Mensagem do P. Presidente Dr. Nestor Paulo Friedrich - Celebração Ecumênica na Catedral Metropolitana de Porto Alegre/RS

28/09/2017

Mensagem do Pastor Presidente da IECLB, Dr. Nestor P. Friedrich, por ocasião da celebração ecumênica na Catedral Metropolitana em Porto Alegre na noite do dia 28 de setembro de 2017.


Estimados Irmãos e Irmãs em Cristo Jesus!

Quero iniciar esta reflexão, lembrando uma palavra do P. Dietrich Bonhoeffer, executado pelo regime nazista no final da segunda guerra mundial, em seu livro “Vida em Comunhão”:

corremos o perigo de esquecer que a comunhão dos irmãos crentes é um presente gracioso procedente do Reino de Deus, presente esse que nos pode ser tirado a qualquer hora, que talvez um prazo muito curto nos separa da mais profunda solidão. Por isso, quem até hoje pode viver em comunhão com outros crentes, esse louve a graça de Deus no fundo do coração, agradeça a Deus de joelhos e reconheça: é graça, nada mais do que graça o fato de ainda podermos gozar a comunhão de irmãos crentes”.

A Reforma do século XVI produziu muitos frutos, com sabores os mais distintos! Por causa de alguns sabores, passamos ao longo de séculos nos excluindo mutuamente! Assim foi também entre IECLB e ICAR! Ignoramos uma das expressões mais bonitas da gratuidade de Deus, o ato fundante de nossa existência cristã, o batismo. Por meio dele, pela graça e misericórdia de Deus, somos incorporados no corpo de Cristo, na comunhão de irmãos e irmãs crentes. Temos uma identidade! Somos filhas, filhos, irmãos e irmãs! Para os membros das Comunidades da IECLB, tenho dito que Irmãos e Irmãs, mesmo os de sangue, assim como também os na fé, a gente não escolhe, Deus dá! Nosso desafio está em como damos conta desta comunhão com a qual Deus nos presenteia. Na imagem do Evangelho de hoje, fomos enxertados na videira, que é Jesus Cristo.

Voltemos à figura dos frutos e seus sabores! Hoje, temos a alegria de poder celebrar e estar juntos e juntas, nos acolhendo mutuamente. Tudo isso porque ao longo das últimas décadas estivemos em diálogo uns com os outros e, neste diálogo, tivemos inúmeros frutos positivos, entre os quais se destaca o reconhecimento público do batismo ministrado pelas Comunidades filiadas aos nossos corpos eclesiásticos.

Assim, o Evangelho de hoje nos fala e nos toca profundamente. Estamos todos e todas sob uma palavra sumamente importante para a existência de Comunidades que seguem Jesus Cristo. Ela diz respeito à nossa relação com o centro de nossa fé – Jesus Cristo e, igualmente, nos coloca um desafio para as nossas relações mútuas de irmandade cristã.

A comunidade dos seguidores e seguidoras de Jesus de forma alguma pode prescindir de sua relação íntima e profunda com Jesus Cristo – a videira verdadeira. Os ramos da videira ficarão estéreis sem este vínculo. A frutificação da vida cristã está intrinsecamente vinculada à permanência na videira verdadeira, no olhar para Jesus Cristo. A contemplação de si mesmo, o isolamento, o distanciamento são danosos e conduzem para a tragédia da poda.

As crises que sobrevêm a nossos corpos eclesiásticos são parte do processo de corte (de poda) que, de tempos em tempos, o Senhor da vinha executa para o bem da sua videira. Aliás, entendo que é sob essa ótica que podemos olhar e reconhecer a Reforma do século XVI. Quantas vezes nos iludimos com a pequenez de nossa autocontemplação!!! Quantas vezes assumimos posturas de prepotência, de orgulho e ostentação!!! E aí nossa arrogância, autossuficiência e encapsulamento nos levam à esterilidade e irrelevância na sociedade e no mundo. Diante dos enormes desafios colocados para nós nos tempos em que vivemos, cair na tentação da autossuficiência representa um luxo imperdoável. Não por acaso Lutero defendeu: ecclesia semper reformanda. Igreja sempre em reforma.

