Juntos na esperança. Comemoração Conjunta Luterana-Católica Romana dos 500 anos da Reforma

04/10/2016

 

Juntos na esperança
Comemoração Conjunta Luterana-Católica Romana dos 500 anos da Reforma

Sua Eminência o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos

Dr. Rev. Martin Junge, Secretário-Geral da Federação Luterana Mundial

Corria o ano era 1517, quando na cidade alemã de Wittenberg, o monge Martim Lutero tornou pública sua oposição à prática predominante da venda de indulgências, oposição fundada em suas convicções teológicas e espirituais. Sua voz pública desencadeou uma profunda transformação em um contexto já complicado de turbulência social, política e econômica. Embora Lutero nunca se propôs a criar uma nova igreja, os eventos subsequentes acabaram por dividir o cristianismo ocidental, dando lugar a um conflito e uma violência, cujas ramificações ainda são sentidas. Os centenários da Reforma tem sido uma fonte de polêmica e confrontação entre as duas confissões.

Desta vez será diferente. Em 31 de outubro de 2016, o Papa Francisco, em nome da Igreja Católica, o bispo Munib Younan e o Rev. Dr. Martin Junge, em nome da comunhão global de 145 igrejas que compõem a Federação Luterana Mundial (FLM) serão co-anfitriões da comemoração conjunta que vai lançar o V Centenário da Reforma.

Pela primeira vez na história, católicos e luteranos vão comemorar em conjunto o aniversário da Reforma em todo o mundo. Este evento reflete o progresso feito em 50 anos de diálogo internacional católico-luterano; iniciado após as decisões importantes do Concílio Vaticano II, este diálogo criou compreensão mútua, ajudou a superar as diferenças e, o que é mais importante, gerou confiança. Ele também afirmou a convicção comum de que o que nos une católicos e luteranos é mais do que o que nos divide, e deu expressão à profunda convicção de fé, segundo a qual, por meio do batismo, uns e outros foram chamados em um só corpo.

Além disso, a comemoração expressará o fortalecimento das nossas relações e entendimento mútuo mais profundo a que chegamos em muitas partes do mundo em termos de serviço e testemunho. Luteranos e católicos nos temos aproximado mais, muitas vezes em situações de perseguição, opressão e sofrimento extremamente difícil.

Entre os muitos acordos alcançados durante estas décadas de diálogo, a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, assinada pela Igreja Católica e a Federação Luterana Mundial em 1999, é fundamental. Com esta declaração, os católicos e luteranos superaram os efeitos de divisão dessa controvérsia-chave do século XVI. Este marco nas relações ecumênicas entre católicos e luteranos estabelece o fundamento teológico da Comemoração Conjunta, que, por sua vez, permite a promessa pública de deixar para trás o conflito do passado e abrirmos à unidade que se chama a igreja.

Comemoração Conjunta cujo tema significativo será Do conflito à comunhão - Juntos na esperança, compreenderá uma oração comum na catedral de Lund e um evento público no local Malmö Arena, ambos na Suécia.

Do conflito para a comunhão, também é o título do informe elaborado pela Comissão Luterano-Católica Romana sobre a Unidade no qual se narra a história da Reforma tal como é entendida em conjunto, se analisam questões teológicas em litígio e se identificam aquelas diferenças que hoje podem ser consideradas superadas através do diálogo e entendimento comum. Também são destacados os temas que requerem mais debate teológico para chegar a um acordo, em particular, a compreensão da igreja, o ministério e a Eucaristia. A Comemoração Conjunta se estruturará em torno dos temas de ação de graças, arrependimento e compromisso com o testemunho comum.

- Ação de graças pelo dom da Palavra de Deus e as formas em que ele falou e continua falando com a igreja e o mundo até agora; mas também pelos dons particulares da Reforma, bem como aqueles que luteranos e católicos que reconhecem uns nos outros.

- Arrependimento, porque enquanto se lutava com a diferença, se perdeu a unidade da igreja; mas também pelo enorme sofrimento que se impôs sobre as pessoas comuns essa disputa teológica que passou a se alinhar com interesses políticos hegemônicos e instrumentalizar-se para esta finalidade. Por isso, nos séculos XVI e XVII, na Europa houve longas “guerras religiosas”.

- Compromisso com o testemunho comum, porque enquanto luteranos e católicos continuam a procurar a unidade, nada impede que o nosso testemunho da alegria, da beleza e do poder transformador da fé, em particular, servindo aqueles que sofrem a pobreza, a exclusão e a opressão. A Comemoração Conjunta também convida a católicos e luteranos a dar pela misericórdia que recebem em e através de Cristo.

Esses três elementos se refletirão de forma contundente na oração comum na catedral de Lund e na declaração conjunta que será assinada pelo Papa Francisco e Bispo Munib Younan, presidente da FLM. Agora, no evento público Malmö Arena que vai acolher até 10.000 participantes, a ênfase será sobre o terceiro, ou seja, o compromisso de testemunho comum. Durante este evento, também se firmará um acordo entre o Serviço Mundial da FLM, serve atualmente serve mais de 2.300.000 de refugiados no mundo, e Caritas Internationalis, que está presente em 164 países, com uma impressionante história de serviço diaconal a pessoas necessitadas. Ao dar testemunho, cantar músicas e compartilhar idéias, católicos e luteranos sublinharemos que nossa promessa de deixar para trás o conflito não se limitará a nossas duas comunhões e dará frutos no serviço de solidariedade e amor ao próximo em um mundo ferido e fragmentado pelo conflito, a violência e a destruição ecológica.

Enquanto luteranos e católicos somos chamados a ir além de nosso conflito e nos voltar para o nosso futuro comum, é claro que este passo histórico e significativo não pode ser tomado à parte do resto de nossas muitas outras relações ecumênicas. Por isso, representantes ecumênicos participarão da Comemoração Conjunta para acompanhar-nos neste importante momento e incentivar com a sua presença no caminho pela frente. Nesse contexto ecumênico também destacam a convicção de que a Reforma no século XVI não foi um incidente isolado, como antes e depois foram outros movimentos de reforma. Diferentes tradições de fé receberam e fizeram seu de diversas formas, o movimento de reforma iniciado por Lutero.

Em um mundo que luta contra as rupturas de comunicação, com freqüência cada vez maior de discursos incendiários e divisórios, a violência e o conflito crescentes, luteranos e católicos recorrem à profundidade da nossa fé compartilhada no Deus Trino para declarar publicamente que:

- conjuntamente, avançaremos cada vez mais unidos para o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo;

- vale a pena ficar no diálogo;

- é possível deixar para trás o conflito; e

- o ódio e a violência, também por motivos religiosos, não deve ser banalizado, e muito menos justificar, mas rejeitar completamente;

- as memórias obscuras podem desaparecer;

- uma história dolorosa não exclui um futuro brilhante,

- se pode passar do conflito à comunhão e empreender este caminho conjuntamente e com esperança e que

- na reconciliação há um poder que nos liberta para nos voltarmos uns aos outros e também aos demais em amor e serviço.

A Comemoração Conjunta será um grande incentivo para o testemunho comum de católicos e luteranos em um mundo ferido e quebrantado. Também será uma fonte de motivação para comprometermos com um diálogo ainda mais apaixonado para superar as diferenças restantes, a fim de receber e manter a unidade esperada.


Catedral em Lund - Suécia - 11h30 (horário de Brasília)

Evento público na Malmö Arena - 13h40 (horário de Brasília)

Transmissão ao vivo: Clique aqui
 

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