Introdução pela Comissão de Missão e Unidade do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra
1. A Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã (BEKDDR) inclui as Igrejas Luterana e Unida, e a Igreja Evangélica na Alemanha na República Federal da Alemanha (EKD) inclui as Igrejas Luterana, Unida e Reformada.
2. Inúmeros líderes das Igrejas alemã e inglesa mostraram-se profundamente comprometidos com o desenvolvimento do ecumenismo entre as duas guerras mundiaiSums; e durante a Segunda Guerra Mundial líderes da Igreja da Inglaterra empenharam-se em estabelecer conversações com membros da Igreja Confessante Alemã. Entre estes destaca-se o Bispo Bell de Chichester. Depois das guerras, membros da Igreja da Inglaterra, entre outros, trabalharam arduamente com membros das Igrejas Alemãs em favor da reconciliação entre nossos povos. O companheirismo entre Coventry e Dresden mostrou-se importante foco desse ideal. Esses laços aumentaram e se fortaleceram especialmente com a Igreja na Alemanha Ocidental com a qual a Igreja da Inglaterra já realizou duas séries de diálogos teológicos desde 1964. Existe hoje em dia considerável número de intercâmbios entre igrejas na Inglaterra e na Alemanha Ocidental. Muitas igrejas participam ativamente em arranjos de cooperação local. Há visitas mútuas de ministros especiais incluindo capelães de prisões. Existem capelanias e comunidades anglicanas na Alemanha Ocidental, e funciona na Inglaterra um sínodo de língua alemã com a participação de diversas igrejas ( uma dessas igrejas já participa num projeto ecumênico local). Representantes da Igreja da Inglaterra,, incluindo o Arceblspo de Cantuária, têm sido bem recebidos pelo Sínodo da Igreja Evangélica na Alemanha na República Federal, e líderes da EKD têm sido igualmente recebidos por nosso Sínodo Geral.
3. O relacionamento entre a Igreja da Inglaterra e a Federação de Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã tem sido mais difícil por causa de divisões políticas. Mesmo assim, tem havido certo intercâmbio cada vez com mais freqüência, por meio de representações esporádicas em nossos respectivos sínodos, bolsas de estudo para estudantes e visitas mútuas de especialistas ( Incluindo pessoas preocupadas com o uso de edifícios eclesiásticos).0 relacionamento com a Igreja na Alemanha Oriental é de particular importância no esforço de união da Europa ocidental e oriental.
4. Um dos motivos para se melhorar as relações com as Igrejas Evangélicas no Oriente e no Ocidente da Alemanha é porque estão na pátria de Lutero e da Igreja Luterana. Como a presença luterana é pequena na Inglaterra, é difícil o contato dos membros da Igreja da Inglaterra com essa importante tradição cristã. A presença anglicana na Alemanha é também pequena, confinada que está a poucas capelanias ( incluindo as militares na Alemanha Ocidental). Observamos ainda a existência da pequena diocese alemã da Igreja Velho-Católica, com a qual a Igreja da Inglaterra mantém relações de lntercomunhão. Em linhas gerais, a cena eclesiástica alemã é dominada por dois grandes grupos de cristãos, os católico-romanos e os protestantes. Os cristãos evangélicos da Alemanha têm alguma coisa a aprender da assim chamada via media anglicana, ao mesmo tempo em que os anglicanos têm muito para aprender do diálogo entre católicos-romanos e luteranos em particular.
5. Entretanto, os únicos motivos para a busca da unidade não são apenas a preocupação pela reconciliação entre povos anteriormente em guerra e agora divididos por ideologias políticas nem a procura de unidade mais plena entre diferentes tradições cristãs. Nossas três igrejas precisam ser fiéis à missão num continente secularizado no qual enfrentam desafios semelhantes embora não idênticos. Tem havido considerável interesse, por exemplo, na Alemanha pelo movimento Fé na Cidade. Temos muito para aprender do trabalho das academias leigas e do Kirchentag na Alemanha Ocidental bem como do testemunho da Igreja Evangélica na Alemanha Oriental ao enfrentar um regime ateísta. O intercâmbio de idéias sobre tais interesses já começou e precisa se desenvolver.
