Amai a justiça, vós que governais a terra. (Livro da Sabedoria 1.1)..
O calendário eleitoral brasileiro prevê, para hoje, um exercício de cidadania, as eleições municipais no território nacional. Votar, mas votar em quem? A prática da política, por vezes, provoca reações negativas fortes. Somos confrontados, em lugares públicos, nos contatos pessoais, bem como em nossos lares e casas, com a propaganda partidária. O espaço ocupado pelos candidatos, vinculados aos partidos políticos, visa à conquista da simpatia e do voto. A técnica de argumentação indica para o rol das obras realizadas ou procura convencer o contingente de eleitores, acenando com promessas e dividindo planos futuros a serem encaminhados.
Pessoas cristãs, via de regra, são membros das igrejas. Somam em conjunto, de forma ecumênica, o corpo de Cristo. Ao mesmo tempo, porém, estão inseridos na sociedade humana, por isso o corpo de Cristo, a Igreja, se destaca, também, como uma grandeza política. A fé cristã não se restringe a experiências internas e individualizantes. A relação filial com Deus nos faz abraçar o compromisso político. A liberdade cristã e os princípios democráticos incentivam à contribuição política. É responsável colaborar na construção de uma sociedade mais humana, justa e mais democrática. É a opção da fé e faz parte da vocação cristã. É preciso escolher os governantes municipais e os legisladores mediante critérios sábios. Na função de sentinelas e guardiães, é tarefa das pessoas cristãs lembrar suas lideranças político-partidárias e os candidatos a cargos eletivos que toda a ação política deve ser coerente com a vontade de Deus e com seu projeto de vida abundante. As leis, bem como as ações governamentais devem estar a serviço da vida justa. A partir desses princípios, cristãos e cristãs são desafiados a avaliarem os projetos e também as propostas ideológicas que fundamentam os partidos políticos nacionais. A denúncia da corrupção e da tentação de auferir benefícios próprios ou de garantir interesses de grupos egoístas da sociedade decorre da fidelidade ao Deus Jesus Cristo. A postura pessoal ou coletiva será definida a partir das balizas colocadas pelo Salvador da humanidade: Ele é o caminho, a verdade e a vida!
O cenário político não se presta como balcão para bons ou para maus negócios. Não se vende e nem se compra o voto. O espírito democrático, e esta é, com certeza, a vontade de Deus, promove a liberdade de consciência e de escolha de candidato a cargo eletivo.
O pensamento dos cristãos é crítico. Ações na sociedade, posturas políticas, em especial, a prática das promessas, tão abusada em nossas campanhas eleitorais, deve passar pelo crivo da ética e submeter-se à soberania incondicional da vontade de Deus. A fé sinaliza para os critérios e valores a serem aplicados nas atitudes políticas, tanto dos candidatos como dos seus eleitores. O Evangelho acena com as bandeiras da verdade, justiça, honestidade e da bondade.
Prestar contas a Deus é um desafio inerente às pessoas humanas, em especial às que se dispõem a servir, em público, principalmente, na esfera social e política. A credibilidade das propostas de candidatos sempre dependerá de sua disposição em fomentar a política do amor ao próximo, instrumento de promoção da vida verdadeira para um povo sofredor, cujos direitos fundamentais, em nosso País, sofrem tanta violação!
Com os bons desejos de paz, de sabedoria e votos de bênçãos.
Dom Orlando Brandes
bispo diocesano de Joinville
da Igreja Igreja Católica Apostólica Romana
em Joinville - SC
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 03/10/2004
