Jogral - O Texto em Movimento

30/10/2011

Quem trabalha com educação sempre tem à mão a possibilidade de apresentar um jogral em uma ou outra ocasião. Portanto, uma oficina para ampliar as possibilidades dessa forma de expressão é bem-vinda para pessoas envolvidas em atividades com crianças, adolescentes, jovens e também com pessoas adultas.

Quando ouvimos a palavra jogral, imaginamos um grupo de quatro a sete pessoas perfiladas, cada uma com um papel na mão, lendo, alternadamente, pequenos parágrafos de um texto.

A proposta de jogral que aqui vivenciaremos procura ampliar esse conceito, envolvendo as pessoas de forma integral e dinâmica. O jogral pode ir além da leitura estática e alternada das pessoas que dele fazem parte. Partimos de uma definição básica de jogral: Texto recitado por um grupo de pessoas, com dinâmica vocal, corporal e grupal.

Jogral ou teatro?
A forma como pensamos o jogral aproxima-se muito do teatro. Em última análise, uma peça teatral tem as mesmas características apontadas anteriormente. Para demarcar uma linha entre essas duas formas de expressão, destacamos as seguintes diferenças:

a) Indefinição de personagens
No teatro, cada ator ou atriz tem um personagem definido, interpreta uma pessoa, um animal, etc. No jogral, ninguém assume nenhum papel. Todas as pessoas participam da recitação do texto, sem, porém, assumir um papel definitivo do início ao fim do jogral. O texto poderá ser uma história, mas ninguém fará um determinado papel. Todas as pessoas do jogral serão narradores e narradoras. E, se houver linguagem direta em algum momento, qualquer pessoa – ou quaisquer pessoas – do jogral poderá/ão recitá-la.

b) Comunicação constante das pessoas do jogral com o público
Enquanto no teatro, as personagens vivem seu drama quase que alheio à presença do público, no jogral, todo o texto é voltado para o público. Todo o texto é construído na terceira pessoa. Por isso, falamos em comunicação constante com o público, porque, no jogral, é recitado um texto dirigido diretamente ao público ouvinte. As pessoas do jogral não falam entre si; elas falam sempre para a plateia.

c) Texto em forma de crônica, narrativa na terceira pessoa ou meditação
Como já dissemos no item a, o texto do jogral pode ser uma narrativa, mas não um enredo dramatizado pelos integrantes do jogral. As formas que melhor se encaixam no jogral são a crônica ou o texto meditativo. A partir do conteúdo e da mensagem estabelecida, elabora-se um texto dinâmico, com frases curtas, palavras significativas, repetição de sons ou frases. Tudo isso é dinamizado depois com expressão corporal, entonação vocal e movimentação grupal. A própria composição visual do jogral escrito numa folha aponta para esse detalhe. Dificilmente as frases ultrapassam a metade de uma linha. No jogral, pensa-se o texto mais em colunas do que em linhas.

Oito passos para a elaboração e apresentação de um jogral
1. Elaboração do texto
Antes de mais nada, é preciso definir o conteúdo do jogral e a mensagem que queremos transmitir. Essa definição influenciará na elaboração do texto, na escolha da vestimenta, na distribuição das falas, na colocação e movimentação das pessoas durante o jogral.
Para um jogral ser dinâmico, seu texto deve ser dinâmico.

O texto deve ter frases curtas; às vezes, só uma ou duas palavras para cada participante. Ele deve fluir com leveza, uma palavra puxa a outra. O texto deve ser elaborado em estrofes, conforme a divisão do conteúdo do jogral. Essa divisão também facilita a memorização.

A elaboração do texto deve levar em consideração o número de participantes que recitarão o jogral. O ideal é elaborar e já distribuir as falas para cada participante. Aqui se pode trabalhar com muitas variantes. Num jogral com seis integrantes, por exemplo, podem falar: uma pessoa de cada vez; todas juntas; duas juntas; três pessoas; num crescendo. O importante é escolher o momento certo de uma, duas, três ou todas as pessoas falarem. É bom lembrar que, quando todas as pessoas estão falando, o som será mais impactante do que se só uma pessoa fala. Se começarmos com uma pessoa falando e seguirmos num crescendo, a frase final deverá chegar num auge esperado, num momento importante da mensagem. É claro que tudo isso ainda depende da expressão corporal e da entonação vocal.

2. Memorização
Em relação à dinâmica vocal, corporal e grupal, tudo será mais fácil se cada pessoa memorizar as suas falas. Podemos deduzir dessa prerrogativa que jogral não pode ser preparado de hoje para amanhã. Exige tempo para memorizar e ensaiar. Também é preciso levar em consideração a extensão do texto no seu todo.

3. Expressão corporal
O corpo fala. É importante ter isso em mente para explorar todas as possibilidades de expressão que rosto, braços, mãos, tronco, pernas possuem. Também é importante lembrar que nós podemos trabalhar em três planos: alto, médio, e baixo.
No jogral, a expressão facial deve ser bem explorada. Os sentimentos de cada fala devem transparecer no olhar, na face toda. Também é importante manter uma comunicação constante com o público, olhando para as pessoas que estão assistindo. Deve-se evitar ao máximo falar de costas para o público. Mesmo que os e as participantes se movimentem no palco, na hora de falar, devem se virar e falar de frente para quem está assistindo.

4. Entonação vocal e dicção
Para se alcançar boa entonação vocal e boa dicção, é importante realizar exercícios de expressão vocal, entonação e dicção. A pontuação (vírgula, interrogação, exclamação, afirmação) deve estar clara na interpretação. Vogais e consoantes devem ser bem pronunciadas, sem exageros, mas com clareza.
Os sentimentos de cada fala também devem transparecer na voz de cada jogralista. Outra característica importante é a fluência na fala de cada pessoa e do grupo como um todo.