6. Além disso, por causa de seu tamanho e influência nossas igrejas sentem-se particularmente responsáveis pelo desenvolvimento do mundo e pela partilha de recursos entre a Europa e os assim chamados países do Terceiro Mundo. Tais responsabilidades incluem tanto a nossa participação por meio da Christian Aid (Ajuda Cristã) e de outros meios, e também pelo nosso testemunho perante nossos respectivos governos. As Igrejas Evangélicas Alemãs estão assumindo lugar de liderança nos programas envolvidos com justiça, paz e integridade da criação tanto no Conselho Mundial de Igrejas como na Conferência das Igrejas Européias. Esses programas e o tema da partilha dos recursos entre as igrejas são, naturalmente, da responsabilidade de todas as igrejas e estão sendo desenvolvidos formalmente por meio de agências ecumênicas oficiais. Contudo, laços mais intensos entre nós e as Igrejas Evangélicas Alemãs poderiam ajudar para o melhoramento da compreensão mútua e para o fortalecimento desse trabalho.
7. O plano do Acordo apresentado ao Sínodo é apenas o primeiro estágio no processo do aperfeiçoamento de nossas relações. Baseia-se em acordos teológicos já alcançados em diálogos entre anglicanos e luteranos e entre anglicanos e reformados, bem como no relatório da Comissão de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas, Batismo, Eucaristia e Ministério. Além disso foi elaborado no espírito e de acordo com a letra dos Cânones e Medidas Ecumênicas ( cf. Cânon B43 (GS 652C), parágrafos I(I), (3) e (5), e Local Ecumenical Development (GS 642) parágrafo 26).Os membros da Igreja da Inglaterra envolvidos na redação do plano do Acordo acreditavam que se tratava de importante documento para demonstrar que nossas relações com as Igrejas Evangélicas alemãs estavam de pleno acordo com as relações com igrejas semelhantes na Inglaterra e em outros lugares. E por isso que estiveram presentes aos encontros do grupo representantes das Igrejas Luterana e Reformada da Inglaterra e da Diocese Velho-Católica da Alemanha. O acordo e as relações esperadas fazem parte do compromisso de nossas igrejas com o movimento ecumênico em sua totalidade e com a unidade visível de todos os cristãos dentro dos propósitos de Deus.
8. O Acordo de Meissen não é mero exercício teológico abstrato. Se as três igrejas aprovarem esse Acordo será possível o avanço para estágios mais práticos para traçarmos planos específicos entre a Igreja da Inglaterra e as duas Igrejas Evangélicas Alemãs com a finalidade de relacionamentos maiores e melhores. A Igreja da Inglaterra terá de estabelecer acordos separados com as duas Igrejas Evangélicas Alemãs, uma vez que o tipo de relacionamentos possíveis e desejáveis serão diferentes.
Pela Comissão de Missão e Unidade,
Daphne Wales, moderadora
3 de outubro de 1988
ÍNDICE
I - NO CAMINHO DA UNIDADE VISÍVEL
Prefácio dos moderadores
Declaração conjunta
MEISSEN, 18 de março de 1988
I A Igreja: Sinal, Instrumento e Primícias do Reino de Deus
lI A Igreja: Koinonia
III Crescimento na Unidade Plena e Visível
IV A Comunhão que já temos
V Acordo na fé
VI Reconhecimento mútuo e próximos passos
Notas de rodapé e lista de participantes
PREFÁCIO DOS MODERADORES
1. O estimulo imediato para esta declaração data de 1983, quinto centenário do nascimento de Martinho Lutero. Naquele ano realizaram-se grandes celebrações públicas em Leipzig e Worms, e o Arcebispo de Cantuária ( Dr. Robert Runcie) escolheu aquela oportunidade para propor o estabelecimento de relações mais profundas entre a Igreja da Inglaterra e as Igrejas Evangélicas Alemãs. A iniciativa foi muito bem recebida pelo Conselho da Igreja Evangélica na Alemanha e pela Conferência dos Líderes Eclesiásticos da Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã.
2. Na verdade, essas relações têm sido cada vez mais cordiais desde 1945.0 principal centro desse encontro eclesiástico entre a Inglaterra e a Alemanha Ocidental foi o companheirismo entre Coventry e Dresden, muito embora existissem também muitos outros contatos. A crescente irmandade entre a Igreja Evangélica na Alemanha e a Igreja da Inglaterra (plenamente documentada num panfleto do Conselheiro Mor K. Kremkau (I) ) vai além de experiências locais de intercâmbio incluindo conversações teológicas oficiais desde 1964.