A celebração dos 500 anos da Reforma desafia a buscarmos respostas exatamente diante dos absurdos que permeiam nosso dia a dia!
Vivemos tempos em que tudo é muito intenso!

Vivemos tempos que conspiram contra o Evangelho de Jesus Cristo! Conspiram contra a vida em comunhão, vida em comunidade como proposta pelo próprio Cristo!

Jesus Cristo é instrumentalizado para a mercantilização da fé e a exploração do sofrimento!

Jesus Cristo é instrumentalizado para projetos políticos que não visam o bem comum, a justiça.

Vivemos tempos que conspiram contra a esperança!

Conspiram contra a perseverança! Assusta, neste momento, o quão rapidamente desistimos de lutar! Jogamos a toalha!

Conspiram contra a vida! Contra o ser humano! Tudo é descartável! O ser humano é descartável! Com um click posso excluir!

Conspiram contra a fé cristã o fanatismo religioso!

Vivemos momentos de muito confronto! Há muita polarização religiosa, política; crescem assustadoramente os gestos de intolerância religiosa, de agressividade, de violência. E falo do Brasil!!

Na contramão desta realidade que permeia nosso dia a dia, que quer matar a esperança, como pessoas irmanadas a partir do batismo, somos chamadas a um testemunho afirmativo da mensagem da graça e da misericórdia de Deus que se dirige a todas as pessoas indistintamente.

Ao celebrarmos os 500 anos do movimento da Reforma, constatamos que na origem do movimento tivemos precisamente a convicção de fé da volta para a videira, um redirecionamento para a centralidade da fé evangélica – Jesus Cristo, o rosto da misericórdia do Pai. Esta mobilização trouxe frutos para a cristandade toda. Para o reencontro com essa centralidade, o Evangelho, o diálogo se mostrou como caminho fundamental de resistência a todos os monólogos que hoje apenas querem se impor, sem dar ouvidos ao que os outros têm a dizer! As Redes Sociais são exemplo disto!

O avanço e o crescimento de ondas de intolerância, exclusão, desrespeito e fobias de todo tipo requerem posturas corajosas por parte das Comunidades cristãs. Na contramão do que aí está, o Espírito de Deus nos anima para a proclamação da mensagem da graça de Deus que alcança a todas as pessoas indistintamente e de forma incondicional. Deus age pelo seu Espírito e mobiliza os seus filhos e suas filhas para novos tempos.

O Espírito de Deus nos convoca a sermos exemplos de acolhida para com as pessoas que comungam de crenças e valores diferentes das nossas. Em todas elas reconhecemos pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus e igualmente amadas por Ele de forma incondicional.

O Espírito de Deus nos coloca numa postura de vigilância diante das ameaças à liberdade que rondam a sociedade e a cultura contemporânea nos meios de comunicação e nas pesquisas biogenéticas.

Buscamos passar do conflito, instaurado no corpo da Igreja, para a comunhão fraterna que se coloca a serviço da promoção da paz, da justiça e da solidariedade. Que o espírito imperante nos eventos relacionados ao Jubileu da Reforma perdure! Que a videira verdadeira, Jesus Cristo, alimente com sua seiva os ramos eclesiásticos aqui reunidos neste dia!

É totalmente indiferente olhar para o tamanho dos frutos pendentes nos ramos. Importa que os ramos estejam a serviço da videira - Jesus Cristo, sabedores de que sem ela nada podemos fazer. Permaneçamos, pois vinculados a Ele.

Que Deus conceda um espírito de humildade e deixemos que ele proceda em nós o necessário processo de limpeza para que novos frutos brotem em abundância – frutos do conflito à comunhão!

Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich


Autor(a): Nestor Paulo Friedrich
Âmbito: IECLB
Área: Ecumene
Área: História / Nível: 500 Anos Jubileu / Instância Nacional: Presidência / Organismo: Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 44281
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Ser batizado em nome de Deus é ser batizado não por homens, mas pelo próprio Deus.
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