Páscoa!!

Senhas diárias

04/04/2021

SENHAS DIÁRIAS - 04.04.2021
Êxodo 33.14 – Deus disse: Eu irei com você e lhe darei a vitória.
João 14.19 – Jesus Cristo diz: Porque eu vivo, vocês também viverão.
Mais uma vez, nossa peregrinação litúrgica anual nos traz até diante do túmulo vazio de Jesus Cristo. Mais uma vez, comparecemos como comunidade cristã perante o segredo da renovação da vida, segredo este que não podemos ver com nossos olhos, nem tocar com nossas mãos. Aí o entendimento busca a ajuda do coração para poder ver o essencial. Buscamos alento na fé, que nos vem pela palavra de testemunhas fiéis daqueles tempos idos. Nada vimos, nada presenciamos, mas estamos aqui, crentes, diante do túmulo vazio! Mais uma vez! Porque para nós o túmulo está vazio! Trazemos a esperança de quem crê apesar de não ver! Mas, como diz Antoine de Saint-Exupéry, em o Pequeno Príncipe Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
Precisamos ver com o coração. A mensagem da esperança nos foi legada por mulheres e homens que tiveram o privilégio de acompanhar nosso Senhor em suas andanças pela Palestina, presenciaram seu sofrimento e morte, puderam ainda ter comunhão com ele depois de ter voltado à vida. Mas, embora não tenhamos mais estes privilégios todos, queremos nos animar neste Domingo de Páscoa, consolados pelo evangelista João: Felizes os que creram, mesmo sem ver! (20.29) Cremos numa mensagem de vida e de paz, trazida para e oculta dentro de um mundo de conflito e morte. A pequena luz da fé na ressurreição de Cristo brilha na escuridão do túmulo vazio, como a luz da esperança no fim do túnel da incerteza.
As testemunhas dizem: Parecia que o bem não tinha futuro, que o amor e a justiça eram sonhos idealistas. Então nos deparamos com o fato inusitado: Deus o ressuscitou no terceiro dia e também fez com que ele aparecesse a nó Nós comemos e bebemos com ele depois que Deus o ressuscitou. Ele nos mandou anunciar ao povo a Boa-Notícia. Todos os profetas falaram a respeito de Jesus, dizendo que os que creem nele recebem, por meio dele, o perdão dos pecados. Voltando para nós hoje! Não há descrição da ressurreição. Ninguém testemunhou o fato mais revolucionário da história. Ninguém viu Jesus saindo do túmulo! Estamos diante de um mistério hoje. Algo aconteceu, é verdade. Nós estamos olhando de longe, de muito longe. Poderíamos até acreditar nos boatos que circularam na ocasião: Ah! Os discípulos vieram de noite e levaram o corpo de Jesus. (Mt 28.13).
Como chegar mais perto para enxergar os fatos? Para ver com os próprios olhos? É humanamente impossível chegar mais perto! Não inventaram ainda a máquina do tempo! Pedro e o discípulo amado, correram para ver a sepultura. Estava vazia. Buscaram a presença de Jesus Cristo. Não o acharam e nem viram como aconteceu a sua volta à vida. Mas não vimos! Só ouvimos falar!
Por isso, como diz o Pequeno príncipe, nós precisamos ver com o coração! Isso é o que nos confirma a esperança e a certeza de que Ele não ficou na morte. Isso nos diz que as testemunhas não mentiram, mas falaram com a propriedade de quem andou, falou, tocou e comeu com Jesus depois da ressurreição.
Hoje, dentro dessa realidade difícil que temos, parece que o bem não venceu. Parece que o bem ficou na sepultura! Aos nossos sentidos se revela a realidade marcada pela morte em nosso tempo: no rosto dos desempregados, marcados pelo medo e pela incerteza; no rosto de crianças famintas de pão e de carinho; no rosto das mulheres e homens que vendem sua vida por alguns trocados; no rosto de pessoas corruptas e gananciosas, que não hesitam em usar outros para seu próprio benefício; nas cicatrizes expostas da natureza depredada. Temos que passar pelo vale escuro, pelo túmulo vazio e olhar para além da nossa realidade. Ali os olhos do nosso coração vão enxergar! Aí sim, aos olhos da fé é revelada a possibilidade e a realidade de uma vida renovada, de um mundo renovado integralmente. Como Pedro e o outro discípulo, nós saímos do túmulo repletos de fé e esperança. Saímos renovados.
Fomos ao túmulo à procura do corpo de Jesus e saímos de lá como corpo do Cristo. Nós somos o corpo que sumiu. Pela fé nos foi revelado que nossa única esperança está além do túmulo. Passamos por ele. Morremos com Cristo. Saímos dele. Fomos ressuscitados juntamente com Cristo. Nosso corpo já não se presta para servir à morte, à ira, ao ódio, à mentira, à corrupção, mas, em Jesus, passa a se prestar à luta e à libertação de todas as formas de morte e sofrimento.
No túmulo vazio ocorreu um redirecionamento de nossa existência no mundo. Buscamos os valores que estão além e acima da morte. Não mais violência, corrupção, mentira, falta de dignidade, exploração, mas amor, fé, esperança, bondade, alegria. Mesmo sem ver a plenitude e a glória da ressurreição, sabemos que nossa vida está guardada em Deus e cremos na palavra dos apóstolos. Nossa vida não é a glória, mas reflexo da mesma. Para o nosso tempo somos luzes no fim do túnel, que indicam para o sol da ressurreição e da vida renovada, que é Jesus Cristo. O que só se consegue ver com o coração!
Através de nossa maneira de viver vamos explicar, tornar presença, tornar corpo, tornar palpável, vivenciável a nova realidade da ressurreição, para que mais gente se sinta animada a dar o passo de fé para além do túmulo de Cristo, que está vazio. Um passo de fé com os olhos do coração. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
Isso é Páscoa! Amém. P. Luiz Carlos 

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