Igreja Luterana tem Quatro Colunas

07/11/2016

 

Lado PALAVRA

IGREJA LUTERANA TEM QUATRO COLUNAS

Catequista Joni Roloff Schneider

O movimento da Reforma foi um protesto contra a transformação do Evangelho em leis e interpretações manipuladas pela então Igreja de Roma. O pensamento de Lutero que mais afetou as autoridades da época foi que não há caminho para chegar a Deus senão por Cristo. Nem papa, nem sacerdote, nem imperador leva a pessoa a Deus e nem conquista a salvação para ela, mas somente Cristo. Neste sentido, em 1530, os líderes protestantes escreveram a Confissão de Augsburgo, onde colocaram os principais pensamentos de Lutero e que são parte da base da nossa identidade confessional até hoje. As quatro colunas luteranas que sustentam a nossa confessionalidade são as afirmações a seguir:

A coluna da graça

A mensagem do Novo Testamento e de toda a doutrina e fé cristãs é a salvação da pessoa pela graça de Deus. A graça de Deus significa amor, consolo, amparo, dedicação, perdão, aceitação incondicional, estímulo. Deus é quem dá tudo isso. Por isso, a pessoa não pode salvar-se a si mesma. A salvação depende inteiramente do presente de Deus, que foi revelado em Jesus Cristo, através de sua vida, morte e ressurreição.

A graça vem de Deus, mas se manifesta na realidade do mundo, por isso a experiência da graça leva ao discipulado. Livra-nos de nós mesmos e mesmas, leva-nos à obediência e nos remete ao cuidado com o irmão e com a irmã.

A coluna da fé

Recebemos a salvação quando confiadamente aceitamos, com fé, este presente libertador. Quem inverter as coisas vai se tornar fanático e fanática, seguindo pelo caminho da dominação. Será incapaz de ter misericórdia. Em outras palavras, será uma pessoa da “lei”, dura, exigente, excludente, como as autoridades que Lutero criticava em sua época.

Para recebermos a salvação também não adianta realizarmos obras. “O ser humano é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3.28). As obras só são importantes quando se tornam uma resposta da fé à graça incondicional de Deus, ou seja, quando aceitamos e agimos por amor, somente. Ajudar as outras pessoas, confiar em Deus acima de todas as coisas, testemunhar a fé em palavras e atitudes devem ser feitos em gratidão ao amor de Deus.

Para Lutero, o que está em primeiro lugar é o que Deus fez por nós. Nisto está o Evangelho. O essencial da vida da pessoa cristã é reconhecer o quanto Deus nos ama e anunciar as suas maravilhas. Luteranos e luteranas devem ser, conforme diz o apóstolo Paulo em Colossenses 3.12-17, pessoas misericordiosas, bondosas, humildes e amáveis.

A coluna Cristo

Não há caminho para chegar a Deus senão por Cristo. A graça presenteada por Deus, a Escritura que contém a Palavra de Deus, a fé que é dádiva e promessa de Deus, são reveladas unicamente por Cristo. É no Cristo crucificado que Deus se dá a conhecer. O Deus gracioso é o Deus que desce, vai ao encontro da pessoa e se revela na fraqueza.

É na cruz de Cristo que o ser humano vê toda a sua realidade de pecador e por meio dela Deus o justifica, não por mérito humano, mas pela graça e misericórdia de Deus. Para Lutero, a confissão de que Cristo é Senhor e somente por meio dele acontece a justificação do ser humano pecador é o fundamento do qual não podemos nos afastar.

Fazendo parte da comunidade cristã, participamos da comunhão das pessoas santas, santificação esta concedida por Deus. Conforme o Novo Testamento, são santas todas aquelas pessoas que creem (1 Coríntios 1.2). Elas não o são porque foram pessoas moralmente perfeitas, mas porque são membros do povo de Deus, requisitadas por ele para serem sua exclusiva propriedade.

