O Príncipe da Paz

01/12/2002

O Príncipe da Paz

“O povo que andava em trevas viu grande luz” (Is 9,2)

Existe um amplo consenso sobre o fato de que necessitamos de paz. Este consenso, porém, logo começa a se dissipar quando colocamos a pergunta se justamente o período de Advento e Natal pode nos proporcionar esta paz. Muito pelo contrário, é sabidamente este período que muitas vezes nos deixa mais agitados do que nunca. Aumenta a violência dentro e fora da casa, costuma também aumentar o consumo de álcool. Quem está só nestes dias sofre mais ainda com a sua solidão; quem arca com muito trabalho e tumulto por conviver com muitas pessoas e compromissos, por sua vez, sente justamente nestes dias mais acentuadamente o cansaço que isso pode provocar. O Natal não passa de um aborrecimento. Assim um pastor pregou na noite do dia 24 quando nós ainda éramos crianças. Lembro bem das discussões que esta colocação depois provocou. Pois os adultos, em sua maioria, concordavam com o pastor. Nós crianças, porém, em nada concordamos, pelo contrário, ficamos ofendidas. O Natal, para nós, era maravilhoso, cheio de encantos. Dava para escrever cartas para o Papai Noel, dava para confeccionar presentes para toda família, a casa cheirava a biscoitos e a árvore enfeitada era a coisa mais linda de se ver. O Natal era um tempo para sonhar. Sobretudo isso - um tempo para sonhar . Todo mundo por alguns dias dentro de casa sem trabalhar fora - isso, para nós crianças, era a paz.

A luz veio ao mundo. Deus se tornou homem. Ou, como escreveu Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas : Um menino nasceu - o mundo tornou a começar. Será que nós adultos fugimos desta paz? Será que nos jogamos nesta agitação acentuada por termos medo de tanta pureza, de tanta simplicidade, como se faz presente no menino de Belém? Será que temos medo da luz, da alegria e do céu aberto que caraterizam esta festa tão linda? Pois sabemos que, no fundo, nada temos a oferecer a este menino que veio lá do céu nos abraçar, nos trazer a sua ternura e a sua acolhida justa e calorosa. Medo do príncipe da paz que não quer nascer somente em Belém. Cristo quer nascer em meio às nossa vidas; quer nascer em nosso coração. Ou seja, em meio às trevas!

Trevas que podemos chamar de muita coisa: orgulho, ciúmes, cinismo, má distribuição de renda, sentimentos de culpa e ganância por toda a parte. Sem falar da lei da selva que muitas vezes governa as nossas vidas ao ponto de nem querermos mais fazer nada que não desse um retorno imediato. Trevas que podemos chamar também de medo da morte.

A paz que Cristo nos dá, é, aliás, muito diferente de um tesouro que uma vez achado guardamos e esquecemos. A paz que ele nós dá nos acompanha sempre, acompanha ao caminharmos sob a luz de Deus. Ela dissipa as trevas, muda a nossa vida - o mundo tornou a começar. O menino na manjedoura nos abre os olhos sobre o mundo que Deus quer para nós.

Nos prepara para encontrarmos os outros e não pisarmos os nossos semelhantes. Pois a paz não se limita ao âmbito individual. É preciso ampliarmos os nossos horizontes. É preciso assumirmos as nossas vidas.

É preciso, sim, não fugirmos desta luz. Não fugirmos do menino Jesus. Mesmo sabendo que nada temos a lhe oferecer em troca. Nada a não ser as nossas vidas.

Com ou sem enfeites de Natal, fazendo muito ou fazendo pouco nestas semanas que antecedem a festa. Semanas em si propícias para a introspecção, para o jejum e para a oração. Para os pequenos encontros e os gestos silenciosos. Pois há de vir o Príncipe da Paz!

Desejo a todos um feliz e abençoado tempo de Advento e Natal!

Bärbel Vogel - Pastora


Autor(a): Barbara M. Vogel
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Petrópolis (RJ)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 20981
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