REFORMA DA IGREJA no séc. XVI

Uma visão histórica para ilustrar novos tempos

31/10/2021

Indulgências são vendidas compulsivamente. (Y.Asisi)
Canais trazem água para mover as rodas do moinho e da cidade. (Y.Asisi)
Todo lugar é bom e toda oportunidade é boa para falar do Evangelho. (Y.Asisi)
Basta ler as Escrituras. Basta crer. Basta ter Cristo. Basta tomar posse da graça. (Y.Asisi)
Era com o fogo do inferno que a Igreja ameaça quem não comprasse indulgências. (Y.Asisi)
Muitos desaprovam a reforma e deixam Wittenberg. (Y.Asisi)
Todas as pessoas, inclusive mulheres, passaram a ter o direito de ler e interpretar o Evangelho. (Y.Asisi)
O inédito relógio de dois ponteiros. (Y.Asisi)
Ruas molhadas e frias fazem o cenário de outubro. (Y.Asisi)
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Uma visão histórica para ilustrar a
Reforma da Igreja no séc. XVI


No final de outubro as ruas da pequena Wittenberg estavam molhadas e frias. Mesmo assim se encontravam cheias de peregrinos, de comerciantes, de pessoas da cidade e do interior. Agricultores e estudantes dividiam as pequenas vielas.

Em 1517 as coisas pioraram. João Tetzel chegou para vender as indulgências. em troca de dinheiro o povo poderia obter perdão para o seus pecados. Engordava os tesouros do estado e da igreja. Moradores de Wittenberg mostraram ao pregador da igreja de cidade, o monge agostiniano Dr. Martin Luther, um exemplar destas cartas de indulgências. Luther literalmente subiu nas tamancas e, revoltado contra o comércio obscuro de indulgências, denunciou através de pregações a forma pela qual o Evangelho de Cristo estava sendo violentado.

O professor universitário decidiu abrir uma disputa relacionada ao tema. Teses em língua latina foram então oficialmente publicadas no dia 31 de outubro de 1517 para que em toda Wittenberg se pudesse saber a opinião deste professor e doutor em Bíblia. Não há uma unanimidade de que essas teses tenham um sido pregadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Em todos os casos, naquele dia todos que pudessem ler estavam sendo informados desta disputa.

O pequeno principado, até então inexpressivo, era regido por Frederico, o sábio, e isso desde 1486. Como Príncipe Eleitor da Saxônia, Frederico pertencia aos sete príncipes que estavam em evidência na Europa da época. Era conhecido como crítico ao domínio da Igreja de então — embora fosse devoto e colecionador de relíquias —, especialmente ao manter o povo sem os conhecimentos inovadores e libertários que começavam a tomar conta naquela época. Em 1502 promoveu a cidade ao status de universitária e a Igreja do Castelo passou a ser a Igreja da Universidade. Lá aconteciam os debates. Para a reestruturação arquitetônica desta igreja foram convidados Albrecht Dürer e Lucas Cranach, renomados artistas reconhecidos até os dias atuais, para decoração deste local de culto. A pequena cidade contava com cerca de 2.000 habitantes e, quando tornou-se universitária — especialmente nos meses de aula — passou a ter algo em torno de 4.000 habitantes. Isto evidentemente trouxe muito progresso, muitos problemas e muita agitação a esta localidade.
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Muitas obras de modernização foram empreendidas. Todos os telhados, por exemplo, foram trocados por telhas de barro no lugar da tradicional palha que cobria as edificações. O perigo de incêndio era bem menor. Também canais de água foram providenciados para que abastecesse as casas e o pequeno moinho para onde os agricultores levavam seus grãos e voltavam com a farinha. Regras de comércio, eleições do conselho da cidade, a segurança contra incêndios e higiene passaram a fazer parte do lugar. Riqueza e pobreza igualmente criaram abismos entre si entre os habitantes da época.
No século XV as ciências prosperavam enormemente. Com o avanço do humanismo e com a invenção da imprensa de tipos móveis por Johannes Guttenberg — somente comparável à explosão das midias sociais em nossos dias —, todas as expressões científicas tiveram um rápido progresso. Não apenas para jovens de pais com posses, que poderiam enviar seus filhos às universidades, mas para todo o povo passou-se a desejar mais formação. Todos queriam ler e entender as teses de Martin Luther. Todos passariam a ter acesso à Bíblia.

A discussão das 95 teses trouxe mudanças memoráveis a toda a sociedade da época e que perduram até os dias de hoje. Assim convidou Luther:

Debate para o esclarecimento do valor das indulgências pelo Dr. Martin Luther, 1517
Por amor à verdade e no empenho de elucidá-la, discutir-se-á o seguinte em Wittenberg, sob a presidência do reverendo padre Martinho Lutero, mestre de Artes e de Santa Teologia e professor catedrático desta última, naquela localidade. Por esta razão, ele solicita que os que não puderem estar presentes e debater conosco oralmente o façam por escrito, mesmo que ausentes. Em nome do nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

O Evangelho de Cristo teve a sua importância resgatada. Estava novamente no centro da pregação a Cruz como local onde o pecado de toda humanidade foi perdoado e aniquilado. Bastava ler as Escrituras. Bastava Crer. Bastava ter Cristo. Bastava tomar posse da graça.
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Algumas cenas da época:

Rodolfo I desejou que dentro da pequena cidade houvesse um moinho. Para isso providenciou a construção de um canal de 15 km trazendo água para mover suas rodas. Ao passar em frente às casas, fornecia a água para higiene e para a limpeza. Como o consumo era impróprio, a água era fermentada com cevada e lúpulo e se transformava numa rala cerveja, o pão líquido. Claro, para isto se cobrava um imposto. É o mais antigo imposto sobre a água do qual se tem notícia. Além disso, quem trazia grãos para moer igualmente deixava uma parte da farinha como pagamento pela moagem.