3. A publicação dos relatórios da Comissão Européia Anglicana-Luterana(1982), do Grupo Internacional Conjunto de Trabalho Anglicano-Luterano (1983), da Comissão Internacional Anglicana-Reformada (1984) e do texto Batismo, Eucaristia e Ministério da Comissão de Fé e Ordem do Conselho Mundial de lgrejas(l 982) deu mais estímulo a esse processo.
4. A presença de congregações anglicanas na República Federal da Alemanha, e de congregações de língua alemã na Grã-Bretanha aumenta ainda mais o desejo de maior aproximação entre estas igrejas.
5. Desde 1985 delegados oficiais têm sido designados pela Igreja da Inglaterra, pela Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã e pela Igreja Evangélica Alemã na República Federal da Alemanha para tratar dessa aproximação. ( Os nomes desses delegados aparecem no Apêndice). Esse trabalho teve início em fevereiro de 1987 no Reino Unido, em London Colney, seguido de um pequeno grupo de trabalho que se reuniu em @ novembro de 1987 na Castelo de Schwanberg na República Federal Alemã, e concluído em março de 1988 em Meissen, na República Democrática Alemã. A declaração final é unânime e passa agora a ser oferecida às autoridades de cada Igreja para aprovação.
6. Chamamos a atenção dos leitores para a estrutura de nossa Declaração. As cinco primeiras partes referem-se deliberadamente a conclusões de diálogos ecumênicos anteriores. Queremos partir do trabalho valioso já feito e que ainda está em processo de recepção pelas nossas igrejas. Não queremos que a Declaração no capítulo sexto seja vista isoladamente da Declaração Conjunta que a precede.
7. Se estas propostas forem aceitas, como esperamos que o sejam, as futuras relações entre nossas Igrejas deverão ser fortalecidas por acordos bilaterais num contexto de constante cooperação. Esta declaração será suplementada oportunamente com sugestões práticas pormenorizadas atualmente em preparo pelos oficiais ecumênicos de nossas igrejas.
+ David Grirnsby
Dr. Johannes Hempel
D. Karlheinz Stoll
I A IGREJA: SINAL, INSTRUMENTO E PRIMÍCIAS DO REINO DE DEUS
1. Deus, em seu plano declarado nas Santas Escrituras, quer reconciliar todas as coisas em Cristo, nele, por meio dele e para ele que é a finalidade de todas as coisas feitas.
2. Para realizar este propósito Deus escolheu Israel, enviou Jesus Cristo e comissionou a sua Igreja. Abraão foi chamado para ser bênção a todos os povos ( Gn 12.1-3). O servo de Deus não apenas restaurará o povo desgarrado de Israel; ele foi dado para ser luz para as nações, com a missão de trazer a salvação até os confins da terra (ls 49.6). Em Cristo Deus reconciliou o mundo consigo mesmo (2 Co 5.19 e Cl 1.15-20). A Carta aos Efésios reconhece as conseqüências da obra de Cristo para o mistério, a vocação e a missão da Igreja quando diz: Deus ... nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo ... dando-nos a conhecer o mistério da sua vontade, conforme decisão prévia que lhe aprouve tomar para levar o tempo à sua plenitude: a de em Cristo recapitular todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra( Ef 1.3, 9 e 10). Mas a cada um de nós foi dada a graça pela medida do dom de Cristo... E ele é que concedeu a uns ser apóstolos, outros profetas, outros evangelistas, outros pastores e mestres, para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito à medida da estatura da plenitude de Cristo ( Ef 4.7, 11-13).
3. A Igreja, corpo de Cristo, deve sempre ser vista nessa perspectiva como instrumento para os propósitos supremos de Deus. A Igreja existe para a glória de Deus e está a serviço, em obediência à missão de Cristo, da reconciliação da humanidade e de toda a criação. Por isso a Igreja é enviada ao mundo na qualidade de Sinal, Instrumento e Primícias da realidade que há de vir de além da história - o Reino, ou Soberania de Deus. Ela já é a concretização provisória da vontade de Deus que se mostrará plenamente na vinda do Reino (2). A Igreja é realidade divina, santa que transcende a presente realidade finita. Ao mesmo tempo, enquanto instituição humana, participa na ambiguidade e fraqueza da condição humana estando sempre em necessidade de arrependimento, reforma e renovação.
