O desafio do ecumenismo para nossos dias

05/05/2002


O DESAFIO DO ECUMENISMO PARA NOSSOS DIAS

A questão do ecumenismo não reside na unificação de doutrinas, mas na questão do amor. Todo esforço ecumênico que visa uniformidade está fadado ao fracasso. Deus não pode ser reduzido a uma só face. Ao contrário, Ele se revela justamente na diversidade, naquilo que é diferente e que, por ser diferente, nos coloca uma dimensão que nos desafia a pensar além de nós. Acredito que o grande problema do ecumenismo não está na pluralidade de igrejas e doutrinas, mas sim, quando nós, em nosso egoísmo, pensamos que a única forma de entender Deus é aquele adotado por nós. Eu só posso dialogar com o outro quando reafirmo e confirmo aquilo que eu creio. Mas ai de nós, se isto for motivo para não ter comunhão com aquele que é diferente de nós na sua maneira de crer e vivenciar a fé! Penso que em nossa caminhada com outras igrejas precisamos de muito amor e perdão. Mas também do espírito de discernimento, para que não juntemos gato com lebre em um mesmo saco.

Talvez seja oportuno relembrar a distinção que Lutero fez entre igreja visível e invisível. Para ele, a verdadeira igreja é invisível, porque somente Deus a conhece. A igreja visível, por outro lado, é necessária porque é através dela que Deus realiza a sua obra. Mas esta igreja visível está cheia de acertos e erros, e nela estão misturados tanto crentes como descrentes. Lutero afirma que a igreja visível sempre de novo tem que pedir perdão, porque nela habitam tanto o amor verdadeiro como o amor próprio, o egoísmo, a falsidade e até a mentira. A igreja visível é uma igreja pecadora e por esta condição sempre de novo precisa do amor de Deus. Talvez por isso que, quando falamos de ecumenismo, nossa primeira tarefa seja a de pedir perdão a Deus porque não conseguimos ter comunhão com irmãos que pensam de forma diferente de nós.

Nós nunca devemos confundir ecumenismo com diálogo inter-religioso. O primeiro se dá entre igrejas cristãs; o segundo, entre diferentes religiões. Sempre que tenho contato com outras religiões e culturas, sinto-me impotente e fragilizado. Como vou ter comunhão com alguém que não crê em Jesus Cristo, mas em Maomé ou Buda? Como falar de um Deus Todo-poderoso que convidou-me a falar de Jesus Cristo como único mediador entre os seres humanos e este Deus? Me parece que somente podemos falar de um Deus Onipotente a partir da impotência de Deus, manifesta no Cristo crucificado. Quando falamos da impotência de Deus, falamos do senhorio e do amor de Deus. Em outras palavras, somente o amor é capaz de exercer poder de modo tal que outros não sejam destituídos de poder. Amor somente é possível quando concede a liberdade, não quando retira o poder daquele que é totalmente diferente de mim. Não vim para ser servido, mas para servir, nos fala Jesus.

Por isso, talvez fosse melhor pensar que nossa forma cristã de ser igreja não seja a única forma de transmitir o amor de Deus aos seres humanos. Falando sobre missão, um teólogo luterano pensou que a igreja não tem uma missão, mas que a missão tem a igreja. Em outras palavras, como igreja cristã somos chamados para realizar a vontade de Deus no mundo. No entanto, a missão de Deus é muito maior e talvez até estranha para nós. Se Deus quer isto de nós, nosso maior pecado seria a busca da uniformidade; a maior bênção, no entanto, a vivência da fé a partir da tolerância e do respeito.

P. João Carlos Müller


Autor(a): João Carlos Müller
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Petrópolis (RJ)
Natureza do Texto: Artigo
ID: 20965
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Quisera não ter outro pensamento que este: a ressurreição aconteceu para mim!
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