O povo Cinta-Larga

01/12/2000

O povo Cinta-Larga

• Evanir Ermetinda Kich •

Os cintas-largas se autodenominam Panderej, que significa —) Pa = Nós (inclusivo) -, nderej = gente (plural). Foram denominados cintas-largas devido a uma faixa confeccionada da entrecasca de tauari, que usavam na altura da cintura. Habitam um território localizado na fronteira de Rondônia e Mato Grosso. A terra indígena do Roosevelt fica no município de Espigão do Oeste (RO), onde se dividem em cerca de cinco aldeias maiores e outras menores. As terras indígenas Serra Morena e Aripuanã estão localizadas nos municípios de Juína e Aripuanã (MT) e Vilhena (RO). A língua cinta-larga está classificada no tronco Tupi, família Monde. É uma sociedade de caçadores e agricultores seminômades, habitando o vale dos rios Roosevelt, Aripuanã e afluentes.

Os Panderej inspiram-se na própria natureza para confeccionar os motivos do artesanato ou pintura corporal. O grafismo tradicional encontra sua área de atuação na pintura corporal com jenipapo e urucum, nos motivos trançados da cestaria, das redes, pulseiras, braçadeiras, tornozeleiras e dos adornos da haste (com pêlo de caititu) na sua junção com a flecha. Essas manifestações não são meramente estéticas, mas estão carregadas de uma profunda simbologia e fazem parte de um sistema de comunicação altamente estruturado e demonstram ainda o profundo conhecimento que esse povo possui sobre zoologia e botânica.

Os primeiros contatos dos cintas-largas com os não-índios aconteceram a partir dos anos 50 e foram marcados pela violência e pelo sangue, que fulminaram aldeias inteiras. Empurrados pela frentes extrativistas, que penetraram em seu território em busca de áreas ricas em seringais, os cintas-largas reagiram à invasão de suas terras. Já no início da década de 70, suas terras foram alvo de garimpeiros, madeireiros e agropecuaristas. A exploração predatória desses recursos naturais trouxe maior incidência de malária e outras doenças, provocando outro decréscimo populacional. Hoje, a população cinta-larga está estimada em 780 pessoas, sendo que eram cerca de 5 mil. Atualmente, os madeireiros continuam ampliando suas atividades, retirando indiscriminadamente toneladas de madeira branca de suas terras, uma vez que as madeiras de lei já estão acabando. Isso tudo sem a menor preocupação com o meio ambiente, sem projetos de manejo ou reflorestamento. A exploração de minérios está se intensificando mais na região do Mato Grosso, onde os rios estão sendo destruídos.

O COMIN (Conselho de Missão entre Índios) iniciou um trabalho junto a esse povo a partir de 1988, através de Ujatu Tamalisyn (Ismael Tressmann), que após longa convivência e pesquisa junto aos cintas-largas iniciou a ortografia da língua cinta-larga. Desse processo fazem parte oito cursos para professores/as cintas-largas em formação, juntamente com alguns alunos/ as. O material produzido foi organizado juntamente com os/as professores/as e em sala de aula, nas aldeias, junto aos/as demais alunos/as. Foram consultados/as os/ as antigos/as, que contribuíram com sua sabedoria milenar.

Hoje, com as conquistas da legislação indigenista, os professores cintas-largas participam da formação em nível habilitação para magistério indígena através do Projeto Açaí, oferecido pela SEDUC (Secretaria Estadual de Educação), com apoio e participação do NEIRO (Núcleo de Educação Indígena de RO), do qual fazem parte várias entidades da área de educação, entre elas o COMIN. As etapas intensivas são de seis semanas duas vezes ao ano. Já as intermediárias são de prática em sala de aula, onde o COMIN, juntamente com outras entidades, se propõe a fazer um acompanhamento in loco, sempre que possível, com a finalidade de tirar dúvidas, planejar, fazer as pesquisas e confeccionar material didático. É também a oportunidade de construir um currículo próprio, específico e diferenciado para cada escola, que valorize e estimule aspectos significativos da cultura cinta-larga.

Atualmente, o COMIN mantém junto a esse povo o PROARI (Projeto de Assessoria aos Povos Indígenas do Parque Aripuanã), que presta assessoria em saúde através da enfermeira Carla Simone da Silva e assessoria em educação pela obreira Evanir Kich. Com esse projeto são beneficiados também os povos Zoró e Suruí, que vivem no Parque Aripuanã.


A autora é pedagoga e obreira do COMIN na área da educação em Rondônia


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Autor(a): Evanir Ermelinda Kich
Âmbito: IECLB / Organismo: Conselho de Missão entre Povos Indígenas - COMIN
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2001 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000
Natureza do Texto: Artigo
ID: 32975
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