Mês de maio é celebrado o Dia Luterano da União Paroquial Jucu, reunindo todas as comunidades. Desta vez, com um destaque especial do local que sediou o encontro: A Comunidade de Domingos Martins celebra os 150 anos de seu Templo!
Em 27 de janeiro de 1847 chegaram a esta região (hoje município de Domingos Martins) os primeiros luteranos. Construíram sua primeira capela de uso ecumênico com católicos que vieram no mesmo grupo de imigrantes alemães. Esta situava-se na Serra da Boa Vista. Em 1858 os imigrantes saem dali e se dividem: os católicos se estabelecem em Santa Isabel e os luteranos seguem para Campinho (atual Sede do município), onde logo constroem outra capela, ainda bem simples e de madeira. Em 20 de maio de 1866 é inaugurado um Templo, que está em uso até os dias atuais. E a capela dá lugar ao cemitério, ficando atrás do Templo então construído. Mas ainda não tinha torre, pois era proibido aos luteranos que seu local de culto tivesse características de uma Igreja; só católicos tinham essa permissão, pois era a religião oficial do Império. Em 30 de janeiro de 1887, ainda contrariando o Artigo 5º da Constituição do Império, acontece a inauguração da torre, com seus três sinos: Gloria, Concordia e Gratia, tendo o maior deles 300kg. O Império já estava enfraquecido e em seus momentos finais. A República foi proclamada poucos anos depois, em 15 de novembro de 1889. A construção da torre e colocação dos sinos marca uma nova era para a comunidade. E foi o primeiro Templo Evangélico com torre e sinos em todo o Brasil! Em 31 de janeiro de 1937, é inaugurado o relógio da torre, com sistema que marca cada hora e cada meia hora com toque do sino maior, o Gloria. O relógio e os sinos continuam em perfeito funcionamento!
A história da Comunidade não parou por aí. Foi muito intensa a atuação da Igreja para a formação da cidade. Desde sua chegada, a Comunidade preocupou-se com a instalação de uma escola. Veio a funcionar nas dependências da Comunidade uma escola alemã. Em 1942, com o início da 2ª Guerra Mundial, a escola teve que ser fechada, bem como tudo que era escrito em alemão (livros, bíblias e hinários) teve que ser queimado. Conseguiu-se preservar os livros de registros. Pastores que eram alemães ficaram presos. Após a Guerra, O P. Sigmund Wanke, então pastor em Domingos Martins, junto a um grupo de pessoas (juiz, educadores, promotor e advogado), mobilizou a construção do Ginásio CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), que foi fundado em 1953. Este dá lugar, hoje, à Escola Municipal. Em 24 de junho de 1957 é fundado o Grupo Cultural Martinense (grupo de instrumentos de metais), com o principal objetivo de tocar os hinos dos cultos. Em 1973 a Comunidade motiva e sede um terreno para a construção de um Hospital Provisório. Em 1978, com recursos diretos da Igreja Evangélica Luterana da Alemanha, em terreno doado pela Paróquia, é inaugurado o Hospital e Maternidade Dr. Arthur Gerhardt, que desde então serve à população martinense e municípios vizinhos. Em 2 de maio de 1986 o Templo da Comunidade é tombado como Patrimônio Histórico Estadual.
Com tanta história para contar e para ser lembrada, a comemoração não podia ser pequena! Já na quinta-feira iniciaram-se os eventos comemorativos. O primeiro foi a Palestra da Psicóloga Gertraude Wanke, filha do P. Wanke, falando sobre o tema “Pertencer a uma comunidade quase bi-centenária: tradição ou convicção de fé?” Gertraude falou sobre o sentimento que temos frente às comemorações e diante do fato de ser membro desta comunidade. Na sexta-feira, que foi exatamente o dia em que o Templo completou 150 anos, houve um culto festivo com a Comunidade local, oficiado pela Diác. Irléci Klitzke Thomas e pelo P. Eloir Carlos Ponath, tendo como visitante o celebrante P. Paulo Marcos Jahnke. P. Eloir ressaltou na pregação a necessidade de sempre lembramos que este Templo foi construído para que a Comunidade possa sempre se encontrar para “ouvir” a Palavra e levar a Deus seus louvores; “ouvir” a Palavra e fazer suas orações; “ouvir” a Palavra e fortalecer o testemunho de fé para fora das paredes da Igreja, honrando o legado deixado pelos nossos antepassados, de construir uma sociedade mais preocupada com o bem-estar social e comunitário. O Coral recém-reativado na comunidade apresentou o hino dos 150 anos, texto e melodia do Sr. Guilherme José Brickwedde, que já compôs esse hino para o aniversário de 100 anos e agora o reescreveu e adaptou para o aniversário de 150 anos, com arranjo e sob regência de Micaela Berger. Também a crianças do Culto Infantil apresentaram uma homenagem aos 150 anos a partir da letra do hino. Após o culto, houve a partilha do bolo de aniversário do Templo. No sábado a comunidade se encontrou para ouvir música e resgatar a cultura, participando de um recital com o Grupo Cultural Martinense e com a musicista Micaela Berger. Ainda houve a participação do Coral com o hino dos 150 anos e a recepção à Delegação do Sínodo Sul de Ohio (Estados Unidos), que veio para participar das festividades no sábado à noite e durante o domingo.