Luther discute em via pública buscando elucidar a questão das indulgências. O tema deveria ter toda a abrangência popular possível para que tivesse efeito e peso. Enquanto a igreja ameaçava com o fogo do inferno, induzindo para que as pessoas pagassem com indulgências pelo seu perdão, Luther insiste que apenas Deus pode libertar as pessoas do pecado. Apenas Deus pela obra da cruz.

De todas as formas a ebulição científica acontece. Navios singravam os mares cada vez mais longe. Já tinham chegado as Américas e o nosso Brasil começava a aparecer nos mapas náuticos. As ciências naturais avançavam e os experimentos de engenharia avivavam a imaginação. Leonardo da Vinci é outro nome importante da época no campo da engenharia, artes e medicina. Recebia cada vez mais espaço a crítica à igreja com suas crendices antigas. Não por último a própria Guerra dos Camponeses — 1524-1525, uma guerra econômica e religiosa — onde camponeses e agricultores colocaram em questão velhos hábitos de cobrança de impostos e ameaças da aristocracia da época. Como símbolo deste novo tempo científico e religioso temos o relógio. Foi colocado na torre da igreja do Castelo. E ainda mais inédito: tinha dois ponteiros. Era possível agora ler os minutos das horas. Foi em 1500 que Peter Henlein, em Nürenberg, fabricou uma raridade: um relógio de bolso. Presenteou Martin Luther com um deles e este convocou um matemático para que ensinasse como ler horas e minutos.

Muita gente deixou Wittenberg em pleno processo da Reforma da Igreja. Perderam sua ocupação de ganhar dinheiro e se sustentar, especialmente em relação ao comércio exercido pela Igreja. Em 1524 muitas pessoas já voltavam para seus locais de origem por falta de o que fazer. Muitos também saíram por não concordarem com a reforma proposta por Martin Luther. Ao mesmo tempo o comércio de livros cresceu enormemente. Barris serviam de contêineres. Onde antes se transportava vinho, cerveja e peixes no sal, agora saiam carregados de livros, panfletos e Bíblias. A imprensa florescia como nunca. Wittenberg tornou-se o centro da impressão de livros e de folhetos. Muitos não tinham condições de comprar livros inteiros e, para isto, os folhetos em separado eram impressos e de fácil aquisição. Aos poucos a coleção se completava e bastava encaderná-los. Os encadernadores viram sua profissão valorizada.
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Opositores de Luther o acusavam de tornar a Bíblia um livro popular demais. Tanto assim que pessoas liam porções da Bíblia e as explicavam nas praças e nos jardins. Dizia-se que mulheres, sapateiros e alfaiates, “entre outros idiotas”, tornavam-se pregadores do Evangelho. O reformador havia afirmado que todas as pessoas que creem tem um caminho direto a Deus ou podem encontrar um caminho direto a Deus. Isto proporcionou que, inclusive mulheres, antes caladas, poderiam e deveriam se tornar ativas na discussão dos temas bíblicos.

Em 1525 Luther casou-se com a noviça Catarina von Bora. Isto causou sensação à época. Será que casou por desejo carnal? Por que o fez pouco tempo depois da Guerra dos Camponeses? Foi muito feliz no casamento, onde aprendeu a diferenciar a vida no lar ao lado da esposa e de seus seis filhos e a sua atividade como pregador do Evangelho, professor e educador.

Estamos em uma noite de 1538. Luther, Melanchton e Erasmus Reinhold observavam um grande cometa que se movimentava no céu. Erasmus, aluno de Melanchton, colega e apoiador de Luther, tornou-se professor de matemática e astronomia. Discutiram entre si o significado daquele cometa. Em 1551, Erasmus Reinhold comprovou matematicamente o que Nicolau Copérnico (1473-1543), a quem visitava e com quem trocava ideias científicas, já tinha por hipótese: a Terra gira em torno do Sol.
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Jesus nasce anunciado por um cometa em Belém. O último livro da Bíblia anuncia que Jesus é o sol da graça (Ap 1.16b). É em torno da obra Redentora e Salvadora de Jesus Cristo que gravita toda a história da Reforma.

Pr. Rolf Rieck - outubro de 2021

Baseado em:  Asisi, Yadegar. Luther 360º Panorama. 2016. Berlin. 111p. — www.asisi.de — Instalação efetuada em Wittenberg durante os festejos dos 500 anos da Reforma. Fotos de Rolf Rieck a partir da exposição citada.
 

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