Jesus Cristo como único fundamento da Igreja - Estudo Bíblico

Declaração conjunta Católica Romana-Evangélica Luterana - Porto Alegre - 1998

15/01/1995

2. Jesus Cristo como único fundamento da Igreja


Oração de abertura

Senhor Jesus Cristo,
tu és o fundamento seguro
sobre o qual tua Igreja foi edificada;
só tu és o único Senhor sobre todos
os que, invocando teu nome,
tomaram-se eternamente teus através do teu poder.
Dá-nos um reconhecimento cada vez mais profundo na fé
de que és tu
que nos tornaste membros de tua Igreja
e de que tu és o único cabeça dessa Igreja.
E que a unidade de tua Igreja,
em que todas as divisões venham a ser superadas,
resulte dessa verdade.
Louvamos a ti, que vives e reinas para todo o sempre.
Amém.

Introdução 

Solus Christus — somente Cristo é nossa salvação. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os seres humanos, pelo qual importa que sejamos salvos (At 4.12). Para as Igrejas da Reforma este era o artigo crucial de fé: Desse artigo a gente não se pode afastar ou fazer alguma concessão, ainda que se desmoronem céu e terra ou qualquer outra coisa (Martinho Lutero, Os artigos de Esmacalde, I, Livro de Concórdia, p. 313). 

O Vaticano II é enfático ao reconhecer a mesma coisa: O único Mediador e o caminho da salvação é Cristo... (Lumem Gentium, 14). Ele é a cabeça do corpo que é a Igreja (ibid., 7). 

Assim, para ambas as Igrejas não há dúvida de que a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo como centro e consumação de toda a história da salvação são o fundamento crucial de toda a salvação e a norma última de toda a fé. Por conseguinte, o que o apóstolo Pedro pregou logo depois de Pentecostes, no período mais antigo da história da Igreja, é sumamente atual no movimento ecumênico de hoje. 

Passagem bíblica (At 4.8-12) 

Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: 'Autoridades do povo e anciãos: Visto que hoje somos interrogados a propósito do bene-fício feito a um homem enfermo e do modo por que foi curado, tomai conhecimento vós todos e todo o povo de Israel de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os seres humanos, pelo qual importa que sejamos salvos' . 

Explicação 

Qualquer leitor/a de Atos dos Apóstolos nota imediatamente que aí a pregação e proclamação do apóstolo são o elemento motivador no que está acontecendo. Elas são o meio pelo qual ouvintes tomam-se cristãos e membros de congregações, e pelo qual a Igreja toma forma, disseminando-se rapidamente, para além de Jerusalém, em todo o mundo do Império Romano daquela época, chegando até Roma, a capital. 

Em toda parte a pregação dos apóstolos é a mesma. Eles contam a respeito dos poderosos atos de Deus em Jesus Cristo: o que ele pregou e ensinou; como curou um grande número de pessoas doentes; o que sofreu em Jerusalém e como foi crucificado por seres humanos, mas ressuscitado pelo poder de Deus e exaltado à sua direita. 

A vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo constituem o centro da pregação apostólica. Isso visa atingir o típico efeito de persuadir os/as ouvintes a crer em Jesus Cristo. 

Como é possível levar pessoas que nunca tiveram nada a ver com Jesus Cristo a fazer tal confissão? Os apóstolos dão uma resposta dupla: 

1. Eles atestam pessoalmente a mensagem: o Jesus crucificado ressuscitou de fato! Esse Jesus se encontrou com eles como alguém que está vivo (cf. At 10,41) — não como alguém que foi revivificado, mas como Cristo ressurreto (cf. At 2.29-36!). Através da ressurreição de seu Filho, Deus confirmou tudo o que Jesus pregou em seu nome e fez e sofreu. Deus confirmou a Jesus como Senhor e Messias (At 2,36; cf. At 13,32-41). Aqueles/as que o confessam, confessam a atividade salvadora de Deus para com todos/as nós. 

2. Um poder persuasivo especial de Deus é inerente à pregação de Jesus. No testemunho dos apóstolos, o Espírito de Deus desperta os corações para que creiam. Esse Espírito de Deus é o poder pelo qual é quebrado o domínio da morte (cf. At 5,32; Rm 8,11). 

Esses dois elementos — o poder de convencimento do Espírito Santo e o testemunho dos apóstolos — são interdependentes. O poder persuasivo do Espírito Santo garante que o acontecimento salvífico em Jesus Cristo torna-se o testemunho que desperta fé, e assim a Igreja pode tomar forma; o Espírito Santo atua através do testemunho dos apóstolos, que, com sua pregação, tomam o lugar que o próprio Jesus ocupava em sua pregação na terra: eles pregam em nome de Cristo (2 Co 5,20) — em lealdade incondicional a ele. 