O domingo foi o grande dia! Por ocasião do Dia Luterano, comunidades de toda a UP Jucu estiveram presentes. Mas também vieram colegas e caravanas de outras Paróquias, além da UP Jucu, bem como a Delegação antes citada. Tivemos participação de Santa Maria de Jetibá, Vila Velha e São João de Laranja da Terra. O Pastor Presidente, P. Nestor Paulo Friedrich, esteve especialmente para esta celebração, onde pregou sobre a importância de não se deixar levar por qualquer ensinamento e ressaltou o tema do ano 2016, frisando que a salvação e as pessoas não estão à venda. Resgatou a história da Comunidade e falou da importância de valorizar esta herança que nos é deixada como algo a ser preservado, valorizado e assimilado por cada membro, com muito orgulho e determinação. Nesse sentido, o cuidado com a história e com a vida em comunidade devem fazer parte da vida de cada membro.
O Pastor Sinodal do Sínodo Espírito Santo a Belém, P. Joaninho Borchardt, foi um dos celebrantes, além dos pastores: Edivaldo Binow, Paróquia de Califórnia; Scharles Roberto Beilke, Paróquia de Rio Ponte; Anivaldo Kuhn, Paróquia de Melgaço; Lindomar Raach, Paróquia de Marechal Floriano e Coordenador da UPJucu; Eloir Carlos Ponath, Paróquia de Domingos Martins e Vice-Coordenador da UPJucu; Valdeci Foester, Paróquia de Santa Maria de Jetibá; Geraldo Grützmann, Paróquia de Garrafão da Pedra e Coordenador da UP Mata Fria; Simão Schreiber, Paróquia de São João de Laranja da Terra; Pa. Rosane Pletsch, Paróquia de Vila Velha; Paulo Marcos Jahnke, Paróquia de Serra Pelada; Siegmund Berger, Superintendente da ADL. Também os diáconos: Luciano Butske, Paróquia de Tijuco Preto; Irléci Klitzke Thomas, Paróquia de Domingos Martins.
Durante o culto, o presidente da Comunidade de Domingos Martins, Sr. Ivandro Ewald, fez o lançamento de um livro reportagem, sob o título “Domingos Martins e a Tradição Luterana – 150 anos de seu Templo”, de Joanna Ferrari, livro que retrata a história da comunidade, com muitas fotos e texto de fácil leitura e compreensão. Um grande tesouro que perpetua a história de vida da comunidade desde 1847 até 2016.
O domingo iniciou com um grande café da manhã partilhado na mesa comum. Todos trouxeram algo a compartilhar e à tarde ainda foi possível novamente servir o café. O almoço foi feito com doações em dinheiro e distribuído a todas as pessoas presentes, as quais podiam também deixar, se quisessem, uma contribuição no valor desejado na caixa perto das mesas. Foram servidos 1.800 pratos em 40 minutos. Registre-se a dedicação e organização das equipes que cuidaram da distribuição do café e do almoço, merecendo toda gratidão e louvor pelo trabalho realizado voluntariamente.
Foram muitas mãos que colaboraram e muitas lideranças que se empenharam com todo carinho para que fosse possível tamanha comemoração. Além das pessoas da comunidade local, também vieram pessoas de cada uma das comunidades da Paróquia de Domingos Martins, ajudando já no sábado e no domingo para que tudo corresse na tranquilidade que correu. E não dá para deixar de mencionar os corais, grupos, músicos diversos, que abrilhantaram o evento, entoando hinos durante a celebração e após, durante toda a tarde. Além do Grupo de Dança Litúrgica de São João de Laranja da Terra, que de maneira tão bela interpretou lindas canções durante o evento.
Em tempos antigos estava escrito dentro do Templo de Domingos Martins em alemão um versículo bíblico que, por ocasião da 2ª Guerra Mundial, teve que ser retirado. Agora, na reforma que está em andamento, ele será recolocado, em alemão e português. É o Salmo 150.1, que diz: “Louvem a Deus no seu Templo.” Que este continue sendo o motivo pelo qual queremos ser membros em nossas comunidades: Reunirmo-nos em nossos templos para louvar a Deus e, motivados por sua Palavra, servi-lo com alegria e vigor, sempre, por amor a Deus e compromisso de fé, dentro da sociedade em que vivemos.
(Fotos: Marcos Miertschink)