II A IGREJA: KOINONIA
4. Estamos redescobrindo agora, ao lado de outros cristãos, o caráter comunitário da Igreja. Diversas descrições da Igreja no Novo Testamento como povo de Deus, corpo de Cristo, “noiva, e templo do Espírito Santo ressaltam a realidade da koinonia ( comunhão) que significa a participação na vida da Santa Trindade e com os membros da Igreja. Esta comunidade (koinonia), segundo as Escrituras, é estabelecida pelo batismo inseparavelmente da fé e da conversão. A vocação de todos os batizados consiste em viver oferecendo louvor a Deus, compartilhando as boas novas e participando na missão e serviço à humanidade na qualidade de sacerdócio unido.
Essa vida comum é nutrida e sustentada pela graça de Deus por meio da palavra e dos sacramentos.É servida pelo ministério ordenado e também mantida unida por outros laços de comunhão ( ver parágrafo 8).
5. A Igreja é a comunidade (koinonia) dos reconciliados com Deus e das pessoas entre si. É acomunidade dos que, no poder do Espírito Santo, crêem em Jesus Cristo e são justificados pela graça de Deus. É ainda a comunidade reconciliadora porque foi chamada para levar à humanidade toda o oferecimento gracioso de Deus da redenção e da renovação (4). A koinonia que é participação no Cristo crucificado também faz parte da natureza e missão da Igreja de participar nos sofrimentos e lutas da humanidade, num mundo alienado de Deus e dividido em si mesmo por causa da desobediência à vontade divina.
III - CRESCIMENTO NA UNIDADE PLENA E VISÍVEL
6. Para cumprir a missão a Igreja deve estar unida. Começaremos a superar as divisões que nos mantêm separados ao adotar a perspectiva missionária. Na medida em que nossas igrejas crescerem na fé na plenitude de Cristo, crescerão igualmente na unidade. Tal unidade haverá de refletir os diferentes dons que Deus tem dado à sua Igreja em muitas nações, línguas, culturas e tradições. A unidade que buscamos deve ao mesmo tempo respeitar tão diferentes dons e manifestar plenamente a visibilidade da Igreja Una de Jesus Cristo.
7. A perfeita unidade deve aguardar a vinda final do Reino de Deus, onde todos serão completamente obedientes a Deus e portanto totalmente reconciliados entre si e com Deus. Mas num mundo caído estamos empenhados a tudo fazer pela unidade visível e plena do corpo de Cristo na terra. Somos chamados a trabalhar pela manifestação da unidade em todos os níveis, fundamentada na vida da Santa Trindade que é o propósito de Deus para toda a criação. Todas as nossas tentativas para descrever essa visão serão sempre provisórias. Mas estamos constantemente sendo levados a perceber novas riquezas e profundezas dessa unidade e a apreender novas maneiras de manifestá-la por meio de palavras e em nossas vidas. Qualquer experiência de unidade é dom de Deus e primícias e sinal do Reino.
8. As características da unidade visível e Plena vão se tomando mais claras na medida em que as igrejas crescem juntas em compreensão. Já podemos juntos, desde agora, enumerar o que essa unidade visível e plena deve incluir:
- a confissão comum da fé apostólica na palavra e na vida. Essa fé deve ser confessada em conjunto local e universalmente de modo que o propósito de Deus de reconciliação seja proclamado em todas as partes do mundo. Ao viver a fé apostólica em unidade a Igreja ajuda o mundo a alcançar o seu verdadeiro destino.
- a participação em um só batismo, a celebração da mesma eucaristia e o serviço de um ministério reconciliado e unido. Esta participação comunitária em um só batismo, uma só eucaristia e um só ministério reúne todos em cada lugar com todos em todos os lugares dentro da grande comunhão dos santos. A Igreja inteira está presente em cada celebração da eucaristia, unindo assim a igreja local com a igreja universal. Por meio da comunhão visível o poder curador e unificador do Deus Triuno se faz evidente no meio das divisões da humanidade.
