O salmista, no salmo 140, está cantando a vitória do bem sobre o mal. Ele lembra que o mal não prevalecerá e será banido da face da terra. O bem, sob a mão de Deus, acabará se estabelecendo e regendo tudo. Sua afirmação é baseada no fato de que Deus é o defensor dos que sofrem com a pobreza e com a carência. O Senhor é aquele que se coloca ao lado do que está à margem da sociedade. São palavras fortes que desafiavam a sociedade da época, pois esta sociedade estava fundamentada sobre a compreensão de que a riqueza, o conforto, as posses, a fartura na mesa e a prosperidade eram sinais da bênção de Deus sobre a pessoa e resultado de estar agradando ao Senhor com seu jeito de viver. Porém, o salmista lembra que esta compreensão é equivocada, uma vez que Javé, o Senhor, se coloca ao lado do que passa por necessidade e quer ajudá-lo a sair desta condição. O Senhor luta pelo direito do pobre e do carente. Isto mostra que algo está errado na compreensão da época. Se Deus é Deus que defende a superação da pobreza e da necessidade, não pode dar para alguns a fartura, enquanto tantos são carentes. Há uma verdade que a sociedade da época não queria ver e a escondia sob o manto da falsa compreensão de bênção.
Jesus é mais contundente ainda na sua palavra em relação à questão pobreza x riqueza. Ele inverte os valores da sociedade e desfaz esta falsa compreensão de bênção de Deus. A palavra de Jesus em Lucas, como em tantas outras nos outros Evangelhos, deixa a abertura para concluirmos que a fartura é sinal de vida boa neste mundo. O Reino de Deus, isto é, o bem que já começa aqui, e se completará em novos céus e nova terra, será apenas dos que estão em carência agora (isso parece loucura para nossa cultura cristã atual). A denúncia de Jesus é contra a compreensão falsa que continua acontecendo em relação ao que Deus espera do amor ao próximo: Fartura para alguns não é bênção de Deus, segundo Jesus, e carência para tantos não é da vontade do Senhor. Jesus quer corações atentos às necessidades das pessoas, pois Ele veio para que se tenha vida em abundância, isto é, na dimensão da vida física e da vida espiritual. É desafiante refletir na Palavra de Deus e comparar com nosso sociedade que vive desta cultura cristã e não da fé cristã. Pensemos nisso.