa, nós temos que aguentar o esbarro. Temos que enfrentar este se. Temos que lutar com ele. E desse confronto talvez saiamos em farrapos, mancos 'aleijados, em pedaços, derrotados - mas certamente sairemos melhores construtores. 

4. Se o Senhor não construir a casa.... O Senhor constrói a nossa casa? 

Como é que o Senhor constrói uma casa? Certamente através dos construtores, que seguem sua orientação. Esses construtores, antes de mais nada, são gente que ouve. Eles no se afundam cegamente no corre-corre da vida. Eles sabem guardar um lugar e um momento em que não fazem mais do que ou vir, do que expor-se à vontade do Senhor. Eles falam com o Senhor. Pedem que o Senhor os ajude a entender vivencialmente a sua vontade e a pô-la em pratica. E, a partir daí, eles moldam a casa. 

O que acontecerá numa casa erguida por esses construtores? Numa casa construída assim pelo Senhor? Vejamos: Por tudo que sabemos, as pessoas que vivem nessa casa e que dela saírem amarão a Deus sobre todas as coisas. Este será o critério de sua vida. Dentro da casa, elas amarão o próximo como a si mesmas. Por amarem a Deus e serem guiadas pela sua vontade, criarão uma comunhão viva e edificante, cada um se saberá aceito e amado; onde não haverá marginalizados; onde todas as ações buscarão o bem de todos; onde não haverá opressão de espécie alguma. 

Quando os moradores dessa casa dela saírem para construir outros redutos residenciais eles serão semente desta mesma comunhão, viva e edificante. Por tudo que sabemos, deve ser assim a casa que o Senhor constrói. 

5. E tema casa que o Senhor não constrói. O problema dessa casa não é que ela desabe, ou que não funcione direito: Em absoluto. Ela pode até funcionar muito bem. Suas funções podem ser eficientes. O problema dessa casa é que seus construtores se afundam no corre-corre da vida, não guardam o lugar e o momento para se expor e absorver a vontade do Senhor. Talvez a ouçam fisicamente, mas já criaram uma couraça que a vontade do Senhor não chega mais a penetrar. Essa couraça é feita de uma série de coisas boas, do acúmulo de trabalho, da sobrecarga de tarefas, da suposta importância de tudo isso e da estúpida seriedade desses construtores que pensam que devem, podem e vão salvar o mundo. 

E a casa que eles constroem? Bem, lá ser a difícil amar a Deus sobre todas as coisas. Lá será difícil o surgimento de uma comunhão viva e edificante, com aceitação de todos, sem marginalização e opresso. E os que saírem dessa casa para construir outros redutos - o que é que vão fazer? Vão construir casas iguais 'àquela de onde saíram. 

6. Pois é, trinta anos da Faculdade. Casa construída pelo Senhor? Ou casa construída sem o Senhor? Assim como podemos perguntar: IECLB, comunidades, casas construídas pelo Senhor ou sem o Senhor? Ou a pergunta está errada? Talvez não exista - ou não existe ainda - aquela casa que é toda ela construída só pelo Senhor. E talvez também não exista aquela casa feita com a ausência total do Senhor, Então, teríamos que perguntar: Até que ponto a Faculdade, a nossa casa é construída pelo Senhor? E até que ponto ela é construída pela busca do melhor desempenho, da vontade de aparecer, da melhor ideia e maior criatividade; pela necessidade de segurança, estabilidade profissional e familiar, respeito e status; por aquilo que nós achamos ser o bom e o mau para a Faculdade? 

Não há respostas globais e terminantes a essas perguntas. Cada construtor - professores, alunos, responsáveis eclesiásticos - terá que perguntar a si próprio e responder . á sua maneira O conjunto das respostas será a resposta da Faculdade. 

7. Mas o que me preocupa demais é a segunda parte desse pequeno trecho que tomamos por base de nossa reflexão. Quando comecei a pensar nesta prédica de hoje, há algumas sema7 nas, imaginei que deveria aqui fazer duas coisas: louvar e agradecer a Deus pelo bem que já fez por meio desta casa, e desenvolver uma reflexão autocrítica do nosso trabalho, a partir da sua vontade. E então escolhi esse texto. E ele me passou a perna. Ele me lançou um obstáculo, que obstruiu minhas intenções, que não me larga, que radicaliza a autocrítica numa proporção que em não imaginava. Ele não me deixa enfeitar nada; não me deixa falar do bem que eventualmente já se fez, Ele me questionou de uma maneira como talvez jamais tenha acontecido antes. E eu não posso deixar de compartilhá-lo com vocês. Acontece que a segunda parte desse trecho diz o seguinte: Se o Senhor não construir a casa, em vão mourejam os que a constroem. 

Em vão assim que todos traduzem. Umsonst no alemão, até nas traduções mais recentes e sólidas. Quando comecei a me ocupar com esse texto, pensei: Bom, quer dizer que sem o Senhor o trabalho é vão, é para nada. Se não ajuda, também não prejudica ninguém. É algo neutro. Tempo perdido. E, neste caso, sem o Senhor, a Faculdade estaria simplesmente marcando passo. Nada mais. 

Mas então tomei a concordância e fui atrás desse termo hebraico, sav'. E fiquei embasbacado. Porque ele não tem nada de neutro. Quase sempre as ações caracterizadas com essa palavra são enganosas, insidiosas, cheias de mentira e falsidade, e acabam induzindo outros ao erro, tendo como consequência o afastamento de Deus. Trata-se de desencaminhar pessoas, para longe de Deus, através do engano. 

De modo que deveríamos, na verdade, traduzir nosso trecho assim: Se o Senhor não construir a casa, o mourejar - dos que a constroem é falso, é enganoso, é desencaminhador, afasta de Deus. 

8. Isso é terrível! Há pouco, decerto chegamos, cada um para si, á conclusão de que nem sempre é o Senhor que constrói a nossa casa. Então temos que reconhecer também agora que, quando nós construímos sozinhos, estamos desencaminhando pessoas, afastando-as de Deus. 

9. Descoberta atordoante, no trigésimo aniversário desta casa que estamos a construir. Atordoante é pouco. Descoberta arrasadora. Peso insuportável. Como suportar a possibilidade de estarmos enganando, desencaminhando as pessoas que nos são confiadas, nossos alunos e comunidades, afastando-os de Deus? E não há meio seguro de evitá-lo. Não há garantia. Quem garante que o Senhor esteja construindo junto? 

10. Como suportar essa situação? Como não largar tudo, tirar a mão dessa bomba-relógio? Só uma coisa pode sustentar-nos, nesse dilema de querer servir com todas as forças e de talvez com isso mesmo estar afastando as pessoas de Deus.

Nesse dilema só pode sustentar-nos a esperança e a confiança de que o perdão de Deus seja maior que a nossa a esperança e a confiança de que o perdão de Deus seja maior do que a nossa culpa;

A esperança e a confianças de que o seu poder e a sua condução sejam mais fortes e superem o que nós desencaminhamos;

a esperança e a confiança de que a sua graça, apesar de nós e apesar de tudo, dê bênção ao trabalho desta casa unicamente para a sua maior glória. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB / Organismo: Faculdades EST
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 127 / Versículo Inicial: 1
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20335
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