- laços de comunhão que capacitam a Igreja em todos os níveis a manter e interpretar a fé apostólica, a tomar decisões, a ensinar com autoridade, a compartilhar os bens e a dar testemunho efetivo no mundo. Tais laços de comunhão terão aspectos pessoais, colegiados e comunitários. Serão sinais externos e visíveis de comunhão entre pessoas que, por meio do batismo e da comunhão eucarística entram em comunhão com o Deus Triuno.
IV A COMUNHÃO QUE JÁ TEMOS
9. Na medida em que Deus toma esta unidade mais visível reconhecemos que já participamos numa comunhão real. Ela inclui a dádiva comum das Santas Escrituras, relato autêntico da revelação de Deus em Jesus Cristo e norma da fé e vida cristãs; as decisões dos antigos Concílios Ecumênicos; os Credos Apostólico e Niceno-Constantinopoltano enquanto interpretação autorizada da fé apostólica; uma tradição litúrgica ocidental e pré-reformada com sua espiritualidade e teologia; a herança da Reforma expressa nos Trinta e Nove Artigos de Religião, no Livro de Oração Comum e no Ordinal, na Confissão de Augsburgo e no Catecismo de Heidelberg; tradições históricas semelhantes de culto, centralizado na proclamação e na celebração do Cristo vivo em palavra e sacramento convergindo agora com outras tradições cristãs no âmbito da renovação litúrgica.
10. Embora tenhamos nos distanciado um do outro e vivamos agora separados, jamais nos condenamos mutuamente. No século dezenove nossas igrejas estiveram envolvidas conjuntamente em diversas empresas missionárias. Nos anos sombrios entre 1933 e 1945 alguns membros de nossas igrejas reuniram-se em verdadeira comunhão de testemunho. Esses relacionamentos desenvolveram-se depois da Segunda Guerra Mundial e continuaram a produzir frutos no Movimento Ecumênico mundial.
11. Regozijamo-nos agora por estarmos crescendo juntos. Tem havido cooperação em muitas áreas de interesse social e pastoral, temos participado no diálogo teológico, nossa irmandade tem sido incentivada por diversos intercâmbios, por trabalho conjunto de congregações locais e por visitas mútuas em todos os níveis. Já podemos nos convidar mutuamente para receber a Santa Comunhão em nossas igrejas.
12. Reconhecemos que apesar da separação existe em nossas igrejas fidelidade à fé apostólica e à missão, à celebração do batismo e da eucaristia, e ao exercício dos ministérios ordenados dados por Deus como instrumentos de sua graça.
13. Nosso crescimento em unidade faz parte do Movimento Ecumênico mais amplo. Os seguintes acordos e relacionamentos são particularmente relevantes para o nosso presente acordo:
( i ) Nas décadas de 20 e 30 a Igreja da Inglaterra estabeleceu intercomunhão com as Igrejas Luteranas da Suécia e da Finlândia, Letônia e Estônia. Esse ato incluiu a mútua hospitalidade eucarística e a permissão para pregar e servir na eucaristia. Os bispos dessas igrejas têm tomado parte ocasionalmente em consagrações episcopais nas igrejas hospedeiras. Observamos ainda a existência de hospitalidade eucarística mútua e oficial entre a Igreja da Inglaterra e as Igrejas da Noruega, da Dinamarca e da Islândia desde os anos 50. Nos Estados Unidos da América as Igrejas Luterana e Episcopal decidiram, a partir de 1986, entrar no que chamaram de hospitalidade eucarística interina.
( ii ) Da mesma forma, anglicanos e reformados estão envolvidos em inúmeras negociações em diversos lugares do mundo. Como resultado disso já estão em experiência vários graus de comunhão eucarística nos Estados Unidos da América e no País de Gales. Essas duas tradições juntaram-se nas Igrejas Unidas do sub-continente da índia. Na Inglaterra, anglicanos e reformados, e em um caso, também luteranos, vivem juntos em projetos ecumênicos locais onde participam da mesma vida, do mesmo culto e do mesmo ministério. Em alguns lugares essas experiências incluem até mesmo o compartilhar de supervisão acima do nível local.
( iii ) A Igreja da Inglaterra, a Igreja Evangélica na Alemanha e a Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã mantêm relações muito próximas com os Velho-Católicos. A Igreja da Inglaterra estabeleceu intercomunhão com as Igrejas da União de Utrecht por meio do Acordo de Bonn de 193 1. As igrejas membros da Igreja Evangélica Alemã e da Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã bem como a Igreja Velho-Católica na República Federal Alemã e na República Democrática Alemã praticam a mútua hospitalidade eucarística.