Atos 3,1-10 relata como Pedro e João curam, no templo de Jerusalém, um coxo no poder do nome de Jesus. Eles são levados ante os mais altos juízes de sua nação e têm de responder por sua ação perante eles. Pedro e João são perguntados: Com que poder, ou em nome de quem fizestes isto? (At 4,7). A única resposta que podem dar é: em nome de Jesus (At 4,10), o Senhor crucificado e ressurreto. Isto quer dizer: a cura não é obra dos apóstolos, mas o próprio Cristo agiu através deles (cf. At 4,8-10). E não há salvação em nenhum outro; porque... não existe nenhum outro nome.., pelo qual importa que sejamos salvos (At 4,12). 

O tribunal do Conselho Supremo reage a isso proibindo-os de pregar. Porém o que a autoridade humana proíbe não tem poder legal para os apóstolos se isso obstrói a autoridade de Deus. Contudo, a palavra de Deus não está algemada (2 Tm 2,9)! Eles estão inclusive dispostos a aceitar perseguição e martírio por causa dessa convicção (At 5) — uma atitude fundamental que atravessa toda a história da Igreja. 

Importância ecumênica 

Em Atos toma-se claro o que é crucial e fundamental para nossa compreensão de Igreja. Jesus Cristo não é simplesmente o assunto com o qual a Igreja se preocupa. É também aquele que, ele próprio, cria a Igreja e usa a pregação dos apóstolos para fazer isso. Por conseguinte, as duas afirmações seguintes da Escritura não se excluem mutuamente: ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo (1 Co 3,11), e a Igreja edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2,20). Os apóstolos são simplesmente servidores e mensageiros de Cristo (cf. 1 Co 3,5; 4,1). Só Jesus Cristo é o redentor de todas as pessoas (cf. 1 Tm 2,5), e esse Jesus Cristo testifica a si no testemunho dos apóstolos (2 Co 5,20).
Trecho do estudo católico romano-luterano Igreja e justificação 

Ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo (1 Co 3,11). Esta afirmação, com toda a sua incisivi-dade, deve ser avaliada e considerada como o princípio fundamental da eclesiologia. O único fundamento da Igreja é a obra salvadora de Deus em Jesus Cristo que aconteceu uma vez para sempre. Tudo o que deva ser dito sobre a origem, natureza e finalidade da Igreja precisa ser entendido como explicação deste princípio. Como marca essencial da Igreja, sua unidade — que desde o início da história eclesiástica só existiu como unidade sob ameaça, contestada pela fragmentação (cf. 1 Co 1,10ss.) — deve ser entendida unicamente à luz desse princípio (n° 10). 

Meditação 

Para aclarar a radical dependência da Igreja em relação a Jesus Cristo temos de chamar a atenção para a imagem da roda, exposta por Beda, um monge beneditino (século 7/8), em seus escritos. 

Quanto mais próximos do centro estiverem os raios de uma roda, menos distantes estarão uns dos outros. Assim como os raios da roda levam todos a um centro comum e só recebem sua força e função quando estão unidos no centro, só encontraremos a unidade de nossa fé em nosso centro espiritual, o Senhor. Ele é infinitamente maior do que qualquer teologia o pode expressar. Seu Espírito é infinitamente mais forte do que qualquer pecado e imperfeição humanos. Só ele pode superar a divisão.

Estudos Bíblicos:

Estudo 1 - Justificação e Igreja

Estudo 2 - Jesus Cristo como único fundamento da Igreja

Estudo 3 - A Igreja do Deus Triúno

Estudo 4 - A Igreja como recebedora e mediadora da salvação

Estudo 5 - A missão e comunhão da Igreja

Veja mais:

Doutrina da Justificação por Graça e Fé

Apresentação — Pastor Huberto Kirchheim

Apresentação — Dom Ivo Lorscheiter

Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação 

Declaração conjunta da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica Romana sobre a doutrina da justificação — Dom Aloísio  Lorscheider 

Doutrina da justificação — no limiar de um acordo ecumênico? - Pastor Dr. Gottfried Brakemeier 

A doutrina da justificação por graça e fé em Martim Lutero - Pastor Dr. Silfredo B. Dalferth 

A Comissão Mista Nacional Católico-Luterana — Pastor Bertholdo Weber 

Seminário Teológico Luterano-Católico sobre a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação — Parecer — Pastor Huberto Kirchheim e Dom Ivo Lorscheiter 


 


Âmbito: IECLB / Organismo: Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
Testamento: Novo / Livro: Atos / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 12
Título da publicação: Doutrina da Justificação por Graça e Fé / Editora: EDIPUCRS e CEBI / Ano: 1998
Natureza do Texto: Educação
Perfil do Texto: Estudo Bíblico
ID: 20510
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