5. Sincronia entre os e as participantes
Já falamos da dinâmica corporal e vocal. Certamente, a que melhor caracteriza um jogral é a dinâmica grupal ou a sincronia entre todos e todas participantes. Quando falar? Com quem falar? De onde falar? Como falar? – são perguntas que cada participante deve saber responder a cada momento do jogral. Também é preciso saber quando, de onde e como se locomover, se movimentar no palco ou no local da apresentação.
É a sincronia do grupo que dará dinamicidade e fluência ao jogral. Tudo deve acontecer como se só uma pessoa estivesse lendo todo o texto.
A sincronia está relacionada diretamente aos passos 2, 3 e 4. Mas ela será tanto melhor quanto forem as condições e o tempo de ensaio e também a integração do grupo.

6. Trabalho em equipe
Esse passo está diretamente ligado à sincronia. Se todas as etapas anteriores forem realizadas em conjunto, não será difícil chegar a um bom resultado.
O trabalho em equipe não significa que uma pessoa não possa elaborar sozinha o jogral, mas terá que estar aberta a mudanças e sugestões de todo o grupo que fará a apresentação.

7. Criatividade
A criatividade é essencial desde a concepção até a apresentação do jogral. Algumas perguntas importantes: Como começar o jogral? Onde estará cada pessoa? Todas precisam estar no palco? Precisa ter palco? De que forma cada pessoa estará vestida? O que ela representará? Ela troca de roupa durante a apresentação? O que muda? Por que muda? Haverá elementos-surpresa durante a apresentação? Quais?

8. Ensaio
Muito ensaio. Primeiro só com a leitura do texto. Cada pessoa com sua folha na mão. Todos leem tudo em conjunto. Cada pessoa lê uma frase ou uma expressão. Duas a duas, as pessoas leem uma frase e assim por diante. Pode-se ainda fazer com que alguém leia e indique outra(s) pessoa(s) para continuar a leitura.
Essas dicas são simplesmente para aquecimento. Depois, haverá ainda muitos outros ensaios com cada pessoa falando a sua parte, no(s) seu(s) lugar(es) e assim por diante.
Palavras finais
O jogral vivenciado dessa maneira é um prazer para quem assiste e é uma experiência marcante para quem dele participa. O envolvimento de cada pessoa, a capacidade de aceitar críticas e sugestões, de conviver com as diferenças, com as vaidades de cada pessoa, tudo é um aprendizado que talvez não apareça na hora da apresentação, mas que certamente contribuirá para a formação pessoal de cada integrante do jogral.

Para maiores informações
Departamento de Educação Cristã da IECLB
Email: secretariageral@ieclb.org.br
Tel: 51 3284 5400


ROTEIRO DA OFICINA
1. Introdução: Baseada no texto anterior até a letra c. Vale a pena perguntar o que as pessoas esperam da oficina e qual sua experiência com jogral.

2. Possibilidades e requisitos para um jogral com dinâmica vocal, corporal e grupal: Conforme os itens um a oito.

3. Aquecimento corporal
a) A batalha do aquecimento
As pessoas ficam de pé, com os braços estendidos ao lado do corpo, pernas levemente abertas, pés paralelos e a planta dos pés bem apoiadas no chão. Realizar alguns exercícios de respiração antes de cantar.
Canta-se ou recita-se: Essa é a batalha do aquecimento, temos que mexer com todo/a o/a nosso/a:
rosto, cabeça, dedos da mão direita, dedos da mão esquerda, mãos, braços, tronco, pés, pernas, corpo.
b) Tocando em frente
As pessoas ficam espalhadas e paradas pelo salão, ocupando todo o espaço. Dependendo do tamanho do grupo, uma, duas ou três pessoas se deslocam até tocar em outra pessoa. Quando tocam, a pessoa tocada começa a andar em direção a outra, e quem tocou fica parada, esperando ser tocada novamente. Uma pessoa pode tocar mais de uma, desde que seja o mais simultâneo possível.
c) Elefante, girafa, palmeira
É um ótimo jogo de aquecimento porque pressupõe atenção constante em todo o grupo e também naquilo que está sendo dito. Conforme Semanas de Criatividade – Caderno nº 1, p.62.

4. Aquecimento vocal
Batatinha quando nasce
Se esparrama pelo chão
Nenezinho quando dorme
Põe a mão no coração.
Usando a quadrinha acima, o coordenador ou a coordenadora sugere formas diferentes de dizê-la: rápido, lento, com raiva, com calma, com espanto, com tristeza, com indiferença, com orgulho, em forma de pergunta, em forma de exclamação, etc.

5. Aquecimento grupal
Grupos de seis pessoas devem ensaiar, em cinco minutos, e apresentar, em forma de jogral, a quadrinha acima. Observar os itens um a oito comentados anteriormente.

7. Trabalho em grupos
Formando grupos de cinco a sete pessoas, cada um terá a tarefa de organizar um jogral a partir de textos dados. É importante que todo o grupo participe da organização, do ensaio e da apresentação do jogral, levando em conta tudo o que foi colocado na explanação anterior.

8. Apresentação dos grupos e comentários gerais
 


Autor(a): Cat. Edson Ponick
Âmbito: IECLB / Organismo:
Natureza do Texto: Educação
ID: 10163
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Um cristão é um ser alegre, mesmo que passe pelo maior desgosto, pois o seu coração se alegra em Deus.
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