( iv ) As Igrejas Reformada e Unida na República Federal Alemã, na República Democrática Alemã e no Reino Unido aderiram ao Acordo de Leuenberg entre as Igrejas da Reforma na Europa, que declara comunhão de púlpito e de altar. Em 1987 a Igreja Evangélica Metodista na República Federal Alemã e as igrejas membros da Igreja Evangélica Alemã também entraram em idêntica comunhão. Propostas semelhantes estão agora sendo estudadas pelas igrejas da República Democrática Alemã.
ACORDO NA FÉ
14. As recomendações apresentadas no parágrafo 17 fundamentam-se em acordos estabelecidos entre representantes das Igrejas da Comunhão Anglicana e da Federação Luterana Mundial, e entre as Igrejas da Comunhão Anglicana e a Aliança Mundial de Igrejas Reformadas; e, na Europa , entre representantes das Igrejas Anglicana e Luterana (5). Ao longo desses documentos devemos colocar o relatório da Comissão de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas, Batismo, Eucaristia e Ministério (6), e os relatórios das comissões internacionais de diálogo entre anglicanos, luteranos e reformados e a Igreja Católica Romana. Todos esses acordos estão ainda no processo de adoção e recepção por nossas igrejas. Todos eles demonstram notável consistência teológica indicando já substancial convergência entre as igrejas.
15. Como resultado desses diálogos a Igreja da Inglaterra, a Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã com suas igrejas membros e a Igreja Evangélica Alemã na República Federal Alemã com suas igrejas membros podem agora registrar os seguintes pontos de concordância:
( i ) Aceitamos a autoridade das Escrituras canônicas do Antigo e Novo Testamentos. Lemos as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. Lemos as Escrituras liturgicamente no decorrer do Ano Cristão (7).
( ii ) Aceitamos o Credo Niceno-Constantinopolitano e o Credo Apostólico e confessamos os dogmas cristológicos e trinitários básicos a respeito dos quais esses credos dão testemunho. Queremos dizer que cremos que Jesus de Nazaré é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e que Deus é um em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo (8).
( iii ) Celebramos a fé apostólica no culto litúrgico. Reconhecemos na liturgia tanto a celebração da salvação por meio de Cristo e significante fator na formação do consensus fidelium. Regozijamo-nos na amplitude de nossa tradição comum de espiritualidade, liturgia e vida sacramental que nos tem dado formas semelhantes de culto, textos comuns, hinos, cânticos e orações. Estamos sendo influenciados pelo mesmo movimento de renovação litúrgica. Alegramo-nos ainda com a variedade de expressões surgidas em diferentes contextos culturais (9).
( iv ) Acreditamos que o batismo com água em nome do Deus Triuno une as pessoas batizadas à morte e ressurreição de Jesus Cristo, inicia-as na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica, e lhes confere o dom gracioso da nova vida no Espírito (10).
( v ) Acreditamos que a celebração da eucaristia é a festa da nova aliança instituída por Jesus Cristo onde a palavra de Deus é proclamada e na qual o Cristo ressuscitado oferece à comunidade seu corpo e sangue sob os sinais visíveis do pão e do vinho. 'Na ação eucarística Cristo está verdadeiramente presente para nos dar sua vida ressurrecta e nos unir a ele em sua auto-oblação ao Pai, que é o pleno, perfeito e suficiente sacrifício que só ele pode oferecer e que de fato ofereceu de uma vez por todas(11). Experimentamos nessa celebração o amor de Deus e o perdão dos pecados em Jesus Cristo e proclamamos sua morte e ressurreição até que ele venha de novo e conduza seu Reino à plenitude (12).
( vi ) Cremos no evangelho e o proclamamos afirmando que em Jesus Cristo Deus ama e redime o mundo. Compartilhamos a mesma compreensão da graça justificadora de Deus, ou seja, que somos considerados justos e feitos justos diante de Deus apenas pela graça por meio da fé por causa dos méritos de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e não por causa de nossas obras ou méritos... As nossas duas tradições afirmam que a justificação nos leva às boas obras; a verdadeira fé conduz ao amor (I 3).
