Orar - Celebrar - Ensinar - Agir

Artigo

01/06/2005

No Evangelho de João 17. 20-21 encontramos um texto que nos motiva e inspira a uma reflexão em torno do que nos dias atuais chamamos de ecumenismo. Embora o próprio Cristo não tenha usado o conceito ecumenismo, é com ele que hoje expressamos o anseio e o anelo por maior unidade e fraterna solidariedade entre as diferentes manifestações da fé cristã. O texto do Evangelho de João proclama: Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.

A credibilidade da palavra proclamada está em relação de interdependência com a nossa capacidade de convivência e recíproco acolhimento. Ecumenismo, assim o entendo, é movimento, é dinamismo. Nós somos ecumênicos à medida que nos aceitamos e valorizamos reciprocamente, sem que isso signifique concordância absoluta em todos os níveis de manifestação da nossa fé, que é confessionalmente marcada e que traz em seu bojo as marcas da história. Por isso penso que ecumenismo é uma atitude. Atitude pró-ativa em favor da vida e da fé em Jesus Cristo, Senhor da Igreja. Fé cristã que não seja minimamente ecumênica esbarra na arrogância farisaica daqueles que se consideram donos da verdade. Ecumenismo pressupõe que a verdade da salvação oferecida por Deus em Cristo não é posse nossa, mas oferta divina. Neste sentido, penso que há quatro princípios que podem nos ajudar no cultivo de uma atitude ecumênica favorável à consolidação da fraternidade e da aproximação entre os cristãos.

Em primeiro lugar me ocorre o verbo orar! A oração é um valor cristão por excelência que não depende de idade, de capacidades físicas ou intelectivas. A oração não é atribuição apenas de líderes cristãos ou de pessoas destinadas ao trabalho especial na igreja. A oração é princípio fundamental de comunhão pessoal e comunitária com Deus. Podemos orar sozinhos. Podemos orar com a comunidade. Portanto, podemos orar pelo ecumenismo. Essa foi a motivação principal da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (08 a 15 de maio), e que deve continuar como fonte de inspiração. Ore pelo ecumenismo. Ore para que todos sejam um, na unidade do Espírito Santo de Deus. O ato de orar leva ao cultivo daquilo pelo que se ora!

Em segundo lugar lembro-me do verbo celebrar! Vida de fé é vida de celebração. Por isso o ecumenismo precisa ser vivenciado de forma celebrativa. E não haveremos de ser ecumênicos apenas quando estivermos unidos num momento especial de celebração. Atitude ecumênica consiste em celebrar de tal forma que os cristãos não precisem mais sentir-se completamente como estranhos quando se visitam reciprocamente em suas casas de culto. Atitude ecumênica implica em hospitalidade e acolhimento celebrativo. Certamente temos aí um caminho a ser percorrido. Mas podemos e devemos ir ensaiando significativamente. A celebração pela passagem da Campanha Ecumênica da Fraternidade na Praça Nereu Ramos foi mais um marco nesta caminhada celebrativa.

Em terceiro lugar vem à minha mente o verbo ensinar! As gerações precisam ser ensinadas a cultivar uma atitude ecumênica. Somos todos passíveis de aprendizados. Muitos dos conteúdos que cultivamos e prezamos, nos foram ensinados. O ecumenisno a ser ensinado não há de ser reducionista. Não se trata de fomentar uma idéia generalizante de fé e de cristianismo, que abre mão completamente de identidades confessionais. Nós precisamos de formas para os conteúdos. E as confissões cristãs oferecem tais formas. Mas podemos promover o cultivo de uma atitude ecumênica ensinando o respeito e a tolerância e a valorização recíproca das diferentes formas de expressão da fé cristã. Assim o ecumenismo ajudará a superar o descrédito e estimulará a fraternidade.

Em quarto lugar chego à conclusão de que a oração, a celebração e o ensino precisam necessariamente desembocar no verbo agir. Ecumenismo é ação. Atitude ecumênica é mobilização inspirada pelo evangelho em favor do resgate da dignidade humana e da criação como um todo. E é justamente no horizonte da diaconia e do serviço que as diferenças confessionais menos importam e contam. O agir solidário ecumênico tem seu credo fundamental no exercício do amor. Na ação amorosa em favor da vida o ecumenismo encontra um terreno fértil! E esta certamente é a linguagem mais ecumênica do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Mauro Alberto Schwalm
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

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