Orar, antes de tudo

Artigo

01/06/2004

Em primeiro lugar, transmito um abraço ecumênico e fraterno às pessoas leitoras deste Informativo! Escrevo esta coluna, no início da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Trata-se de uma proposta ecumênica motivada, a cada novo ano, pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs. A Semana de Oração ecumênica culmina no Dia de Pentecostes, aniversário da Igreja cristã. Também nesta semana especial acontecerá, num momento importante, uma celebração de reflexão e oração, que reunirá cristãs e cristãos de várias igrejas e confissões religiosas, na Igreja da Paz (IECLB), em Joinville. O mesmo sucede em muitos outros lugares pelo país afora.

Conforme a 1ª carta dirigida a Timóteo, no capítulo 2, 1, a prática da oração, constitui-se na família cristã em atitude prioritária: Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graça, em favor de todos os seres humanos.

Quem é confrontado com o termo oração ou com a postura orante precisa ter clareza sobre o conceito da oração. Há quem identifique a prática da oração sendo uma maneira de compensação mágica diante da impotência humana. Outras pessoas vêem no ato de orar, uma demonstração dos seus próprios limites em busca do preenchimento de lacunas que humanamente não conseguimos preencher. O capitão do navio, ameaçado pelos vagalhões do mar e pela velocidade fortíssima dos ventos, conclui: não temos outra saída; o que nos resta é orar, pedir socorro a Deus; ao passo que o ministro de Cristo naquele mesmo navio pergunta, com certa dose de ironia: será que já é chegada a hora para tanto?

A postura da comunidade ecumênica orante não produz últimos gritos de socorro. Quem fala com Deus, em oração, não reduz este mesmo Deus a um fetiche, a tábua de salvação ou a uma última fonte com recursos mágicos, evidenciando, assim, capacidade para controlar situações desesperadoras. A pessoa ou a comunidade que ora, não foge deste mundo recolhendo-se num porto seguro, no além, na expectativa de garantir alguma saída em momentos extremos da vida e da história, da qual a falta de unidade das Igrejas também faz parte. A proposta ecumênica em busca da oração conjunta pela unidade, pela justiça e paz, será sempre uma resposta da fé e da obediência ao Pai, Senhor da Igreja, Deus encarnado que não faz acepção de pessoas. A oração, expressa através de palavras humanas, traz para a realidade presente aquela força que vem de fora, às vezes tão estranha e sempre diferente, chamada Deus. Na Semana de Oração, que acontece no espírito ecumênico, nos dirigimos ao Deus Todo Poderoso, a quem confessamos a nossa humanidade na esperança de que a Unidade da Igreja, Corpo de Cristo, não é conquista ou obra humana, mas é dom, presente do Senhor único da Igreja na sua dimensão de comunhão dos justificados por Deus. A prática da oração cria ânsia em todas pessoas que aguardam o cumprimento das promessas de Deus. Ele prometeu que: assentará a cada um e a cada uma debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira e não haverá quem os espante: Miquéias 4,4.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 06/2004

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