( vii ) Cremos que a Igreja é constituída e sustentada pelo Deus Triuno por meio de sua ação salvadora na palavra e sacramentos, não sendo criação de crentes individuais. Acreditamos que a Igreja é enviada ao mundo como sinal, instrumento e primícias do Reino de Deus. Mas também reconhecemos que a Igreja permanece em constante necessidade de reforma e de renovação (14).
( viii ) Cremos que todos os membros da Igreja são chamados a participar em sua missão apostólica. Recebem para isso vários ministérios pela ação do Espírito Santo. Dentro da comunidade da Igreja o ministério ordenado existe para servir ao ministério de todo o povo de Deus. Mantemos o ministério ordenado da palavra e do sacramento como dom de Deus a sua Igreja e, portanto, na qualidade de oficio divinamente instituído (15).
( ix ) Acreditamos que o ministério de supervisão pastoral (episkope), exercido de maneiras pessoal, colegiada e comunitária, é necessário para testemunhar e salvaguardar a unidade e a apostolicidade da Igreja (16).
( x ) Compartilhamos a mesma esperança na consumação final do Reino de Deus e cremos que nesta perspectiva escatológica somos chamados a trabalhar agora na promoção da justiça e da paz. As obrigações do Reino consistem em governar nossa vida na Igreja e nossas preocupações no mundo. Em Cristo aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e reconciliar por ele e para ele todos os seres, os da terra e os dos céus, realizando a paz pelo sangue da sua cruz ( Cl 1.19 e 20), estabelecendo assim o único centro válido para a unidade de toda a família humana (17).
16. As Igrejas Luterana, Reformada e Unida, embora cada vez mais preparadas para apreciar a sucessão apostólica como sinal da apostolicidade da vida da Igreja toda, entendem que essa forma particular de episkope não deveria se tomar condição necessária para a unidade plena e visível. A compreensão anglicana da unidade plena e visível inclui o episcopado histórico e o pleno intercâmbio de ministros. Por causa desta diferença o nosso reconhecimento mútuo dos ministérios ainda não resulta no pleno intercâmbio dos ministros. Contudo, esta divergência remanescente, quando vista sob a luz de nossos acordos e convergências não pode ser considerada impedimento a maior irmandade entre nossas lgrejas(18)
VI RECONHECIMENTO MÚTUO E PRÓXIMOS PASSOS
17. Recomendamos que nossas Igrejas façam juntas a seguinte Declaração:
Nós, Igreja da Inglaterra, Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã com suas igrejas membros e a Igreja Evangélica Alemã com suas igrejas membros fundamentadas na aceitação comum da fé apostólica e à luz do que redescobrimos a respeito de nossa história e heranças comuns, expressas nos capítulos I a V, comprometemo-nos a tudo fazer em conjunto em favor da unidade plena e visível.
A
( i ) reconhecemos que nossas Igrejas pertencem à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica de Jesus Cristo e que participam verdadeiramente na missão apostólica de todo o povo de Deus;
( ii ) reconhecemos que a Palavra de Deus é autenticamente pregada e que os sacramentos do batismo e da eucaristia são devidamente administrados em nossas Igrejas;
( iii ) reconhecemos que nossos ministérios são dados por Deus e são instrumentos de sua graça, e aguardamos o dia em que a reconciliação de nossas Igrejas possibilitará o pleno intercâmbio de ministros;
( iv ) reconhecemos que a supervisão (episkope) pessoal e colegiada concretiza-se e é exercida em nossas Igrejas por meio de diversas formas episcopais e não-episcopais enquanto sinal visível da unidade e continuidade da Igreja na fé apostólica, na missão e no ministério.
B
Comprometemo-nos a participar juntos na mesma vida e missão. Tomaremos todos os passos possíveis para alcançar maior aproximação entre nós no maior número possível de áreas da vida e do testemunho cristão de maneira que os membros de nossas Igrejas juntos possam progredir no caminho da unidade plena e visível.
Concordamos em incrementar no futuro os seguintes passos:
( i ) continuação do diálogo teológico oficial entre nossas Igrejas, para incentivar a recepção do consenso teológico e da convergência já alcançados e tudo fazer para resolver importantes diferenças entre nós;
( ii ) estabelecimento de formas de supervisão conjunta de tal maneira que nossas igrejas possam
regularmente empreender consultas mútuas a respeito de significantes temas de fé e ordem e de
vida e trabalho”-,
( iii ) participação mútua no culto incluindo batizados, celebrações eucarísticas e ordenações;
* Decisões a esse respeito deverão ser tomadas separadamente entre a Igreja da Inglaterra e a Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã e entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja Evangélica Alemã.