A igreja luterana não nega haver pessoas que se destacaram na fé e se constituíram em exemplos de conduta evangélica. Delas a comunidade pode e deve receber inspiração e estímulo. Elas merecem profundo respeito, mas não adoração. O primeiro argumento para isso é bíblico: “A Escritura (...) não ensina que invoquemos os santos ou peçamos auxílio deles” (Confissão de Augsburgo). O segundo argumento é Jesus Cristo. Ele é o único mediador entre Deus e as pessoas (1 Timóteo 2.5).

A coluna da Escritura

Traduzindo a Bíblia, Lutero redescobriu o caminho à fonte da fé. Nela buscou a orientação básica para a igreja. Através do Antigo Testamento, traz o testemunho primário da história de Deus com seu povo. Através do Novo Testamento, traz o testemunho de Jesus Cristo e dos apóstolos. A Bíblia é a palavra de Deus, porque Cristo mesmo o é (João 1.14). Ela é a fonte pela qual teremos acesso à libertação.

O que distingue a Bíblia de outros livros não é a sua origem, não é nenhuma qualidade externa, mas, sim, o seu conteúdo. Ela se tornou a Escritura Sagrada porque contém a verdadeira Palavra e a vontade de Deus. Por isso, nós não cremos na Bíblia, mas em Jesus Cristo, que faz a Bíblia ser sagrada e não vice-versa.

Não é possível fixar-se em determinadas passagens, isolá-las do todo e prender-se a elas. Quem ler a Bíblia com atenção e resistir à tentação de selecionar passagens que agradam, não vai ter dúvidas quanto ao Evangelho. Interpretação luterana da Bíblia significa interpretação humilde, disposta a realmente aprender, nunca pronta em definitivo, sempre a caminho.

O pastor Martin Dreher, em um dos números do Jornal Evangélico, definiu o centro da fé luterana em quatro gritos de protesto contra os abusos da igreja da época de Lutero. Resumidamente, ele diz que “o centro da fé luterana é: Deixem Deus ser Deus!”.

“Devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de todas as coisas.”
Lutero insistiu na prioridade por Deus, já que sua autoridade estava sendo substituída pelo ser humano que se colocava como o todo-poderoso. Por isso, o importante é sempre relembrar o primeiro Mandamento, que é o único recurso para impedir que o mundo sucumba aos interesses individuais e à criação de um múltiplo número de deuses e deusas.

Desse centro da fé surgem os quatro gritos:

1º GRITO: DEIXEM DEUS SER DEUS!

- Deixem ele ser misericordioso como ele quer ser;
- Não coloquem sua confiança em si mesmos e si mesmas;
- Deixem Deus ser livre, para que ele possa ser Deus.

2° GRITO: SOMENTE CRISTO!

- Deus quer ser encontrado no crucificado;
- Deus se revelou na cruz aos seres humanos;
- A cruz é critério para falarmos de Deus;
- Sem a cruz, tornamo-nos confiantes em nós mesmos e mesmas ao invés de confiar em Deus.

3º GRITO: SOMENTE A ESCRITURA!

- O testemunho da revelação de Deus encontramos na Bíblia;
- O conteúdo da Escritura é Jesus Cristo;
- A Bíblia é a Palavra de Deus só por causa de Jesus Cristo;
- Jesus Cristo dá credibilidade ao texto e, por causa dele, é Sagrado.

4º GRITO: SOMENTE PELA FÉ!

- Aceitar Deus na revelação por Jesus Cristo, ouvir seu testemunho e aceitá-lo é presente, dádiva, dado de graça;
- Todo presente de Deus só podemos receber confiadamente por fé.

Por tudo isso,

- Ser luterano e luterana é ser pessoa despreocupada com a salvação, pois sabe que ela já lhe foi dada de graça, por Jesus Cristo.
- Ser luterano e luterana é ser pessoa preocupada com o mundo, pois sabe que é boa criação de Deus, por isso precisa cuidar dele.


Este estudo teve a linguagem revista e atualizada. A proposta integra o volume 3 da Coleção Palavração denominado “Graça e Fé: temperos para a vida”, publicado em 2003 pelo Departamento Nacional para Assuntos da Juventude da IECLB – DNAJ, sob a coordenação de Cláudio Giovani Becker e impresso por Contexto Gráfica e Editora (ISBN 85-89000-14-1).


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