Igrejas e Ministério

17/10/2001

IGREJAS E MINISTÉRIO

I. Nós, representantes das igrejas-membro do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, reunidos pelo Espirito Santo no Seminário Igrejas e Ministério, com enfoque no ministério ordenado, animados por uma cordial fraternidade, rendemos graças ao Pai pelos frutos de encontro interpessoal, diálogo teológico e crescimento na comunhão que o Senhor ardentemente deseja para a sua Igreja (cf. Jo 17,21), queremos compartilhar com as/os irmãs/aos os resultados alcançados.

Alegramo-nos por constatar que nossas igrejas vem redescobrindo a centralidade do Reino de Deus para seu ser, estrutura e missão: proclamai que o Reinado dos céus se aproximou (Mt 10,7). No serviço ao Reino, com efeito, a Igreja encontra sua vocação originária, sua identidade profunda, sua razão de ser.

Superando todo clericalismo, entendemos a Igreja como a congregação de todas/os as/os fiéis, que, por graça e fé, formam o uno e universal Povo de Deus, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Na verdade, há um só corpo e um só Espírito, do mesmo modo que a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos (Ef 4.4-6).

Para sua vida e missão confessamos que a Igreja e dotada de uma pluralidade de carismas, serviços e ministérios: há diversidade de dons da graça, mas o Espírito é o mesmo; diversidade de ministérios, mas é o mesmo Senhor; diversos modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos (1Cor 12,4-6; cf. Ef 4,7; 1Pd 4,7). Além disso, confessamos que não só algumas pessoas, mas todas são portadoras da missão divina e de algum dom particular para utilidade comum: A cada um e dado o dom de manifestar o Espírito em vista do bem de todos (1Cor 12,7).

Entre estes carismas e ministérios, situa-se o ministério ordenado, que, não obstante as diferenças de organização, figuras e nomes nas várias tradições, constitui, dentro da multiplicidade dos dons, um foco de sua unidade (Batismo, Eucaristia e Ministério, Seção 'Ministério, § 8), e responde pela função de congregar e construir o corpo de Cristo, pela .proclamação e ensino da Palavra de Deus, pela celebração dos sacramentos e pela direção da vida da comunidade na sua liturgia, missão e diaconia (Ibid., § 13). .

 

II. Verificamos com alegria que as igrejas-membro do CONIC convergem nos seguintes pontos:

- admitem o sacerdócio de todas/os as/os fiéis (cf. 1 Pe 2,5-9);

- entendem o ministério de Cristo confiado à Igreja como responsabilidade solidária de todas/os as/os fiéis;

- reconhecem a necessidade de um ministério ordenado para edificação do Corpo de Cristo (Ef 4,11-12);

- compreendem que' os ministérios surgem pelo dom do Espírito Santo e mediação da Comunidade;

- julgam indispensáveis para a ordenação a imposição das mãos e a invocação do Espírito Santo;

- possuem, na riqueza das diversas formas, um ministério de administração/supervisão (episkopê) para exprimir e salvaguardar a unidade do Corpo;

- entendem estar na tradição apostólica;

- consideram fundamental a refontalização bíblica para o avanço do mútuo reconhecimento do ministério.

 

III. No entanto, constatamos que ainda persistem diferenças - algumas das quais constituem dificuldades – para o mútuo reconhecimento do ministério ordenado entre as igrejas; tais como:

- todas as igrejas se reconhecem na tradição apostólica; algumas mantem a sucessão histórica, outras não;

- algumas igrejas reconhecem a ordenação como sacramento, outras não;

- há igrejas que ordenam somente homens, outras, homens e mulheres;

- ha divergências quanta ao número e ao caráter das ordens ministeriais;

- quanta à presidência da eucaristia, o ministério ordenado e condição imprescindível para algumas igrejas, enquanto para outras a comunidade e o sujeito celebrante, que incumbe alguém para presidir;

- algumas tradições tem a exigência do celibato como condição para a ordenação presbiteral, outras não;

- o ministério ordenado em algumas tradições é vitalício e em outras, temporário;

- a participação da Comunidade na escolha dos seus ministros varia;

- não há consenso sobre como o ministro ordenado representa ora Cristo para a Igreja (in persona Christi) ora a Igreja (in persona ecclesiae);

- há diferentes entendimentos quanta à função de presbíteros, bispos e/ou pastores e diáconos.

 

IV. A partir das constatações acima, tanto nos pontos de convergência quanta nas diferenças e dificuldades, queremos avançar rumo ao mútuo reconhecimento do ministério.

Por isso apresentamos as seguintes sugestões:

- que as igrejas, em nível local e regional em cooperação com as representações regionais do CONIC, ampliem ecumenicamente o debate sobre ministério, tendo em vista o conhecimento e a autocompreensão das suas práticas ministeriais;

- que o estudo do Batismo, Eucaristia e ministério seja relançado em nossas igrejas e entre as igrejas;

- que prossigam o aprofundamento e o diálogo teológico sobre temas relacionados com a teologia e a prática dos ministérios na tradição cristã: ministério feminino; ministérios no NT, na patrística e nas épocas sucessivas; sucessão apostólica, ministério e sacerdócio; ministério e carisma; ministério e laicato; ministério petrino; ministério e sacramento, etc.

- que se reforce a dimensão social do ministério, estabelecendo parcerias ecumênicas;

- que frutifiquem em nossas igrejas os resultados já alcançados nos acordos ecumênicos bilaterais e multilaterais, visando à discussão sobre o mútuo reconhecimento do ministério ordenado;

- que se aprofunde o estudo da terminologia empregada nas igrejas, visando a esclarecer a equivalência dos títulos utilizados para o ministério e suas respectivas funções pastorais, administrativas e litúrgicas.

 

V. Por último, não devemos esquecer que em toda essa caminhada somos assistidos pelo Espirito Santo a fim de que estejamos em condições de ¨cumprir o ministério para Edificar o corpo de Cristo, até que cheguemos todos juntos à unidade na fé no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura de Cristo em sua plenitude¨ (Ef 4, 12-:13).

 

Participantes do Seminário: Igrejas e Ministérios

Pr. Western Clay Peixoto - IM
Pr. Valério Guilherme Schaper - IECLB
Pr. Carlos Möller - IECLB
Pr. Edson Edílio Streck - IECLB
Pr. Klaus Dieter Wirth - IECLB
Pr. Derval Dasilio - IPU
Rev. Carlos Eduardo B. Calvani - IEAB
Diácono Marcelo Sales de Araújo - ICOSB
Monsenhor Athanásio Luiz Antonio do Nascimento - Ortodoxa Bielorrussa Eslava
Rev. Jorge Aquino - IEAB
Rev. Conego Carlos Getúlio Halberg - IEAB
Bispo Naudal Gomes - IEAB
Pr. Marcos Torres - IM
Pe. Gabriele Cipriani - ICAR
Frei Jacir de Freitas Faria - ICAR
Rev. João Dias de Araújo - IPU
Pe. Francisco Taborda - ICAR
Pe. Antonio José de Almeida - ICAR
Diácono Iraílson Rodrigues - ICOSB

IGREJA METODISTA - IM
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL - IECLB
IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA - ICAR
IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL - IEAB
IGREJA PRESBITERIANA UNIDA - IPU
IGREJA ORTODOXA SIRIANA DO BRASIL - ICOSB
IGREJA OROTODOXA BIELORRUSSA ESLAVA
 

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É isto que significa reconhecer Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria, mas pela bondade e pelo amor. Então, a fé e a confiança podem subsistir e, então, a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus.
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