( iv ) desenvolvimento de tarefas por ministros autorizados de nossas Igrejas, sujeitos às regulamentações das Igrejas e nos limites de sua competência, em congregações da outra Igreja quando forem requisitados;
Quando tais funções vão ser exercidos por período longo e não apenas numa ou noutra ocasião especial, será necessário o convite da autoridade apropriada para isso.
( v ) convite da Igreja da Inglaterra a membros das igrejas que fazem parte da Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã e das igrejas membros da Igreja Evangélica Alemã para receber a Santa Comunhão segundo a ordem da Igreja da Inglaterra; convite das igrejas membros da Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã e das igrejas membros da Igreja Evangélica Alemã a membros da Igreja da Inglaterra para receber a Santa Comunhão segundo suas respectivas ordens. Incentivamos os membros de nossas Igrejas a aceitar a hospitalidade eucarística que lhes é estendida e expressar assim a unidade entre nós no único Corpo de Cristo.
( vi ) participação dos ministros ordenados de nossas Igrejas, de acordo com suas regulamentações respectivas, em celebrações eucarísticas, de tal maneira que progridamos além da mera hospitalidade eucarística muito embora ainda não possamos expressar plenamente esse intercâmbio.* Essa irmandade eucarística refletirá a presença de duas ou mais igrejas expressando sua unidade na fé e no batismo, ao mesmo tempo em que demonstrará que ainda estamos trabalhando com empenho para tomar mais visível a unidade da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica e que estamos fortalecendo-nos e nos incentivando mutuamente no caminho desse alvo na comunhão eucarística com o único Senhor Jesus Cristo.
Tais ofícios eucarísticos serão sempre presididos por ministros ordenados. Somente eles poderão proferir a oração eucarística.
Na oração eucarística a narrativa da instituição junta-se à ação de graças ao Pai, à lembrança dos atos salvadores de Cristo (Anamnesis) e à invocação do Espírito Santo (Epiklesis). Nessas celebrações o rito empregado deverá ser um dos autorizados pela Igreja do ministro que está na presidência do ato litúrgico.
Os arranjos litúrgicos, incluindo a distribuição das diferentes partes do oficio entre assistentes, serão determinados segundo circunstâncias e tradições locais. Serão obedecidos procedimentos adequados para o tratamento dos elementos que sobrarem. Cada Igreja deve respeitar as práticas e piedade das outras... a melhor maneira para demonstrar respeito pelos elementos servidos durante a eucaristia é consumindo-os sem, no entanto, excluir o seu uso posterior para a comunhão dos enfermos (19).
Os ministros usarão vestes segundo sua própria tradição.
* A concelebração, no sentido de co-consagração , por palavra ou gesto não está sendo cogitada aqui.
( vii ) a aceitação por qualquer bispo ou ministro de convite para tomar parte na ordenação de outra Igreja expressa o compromisso de nossas Igrejas com a unidade e a apostolicidade da Igreja. Enquanto não tivermos um ministério comum reconciliado, tais participações em ordenações não poderão envolver atos que por palavras ou gestos possam implicar que tal plena reconciliação já foi alcançada.
A Igreja da Inglaterra entende que a participação de bispos ou sacerdotes não poderá envolver a imposição das mãos ou qualquer outro ato que signifique conferir ordens. Poderão, no entanto, participar em cerimônia separada de imposição de mãosenquanto ato de bênção.
18. A declaração acima entrará em vigor quando fôr aceita pela Igreja da Inglaterra, pela Federação das Igrejas Evangélicas na República Democrática Alemã e pela Igreja Evangélica Alemã segundo seus regulamentos e práticas internas. Recomendamos que nossas Igrejas expressem por meio do culto seu compromisso de participar numa vida e missão comuns e a tudo fazer em favor da unidade plena e visível.
19. A implementação das propostas desta Declaração assinalarão importante estágio no crescimento na direção da unidade plena e visível da Igreja. Bem sabemos que além deste compromisso situa-se o movimento para o reconhecimento e reconciliação das igrejas e ministérios no contexto da comunhão mais ampla da Igreja universal.